sexta-feira, 8 de março de 2019

Review: ⚡ Crypt Trip - 'Haze County‘ (2019) ⚡

É ainda de coração a rufar, respiração acelerada e lucidez desequilibrada que escrevo estas palavras. Crypt Trip é hoje uma das grandes bandas da minha vida e, portanto, sou forçado a admitir que ‘Haze County’ se tratava – muito provavelmente – do álbum por mim mais aguardado de 2019. Depois de devidamente comungado e reverenciado o seu impactante antecessor ‘Rootstock’ (Review aqui) e de posteriormente o ter considerado como o melhor álbum do ano transacto de 2018 (listagem final aqui), eis que este fascinante jovem power-trio natural de San Marcos (Texas, EUA) acaba de presentear todos os seus crescentes seguidores com o terceiro e novo álbum oficialmente lançado pelo afamado selo discográfico italiano Heavy Psych Sounds nos formatos físicos de CD e vinil. Alicerçada em variadas influências clássicas como Doug Sahm, Captain Beyond, James Gang, The Allman Brothers Band e The Grateful Dead, a sonoridade inteiramente revivalista de ‘Hazy County’ passeia-se por uma carismática ambiência sessentista e setentista de onde facilmente se reconhece e apalada um Texas Blues, Classic Rock, Southern Rock, Country Rock e ainda um Psych Rock. E são estes ingredientes brilhantemente temperados e conjugados que fazem deste registo uma deliciosa iguaria capaz de fazer salivar os meus ouvidos e arrebatar a minha alma sedenta de algo assim. Norteados por uma veia vintage que muito me cativa e empolga, os texanos Crypt Trip viajam o ouvinte por uma ensolarada paisagem rural – pertencente a uma saudosa era há muito em desuso – envolvendo-o na sua musicalidade de clara tradição texana. Os três instrumentos padrão dialogam entre si, mostrando uma invejável coesão que nos hipnotiza, prende e euforiza aos longo dos 9 temas desiguais que compõem este fabuloso álbum. Destravem a cabeça na entusiasmante perseguição a uma aprazível guitarra que tanto se manifesta em primorosos, luminosos e arrebatadores acordes, como se excede na libertação e condução de solos verdadeiramente provocantes, inflamantes e enlouquecedores. Balanceiem o vosso corpo ao sabor da reverberante e magnetizante ondulação propagada por um poderoso baixo Kraut’eano de linhas pulsantes, vincadas, encorpadas e dançantes. Sintam-se esporeados e incendiados por uma estupenda bateria de requintada orientação jazzística que desbrava todo o álbum com as suas mirabolantes, leves, velozes e desarmantes acrobacias carburadas a destreza, dinamismo e subtileza, e rebaixem as pálpebras quando confrontados com a presença de uma voz melodiosa, branda, aveludada e resplendorosa que sobrevoa com liberdade e distinção todas as esplendorosas planícies sonoras percorridas por ‘Haze County’. De salientar ainda a encantadora presença adicional de um uivante, emotivo e apaziguante pedal steel que nos bronzeia e empoeira de um velho misticismo fielmente trazido do espírito Country. Este é um álbum inteiramente pensado e executado à minha imagem. Um disco repleto de uma aura rústica que me deslumbrara e namorara do primeiro ao derradeiro minuto. Alcanço o inaugural instante de silêncio – depois de findado o seu último tema – completamente rendido e atordoado pelo primor que o mesmo encerra. E é de emoção ainda à flor da pele que tudo em mim me obriga a apontá-lo não só como o melhor álbum nascido até ao momento no ainda juvenil ano de 2019, mas muito possivelmente o titular do tão almejado lugar cimeiro do podium final. Dito isto, a responsabilidade passa agora para todas as bandas grávidas e com o parto discográfico à vista conseguirem contrariar essa forte e iminente possibilidade.

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