Depois de em 2015
terem apresentado o seu apaixonante álbum de estreia (review aqui)
e em 2018 terem lançado o seu igualmente maravilhoso ‘II’ (review
aqui), os portuenses Astrodome ancoraram em parte incerta, e só
agora – sensivelmente cinco anos após a sua hibernação – ressurgem de vento em
popa no nosso radar com o pelágico ‘Seascapes’, editado a três mãos pela
portuguesa gig.Rocks!, pela londrina Copper Feast Records e pela
francesa Totem Cat Records nos formatos LP, CD e digital. Banhado por um
imersivo, reflexivo, deslumbrante e expansivo Psychedelic Rock de fragância
oceânica e estética cinematográfica, e abençoado por um viajante, atmosférico,
hipnótico e flutuante Space Rock sem destino traçado e com alto teor
electrónico, este terceiro registo instrumental de Astrodome exibe o
lado mais aventureiro, desprendido e experimental do quarteto português. De azimute
apontado a influências como Pink Floyd, Tangerine Dream, Mammatus,
Causa Sui, Papir, Mythic Sunship, 35007, Monkey3
e Interkosmos, a explorativa, envolvente, eloquente e lenitiva sonoridade
de ‘Seascapes’ desenraíza o ouvinte da prisão terrestre, dilatando e dissipando
a sua consciência pelas tranquilas águas do infindável oceano astral. Um
vertiginoso, evolutivo e corajoso mergulho na eterna e abissal noite cósmica,
trespassando fantasmagóricas e coloridas nebulosas, driblando o abraço gravitacional
de titânicos e solitários astros, escoando pela alucinante garganta de impiedosos
buracos negros que tudo aspiram no negro tapete sideral, e entrando no insondável
universo alienígena de olhar maquilhado pela cintilante poeira estelar. À deriva
e a levitar sem gravidade a que nos possamos agarrar, deixamo-nos flutuar
prazerosa e livremente pelo desdobrável horizonte sideral que a visual
musicalidade de Astrodome vai edificando e colorindo à nossa frente. Uma
profunda hipnose de ofuscante psicadelismo que nos seduz, adormece, embevece e
conduz ao nirvana. Boiando nesta perpétua ondulação, somos sorvidos e dominados
por uma imperturbável sensação de pleno bem-estar, e naufragados nas
coordenadas do espaço-tempo. Uma seráfica placidez superiormente musicada por duas
guitarras etéreas que se manifestam em espaçosos, arejados, condimentados e esponjosos
acordes, um murmurante baixo de linhas elásticas, fibrosas, magnéticas e ondeantes,
uma bateria tribalista de ritmos estimulantes, enfeitiçantes, buliçosos e bailantes,
e um quimérico sintetizador criador e disseminador de uma onírica bruma oxigenada
por um exotismo astral. Sintam a vossa lucidez embaciar, o corpo relaxar, as
pálpebras tombar e o vosso ego se desintegrar numa sagrada e sonhadora transcendência
pela verticalidade do Cosmos interior sem a mais pequena vontade dele acordar. ‘Seascapes’
é um inventivo sedativo de elevada toxicidade que nos resgata da realidade e
devolve aos astros. São 43 minutos de um intenso encantamento que nos inebria, anestesia
e desagua nas paradisíacas praias da ataraxia. Dissolvam-se nas profundezas
desta envolvente fantasia, embriaguem-se de açucarada melancolia, inalem o forte
odor a maresia e saltem para cima deste trampolim que vos levará a resvalar as costuras
fronteiriças do espaço bocejante. Não vai ser nada fácil, ou sequer desejado,
despertar deste sonho. Um dos grandes álbuns do ano está aqui, no tão aguardado,
impactante e triunfante regresso dos navegantes portugueses Astrodome ao
alto-mar.
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