Dois anos após
ter sido descortinado o seu mirabolante álbum de estreia (análise descritiva aqui)
– que eu viria a galardoá-lo aqui com o tÃtulo de melhor disco referente
a 2021 – este talentoso quinteto azteca, enraizado na populosa Cidade do
México, liberta agora o seu muito aguardado segundo trabalho intitulado ‘Blue
Storm’ e editado no formato fÃsico de LP através do selo britânico Stolen
Body Records. Contando com um baterista diferente (ainda que o anterior
tenha participado num dos novos temas) e o acréscimo de um vocalista na sua
constituição, os Rostro del Sol prosseguem assim a sua exploratória e triunfante
digressão musical de brilho vintage pelos ajardinados trilhos de um elegante,
aprumado, ornamentado e apaixonante Jazz Rock em afrodisÃaca harmonia
com um serpenteante, majestoso, libidinoso e enleante Prog Rock e ainda um
radioso, caleidoscópico, exótico e odoroso Psychedelic Rock. Uma
multicolorida, cerebral e caramelizada colagem sonora de onde se reconhecem e
saboreiam indiscretas influências de culto, provenientes dos dourados
territórios sessentista e setentista, como Colosseum, Gentle Giant,
Deep Purple, King Crimson, Caravan, Sweet Smoke e Soft
Machine. Esculpido e climatizado por uma sonoridade faustosa, primaveril,
pastoril e pretensiosa que embrulha o ouvinte num imperturbável deslumbramento
onÃrico, ‘Blue Storm’ é um registo verdadeiramente enfeitiçante que nos
mantém em constante salivação e absorvente fascinação do primeiro ao derradeiro
tema. São 35 minutos banhados a seráfica radiância, jornadeados a irretocável
destreza e condimentados a inefável beleza. Uma obra piramidal – de composições
audaciosas e trajes aristocráticos – que se passeia, bamboleia e envaidece
pelos frescos, romanescos e verdejantes campos da idÃlica Canterbury. Um
álbum intensamente irresistÃvel, pincelado a impressionante técnica e
transbordante emoção, que nos obriga a experienciá-lo sem qualquer moderação.
Deixem-se cortejar e conquistar por este opulento registo, superiormente
orquestrado por uma guitarra sumptuosa que se meneia em charmosos, novelescos e
tortuosos riffs de onde esvoaçam solos delirantes, labirÃnticos e vertiginosos,
um baixo elástico de linhas saltitantes, fluÃdas e dançantes, uma acrobática,
enfática e circense bateria soberbamente tiquetaqueada a desarmante
sensibilidade jazzÃstica, um altivo teclado de intrigantes, polposos,
imperiosos e serpenteantes mugidos, uma voz fidalga e galante – de pele
espirituosa, aveludada, ostentosa e apurada – que fica a meio caminho entre Derek
Shulman (Gentle Giant) e James Litherland (Colosseum),
uma mágica flauta transversal de sopros sedosos, leves, fabulares e melodiosos,
e ainda um vibrante tridente constituÃdo por radiosos, jubilosos, expressivos e
aparatosos saxofones de sangue mariachi e suor latino. ‘Blue Storm’ é
uma obra riquÃssima, aureolada por um esplendoroso revivalismo que muito me apraz, baloiçada
entre reconfortantes passagens oxigenadas a etérea acalmia, e estonteantes
galopadas de instrumentos em apoteótica e simbiótica debandada. Um dos mais
sérios candidatos a encabeçar a lista dos melhores álbuns do ano está aqui, no novo cabaret jazzÃstico dos
mexicanos Rostro del Sol.
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