sexta-feira, 12 de abril de 2024

Review: 🦂 White Dog - 'Double Dog Dare' (2024) 🦂

★★★★

Depois de em 2020 ter ficado de queixo completamente caído ao deparar-me com o brilhante e irretocável álbum de estreia dos texanos White Dog (aqui devidamente escalpelizado e, mais tarde, aqui naturalmente premiado como um dos melhores registos nascidos nesse mesmo ano), regresso agora com renovadas palavras elogiosas destinadas ao seu tão aguardado sucessor, denominado ‘Double Dare Dog’ e captado de forma inteiramente analógica, que acaba de sair à rua pela insuspeita mão do influente selo londrino Rise Above Records através dos formatos físicos LP e CD. Com uma formação transfigurada (a substituição de vocalista e o acréscimo de um teclista) mas mantendo a sua roupagem clássica, o agora sexteto, enraizado na grande cidade de Austin (capital do estado norte-americano do Texas), continua a trilhar a sua gloriosa jornada musical com a bússola apontada ao dourado território setentista. Numa agradável, relaxada, ensolarada e adorável viagem – debaixo de uma intensa e amarelecida luzência vintage – que atravessa as deslumbrantes paisagens rurais de um apimentado, ritmado, invertebrado e afrodisíaco Blues Rock de condimentado sabor Tex-Mex, um empolgante, tórrido, suado e dançante Southern Rock de vaidade sulista, e ainda de um musculoso, fogoso, lustroso e torneado Hard Rock sarapintado por vibrantes colorações de um caleidoscópico psicadelismo californiano, ‘Double Dare Dog’ passeia o ouvinte – de texanas calçadas, pernas cruzadas, chapéu de aba larga reclinado na cabeça e um palito mordiscado na boca – pelas verdejantes pastagens que se desdobram até onde a vista pode alcançar, ajardinando toda uma nostálgica época há muito enterrada pelas areias do tempo. Homenageando os autóctones ZZ Top e bebendo influências de outras bandas carismáticas como Lynyrd Skynyrd, The Allman Brothers Band, Creedence Clearwater Revival, The Marshall Tucker Band, James Gang, The Outlaws, Quicksilver Messenger Service e Grateful Dead, assim como direccionando os holofotes para outras mais obscuras como Highway (Minnesota, EUA), Lightning (Minneapolis, EUA) e os canadianos Aaron Space, a quente, swingada, atraente e atrevida sonoridade de White Dog é como que uma fresca brisa de aroma oceânico que perfuma e aviva o ar seco e soalheiro do deserto. De olhar enternecido, sorriso desabrochado e espírito embevecido, embalamos à apaixonante, idílica e contagiante boleia de duas guitarras siamesas que florescem harmoniosos, veneráveis e cheirosos acordes de onde serpenteiam requintados, estonteantes e rendilhados solos, um baixo gingão de bafo pulsante, magnetizante e palpável, um carismático teclado Hammond bailado a polposos, melódicos e sumptuosos mugidos, uma afável bateria de sensibilidade jazzística, galopada, sem esporas, a um ritmo leve, solto e descontraído, e uma voz polida, aveludada e felina. A bonita arte gráfica que confere rosto a esta viciante iguaria texana tem como seu autor o talentoso ilustrador local Taylor W. Rushing‘Double Dog Dare’ é um western soberbamente musicado. Um registo tremendamente irresistível, pensado e executado à minha imagem, que decerto não dará descanso aos demais concorrentes pela acesa luta ao título de melhor álbum do ano. Entrem, ousados, neste poeirento e barulhento saloon com forte odor a pólvora – de coldre desapertado, dedo indicador repousado no gatilho e debaixo de olhares desconfiados que se erguem acima dos ombros – e beberiquem este mélico bourbon. Cinco cintilantes estrelas para estes temidos pistoleiros de fama firmada e disseminada por todo o tapete arenoso do velho oeste. Depois de dois disparos certeiros no meu coração, já salivo pelo terceiro.

Links:
 Facebook
 Instagram
 Rise Above Records

Sem comentários: