sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

Review: 🚀 Dead Shrine - 'The Eightfold Path' (2023) 🚀

★★★★

É ainda de alma sedada, cabeça pesada e visão turva que escrevo estas inebriadas palavras na ressaca da experiência transcendental que foi comungar o álbum de estreia de Dead Shrine – o novíssimo projecto a solo do virtuoso multi-instrumentista neozelandês Craig Williamson, mentor de outros projectos de grande relevância como Datura, Lamp of the Universe e Arc of Ascent – intitulado ‘The Eightfold Path’ e lançado hoje mesmo sob a forma digital e numa ultra-limitada edição em CD de apenas 300 cópias físicas disponíveis com o carimbo do seu selo discográfico caseiro Astral Projection. Incensado por um resinoso, libidinoso e intoxicante Heavy Psych de odor canábico que se embrulha harmoniosamente num montanhoso, vigoroso e flamejante Heavy Rock de ressonâncias setentistas, este primeiro passo discográfico (um grande salto, na verdade) de Dead Shrine solta as amarras conscienciais e catapulta a alma do ouvinte para um sónico escapismo pelas costuras fronteiriças de um rodopiante Cosmos em caótica ebulição. A sua sonoridade euforizante, efervescente e magmática – remexida num borbulhante caldeirão consumido pelas intensas lavaredas – provoca em nós toda uma inapagável combustão espiritual de propulsão astral. Embalados na vertigem desta redentora odisseia que penetra o brumoso tecido cósmico, somos insanamente centrifugados por uma guitarra – locomovida a alta rotação e ensopada numa urticante, fogosa e crocante distorção – que se serpenteia em Riffs viscosos, polposos e efervescentes de onde são vertidos alucinados, embriagados e caleidoscópicos solos temperados a uma acidez psicadélica, sombreados pela pesada reverberação de um baixo nervudo, sisudo e monolítico, açoitados pelas rutilantes baquetas de uma bateria pautada a explosiva, altiva e incisiva robustez, e ainda farolizados pela voz xamânica, melódica e refrescante que vagueia livremente por este revoltoso mar de chamas. ‘The Eightfold Path’ é uma sísmica erupção de vibrante adrenalina que nos agarra pelos colarinhos. Um mastodôntico tsunami de endorfinas que nos engole. Apertem bem os cintos, cerrem os maxilares e agarrem firmemente o trémulo volante de um barulhento e trepidante muscle car que arranca furiosamente a duas rodas e se perde a alta velocidade pelos desdobráveis firmamentos das autoestradas estelares sem nunca olhar para trás.

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