Despertado de
uma longa e muda hibernação com mais de uma década de duração, este mastodôntico
vulcão volta a acender as suas incandescentes fornalhas, a cuspir faúlhas em chamas e a entrar em barulhenta
erupção. ‘The Paths of Time are Vast’ é o muito ansiado quarto e novo álbum
do potente tridente norte-americano Black Pyramid que vê finalmente a
luz do dia pela mão do selo discográfico francês Totem Cat Records sob as
formas LP, CD e digital. De instrumentos apontados ao místico território astral,
‘The Paths of Time are Vast’ é um revolto caldeirão em borbulhante
ebulição onde é remexida a pesada, espessa e possante sonoridade de intensa fogosidade
– patenteada nos seus trabalhos antecessores – e a mesma condimentada com um colorido,
arejado e sofisticado experimentalismo que a desconstrói, desoprime e desafoga.
Aprisionados e baloiçados numa dança orbital – de consagração espiritual, expansão
sensorial e emancipação consciencial – em torno de um montanhoso, oleoso e
enérgico Stoner Metal, um sísmico, ritualístico e carregado Doom
Metal e ainda um efervescente, erodente e intoxicante Heavy Psych,
tanto somos obscurecidos, intimidados e trucidados pela colossal potência de diabólica
impetuosidade que nos inflama de incontida euforia, como ocasionalmente somos comovidos,
anestesiados e conduzidos a um nirvânico estádio de reflexiva letargia. Um
constante pêndulo que vagueia entre a sufocante turbulência e a relaxante dormência.
De olhos cravados no horizonte cósmico, embarcamos numa imaginativa, enfeitiçante
e criativa odisseia extraterrestre, driblando o abraço gravitacional dos pálidos
e solitários astros que vêm à tona das abissais profundezas do oceano espacial,
empoeirando a nossa alma por entre fantasmagóricas nebulosas que explodem e
espalham colorações caleidoscópicas nos negros céus da eterna noite sideral, e escorregando
pelos alucinantes túneis de vorazes buracos negros que descoordenam o
espaço-tempo. A sua musicalidade complexa, heterogénica e cinematográfica – que
partilha o ADN sonoro com bandas como Zoroaster, Elder, YOB,
REZN e Mastodon – é superiormente orquestrada por uma imperiosa guitarra
de pronúncia Iommi’esca – consumida por uma distorção
crocante, crepitante e corrosiva – que hasteia monstruosos, rugosos, viscosos e
chamejantes riffs de onde serpenteiam ecoantes, ácidos, translúcidos e
uivantes solos em sónica debandada, um baixo massivo de linhas nervudas, obscuras,
asfixiantes e sisudas, uma bateria explosiva de açoitadas altivas,
intempestivas, violentas e abrasivas, teclados litúrgicos de mugidos
dramáticos, melancólicos e enigmáticos, e uma voz vampírica de tez avinagrada, urticante
e assanhada e lírica dedicada a temas como a guerra, o oculto, o esotérico e a
alienação da raça humana. São 70 minutos de um poderoso cataclismo com a força
de abalar e renovar consciências. Nunca a sedação e a agitação viveram tão
próximas uma da outra. Apertem bem os cintos para melhor lidarem com galopadas
vertiginosas, travagens bruscas e passagens celestiais desdobradas em slow-motion. Depois de dantescas tempestades seguidas de miraculosas bonanças, no final reina a febril
narcose que nos deixa à deriva na infinita vacuidade sideral. ‘The Paths of
Time are Vast’ representa o regresso triunfante de uma banda muito estimada
por todos os velhos apreciadores dos géneros em que a mesma se engaveta. Que
este vulcão trazido à vida continue a vomitar lava durante muitos, muitos anos,
pois cá estaremos para surfá-la.
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