segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Review: 🎪 Rostro del Sol - 'Blue Storm' (2023) 🎪

★★★★

Dois anos após ter sido descortinado o seu mirabolante álbum de estreia (análise descritiva aqui) – que eu viria a galardoá-lo aqui com o título de melhor disco referente a 2021 – este talentoso quinteto azteca, enraizado na populosa Cidade do México, liberta agora o seu muito aguardado segundo trabalho intitulado ‘Blue Storm’ e editado no formato físico de LP através do selo britânico Stolen Body Records. Contando com um baterista diferente (ainda que o anterior tenha participado num dos novos temas) e o acréscimo de um vocalista na sua constituição, os Rostro del Sol prosseguem assim a sua exploratória e triunfante digressão musical de brilho vintage pelos ajardinados trilhos de um elegante, aprumado, ornamentado e apaixonante Jazz Rock em afrodisíaca harmonia com um serpenteante, majestoso, libidinoso e enleante Prog Rock e ainda um radioso, caleidoscópico, exótico e odoroso Psychedelic Rock. Uma multicolorida, cerebral e caramelizada colagem sonora de onde se reconhecem e saboreiam indiscretas influências de culto, provenientes dos dourados territórios sessentista e setentista, como Colosseum, Gentle Giant, Deep Purple, King Crimson, Caravan, Sweet Smoke e Soft Machine. Esculpido e climatizado por uma sonoridade faustosa, primaveril, pastoril e pretensiosa que embrulha o ouvinte num imperturbável deslumbramento onírico, ‘Blue Storm’ é um registo verdadeiramente enfeitiçante que nos mantém em constante salivação e absorvente fascinação do primeiro ao derradeiro tema. São 35 minutos banhados a seráfica radiância, jornadeados a irretocável destreza e condimentados a inefável beleza. Uma obra piramidal – de composições audaciosas e trajes aristocráticos – que se passeia, bamboleia e envaidece pelos frescos, romanescos e verdejantes campos da idílica Canterbury. Um álbum intensamente irresistível, pincelado a impressionante técnica e transbordante emoção, que nos obriga a experienciá-lo sem qualquer moderação. Deixem-se cortejar e conquistar por este opulento registo, superiormente orquestrado por uma guitarra sumptuosa que se meneia em charmosos, novelescos e tortuosos riffs de onde esvoaçam solos delirantes, labirínticos e vertiginosos, um baixo elástico de linhas saltitantes, fluídas e dançantes, uma acrobática, enfática e circense bateria soberbamente tiquetaqueada a desarmante sensibilidade jazzística, um altivo teclado de intrigantes, polposos, imperiosos e serpenteantes mugidos, uma voz fidalga e galante – de pele espirituosa, aveludada, ostentosa e apurada – que fica a meio caminho entre Derek Shulman (Gentle Giant) e James Litherland (Colosseum), uma mágica flauta transversal de sopros sedosos, leves, fabulares e melodiosos, e ainda um vibrante tridente constituído por radiosos, jubilosos, expressivos e aparatosos saxofones de sangue mariachi e suor latino. ‘Blue Storm’ é uma obra riquíssima, aureolada por um esplendoroso revivalismo que muito me apraz, baloiçada entre reconfortantes passagens oxigenadas a etérea acalmia, e estonteantes galopadas de instrumentos em apoteótica e simbiótica debandada. Um dos mais sérios candidatos a encabeçar a lista dos melhores álbuns do ano está aqui, no novo cabaret jazzístico dos mexicanos Rostro del Sol.

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