quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Review: 🐫 Stones Of Babylon - 'Ishtar Gate' (2022) 🐫

★★★★

Encarada com petrificado assombro toda a ofuscante beleza arquitectónica de que fora feito o escultural, ostentoso e monumental Portal de Ishtar – a oitava e principal porta de entrada para a edénica cidade da Babilónia, construída com tijolos cozidos e vidrados, ornamentada por azulejos de coloração azul profundo e brilho diamantino, e erigida em homenagem à deusa acádia Ishtar (deusa da vitalidade, do amor e da guerra) – estamos prontos para atravessá-lo e comungar toda a santificada liturgia pesadamente incensada pelo fumarento e baloiçante turíbulo de Stones Of Babylon. Editado pelo insuspeito selo discográfico português Raging Planet através dos formatos LP, CD e digital, este segundo trabalho intitulado ‘Ishtar Gate’ destes três califas sediados na cidade-capital de Lisboa vem dar a tão ansiada continuidade à sua milagrosa odisseia pela enigmática, seráfica e mitológica Pérsia ancestral principiada com o frondoso, odoroso e ajardinado ‘Hanging Gardens’ (aqui desconstruído e reverenciado). Embrumado por um canábico, obscurantista, ritualista e mântrico Psychedelic Doom de fragância oriental, ardência desértica, caligrafia arábica e consagração espiritual, este ‘Ishtar Gate’ teve em mim o mesmo poder hipnotizante que a encantadora dança da flauta indiana tem sobre a serpente Naja. De pés desnudos e soterrados nas aveludadas, finas e douradas areias do deserto, olhos postos no Sol poente de bafo morno e luzência ardente, e alma rendida às bíblicas vibrações de idioma acádio, viajamos e embalamos à aliciante boleia sonora de uma guitarra messiânica que se meneia em imperiosos, sísmicos, esotéricos e fogosos riffs de onde serpenteiam solos magnetizantes, oleosos, luminosos, e intoxicantes, um umbroso baixo encarvoado a tensa e densa negrura que se orienta por entre encorpadas, fibrosas e onduladas linhas desenhadas a negrito, e uma bateria expressiva, empolgante, faíscante e incisiva de pratos flamejantes e tambores tribalistas. O mirífico artwork que emoldura na perfeição toda esta divina romaria à velha Mesopotâmia é rubricado pelo talentoso ilustrador português Soares Artwork. São 55 minutos de uma deífica cintilação que nos converte a todos em seus devotos peregrinos. Um álbum de atmosfera sonâmbula que vagueia livre e graciosamente entre a morfínica letargia e a vulcânica euforia. Banhem-se no diluviano misticismo de ‘Ishtar Gate’ e vivenciem com inteira devoção todo o santificado esplendor de um dos mais fortes candidatos a melhor álbum português do ano.

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