sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Review: 🧛‍♂️ Misleading - 'Face the Psych' (2024) 🧛‍♂️

★★★★

O esfíngico quarteto português Misleading está na iminência de oficializar o lançamento do seu terceiro álbum de estúdio intitulado ‘Face the Psych’ (calendarizado para o dia de amanhã), mas o El Coyote orgulha-se de antecipar o parto, estreando, na íntegra e em primeira mão, aquele que se trata do seu álbum favorito, apresentado até à data pela banda enraizada na cidade de Leiria. Exorcizado e arrastado das mais abissais trevas para a amarelecida luzência diurna através do exclusivo formato digital – ainda que com as formas de CD e cassete pensadas para um futuro próximo – este novíssimo álbum de Misleading atormenta de forma impiedosa o ouvinte, atropelando-o sem demoras com uma febril, poderosa, contagiosa e vil avalanche psicotrópica que o deixará combalido e atordoado do primeiro ao derradeiro tema. Combinando um infernal, esotérico, mesmérico e cerimonial Doom Metal sintonizado na mesma frequência luciférica dos britânicos Electric Wizard, e um caótico, efervescente, erodente e selvático Heavy Psych de influência emprestada pelos saudosos californianos PETYR, este novo trabalho da formação lusitana crava os seus longos e afiados caninos na nossa jugular, poluindo os nossos rios sanguíneos com um veneno letal. De lucidez subtraída, alma anoitecida, olhar aterrorizado e espírito embriagado e embruxado de incuráveis intenções demoníacas, principiamos esta caravânica digressão nas enigmáticas Pirâmides de Gizé e prosseguimos – tanto a velocidade de cruzeiro numa morfínica, reflexiva, lenitiva e sonolenta absorção do horizonte cósmico que se vai desvelando calma e demoradamente, como numa libertadora, enlouquecedora, turbulenta e alucinante centrifugação que nos varre furiosamente pelos virginais territórios alienígenas – de olhos içados e corpo levitante na vertiginosa direcção do grande desconhecido que se esconde secretamente algures na eterna noite astral. Conservado e cozinhado a dois climas totalmente opostos – ora gélido, melancólico e anestésico, ora vulcânico, inflamado e eufórico – ‘Face the Psych’ edifica em redor de quem o comunga toda uma atmosfera extraterrestre sobrevoada por fantasmagóricas brumas que nos deixa desnorteados, atemorizados e de olhares desconfiados. Um verdadeiro cataclismo oxigenado por um vampírico obscurantismo que nos trava a respiração e impede de pestanejar. Bebam deste sangrento cálice, encarvoem-se na pretura cósmica e reverenciem o lado eclipsado da religiosidade à estimulante boleia sonora de uma guitarra ufana que alavanca e manobra riffs monolíticos, trevosos, pantanosos e cabalísticos – empapados em urticante distorção – e vomita solos avinagrados, desvairados, efervescentes e despedaçados, um hipnótico baixo de linhas baloiçantes, nervudas, sisudas e dançantes, uma ávida bateria de frenético coice Punk a galope de um ritmo ansioso, impaciente e belicoso, uma voz depravada de pele sebosa, bolorenta, decrépita e cavernosa, e enfeitiçantes teclados de caligrafia arábica que se serpenteiam em enleantes bailados e magicam dramáticos sirenes de estética Sci-Fi que colocam todo o Cosmos em estado de alerta. Este é um álbum verdadeiramente intrigante, detentor de uma sufocante obscuridade sem porta de saída. Um registo ritualístico que tanto nos adormece nos braços de fortes sedativos como endoidece numa intensa overdose de anfetaminas. A banda-sonora perfeita para musicar os velhos e carismáticos filmes de horror. Entrem na cripta de Misleading e dancem desnudos e compenetrados por entre sarcófagos e múmias andantes.

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