Depois do
assombroso álbum de estreia (aqui textualizado e desavergonhadamente
namorado) e do seu fantástico sucessor ‘Axexan, Espreitan’ (aqui
trazido e imoderadamente elogiado), o druídico sexteto galego Moura
lança agora um apaixonante EP intitulado ‘Fume Santo de Loureiro’, carimbado
pelo insuspeito selo da editora discográfica espanhola Spinda Records
nos formatos LP, CD e digital, e nascido com o especial propósito de musicar
uma dramática curta-metragem chamada “Nai” rodada na Galiza. Colhidos e
trazidos dos idosos, místicos, ritualísticos e frondosos bosques galegos que
escondem santuários de celebração wicca, um esotérico, outonal,
sacramental e romanesco Folk de adoração pagã que desenterra e
ressuscita velhas mitologias locais, um serpenteante, inquisidor, sonhador e enfeitiçante
Progressive Rock de exuberantes trajes medievais e uma indiscreta
inspiração setentista, e ainda um misterioso, bucólico, caleidoscópico e
charmoso Psychedelic Rock de forte odor vintage são submetidos a enigmáticas
mezinhas, incensados por secretas especiarias e então revolvidos num fumegante
caldeirão de ferro, abraçado pelas chamas e em borbulhante ebulição. A sua cativante, mágica, seráfica e intrigante musicalidade anestesia, captura e
extasia o ouvinte com esfíngicas, majestosas, sumptuosas e estéticas melodias
capazes de lhe dilatar as pupilas e situá-lo numa inquietante narrativa
cinematográfica envolta em indecifráveis mistérios que se multiplicam e
adensam. Superiormente tricotado por grandiosas, formosas, excelsas e gloriosas
composições que nos estremecem, embevecem e empoderam, ‘Fume Santo de
Loureiro’ tem na curta duração o seu único defeito. Sobressaídos de toda
uma irrepreensível simbiose instrumental – orquestrada de forma excepcional –,
vagueiam livremente os harmoniosos, ensolarados, aveludados e odorosos vocais –
ora isolados, ora coligados – cantarolados na sua língua materna, crepitam e
palpitam chocalhantes pandeiretas, explodem os gongos orientais de quente e
deífica luzência que nos inunda a alma, desfilam vaidosamente trovadoras guitarras
Wishbone Ash’eanas de faustosos, minuciosos, galantes e poderosos
acordes, mugem quiméricos teclados de enfeitiçantes coros gregorianos e polposos,
dramáticos, cósmicos e enfáticos bailados, troteia uma acrobática bateria de
toque polido, cintilante, flamejante e preciso, e bafeja pesadamente um baixo
hipnótico de linhas marcantes, parrudas, sisudas e sufocantes. ‘Fume Santo
de Loureiro’ simboliza o lado mais ousado e experimental de Moura, e
consequentemente a admirável capacidade da banda galega de adaptação e conquista de
novos territórios musicais. Um EP oxigenado a pura beatitude e murado por uma
atmosfera intimista, pastoral, cerimonial e intriguista que nos mantém a ele
atrelados do primeiro ao derradeiro minuto. Um registo verdadeiramente epopeico
– de pequena duração, mas demorada fascinação – que nos respira, arrepia e embruxa
sem moderação. Eclipsem-se nele.
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