É ainda de coração a rufar,
respiração acelerada e lucidez desequilibrada que escrevo estas palavras. Crypt Trip é hoje uma das grandes
bandas da minha vida e, portanto, sou forçado a admitir que ‘Haze
County’ se tratava – muito provavelmente – do álbum por mim mais
aguardado de 2019. Depois de devidamente comungado e reverenciado o seu impactante antecessor ‘Rootstock’ (Review aqui)
e de posteriormente o ter considerado como o melhor álbum do ano transacto de
2018 (listagem final aqui), eis que este fascinante jovem power-trio natural de San Marcos (Texas, EUA) acaba de
presentear todos os seus crescentes seguidores com o terceiro e novo álbum oficialmente
lançado pelo afamado selo discográfico italiano Heavy Psych Sounds nos formatos físicos de CD e vinil. Alicerçada
em variadas influências clássicas como Doug
Sahm, Captain Beyond, James Gang, The Allman Brothers Band e The
Grateful Dead, a sonoridade inteiramente revivalista de ‘Hazy
County’ passeia-se por uma carismática ambiência sessentista e setentista de
onde facilmente se reconhece e apalada um Texas
Blues, Classic Rock, Southern Rock, Country Rock e ainda um Psych Rock.
E são estes ingredientes brilhantemente temperados e conjugados que fazem deste
registo uma deliciosa iguaria capaz de fazer salivar os meus ouvidos e
arrebatar a minha alma sedenta de algo assim. Norteados por uma veia vintage que muito me cativa e empolga, os
texanos Crypt Trip viajam o ouvinte
por uma ensolarada paisagem rural – pertencente a uma saudosa era há muito em
desuso – envolvendo-o na sua musicalidade de clara tradição texana. Os três
instrumentos padrão dialogam entre si, mostrando uma invejável coesão que nos
hipnotiza, prende e euforiza aos longo dos 9 temas desiguais que compõem este
fabuloso álbum. Destravem a cabeça na entusiasmante perseguição a uma aprazível
guitarra que tanto se manifesta em primorosos, luminosos e arrebatadores acordes,
como se excede na libertação e condução de solos verdadeiramente provocantes,
inflamantes e enlouquecedores. Balanceiem o vosso corpo ao sabor da
reverberante e magnetizante ondulação propagada por um poderoso baixo Kraut’eano de linhas pulsantes, vincadas, encorpadas
e dançantes. Sintam-se esporeados e incendiados por uma estupenda bateria de requintada
orientação jazzística que desbrava
todo o álbum com as suas mirabolantes, leves, velozes e desarmantes acrobacias carburadas
a destreza, dinamismo e subtileza, e rebaixem as pálpebras quando confrontados
com a presença de uma voz melodiosa, branda, aveludada e resplendorosa que
sobrevoa com liberdade e distinção todas as esplendorosas planícies sonoras percorridas
por ‘Haze
County’. De salientar ainda a encantadora presença adicional de um uivante,
emotivo e apaziguante pedal steel que
nos bronzeia e empoeira de um velho misticismo fielmente trazido do espírito Country. Este é um álbum inteiramente
pensado e executado à minha imagem. Um disco repleto de uma aura rústica que me
deslumbrara e namorara do primeiro ao derradeiro minuto. Alcanço o inaugural instante de silêncio – depois de findado o seu último tema – completamente
rendido e atordoado pelo primor que o mesmo encerra. E é de emoção ainda à flor da pele que tudo em mim me obriga a apontá-lo não só como o melhor
álbum nascido até ao momento no ainda juvenil ano de 2019, mas muito possivelmente
o titular do tão almejado lugar cimeiro do podium
final. Dito isto, a responsabilidade passa agora para todas as bandas grávidas e com o parto discográfico à vista conseguirem contrariar essa forte e iminente possibilidade.
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