segunda-feira, 11 de setembro de 2023

Review: 🍂 Bushman's Revenge - 'All The Better For Seeing You' (2023) 🍂

★★★★

É numa atmosfera enfumarada e de brilho festivo – na ressaca dos parabéns cantados, aplausos calados e das vinte velas sopradas, referentes ao 20º aniversário desta banda norueguesa – que se ouve o primeiro choro do recém-nascido ‘All The Better For Seeing You’, o esmerado 11º trabalho de longa duração de Bushman's Revenge (e, devo já antecipar, o meu favorito do apaixonante tridente nórdico). Saído à rua sob os formatos LP, CD e digital – com o carimbo da jovem, mas muito promissora, editora local Is it Jazz? Records – este novo álbum dos intratáveis Jazz cats sediados na cidade-capital norueguesa de Oslo é capitaneado por um refinado, elegante, deslumbrante e aromatizado Contemporary Jazz de folhenta, orvalhada e pardacenta moldura outonal (a fazer recordar a cinematográfica sonoridade do músico dinamarquês Jakob Bro) que ocasionalmente se metamorfoseia num aparatoso, esdrúxulo e efervescente Jazz Fusion à la Mahavishnu Orchestra e não dispensa a quente coloração de um exótico, sumarento e tropical Psychedelic Rock de paladar oceânico a The Mermen (mais concretamente ao neptuniano trabalho a solo do guitarrista Jim Thomas), e a serpenteante condução de um dançante, exuberante e hipnótico Progressive Rock de expressivas feições King Crimson’eanas. A sua sonoridade relaxante, reflexiva, sedutora e prontamente conquistadora deixa o ouvinte de espírito maravilhado, sorriso escancarado no rosto, olhar lacrimejante de expressão nostálgica, e respiração capturada. Uma contemplativa, reparadora, comovente e imaginativa passeata pelas planícies campesinas de frescura escandinava que se espreguiçam debaixo de uma morna luz crepuscular e perdem no enevoado firmamento. Na génese deste sagrado fármaco que nos massaja o cerebelo, afrouxa o corpo e reconforta a alma, conversam, numa sublime simbiose instrumental, uma guitarra – discípula dos virtuosos John MclaughlinAllan Holdsworth – que dedilha e rendilha toda uma incontável e arrebatadora profusão de refrescantes, cristalinos, diamantinos e deslumbrantes acordes condimentados a desarmante beleza e executados a imaculada destreza, um murmurante baixo de linhas grossas, fluídas, sombreadas e ondeantes que preenche com distinção todos os espaços amplos bem como os mais angulosos das estéticas composições que lavram este disco, e uma bateria deliciosamente jazzística, de toque saltitante, polido, inventivo e cintilante, que tiquetaqueia com assombrosa soltura e irreverente postura esta autêntica obra-prima. Este é um registo verdadeiramente edénico, farolizado por uma fina sensibilidade e uma donairosa sagacidade, que me fascinara de uma forma avassaladora. Foi um caso de amor à primeira audição, e o acumular de renovadas audições ainda destapa novos e suculentos detalhes que só insuflam toda a piramidal reverência que eu já nutro por este irretocável registo. ‘All The Better For Seeing You’ é um álbum precioso que não só conserva uma ébria e etérea fragilidade emocional (capaz de petrificar o ouvinte), como explora – de forma temerária e experimental – outros climas sonoros mais fogosos, ritmados e libidinosos que nos rebaixam as pálpebras, rodopiam a cabeça e acaloram o espírito. Esta 11ª obra de Bushman’s Revenge tem tudo o que mais desejo encontrar num álbum que cruza a camaleónica música Jazz com (in)discretos vestígios psicadélicos e progressivos. Um dos mais sérios candidatos a melhor disco do ano está aqui. Embrulhem-se nele.

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