segunda-feira, 27 de maio de 2024

✝️ Gregg Allman // Allman Brothers Band (08/12/1947 🎗 27/05/2017)

🌲 Sunder - "Bleeding Trees" (2015)

👽 Magic Machine - "UFO" (2024)

Review: 🏰 Magic Machine - 'Castle in the Sky' (2024) 🏰

★★★★

Da cidade australiana de Sydney chega-nos o excitante terceiro álbum do irreverente quarteto Magic Machine, intitulado ‘Castle in the Sky’ e lançado na segunda metade do passado mês de Abril através dos formatos LP e digital. Resultante da delirante combinação entre um dançante, buliçoso, fogoso e empolgante Garage Rock e um exótico, refrescante, deslumbrante e caleidoscópico Heavy Psych, este multicolorido, polposo, espirituoso e apaladado cocktail sonoro – que nos deixa os lábios açucarados, a língua apimentada, as maçãs do rosto rosadas e o espírito totalmente arrebatado – subtrai a lucidez e atesta de embriaguez todo aquele que o degustar. Vibrante, magnetizante, enérgica e contagiante, a musicalidade desta indisciplinada turma australiana partilha as mesmas características de outras formações autóctones como King Gizzard and The Lizard Wizard, The Murlocs e ORB, bem como de forasteiras como as francesas The Socks e Sunder, as norte-americanas Fuzz e The Gorlons, a austríaca The Heavy Minds e a portuguesa Travo. Saltitando entre o fervilhante e o refrigerante, o belicoso e o amistoso, o vertiginoso e o vagaroso, o sufocante e o arejado, percorremos todo um vasto espectro climatérico e emocional que nos mantém de fascinação incendiada e atrelada a ‘Castle in the Sky’ do primeiro ao derradeiro tema. Um chamejante banho de enfeitiçante, imersivo e provocante psicadelismo de maneiras rebeldes que nos inunda, empurra para o meio da pista de dança e desencaixa o quadril. São 43 minutos tanto incinerados pela alucinante euforia quanto ventilados pela reflexiva ataraxia. Um mastodôntico tsunami de boas sensações que nos naufraga sem boia de salvação. De pupilas ampliadas, maxilares cerrados, narinas dilatadas e cabeça rodopiante somos aspirados por esta enlouquecedora, hipnótica e libertadora espiral – sem portal de saída – à alucinante boleia de uma guitarra intoxicante que liberta instigantes, invertebrados, serpenteados e viciantes riffs – consumidos pela inflamante erosão do electrizante efeito Fuzz – de onde disparam e descarrilam solos estonteantes, vistosos, venenosos e trepidantes, um baixo dominante de linhas possantes, musculosas, oleosas e ondeantes, um mágico teclado de mugidos intrigantes, alienígenas, encaracolados e bailantes, uma bateria propulsiva a trote de um ritmo expressivo, intenso, frenético e explosivo, e uma voz liderante de expressão traquina, ecoante, avinagrada e diabrina que ferve neste revolto mar de lavaredas. Chego ao fim desta frenética montanha-russa de mãos apoiadas nos joelhos, atordoado, ofegante e com um pé nas escorregadias fronteiras do delíquio. Estão todos convidados para esta carnavalesca festa no castelo. Embalem no esponjoso, delicioso e bem-disposto groove desta centrifugadora chamada Magic Machine, e experienciem – com total entrega e sem qualquer moderação – todo o incontido, vivaz e colorido entusiasmo transudado por um dos meus álbuns favoritos do ano vigente.

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🟣 Bobbie Dazzle - "Flowers On Mars" (2024)

segunda-feira, 20 de maio de 2024

✝️ Ray Manzarek // The Doors (12/02/1939 🎹 20/05/2013)

Review: 🤡 Great Fool - 'Resist' (2024) 🤡

★★★★

Com o seu epicentro localizado na cidade do Porto, chegam-nos as palpáveis ondas sísmicas provocadas pelos vibrantes Great Fool, que acabam de detonar o seu impactante álbum de estreia denominado ‘Resist’. Lançado sob as formas de CD e digital – ambas com o carimbo editorial de autor – este primeiro passo discográfico do quarteto português (que mais se assemelha a um salto olímpico) empurra o ouvinte – a passos apressados e decididos, palavras de ordem gritadas e punhos firmemente cerrados ao alto – para a turbulenta medula de um populoso, barulhento e acintoso motim. Fazendo de um fogoso, arenoso e provocante Desert Rock carburado à boa e velha moda dos 90’s, um electrizante, tóxico e escaldante Heavy Psych de insubordinação Garage e ainda um elegante, libidinoso e odoroso Blues Rock de contagiante balanço boogie as suas bandeiras e armas contestatárias, os Great Fool disseminam a sua doutrina revolucionária da pauta musical para as ruas da cidade. Combinando a sedutora fogosidade, a psicotrópica efervescência e a irresistível graciosidade trazidas de bandas como Jimi Hendrix, Led Zeppelin, Slo Burn, Unida, Lowrider, Dozer, Fatso Jetson, Radio Moscow, JOY, The Black Wizards e Banquet, a ardente, irrequieta e irreverente sonoridade de ‘Resist’ tem a capacidade de nos sobreaquecer, estremecer e enlouquecer numa incansável, transpirada e indomável dança que nos mantém ligados à corrente do primeiro ao derradeiro tema. São 40 minutos fervilhados por uma intensa combustão lavrada por uma voz liderante de estirpe melódica, megafónica, felina e enfeitiçante, uma guitarra extraordinária – gaseificada pela crocante distorção do Fuzz e magicada pelo delirante pedal wah-wah – que se desdobra em encaracolados, escorregadios, fugidios e torneados riffs de onde esvoaçam borbulhantes, ácidos e alucinantes solos, um baixo carnudo de umbrosas, bailantes, hipnóticas e polposas linhas desenhadas a negrito, e ainda uma bateria galopante de baquetas em chamas que tiquetaqueia e incendeia todos os temas com a sua enfática, vertiginosa, aparatosa e acrobática ritmicidade. O labiríntico e vistoso artwork de traço criativo, soberbamente detalhado e imensamente apelativo – onde os nossos olhos de pupilas dilatadas se perdem e encontram – aponta os seus créditos autorais à talentosa ilustradora portuguesa Echo Echo Illustrations. Este é um álbum bravo, ousado, excitante e tremendamente viciante que obriga o ávido ouvinte a reproduzi-lo vezes e vezes sem conta. ‘Resist’ é música de intervenção moderna usada para capitanear a revolução. Juntem-se a esta crescente rebelião de inconformados que resistem à tentação de cair nos braços da alienação e transformem o vosso mundo, desfazendo-se de velhos hábitos e crenças para que possam então criar algo novo, melhor e mais justo.

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segunda-feira, 13 de maio de 2024

Review: ☄️ Black Pyramid - 'The Paths of Time are Vast' (2024) ☄️

★★★★

Despertado de uma longa e muda hibernação com mais de uma década de duração, este mastodôntico vulcão volta a acender as suas incandescentes fornalhas, a cuspir faúlhas em chamas e a entrar em barulhenta erupção. ‘The Paths of Time are Vast’ é o muito ansiado quarto e novo álbum do potente tridente norte-americano Black Pyramid que vê finalmente a luz do dia pela mão do selo discográfico francês Totem Cat Records sob as formas LP, CD e digital. De instrumentos apontados ao místico território astral, ‘The Paths of Time are Vast’ é um revolto caldeirão em borbulhante ebulição onde é remexida a pesada, espessa e possante sonoridade de intensa fogosidade – patenteada nos seus trabalhos antecessores – e a mesma condimentada com um colorido, arejado e sofisticado experimentalismo que a desconstrói, desoprime e desafoga. Aprisionados e baloiçados numa dança orbital – de consagração espiritual, expansão sensorial e emancipação consciencial – em torno de um montanhoso, oleoso e enérgico Stoner Metal, um sísmico, ritualístico e carregado Doom Metal e ainda um efervescente, erodente e intoxicante Heavy Psych, tanto somos obscurecidos, intimidados e trucidados pela colossal potência de diabólica impetuosidade que nos inflama de incontida euforia, como ocasionalmente somos comovidos, anestesiados e conduzidos a um nirvânico estádio de reflexiva letargia. Um constante pêndulo que vagueia entre a sufocante turbulência e a relaxante dormência. De olhos cravados no horizonte cósmico, embarcamos numa imaginativa, enfeitiçante e criativa odisseia extraterrestre, driblando o abraço gravitacional dos pálidos e solitários astros que vêm à tona das abissais profundezas do oceano espacial, empoeirando a nossa alma por entre fantasmagóricas nebulosas que explodem e espalham colorações caleidoscópicas nos negros céus da eterna noite sideral, e escorregando pelos alucinantes túneis de vorazes buracos negros que descoordenam o espaço-tempo. A sua musicalidade complexa, heterogénica e cinematográfica – que partilha o ADN sonoro com bandas como Zoroaster, Elder, YOB, REZN e Mastodon – é superiormente orquestrada por uma imperiosa guitarra de pronúncia Iommi’esca – consumida por uma distorção crocante, crepitante e corrosiva – que hasteia monstruosos, rugosos, viscosos e chamejantes riffs de onde serpenteiam ecoantes, ácidos, translúcidos e uivantes solos em sónica debandada, um baixo massivo de linhas nervudas, obscuras, asfixiantes e sisudas, uma bateria explosiva de açoitadas altivas, intempestivas, violentas e abrasivas, teclados litúrgicos de mugidos dramáticos, melancólicos e enigmáticos, e uma voz vampírica de tez avinagrada, urticante e assanhada e lírica dedicada a temas como a guerra, o oculto, o esotérico e a alienação da raça humana. São 70 minutos de um poderoso cataclismo com a força de abalar e renovar consciências. Nunca a sedação e a agitação viveram tão próximas uma da outra. Apertem bem os cintos para melhor lidarem com galopadas vertiginosas, travagens bruscas e passagens celestiais desdobradas em slow-motion. Depois de dantescas tempestades seguidas de miraculosas bonanças, no final reina a febril narcose que nos deixa à deriva na infinita vacuidade sideral. ‘The Paths of Time are Vast’ representa o regresso triunfante de uma banda muito estimada por todos os velhos apreciadores dos géneros em que a mesma se engaveta. Que este vulcão trazido à vida continue a vomitar lava durante muitos, muitos anos, pois cá estaremos para surfá-la.

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segunda-feira, 6 de maio de 2024

Review: 🌲 Freeways - 'Dark Sky Sanctuary' (2024) 🌲

★★★★

Quatro anos volvidos após o nascimento do seu glorioso álbum de estreia ‘True Bearings’ (aqui trazido e imoderadamente elogiado), o quarteto canadiano Freeways – domiciliado na cidade de Brampton (Ontário, Toronto) – regressa agora com o lançamento do seu tão aguardado sucessor. Intitulado ‘Dark Sky Sanctuary’ e carimbado editorial da discográfica germânica Dying Victims Productions (companhia fielmente dedicada ao lado underground da música Metal) através dos formatos LP, CD e digital, este segundo trabalho de longa duração produzido por esta muito estimada formação norte-americana dissemina a doce fragância de um dourado revivalismo – tingido a comovente nostalgia – que combina um lubrificado, harmonioso, libidinoso e condimentado Hard Rock de roupagem clássica resgatado da segunda metade da década de 1970, e um melodioso, refinado, abrasado e amistoso Heavy Metal de estirpe tradicionalista locomovido à boa moda dos 80’s. Com influências comungadas de carismáticas referências dos géneros como Scorpions, UFO, Blue Öyster Cult, Thin Lizzy, April Wine, BudgieDef Leppard, Journey, Skid Row, Montrose, Saxon, Aerosmith, Eagles e Whitesnake, bem como de outras mais contemporâneas como as suecas Hypnos e Svartanatt, a irresistível sonoridade de Freeways transporta-nos no tempo e no espaço para uma descontraída viagem rodoviária de punho firmemente cerrado no volante e o outro a embater entusiasticamente no tejadilho de um velho Ford Bronco de 1980 pelas terrosas, solitárias e sinuosas estradas rurais que estriam densas florestas montanhosas que conservam nevões de uma brancura nívea e todo um esplendor invernal, e se desdobram debaixo da vigilância apertada de alaranjados céus crepusculares que resistem à chegada da noite. ‘Dark Sky Sanctuary’ é aquela cassete perdida, esquecida durante decénios no interior do velho carro do teu pai, agora finalmente encontrada e devolvida à vida. Sintonizados nesta preciosa estação de rádio nostalgia.fm que nos incendeia o olhar, desabrocha o sorriso e faz suspirar, embarcamos numa emocionante, inesquecível e reconfortante viagem à comovente boleia de uma voz liderante de pele melodiosa, açucarada, encerada e refrescante, duas guitarras siamesas que se redemoinham em sensuais danças de voluptuosos, viciantes, maleáveis e apetitosos riffs e esvoaçantes, escorregadios, fugidios e deslumbrantes solos em vertiginosa debandada, um baixo ondulante de bafo fibroso, palpável, quente e umbroso, e uma empolgante bateria com a irrepreensível precisão de um relógio suíço que tiquetaqueia todo este fabuloso álbum a um galope constante, bem-disposto e magnetizante. Este é um registo imensamente cativante que nos obriga a reproduzi-lo vezes sem conta. São 34 minutos integralmente passados na agradável companhia de uma musicalidade elegante, melíflua, lustrosa e apaixonante – de fácil digestão e ardente tentação – que nos seduz e conduz – de olhar lançado na direcção do passado e o coração atestado de um transbordante sentimento de pura nostalgia – pelas aventurosas estradas de Freeways. Calcem aquelas texanas enrugadas, vistam aquelas velhas calças de ganga rasgadas, aquela grossa camisa de flanela desbotada e aquele negro casaco de cabedal esfolado, e saltem para as irrequietas costas deste álbum. Um dos meus discos favoritos de 2024 está aqui.

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 Dying Victims Productions