quinta-feira, 30 de novembro de 2023
terça-feira, 28 de novembro de 2023
Review: 🧘 Lamp of the Universe - 'Kaleidoscope Mind' (2023) 🧘
A um pequeno
passo temporal de celebrar 25 anos de fértil existência, Lamp of the
Universe – projecto do talentoso multi-instrumentista neozelandês Craig
Williamson (Datura, Arc of Ascent e Dead Shrine) – apresenta
o seu 17º trabalho de estúdio, intitulado ‘Kaleidoscope Mind’ e editado
pela companhia discográfica helénica Sound Effect Records nos formatos
físicos de LP e CD. Regressando à primordial fórmula musical que há muito celebrizara
Lamp of the Universe, este mântrico ‘Kaleidoscope Mind’ combina
um sacramental, caleidoscópico, nirvânico e celestial Psychedelic Rock de
coloração exótica com um pastoral, reflexivo, lenitivo e outonal Acid Folk
de clima melancólico. A sua sonoridade de fragância oriental, afago cerebral e
purificação espiritual submerge o ouvinte num imperturbável estádio de transe que
o hipnotiza, eteriza e canaliza até aos braços da ataraxia. A desapropriação e
deserção do Eu, transcendendo e transportando a nossa consciência para lá das
portas da percepção e testemunhando a paradisíaca desfloração do nosso Cosmos
interior, deixando para trás um corpo caído e inanimado. De sentidos atordoados
e lucidez embaciada, levitamos em órbita de um êxtase religioso que nos embarca
numa gratificante peregrinação na endeusada direcção de um oásis espiritual. Vogando
pelo fluido cósmico universal, mumificados num estado mesmérico e
experienciando admiráveis registos akáshicos, somos banhados e
farolizados pela seráfica luzência de Lamp of the Universe. Uma deslumbrante
redescoberta interior à transformadora boleia de incontáveis instrumentos que
se encavalitam uns nos outros, criando uma fascinante textura sonora onde nos
perdemos e encontramos. É demasiado fácil derretermos com a desabrigada exposição à intensa
toxicidade de uma alucinógena guitarra – empapada em efeito fuzz – que
vomita ziguezagueantes, ácidos, polposos e borbulhantes solos, aconchegarmo-nos
no bafo quente de um baixo fluído e ondeante, bailarmos os ritmos tribais de
uma bateria magnética e estimulante, revirarmos os olhos com os serpenteios
enleantes de uma enfeitiçante cítara de caligrafia árabe, ascender aos céus
estrelados de atenção atrelada aos coros siderais e quiméricas melodias dos teclados,
fantasiar sob a influência de uma flauta fabular que se enfatiza em frescos,
sedosos e romanescos sopros, e imanizarmo-nos pela voz messiânica, xamânica e
espectral que lidera toda esta caravana pelos desertos da alma. ‘Kaleidoscope
Mind’ é um templo Zen onde nos refugiamos e comungamos – de alma
completamente lavada e aliviada – uma terapêutica e milagrosa eucaristia que
tudo cura em nós. Uma sedutora, reparadora e tranquilizante meditação que nos
acalma e remete a uma profunda introspecção. Alinhem os vossos chakras com
‘Kaleidoscope Mind’ e vagueiem livremente por este infindável Jardim do Éden.
Ninguém vai querer regressar deste álbum.
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segunda-feira, 27 de novembro de 2023
domingo, 26 de novembro de 2023
sábado, 25 de novembro de 2023
sexta-feira, 24 de novembro de 2023
quinta-feira, 23 de novembro de 2023
quarta-feira, 22 de novembro de 2023
terça-feira, 21 de novembro de 2023
Review: ⚡ Travo - 'Astromorph God' (2023) ⚡
Depois da
estreia ‘Ano Luz’ (aqui descrita) e do imersivo ‘Sinking
Creation’ (aqui descrito), os bracarenses Travo estão de
regresso com o seu novíssimo álbum denominado ‘Astromorph
God’ e editado através da coligação ibérica entre a portuguesa Gig.Rocks
e a espanhola Spinda Records nos formatos LP, CD e digital. Baseada num
electrizante cocktail que combina um eruptivo, flamejante, efervescente e
eruptivo Heavy Psych de irreverente atitude Garage com um
propulsivo, vertiginoso, aparatoso e incisivo Space Rock de alta tensão,
a camaleónica, criativa e ciclónica sonoridade de ‘Astromorph God’ ziguezagueia
pelos serpenteios enleantes dos norte-americanos Elder, é varrida pelas
rajadas psicotrópicas dos franceses SLIFT e contagiada pelo ecletismo
sónico dos australianos King Gizzard & the Lizard Wizard. Contando
ainda com discretos laivos de Rock Progressivo, este terceiro registo do
quarteto português tanto banha e euforiza o ouvinte num fumegante vulcão em constante
erupção, como o narcotiza e deixa à deriva na perpétua vacuidade cósmica. De
dentes cravados no lábio inferior, coração galopante, olhar fulminante e cabeça
furiosamente rodopiante embalamos na enlouquecedora vertigem espacial de Travo
que nos dispara numa redentora eclosão sensorial. Uma injecção de pura
adrenalina que nos satura de ebulição e arremessa a alta rotação pelas
autoestradas do território alienígena. Uma atordoante, ofuscante e iridescente pirotecnia
onde orbitam duas guitarras intoxicantes que manobram riffs infecciosos, fogosos
e caleidoscópicos, e vomitam solos centrifugantes, ácidos e gritantes, um baixo
elástico de reverberação escaldante, espessa e ondeante, uma bateria sísmica de
ritmicidade bombástica, enfática e alucinante, um sintetizador de enfeitiçantes
sirenes cósmicos, e vocais avinagrados, diabrinos e espectrais que pendulam
entre níveos murmúrios siderais e coléricos rugidos infernais. A ilustração que
confere um rosto robótico a esta arrasadora bomba de endorfinas – a fazer lembrar a sui
generis e inventiva arte do helvético H. R. Giger – aponta os
respectivos créditos autorais ao artista de rua portuense IMUNE. São 43
minutos transpirados e cadenciados a uma desenfreada correria. ‘Astromorph God’ é um grito implosivo que se
propaga até às costuras fronteiriças do Cosmos interior. Psicadelismo de alta voltagem
e em curto-circuito que põe à prova a resistência dos alicerces da nossa sanidade mental. Regressamos
de ‘Astromorph God’ sem fôlego, de rastos e derrotados pela incontida descarga
de energia que o mesmo liberta sem dó nem piedade. Um dos mais sérios
candidatos a melhor álbum português do ano está aqui. Electrifiquem-se nele.
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segunda-feira, 20 de novembro de 2023
domingo, 19 de novembro de 2023
sábado, 18 de novembro de 2023
sexta-feira, 17 de novembro de 2023
quinta-feira, 16 de novembro de 2023
Review: 🪐 Orbitron - 'Cassini' EP (2023) 🪐
Da cidade
germânica de Paderborn chega-nos o inflamante EP de estreia do jovem, mas
muito auspicioso, quinteto Orbitron. Denominado ‘Cassini’ e lançado
no final do passado mês de Outubro sob a exclusiva forma digital, este primeiro
passo discográfico da turma alemã – que aponta os seus instrumentos ao domínio
astral – é sobreaquecido por um bombástico, arenoso, fogoso e desértico Heavy
Psych, viajado por um imersivo, sónico, catatónico e explorativo Space
Rock, e enfeitiçado por um contagiante, hipnótico, robótico e dançante Krautrock.
Partilhando o ADN musical de outras bandas, suas conterrâneas, tais como Rotor,
Iguana, Typhaon, Elara, Space Raptor, Nap, Wired
Mind, Space Invaders, Trail e Hazeshuttle, os Orbitron
embalam os seus ouvintes numa vertiginosa propulsão que os desenraíza da atmosfera
terrestre, emancipa a consciência e mergulha na negra boca do Cosmos. Sobrevoando
a cascuda atmosfera marciana, driblando a ossuda cintura de asteroides, rejeitando
o asfixiante abraço gravitacional do colossal Júpiter e surfando os anéis de
Saturno, exploramos e alcançamos tudo aquilo que se revela no sempiterno horizonte
alienígena. A sua sonoridade poderosa, evolutiva, esponjosa e celestial –
integralmente instrumental – vive de fortes contrastes, onde a alternância entre
a letargia e a euforia, o glacial e o infernal, a morosidade e a aceleração, a serenidade
e a ebulição convivem de perto e em sedutora harmonia. São 26 minutos saturados
de um puro deslumbramento que nos empoeira o olhar de matéria estelar. Uma fantástica
odisseia espacial, de estética cinematográfica Stanley Kubrick’eana, nas asas de
duas guitarras escaldadas em vulcânica distorção que se coligam na condução de
um verdadeiro tsunami de riffs titânicos, dinâmicos e ventosos, e desagregam na
libertação de solos vistosos, ácidos e virtuosos, um baixo de bafo obeso, coeso
e movediço, um teclado de aquosos, refrescantes e lustrosos coros siderais, e uma
bateria de baquetas em chamas que pontapeia e afogueia toda a gloriosa atmosfera
de ‘Cassini’ com uma energia imensamente contagiosa. A chamativa arte
gráfica – tão condizente com tudo aquilo que a sonoridade de Orbitron edifica
no imaginário do ouvinte – aponta os seus créditos de autor ao ilustrador francês
Jo Riou. Este é um EP verdadeiramente aliciante que imortaliza a jovem
banda germânica no meu radar. Apertem bem os cintos, recostem-se
confortavelmente, fechem os olhos e embarquem nesta espantosa digressão extraterrestre sem a
mais pequena vontade dela regressar.
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quarta-feira, 15 de novembro de 2023
terça-feira, 14 de novembro de 2023
segunda-feira, 13 de novembro de 2023
domingo, 12 de novembro de 2023
sábado, 11 de novembro de 2023
sexta-feira, 10 de novembro de 2023
quinta-feira, 9 de novembro de 2023
Review: 🌋 Rëlisp - 'Aktïw1' EP (2023) 🌋
A recém-formada banda
azteca Rëlisp acaba de lançar o seu arrojado
EP de estreia intitulado ‘Aktïw1’, e
carimbado pela jovem companhia discográfica local Noizu! Records através
dos formatos CD (este ultra-limitado à prensagem de apenas duas centenas de
cópias disponíveis) e digital. Residente na populosa Cidade do México,
este extravagante sexteto revitaliza o sui generis Zeuhl: um exótico subgénero
musical do Prog Rock estabelecido em 1969 pela banda francesa seminal Magma, termo
proveniente da linguagem artística ficcional Kobaïan inventada pelo
baterista e compositor francês Christian Vander (Magma), e cuja
sua execução está hoje – infelizmente – em vias de extinção. Conjugando a
ousadia e a maestria, Rëlisp vê a sua bússola apontada ao fascinante, camaleónico,
místico e cerimonial Prog Rock de idioma Zeuhl e que hasteia bem
alto a bandeira do movimento R.I.O. (acrónimo de Rock in Opposition),
aliado ao primaveril, fabular, rústico e pastoril Folk de ensolarado e
arejado clima Canterbury’esco, e ao espiritual, anárquico,
claustrofóbico e sensacional Avant-Garde Jazz de carnavalesco bacanal sintonizado
nas frequências de John Coltrane e Frank Zappa. Arquitectada por ambiciosas,
complexas e gloriosas composições que trajam e conduzem os temas, e desregrada por um
experimentalismo que confere asas à criatividade de cada um dos seus
intérpretes, a sonoridade cerebral, excêntrica, enigmática e orquestral de ‘Aktïw1’
–
indiscretamente influenciada por bandas clássicas como Magma, Weidorje,
ZAO, Dün e Kōenji
Hyakkei, e pelos contemporâneos californianos Corima
– baloiça-se com altivez por desiguais estados de espírito que tanto relaxam e inebriam o
ouvinte com suavizantes, etéreas e deslumbrantes passagens de verdejante
placidez, como escaldam e euforizam o mesmo com furiosas, aparatosas e centrifugantes
danças de instrumentos em debandada. Contando nas suas fileiras com a
carismática presença colaborativa do pianista Patrick Gauthier (membro
de Magma e Weidorje) e mais dois músicos convidados, este talentoso colectivo mistura a magia e
a bizarria. Uma hipnótica alquimia superiormente musicada pelos enfeitiçantes e
polifónicos coros vocais, a acintosa efervescência de uma voz acrimoniosa e a sedutora
luzência de uma feminina voz angelical, a reverberação magnetizante, baloiçante
e fluída do baixo, os coléricos, caóticos e estridentes sopros do saxofone, as mirabolantes,
circenses e empolgantes acrobacias de uma bateria jazzística, os acetinados mugidos
do violino, as intrincadas e coloridas melodias – de notas vivas e saltitantes –
dos teclados, e os acordes angulosos de uma guitarra erudita. ‘Aktïw1’
é um registo verdadeiramente brilhante que só peca pela sua curta duração.
Compartimentado em apenas três temas de almas dissemelhantes, este primeiro,
mas triunfante, passo discográfico de Rëlisp
provocara em mim todo um inextinguível estádio de intenso transe que me faz ansiar,
de coração galopante e boca salivante, pelo segundo trabalho da banda. Nunca a elegância
e a irreverência casaram tão bem. O mais sério candidato até ao momento a melhor EP do ano
está aqui, no ostentoso culto de fragância alienígena celebrado por esta secreta sociedade mexicana.
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quarta-feira, 8 de novembro de 2023
terça-feira, 7 de novembro de 2023
segunda-feira, 6 de novembro de 2023
domingo, 5 de novembro de 2023
sábado, 4 de novembro de 2023
sexta-feira, 3 de novembro de 2023
Review: 🍁 Lucid Sins - 'Dancing in the Dark' (2023) 🍁
Recordo-me de
na Primavera de 2021 ter ficado completamente petrificado e assoberbado pelo álbum ‘Cursed!’
cozinhado pelo adorável duo escocês Lucid Sins (aqui trazido e
reverenciado), e, portanto, foi com um chamejante brilho no olhar que li o anúncio
de um novo álbum a florir este Outono. Quando a espera pelo lançamento de um dos registos – por mim – mais aguardados do ano findou, corri sem medos e demoras para
o interior dos decrépitos e labirínticos bosques de Lucid Sins para
experienciar os seus novos contos maquiavélicos. E se muito deles esperava,
tudo eles me deram. Denominado ‘Dancing in the Dark’, carimbado pelo
selo discográfico francês Totem Cat Records e exteriorizado sob as
formas LP, CD e digital, este terceiro álbum do dueto localizado na cidade
portuária de Glasgow, que conta já com uma década de existência, vem incensado por um outonal, fascinante, tranquilizante
e pastoral Neofolk de orientação pagã entrançado num umbroso, enfeitiçante,
enigmático e charmoso Occult Rock de intrigantes diabruras. Encobertos
por um escuro manto gótico que nos anoitece a alma, escutamos, com inquebrável encanto,
imaginativos contos medievais que ressuscitam velhas lendas que assombravam os
ancestrais, e dançamos, obsessiva e desavergonhadamente, de pés descalços e desnudos corpos transpirados,
à volta de uma fogueira abraçada pelas trevas, cujas intensas lavaredas cospem
endiabradas faúlhas que se convertem em cintilantes astros soterrados no negro
solo cósmico. Uma magia cerimonial que nos seduz e conduz – sonâmbulos – ao
lado eclipsado da religiosidade. Composto por duas mãos repletas de bonitas faixas
de estética rural que transpiram uma serenidade demoníaca, uma graciosidade ritualística
e uma melancolia obscurantista, ‘Dancing in the Dark’ é uma obra de aura
fabular, moldura vintage e arejada a formosura, tricotada a melódica suavidade,
mística obscuridade e hipnótica sensualidade que nos cerca e sufoca de uma profana
doçura. Remexidas no interior de um esverdeado e borbulhante caldeirão em
constante ebulição, gravitam influências como Wishbone Ash, Black
Widow, Witchcraft e Dunbarrow que, quando combinadas,
resultam numa deliciosa sopa sonora. Uma irresistível feitiçaria de natureza Wicca,
soberbamente musicada por uma guitarra sumptuosa de requintados, romanescos, magnificentes e sublimemente detalhados acordes e solos ziguezagueantes, níveos,
filamentosos e deslumbrantes, um aconchegante baixo de sussurrantes, sombreadas,
amaciadas e magnetizantes linhas, uma encantadora bateria tiquetaqueada a
desarmante sensibilidade jazzística, teclados quiméricos, vocais angelicais, luminosos,
sedosos e siderais, um carismático órgão Hammond de polposos, faustosos e
harmoniosos mugidos, e um fresco clarinete de misterioso clima noir que vagueia
livremente à boleia de sopros serpenteantes, dourados e gritantes. O fantástico
artwork que casa na perfeição o visual com o musical aponta os seus
créditos autorais ao inconfundível David V. D’Andrea. Este é um registo imensamente
bonito e cativante que, de forma leve e discreta, nos namora sem moderação. A
venenosa picada de uma serpente que nunca vislumbrámos. O sangrento beijo do
vampiro que nunca encontrámos fora dos nossos sonhos. ‘Dancing in the Dark’
é uma mélica tentação que nos faz tombar as pálpebras, corar as maçãs do rosto
e morder os lábios. O chamamento das trevas onde nos agasalhamos e refugiamos
confortavelmente. Bailem de olhos vendados pelos sombrios e embruxados bosques
de Lucid Sins, e vivenciem com salivante e inapagável fascinação todo este estranho sonho
acordado. Nunca o pecado assentou tão bem em nós.
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