Conheci os
suecos Ball quando em 2017 me deparei e pasmei com o homónimo álbum de
estreia (review aqui). Três anos mais tarde entrei em combustão
com a desabrigada exposição ao seu segundo trabalho ‘Like You Are… I Once
Was… Like I Am - You Will Never Be’ (review aqui), e agora
tudo em mim fervilha de euforia à extasiante boleia do irreverente vigor que o
novÃssimo ‘Midnight Heat’ transpira. Lançado pela companhia discográfica
local Horny Records através dos formatos LP (limitado a uma colorida
prensagem de 666 cópias existentes, distribuÃdas pela Subliminal Sounds)
e digital, este terceiro álbum do anónimo e radical power-trio sediado na
cidade-capital de Estocolmo vem abrasado por um picante, sensual, tropical
e intoxicante Heavy Psych de alucinógena caleidoscopia, e endemoninhado por
um musculoso, dançante, excitante e oleoso Hard Rock de epidémica
energia. A sua sonoridade buliçosa, libertária, boémia e pecaminosa – de produção
lo-fi, atitude imoral, apetrechada de swag e inspiração trazida da mÃtica cena
Rock de Detroit que nas décadas de 1960 e 1970 deu colo ao incivil reinado
de dominantes bandas locais como The Stooges, MC5, The Sonics
e Flamin’ Groovies – pontapeia e incendeia o ouvinte, deixando-o cair na
irresistÃvel tentação de um exótico ritual carburado a calor afrodisÃaco e condimentado
a odor demonÃaco. ‘Midnight Heat’ é uma delirante, febril, enlouquecedora e incessante centrifugação onde se passeiam e misturam explÃcitas imagens de revolução erótica com impúdicas
orgias, a sagrada comunhão de LSD absorvido por lÃnguas salivantes, e sangrentos episódios
com requintes de malvadez perpetrados por violentos grupos de motards que – montados
em barulhentas choppers de motores escaldantes e escapes fumegantes – semeiam
o caos na estrada. Uma ode à perversão – de diabólica, sexy e selvática
locomoção – superiormente doutrinada por depravados, azedados e bolorentos
vocais de tecido urticante, rugoso e queimante, uma guitarra nociva, felina e lasciva
– flamejada pela arenosa, suja e fogosa distorção – que se bamboleia em serpenteantes,
esponjosos, libidinosos e viciantes riffs de onde gritam e rodopiam
solos escorregadios, ácidos, efervescentes e fugidios, um baixo dançante, movediço
e magnetizante de reverberação pulsante, gelatinosa e ondeante, uma bateria
expressiva, estimulante e primitiva de ritmos quentes, coloridos e tribais, e um teclado arrepiante, dramático e intrigante que nos trava a respiração e empalidece o semblante. Este é um álbum
tremendamente provocante que destrava o nosso lado mais rebelde, dissipa a mais microscópica réstia de inibição e nos solta no meio da rua. Um registo
predatório que enterra os seus longos e afiados caninos na nossa jugular. Electrifiquem-se
nesta intensa explosão de endorfinas e percam-se no calor da noite. Nunca o mal
nos pareceu tão bem.
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