quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Review: ⚡ The Black Wizards - 'Reflections' (2019) ⚡

Os The Black Wizards habituaram todos os seus crescentes apreciadores a testemunharem por cada novo registo lançado um passo em frente no caminho da maturação enquanto banda, mas este terceiro e novo álbum não representa um passo evolutivo – quando comparado com o seu antecessor – mas um verdadeiro salto olímpico na escala qualitativa que o firmara não só como o trabalho mais completo da banda minhota até à data, mas como um dos melhores álbuns que ouvi neste já farto ano de 2019. Depois de ‘Lake of Fire’ de 2015 (review aqui), ‘What the Fuzz!’ de 2017 (review aqui), este talentoso quarteto prepara-se agora para apresentar ‘Reflections’ – mantendo o seu já habitual intervalo temporal de dois anos a balizar cada álbum – que tem o seu nascimento oficial agendado para a próxima sexta-feira (23 de Agosto) pela mão da já influente editora portuguesa Raging Planet (em formato de CD) e pelo fértil selo germânico Kozmik Artifactz (em formato de vinil, repartido em variadas edições ultra-limitadas a poucas dezenas de cópias físicas existentes). Ainda assim, foi-me dada a irrecusável oportunidade de experienciar na íntegra e com antecedência este seu novo álbum, e o que se segue é o mais fiel reflexo vertido do universo emocional para o domínio textual de tudo o que o mesmo em mim provocara e despertara.

De raízes soterradas num atraente, perfumado, poeirento e excitante Heavy Blues – à boa moda de All Them Witches mas com um vincado cunho pessoal – que conjuga na perfeição a sua carismática essência rudimentar trazida dos velhos campos de algodão lavrados na região delta do Mississippi, com um electrizante paladar a modernidade, a complexa e apaixonante sonoridade de ‘Reflections’ passeia-se por entre incandescentes, dinâmicas, vulcânicas e comoventes galopadas brilhantemente esporeadas e inflamadas a efeito fuzz, e estarrecedoras baladas sublimemente dedilhadas a um suavizante, ataráxico e inebriante Folk de inspiração Western que prontamente nos remete para a xamânica solitude num anoitecer desértico onde só os uivantes coiotes preenchem o purificante silêncio. De olhar semicerrado, sorriso paralisado, cabeça e tronco bamboleantes e alma completamente tomada por uma imperturbável sensação de pura fascinação, somos incessantemente instigados por duas guitarras inspiradas que se entrelaçam em prazerosos, místicos, arábicos e ostentosos riffs, e desenlaçam em borbulhantes, ácidos e delirantes solos, um sombreado baixo balanceado a linhas sussurrantes, fluídas e serpenteantes, uma inventiva bateria de toque polido, esmerado, cintilante e cuidado nos pratos, e talentosas, tribalistas e desembaraçadas acrobacias a trote da tarola e dos timbalões, e uma adorável voz de tonalidade melodiosa, cristalina, ecoante e voluptuosa que – afagada e aureolada por um vocal coro celestial – se balanceia entre plácidos, aveludados e reconfortantes momentos regados a desarmante requinte e outros atiçados a uma megafónica, anárquica e amotinada irreverência. É-me ainda essencial arremessar elogiosos sentimentos para com o colorido, berrante, vibrante e exótico artwork de créditos facilmente reconhecidos e apontados à peculiar ilustradora Jbwizard. Num movimento pendular que me desloca de uma doce e sagrada paralisia até uma saturada e ardente euforia, chego ao final deste irretocável ‘Reflections’ de lucidez entorpecida, esgotada e distorcida. Um alucinante vórtice espelhado a texturas caleidoscópicas pelo qual escorregamos sem vontade dele regressar. Com este álbum de beleza consumada e meteórica projecção, os The Black Wizards alcançam uma invejável – mas inteiramente meritória – posição de grande destaque no que ao panorama português da música Rock diz respeito. Um registo que resvala nas tão ambicionadas fronteiras da perfeição e que em mim hospedara todo um intenso e ofuscante deslumbramento impossível de contrariar.

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