Está
finalizada a trilogia da fascinante banda dinamarquesa Edena Gardens que
reúne músicos de Causa Sui, Papir e Sun River. Depois do
homónimo álbum de estreia (aqui descrito) e do segundo trabalho ‘Agar’
(aqui descrito), este talentoso tridente escandinavo apresenta agora o
seu terceiro (e derradeiro?) capÃtulo intitulado ‘Dens’ e editado
através da insuspeita El Paraiso Records nos formatos LP (600 cópias),
CD (300 cópias) e digital. Replicando a receita sonora que deu cor, textura e
sabor aos seus antecessores, ‘Dens’ passeia-se livre e graciosamente pelas
verdejantes planÃcies de um ternurento, outonal, pastoral e sonolento (no sentido elogioso da palavra) Contemporary Jazz, e pelas paradisÃacas praias de um embriagado, relaxante, deslumbrante
e aromatizado Psychedelic Rock. Conjugando a quentura desértica de Ry
Cooder, o estético virtuosismo de John Abercrombie, a salgada brisa oceânica
de Jim Thomas (The Mermen), as paisagens cinematográficas de Bill
Frisell e a gélida melancolia de Jakob Bro, Edena Gardens
vive da fina sensibilidade, do labirÃntico detalhe, da pura espontaneidade e sublime
formosura, provocando no ouvinte toda uma permeabilidade emocional. A sua
sonoridade idÃlica, lenitiva, fresca, introspectiva e ambiental conduz-nos até uma
janela com vista desimpedida para a noite cósmica, de cotovelos apoiados no
parapeito, rosto desmaiado nas palmas das mãos e um olhar sonhador içado na
vertiginosa direcção do mais longÃnquo firmamento estelar. ‘Dens’
representa uma tela onde vagueiam irreverentes pinceladas de um abstracto
psicadelismo, emoldurada pela disciplinada elegância da música Jazz. Uma
simbiótica improvisação de estirpe instrumental onde dialogam uma sumptuosa guitarra
de inesgotáveis, floridos, lÃmpidos e adoráveis solos trajados por uma insuperável
beleza que nos derrete de emoção e manejados por uma admirável destreza que nos
corta a respiração, um baixo murmurante de linhas elásticas, baloiçantes, magnetizantes
e fibróticas, uma bateria tribal a trote de timbalões marchantes e pratos
tilintantes, reluzentes e flamejantes, e ainda um quimérico sintetizador que
liberta imersivos e enfeitiçantes coros celestiais nesta atmosfera brumosa,
edénica e miraculosa. São 47 minutos mergulhados numa narcótica hipnose que nos
mantém maravilhados do primeiro ao derradeiro tema. Um verdadeiro oásis
sensorial onde nos reconfortamos, de espÃrito inundado por uma inapagável
sensação de pleno bem-estar. Deixem-se anoitecer, prender e embevecer pela harmoniosa,
anestésica, formosa e onÃrica musicalidade de ‘Dens’, e sintam-se fluir sossegada e vagarosamente
pelos acetinados lençóis deste nirvânico sonho sem a mais pequena vontade dele despertar.
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