terça-feira, 30 de novembro de 2021
segunda-feira, 29 de novembro de 2021
sábado, 27 de novembro de 2021
sexta-feira, 26 de novembro de 2021
Review: ⚡ Snake Mountain Revival - 'Everything in Sight' (2021) ⚡
Depois de dois
pequenos – mas muito auspiciosos e largamente elogiados – passos discográficos
(os EPs ‘Snake Mountain Revival’ de 2018 e ‘The Valley of
Madness' de 2019), este apaixonante power-trio localizado na
cidade costeira de Virginia Beach (Virgínia, EUA) lança
agora o seu muito ansiado primeiro registo de longa duração ‘Everything in Sight’
pela mão da parceria discográfica Ripple Music / Rebel Waves Records
nos formatos digital, CD e vinil. Farolizado e oxigenado por um caleidoscópico, nebuloso,
lustroso e quimérico Psychedelic Rock a fazer recordar All Them
Witches, The Flying Eyes e King Buffalo, um onírico,
hipnótico, xamânico e deslumbrante Krautrock de pálido tempero cósmico, e
ainda um dançante, desértico, estético e contagiante Surf Rock de serpenteio
Dick Dale’sco e clima Spaghetti Western que fará salivar o cineasta Quentin Tarantino, este paradisíaco álbum de estreia
do trio Snake Mountain Revival aprisionara-me num inamovível estádio de
nirvânica narcose, aspergida por um torpor idílico e revolvida por uma prazerosa
náusea. A sua sonoridade sonhadora, mística e regeneradora – mergulhada no
fantasmagórico efeito Reverb – desmaia as nossas pálpebras sobre um
olhar distante, descortina um genuíno sorriso, massaja o cerebelo, embacia a
lucidez e embala-nos numa sonâmbula vertigem em slow-motion de membros
paralisados e sentidos embriagados. Baloicem pesadamente os vossos corpos
temulentos neste delirante jogo de espelhos à purificante boleia de uma
guitarra alucinógena que se passeia em enigmáticos, cativantes, atordoantes e
seráficos Riffs de onde esperneiam solos uivantes, venenosos, vistosos e
penetrantes, um baixo ronronante de linhas encaracoladas, fluídas, movediças e
pulsantes, uma bateria tribalista de galope envolvente, estimulante, ritmado e
eloquente, e ainda uma voz libidinosa, mélica, sidérica e charmosa – de lirismo
poético e profético – que ressoa por todo este açucarado, mágico e sublimado
sonho musicado. São 44 minutos de dormência sensorial e afago espiritual que
nos deambulam pelas esbatidas, vaporosas e embevecidas paisagens sonoras de ‘Everything
in Sight’. O esdrúxulo artwork de características surrealistas
aponta os seus créditos autorais ao pintor russo Stanislov Pobytov. Este
é indubitavelmente um dos meus álbuns favoritos do ano. Um disco cozinhado a apurada
subtileza, afrodisíaco requinte e imaculada beleza, que tão bem combina a
odorosa delicadeza com a fogosa rudeza. Dissolvam-se nesta brumosa alquimia de
ofuscação balsâmica e imersão ritualista de pleno encanto sem fim à vista.
Links:
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➥ Bandcamp
➥ Ripple Music
➥ Rebel Waves Records
quinta-feira, 25 de novembro de 2021
quarta-feira, 24 de novembro de 2021
Review: ⚡ It was the Elf - 'Ancestors' (2021) ⚡
Com o lançamento
oficial do novo álbum ‘Ancestors’ calendarizado para o dia de
amanhã – 25 de Novembro – pela mão da influente editora discográfica portuguesa
Raging Planet nos formatos digital e CD (este último limitado a 300
cópias), os serranos It was the Elf – localizados na cidade de Gouveia (distrito da Guarda) – dão assim mais um firme passo em frente na triunfante caminhada
pela sua afirmação dentro do panorama musical nacional. Norteado por uma
evocação e devoção ancestrais, este quarteto beirão traja um trevoso, enérgico,
colérico e fibroso Heavy Rock em simbiótica parceria com um fogoso, carismático,
enfático e montanhoso Grunge Rock resgatado aos saudosos anos 90. De
rédeas empunhadas, maxilares cerrados, olhar incendiado e esporas
ensanguentadas, a estrondosa sonoridade de ‘Ancestors’ é carburada
e troteada por uma impiedosa cavalaria pesada que ocasionalmente descontrai nos
orvalhados, meditativos, lenitivos e embrumados campos de um plácido, etéreo e
embriagado Psychedelic Rock. Para lá do lustroso tilintar dos chocalhos que
sonoriza a pastorícia, do latir dos cães que fere o bucólico e imersivo silêncio
rural, e do harmonioso chilrear dos pássaros que anuncia a tímida madrugada de
um novo dia na serra, adensa-se e agiganta-se todo um monolítico tsunami
de crepitante distorção nas cordas troantes, tambores tribais e vocais guturais
de It was the Elf. Deixem-se encarvoar nas negras lavaredas que afogueiam ‘Ancestors’, e vibrem à sísmica deflagração de uma guitarra erosiva
que vocifera musculosos, apimentados, encrespados e imperiosos Riffs e vomita solos serpenteantes, ácidos, fosforescentes e delirantes, um baixo obeso de intumescida,
tensa, espessa e sombreada reverberação, uma intensa, agressiva e incisiva bateria
de baquetas em chamas, e uma voz felina que – pendulando entre escarpados, rouquenhos
e melódicos rugidos, e tonalidades cristalinas, delicadas e espaciais – ressoa
e ecoa por todas as atmosferas deste álbum. São 50 minutos atestados de acentuados contrastes
climatéricos, onde coabitam a glacial letargia e a vulcânica euforia. Subam até
ao cume desta alterosa serra e avistem todo o esplendor, domínio e vigor de um
dos melhores registos portugueses do ano.
Links:
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➥ Bandcamp
➥ Raging Planet
segunda-feira, 22 de novembro de 2021
Review: ⚡ Madera Raíz - 'No les queda tanto Tiempo' (2021) ⚡
Oriundo da vibrante cidade-capital de Buenos Aires chega-nos o muitíssimo aguardado álbum de
estreia do electrizante power-trio argentino Madera Raíz, acabado
de ser retirado do forno sob a exclusiva forma digital e carimbado com selo de
autor. Herdeiros da sagrada musicalidade deixada e perpetuada pelo lendário Pappo,
este tridente de instrumentos engatilhados e olhar fulminante ostenta um provocante,
oleado, ritmado e inflamante Heavy Blues de balanço Boogie
e tração setentista, aliado a um efervescente, bombástico,
caleidoscópico e ardente Heavy Psych de roupagem crivada por negros adereços
Proto-Doom’escos e toxicidade a perder de vista. A sua
sonoridade picante, entusiástica, afrodisíaca e rutilante – sintonizada nas
mesmas frequências de clássicas referências como Black Sabbath, ZZ Top,
Cactus e Pappo’s Blues – é remexida, fervida e servida em dançantes
chamas. Com uns velozes 32 minutos de duração – fragmentados em quatro temas
originais e uma versão cover da primitiva e largamente imitada “Spoonful” (originalmente
escrita por Willie Dixon e gravada pela primeira vez em 1960 por Howlin'
Wolf) captada num concerto ao vivo em 2019 com tremulantes, avinagrados e enfeitiçantes vocais femininos a encerrar o disco em apoteose – ‘No les queda tanto Tiempo’
é um registo escaldante que nos sobreaquece, bronzeia e pontapeia de embriagada
euforia. Na composição deste espirituoso bourbon efervescem uma jupiteriana
guitarra de umbrosos, pesados, defumados e poderosos Riffs consumidos pela
urticante distorção, de onde gritam e esvoaçam alucinantes, ácidos, selváticos e
trepidantes solos em sónica evasão, um baixo musculado de reverberação baloiçada,
tensa, densa e ondulada, uma bateria acrobática, enfática e pujante de
timbalões escoiçados e pratos flamejantes, e uma voz liderante – de entoação
aristocrática e ínfimos rugidos de textura escarpada – que emerge e se agiganta
nesta fumarenta ebulição instrumental. Num plano secundário – no que à
constância de protagonismo diz respeito – são ainda trazidos pela brisa do
velho oeste os sopros arenosos, odorosos e penetrantes de uma harmónica, e perscrutam-se
também ecos do virtuoso espanhol Paco de Lucía num Flamenco dissimulado
e de ornamentos cuidadosamente escalados pelo encordoamento de uma guitarra
acústica. Este é um trabalho do tamanho das minhas expectativas a ele dedicadas.
Embalem na enlouquecedora vertigem desta aparatosa montanha-russa que irá pôr à
prova a solidez estrutural da vossa sanidade mental, e vivenciem com vulcânico
empolgamento de erupções à flor da pele todo este furacão de endorfinas superiormente
domesticado pela talentosa formação alviceleste.
domingo, 21 de novembro de 2021
sábado, 20 de novembro de 2021
sexta-feira, 19 de novembro de 2021
Review: ⚡ Electric Moon meets Talea Jacta - 'Sabotar' (2021) ⚡
Quis o destino
que o trio germânico Electric Moon e o duo português Talea Jacta se
encontrassem e partilhassem o mesmo palco do saudoso Sabotage Club
(emblemático espaço cultural situado na cidade de Lisboa que infelizmente
não sobrevivera ao duradouro confinamento imposto pela pandemia) no já distante
verão de 2019, e daí nasceu esta intuitiva, absorvente e criativa Jam session
conjunta chamada ‘Sabotar’. Lançado hoje mesmo pela mão do
insuspeito selo discográfico alemão Sulatron Records (casa-mãe de Electric
Moon) nos formatos físicos de CD e vinil (ambos limitados à prensagem de
apenas 500 cópias disponíveis) esta ousada, mas bem-sucedida, parceria Electric
Moon meets Talea Jacta tece uma labiríntica, ritualística, mística e elaborada
teia sonora onde coabitam e dialogam um intrigante, hipnótico, cósmico e enfeitiçante
Neo-Krautrock com vista para as estrelas, e um deslumbrante, caleidoscópico,
tóxico e atordoante Neo-Psychedelic Rock que nos escancara as portas da
percepção. Climatizado ainda por um exótico experimentalismo sem complexos que
o inibam ou fronteiras que o espartilhem, ‘Sabotar’ vem compartimentado
em três arejadas, longas e viajadas Jam’s de índole instrumental
que desatam o Ego do ouvinte e o arremessam para as abissais profundezas do
negrume celestial. São 42 minutos de uma texturizada, alcoolizada e inescapável
narcose que nos dilata as pupilas, empalidece o semblante, e naufraga o espírito
na incomensurável obscuridade cósmica. Como composição desta nebulosa,
lisérgica e misteriosa alquimia musical perfilam-se duas guitarras xamânicas – soterradas
na espessa bruma de toda uma profusão de esquizofrénicos efeitos – que se
entrelaçam na edificação de uma enlouquecedora escadaria de Riffs em forma
de espiral, e desenlaçam e atropelam na emancipação de efervescentes, ácidos,
delirados e uivantes solos que nos rasgam as vestes da lucidez, um baixo
soberbamente Krauty – de linhas vagueantes, inchadas, encaracoladas e oscilantes
– que anoitece toda esta atmosfera onírica, e duas baterias siamesas que embaladas
e compenetradas num trautear incessante, cativante e tribalista fazem pulsar
todos os solitários astros sepultados no trevoso solo do Cosmos bocejante. O estético
artwork de essência mitológica aponta os seus créditos autorais à ilustradora
Komet Lulu (a própria baixista de Electric Moon). Imóveis, boquiabertos e de almas aturdidas,
experienciem todo este exorcismo planetário superiormente liderado pela fusão
destas duas bandas que falam o idioma das estrelas. Não vai ser nada fácil – ou sequer
desejado – despertar deste sonho acordado.
Links:
➥ Electric Moon (FB)
➥ Talea Jacta (FB)
➥ Sulatron Records
➥ Youtube
quinta-feira, 18 de novembro de 2021
quarta-feira, 17 de novembro de 2021
Review: ⚡ STEW - 'Taste' (2021) ⚡
Depois de lançados
o EP ‘Hot’ (aqui examinado) e o álbum de estreia ‘People’
(aqui analisado e posteriormente aqui medalhado como um dos
melhores álbuns de 2019), os escandinavos STEW servem agora o seu
segundo trabalho de longa duração, designado ‘Taste’ e promovido com
o carimbo editorial da discográfica germânica Uprising Records no
formato físico de vinil. Este electrizante power-trio sueco – natural da
pequena cidade de Lindesberg – mantém-se fiel à bem-sucedida receita
musical que os acompanha já desde a sua fundação, ostentando um majestoso, fogoso,
atraente e imperioso Heavy Blues de inspiração revivalista em parceria com
um lubrificado, elegante, espadaúdo e apimentado Hard Rock de roupagem setentista.
Permutando entre vulcânicas, vistosas, libidinosas e titânicas galopadas locomovidas
à rédea larga, e lustrosas, açucaradas, gloriosas e melódicas baladas sorvidas
numa melosidade imprópria para diabéticos, este contagiante ‘Taste’
é um álbum imensamente voluptuoso que combina a delicadeza com a rudeza, a
leveza com a robustez e a placidez com a efervescência numa suculenta iguaria
de fácil digestão e imediata veneração. Cortejados,
embalados e enleados pela intensa sedução de STEW, rebaixamos as
pálpebras, curvamos a linha labial na direcção do sorriso, coramos as bochechas
e dançamos de forma detida e apaixonada ao simbiótico, quente e erótico som de
uma guitarra charmosa que se conduz pelas sinuosas estradas de dinâmicos,
pomposos, esculturais e corpulentos Riffs – chamejados a ardente
distorção de faúlhas crepitantes e borbulhante conflagração – e venenosos, alucinógenos,
orgiásticos e vaidosos solos gritados e centrifugados a arrebatadora afinação,
um bafejante baixo reverberado a bailantes, densas, tensas e oscilantes linhas
que sombreiam e empolam o Riff-base, uma acrobática bateria de apurada
tecnicidade e enfática explosividade que esporeia e incendeia toda esta
detonação de prazer, e uma reinante voz de pele mélica, rouquenha, simétrica e felina
– envernizada a abrasivo Whiskey – que surfa com desarmante extravagância os polposos, revoltosos e
fosforescentes caudais de incandescente magma que estriam este fumegante e gorgolejante vulcão
em incessante erupção. São 39 minutos atestados de extasiante fervura e
sufocante doçura que nos banham, sobreaquecem e assanham do primeiro ao
derradeiro tema. ‘Taste’ é um álbum verdadeiramente edificante e
apoteótico. Deixem-se inundar nos profundos odores transpirados por esta sublimada
obra de beleza depurada e destreza apurada, e vivenciem toda a obcecante magnificência
irradiada de um dos mais carismáticos discos do ano. Consumam-no sem moderação,
pois é humanamente impossível ouvi-lo apenas uma vez, duas ou três.
Links:
➥ Facebook
➥ Spotify
➥ Uprising Records
segunda-feira, 15 de novembro de 2021
Review: ⚡ Møtrik - 'MØØN: The Cosmic Electrics of MØTRIK' (2021) ⚡
Com a base
espacial situada na cidade de Portland (Oregon, EUA), os
astronautas musicais Møtrik acabam de lançar
um novo capítulo da sua aventurosa expedição astral, designado de ‘MØØN:
The Cosmic Electrics of MØTRIK’, e promovido pelo selo discográfico local
Jealous Butcher Records através dos formatos digital, CD e vinil (este
último ultra-limitado à prensagem de apenas 100 exemplares). Compassado a um dançante,
imersivo, repetitivo e enfeitiçante Krautrock de descendência germânica e
com um pigmento de caleidoscópico psicadelismo – que aponta influências a incontornáveis
referências do género, tais como Can e Neu!, e se sintoniza na
mesma frequência de outras mais contemporâneas como por exemplo Moon Duo
e Föllakzoid – e
condimentado a um viajante, ritualístico, místico e deslumbrante Space Rock
de sónicas experimentações Hawkwind’eanas que faroliza,
pisa e mapeia as zonas mais recônditas do Cosmos, este quinto álbum do quarteto
norte-americano tem a capacidade de desancorar o ouvinte da gravidade terrestre,
destrancar a sua consciência e levitá-lo por entre chamejantes fornalhas
estelares, rochosas cinturas de asteroides, poeirentas nebulosas e solitários
planetas sepultados no negro solo do espaço sideral. A sua sonoridade ventilada,
espaçosa e absorvente é tiquetaqueada a um ritmo catalisador e oxigenada a um
experimentalismo desorientador, causando e imortalizando em nós todo um sagrado
estádio de emancipação sensorial e consagração espiritual. De olhar eclipsado, rosto
desmaiado, semblante baloiçado e espírito integralmente maravilhado, somos cativados
e passeados pela infinidade do Cosmos à boleia de uma metronómica bateria
embalada a um compasso robótico, persistente, eloquente e hipnótico, um baixo groovy
que bafeja pulsantes, maleáveis, veneráveis e ondeantes linhas, uma guitarra alucinógena
de místicos, coloridos, ziguezagueados e psicotrópicos devaneios, uma voz
profética de tez etérea, frágil, sedosa e espectral, e ainda toda uma vistosa alquimia
magicada por enigmáticos sintetizadores que dialogam entre si através de coros
alienígenas. São 63 minutos de uma extasiante, morfínica, terapêutica e atordoante hipnose
que nos relaxa o corpo, cura a alma e massaja o cérebro. Deixem-se imergir, diluir
e sublimar nas abissais profundezas de Møtrik, e embarquem
numa comatosa e onírica excursão sem garantias de regresso à realidade.
Links:
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➥ Jealous Butcher Records
domingo, 14 de novembro de 2021
sábado, 13 de novembro de 2021
sexta-feira, 12 de novembro de 2021
Review: ⚡ Kanaan - 'Earthbound' (2021) ⚡
Depois de ‘Windborne’
(aqui examinado), ‘Odense Sessions’ (aqui
examinado) e ‘Double Sun’ (aqui examinado), eis que o
jovem e talentoso tridente norueguês Kanaan – sediado na capital Oslo
– acaba de lançar o seu quarto álbum de estúdio, denominado de ‘Earthbound’
e carimbado pela companhia discográfica local Jansen Records através dos
formatos digital e vinil. Enegrecendo, dinamitando e robustecendo a
musicalidade que norteara os seus antecessores, este bombástico e aparatoso ‘Earthbound’ associa
um inflamante, tonificado, carregado e euforizante Heavy Psych de atemorizantes feições Doom’escas a um estonteante, acrobático, enfático e
electrizante Jazz-Rock lavrado a sónico experimentalismo, e
ainda a um imersivo, hipnótico, quimérico e meditativo Krautrock que
orvalha os efémeros estágios de etérea bonança nesta bélica e implacável tempestade instrumental. A sua sonoridade
intensamente efervescente, montanhosa, portentosa e erodente agiganta-se
perante o ouvinte num impactante, monolítico e chamejante tsunami de
endorfinas que o sombreia e incendeia de sísmica exaltação. Conseguem imaginar
os lendários Kyuss à saída de uma academia de Jazz com o diploma
debaixo do braço? Se sim, então acabam de pisar os abrasivos territórios onde
germinara e frutificara este novo álbum de Kanaan. Na composição do
combustível que nutre toda esta vertiginosa propulsão, alinham-se uma titânica guitarra
– banhada, distorcida e encrostada pelo infernal, crocante e borbulhante efeito
Fuzz – que vocifera fogosos, ciclónicos, tirânicos e monstruosos Riffs
de onde descarrilam nervosos, uivantes, ácidos e sinuosos solos, um fibrótico baixo
valvulado a linhas pulsantes, inchadas, onduladas e possantes, uma selvática bateria
em polvorosa que escoiceia – a frenética agilidade, enérgica explosividade e desmedida
tecnicidade – os timbalões trovejantes e os pratos relampejantes, e ainda um mágico
sintetizador que asperge a atmosfera do disco de um edénico misticismo estelar.
O artwork minimalista de design futurista aponta os seus créditos
autorais ao inconfundível artista sueco Robin Gnista. São 44 minutos
governados por um caótico bombardeamento que nos agride e amotina, aliado a um
psicotrópico atordoamento que nos embacia a lucidez e atesta de pesada
embriaguez. ‘Earthbound’ é um registo verdadeiramente expressivo,
pujante, tonitruante e incisivo – de longe o mais trevoso da sua discografia –
que fará estremecer de vibrante e caloroso empolgamento todo aquele que ousar
enfrentá-lo. Deixem-se arrastar e embalar à boleia da forte corrente de ‘Earthbound’,
e naufragar num centrifugado delírio. Um dos grandes discos do ano está aqui,
na revitalizante força dos transmutados Kanaan. É impossível escapar disto ileso. Encarvoem-se, revolvam-se e empoderem-se nele.
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➥ Jansen Records
quinta-feira, 11 de novembro de 2021
quarta-feira, 10 de novembro de 2021
terça-feira, 9 de novembro de 2021
Review: ⚡ Baron Crâne - 'Les Beaux Jours' (2021) ⚡
Proveniente de
França chega-nos o extraordinário novo álbum do talentoso power-trio
parisiense Baron Crâne, intitulado ‘Les Beaux Jours’ e
lançado através dos formatos digital, CD e duplo vinil em meados do passado mês
de Outubro pela mão da jovem companhia discográfica francesa Mrs Red Sound.
Neste colorido, odoroso e texturizado sortido sonoro emergem e sobressaem um majestoso,
carnudo, sisudo e sinuoso Prog Rock de carregadas feições King
Crimson’eanas, um aventuroso, labiríntico, burlesco e aparatoso Jazz
Fusion a fazer lembrar a multinacional Mahavishnu Orchestra, e um musculoso,
oleado, vultoso e vertebrado Hard Rock motorizado à boa moda de Deep
Purple. Contando ainda com a veraneia ritmicidade de um contagiante Funk
n’ Reggae tropical, a caleidoscópica pirotecnia de um exótico Psychedelic
Rock, e a indesmontável equação de um esquizofrénico Math Rock, a emaranhada,
ornamentada e piramidal sonoridade de ‘Les Beaux Jours’
passeia-se de forma envaidecida – e por vezes enraivecida – pelos sete temas de
essências desiguais que compõem esta elaborada obra-prima. Levemente acariciado
por embaciadas, etéreas e relaxadas passagens de beleza bucólica e clima
melancólico, e pesadamente galopado pelos instrumentos ofegantes em redentora
debandada, este quarto trabalho de longa duração de Baron Crâne
representa o pináculo da sua apurada maestria musical. Na constituição desta
musicada depuração dialogam entre si uma guitarra dominante que se agiganta em Riffs
propulsivos, altivos, mastodônticos e incisivos de onde esvoaçam solos
trepidantes, ácidos, delirados e gritantes, um baixo ronronante de linhas marulhantes, densas,
tensas e protuberantes, e uma entusiástica bateria jazzística de fogosas,
explosivas, criativas e engenhosas investidas. Num plano secundário – no que à sua
predominância diz respeito – vagueiam ainda pela atmosfera circense do álbum um
esdrúxulo saxofone de sopros vistosos, charmosos e berrantes, uma poética flauta
de uivos sedosos, airosos e lunares, e ainda duas vozes contrastadas – uma a
fazer recordar os ardentes rugidos do saudoso Chris Cornell, e outra mais
delicada e de condimento celestial – que repartem a sua liderança pelos dois
únicos temas que escapam à hegemonia instrumental. De estender os aplausos ao peculiar
artwork de colagens pensadas e executadas pela artista parisiense Nora Simon. São 50 minutos de fascinante imprevisibilidade e desarmante tenacidade que nos mantêm os
sentidos em alerta. Um registo mutuamente claustrofóbico e emancipador, agressivo
e lenitivo, desatado e entrançado. Percam-se e encontrem-se neste caótico jogo
de espelhos. Vai ser demasiado fácil reencontrá-lo por entre os mais
condecorados álbuns lançados este ano.
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➥ Mrs Red Sound