Proveniente da
cidade cultural de Oslo (capital da Noruega) chega-nos o
impactante álbum de estreia do quinteto experimental Full Earth (formado
pelos membros dos prolíficos Kanaan). Denominado ‘Cloud Sculptors’
e lançado pela já histórica companhia discográfica germânica Stickman
Records nos formatos LP, CD e digital, este primeiro trabalho da turma
norueguesa é norteado por uma exótica fusão musical onde prosperam um dominante,
monstruoso, umbroso e enfeitiçante Heavy Prog vigiado por sombrias, carregadas
e sisudas nuvens Doom’escas, um enfático, extravagante, empolgante e bombástico
Jazz-Rock – de excêntrica caligrafia Avant-Garde – sarapintado por
pulsantes e caleidoscópicas colorações psicadélicas, e ainda um desregrado,
intuitivo, explorativo e sónico experimentalismo de alquimia electrónica. A magnética,
camaleónica e sideral sonoridade de ‘Cloud Sculptors’ baloiça-se entre maravilhosas,
odorosas, ventiladas e astrais paisagens aureoladas por uma placidez virginal
que nos hipnotiza e eteriza com o seu absorvente minimalismo, e vertiginosas, turbulentas,
barulhentas e fervorosas galopadas inflamadas por um clima infernal que nos
sacode e explode de intensa euforia. Uma dançante, labiríntica e estonteante espiral
onde gravitam influências como Manuel Göttsching (Ash Ra Tempel),
Terry Riley, Elephant9, Krokofant, Sleep, Elder,
Mastodon, Baroness, High On Fire e os próprios Kanaan. São 84 minutos que encerram uma
fantástica odisseia pela infindável vacuidade cósmica, condimentada por visões
proféticas, contos mitológicos e explosões pirotécnicas que desabrocham no negro solo estelar. Na composição desta imaginativa, surrealista e
propulsiva viagem de longa duração pelos inexplorados territórios alienígenas,
dialogam entre si uma guitarra altiva de intoxicantes, monstruosos, rugosos e impressionantes
riffs – incendiados pelo urticante, espinhoso e electrizante efeito Fuzz
– de onde se libertam ácidos, venenosos, viscosos e translúcidos solos, um
baixo sufocante de linhas massivas, densas, tensas e invasivas, uma bateria endiabrada
de ritmicidade pautada a espalhafatosa tecnicidade e desconcertante velocidade,
e toda uma aquosa profusão de teclados futuristas que – tricotando toda uma complexa
teia de encaracolados loops que se encavalitam entre si – vagueiam de
velas içadas ao sabor do abstracionismo por melancólicas, cósmicas e fabulares passagens
de sublimada beleza que nos mergulham nas profundezas da introspecção. Este é
um álbum matematizado por inventivas composições cerebrais e subjugado pela
tempestade e a bonança. Uma colorida colagem de incontáveis peças que juntas
formam este sensacional puzzle musical. Fiquem na marcante, irreverente e gratificante
companhia de Full Earth durante este dia internacional do Jazz, e
vivenciem com inapagável fascinação um dos álbuns mais bizarros (no sentido elogioso da palavra)
lançados até ao momento em 2024.
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