sexta-feira, 3 de novembro de 2023

Review: 🍁 Lucid Sins - 'Dancing in the Dark' (2023) 🍁

★★★★

Recordo-me de na Primavera de 2021 ter ficado completamente petrificado e assoberbado pelo álbum ‘Cursed!’ cozinhado pelo adorável duo escocês Lucid Sins (aqui trazido e reverenciado), e, portanto, foi com um chamejante brilho no olhar que li o anúncio de um novo álbum a florir este Outono. Quando a espera pelo lançamento de um dos registos – por mim – mais aguardados do ano findou, corri sem medos e demoras para o interior dos decrépitos e labirínticos bosques de Lucid Sins para experienciar os seus novos contos maquiavélicos. E se muito deles esperava, tudo eles me deram. Denominado ‘Dancing in the Dark’, carimbado pelo selo discográfico francês Totem Cat Records e exteriorizado sob as formas LP, CD e digital, este terceiro álbum do dueto localizado na cidade portuária de Glasgow, que conta já com uma década de existência, vem incensado por um outonal, fascinante, tranquilizante e pastoral Neofolk de orientação pagã entrançado num umbroso, enfeitiçante, enigmático e charmoso Occult Rock de intrigantes diabruras. Encobertos por um escuro manto gótico que nos anoitece a alma, escutamos, com inquebrável encanto, imaginativos contos medievais que ressuscitam velhas lendas que assombravam os ancestrais, e dançamos, obsessiva e desavergonhadamente, de pés descalços e desnudos corpos transpirados, à volta de uma fogueira abraçada pelas trevas, cujas intensas lavaredas cospem endiabradas faúlhas que se convertem em cintilantes astros soterrados no negro solo cósmico. Uma magia cerimonial que nos seduz e conduz – sonâmbulos – ao lado eclipsado da religiosidade. Composto por duas mãos repletas de bonitas faixas de estética rural que transpiram uma serenidade demoníaca, uma graciosidade ritualística e uma melancolia obscurantista, ‘Dancing in the Dark’ é uma obra de aura fabular, moldura vintage e arejada a formosura, tricotada a melódica suavidade, mística obscuridade e hipnótica sensualidade que nos cerca e sufoca de uma profana doçura. Remexidas no interior de um esverdeado e borbulhante caldeirão em constante ebulição, gravitam influências como Wishbone Ash, Black Widow, Witchcraft e Dunbarrow que, quando combinadas, resultam numa deliciosa sopa sonora. Uma irresistível feitiçaria de natureza Wicca, soberbamente musicada por uma guitarra sumptuosa de requintados, romanescos, magnificentes e sublimemente detalhados acordes e solos ziguezagueantes, níveos, filamentosos e deslumbrantes, um aconchegante baixo de sussurrantes, sombreadas, amaciadas e magnetizantes linhas, uma encantadora bateria tiquetaqueada a desarmante sensibilidade jazzística, teclados quiméricos, vocais angelicais, luminosos, sedosos e siderais, um carismático órgão Hammond de polposos, faustosos e harmoniosos mugidos, e um fresco clarinete de misterioso clima noir que vagueia livremente à boleia de sopros serpenteantes, dourados e gritantes. O fantástico artwork que casa na perfeição o visual com o musical aponta os seus créditos autorais ao inconfundível David V. D’Andrea. Este é um registo imensamente bonito e cativante que, de forma leve e discreta, nos namora sem moderação. A venenosa picada de uma serpente que nunca vislumbrámos. O sangrento beijo do vampiro que nunca encontrámos fora dos nossos sonhos. ‘Dancing in the Dark’ é uma mélica tentação que nos faz tombar as pálpebras, corar as maçãs do rosto e morder os lábios. O chamamento das trevas onde nos agasalhamos e refugiamos confortavelmente. Bailem de olhos vendados pelos sombrios e embruxados bosques de Lucid Sins, e vivenciem com salivante e inapagável fascinação todo este estranho sonho acordado. Nunca o pecado assentou tão bem em nós.

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