sexta-feira, 9 de maio de 2025

Review: 🏴‍☠️ Soft Ffog - 'Focus' (2025, Is It Jazz? Records) 🏴‍☠️

★★★★

Três anos após o lançamento do seu impactante álbum de estreia (aqui descrito e aqui galardoado com o título de melhor disco nascido nesse mesmo ano), o talentoso quarteto norueguês Soft Ffog está finalmente de regresso com a apresentação do seu tão ansiado segundo trabalho de longa duração intitulado ‘Focus’ e editado pela jovem e irreverente companhia discográfica local Is It Jazz? Records através dos formatos LP, CD e digital. Deste novo álbum da banda domiciliada em Oslo tudo esperava e – devo antecipar – tudo ele me deu. Depois de um primeiro registo nutrido a altivez, alta densidade, sobranceria e rigidez, ‘Focus’ exibe o lado mais cerebral, relaxado, elaborado e sentimental de Soft Ffog. O seu Yin-Yang foi, desta forma, alcançado. Norteada por um imaginativo, aprumado, intrincado e atractivo Jazz-Fusion de comportamentos catatónicos envolvido e revolvido num desavergonhado flirt com um afectivo, esponjoso, glorioso e expansivo Progressive Rock de ares sinfónicos, a extravagante, sofisticada, sublimada e mirabolante musicalidade de ‘Focus’ presta uma portentosa homenagem ao que de melhor brotara dentro dos universos Jazz e Progressivo no frondoso jardim setentista. Colorido, luminoso, odoroso e entretido, esta irretocável obra-prima de Soft Ffog tem o raro dom de agarrar, cativar e enlevar o ouvinte do primeiro ao derradeiro minuto. Ainda que as denominações atribuídas aos seus temas possam sugerir uma influência descarada de bandas como Camel, Focus e Jimi Hendrix (?), é nas paisagens sonoras de egrégias referências como Frank Zappa (das eras ‘Hot Rats’‘Waka / Jawaka’ e ‘The Grand Wazoo’), Brand-X, Caravan, Yes, Genesis, Gentle Giant, King Crimson, Soft Machine, Hatfield and the North e Colosseum que encontro maior semelhança com a estonteante, maravilhosa, maviosa e triunfante sonoridade de ‘Focus’. Compartimentado em quatro fascinantes, apaixonantes e extensas faixas – superiormente capitaneadas por desafiantes, labirínticas, dramáticas e impressionantes composições condimentadas a escultural formosura, tricotadas a máxima precisão e elegantemente trajadas a tecido respirável de alta-costura – este novo trabalho dos virtuosos escandinavos extravasa as estremaduras da perfeição. De agradável clima Canterbury’esco, aura fabular e natureza novelesca, somos levemente alcoolizados pela harmoniosa maestria destes “Jazz Cats”, massajados pela sua refinada subtileza e levados, integralmente deslumbrados, pelas verdejantes e sedutoras planícies que se estendem e espreguiçam até ao revoltoso e impiedoso mar onde naufragamos. Seráfica, leve, livre e mágica, a sumptuosa sonoridade de ‘Focus’ é brilhantemente cozinhada por uma guitarra magistral de camaleónicos, miraculosos, faustosos e apoteóticos riffs de onde são vertidos angulosos, assombrosos, esdrúxulos e vertiginosos solos, uma bateria sensacional a galope de ritmos alucinantes, acrobáticos, pirotécnicos e excitantes, um baixo magnetizante de reverberação elástica, sombreada, encorpada e ondulante, e um teclado etéreo de melodias quiméricas, coloridas, perfumadas e sidéricas. De distribuir ainda elogiosas apreciações pelo heroico artwork – distintamente ilustrado pelo prendado artista norueguês Einar Evju – que ajuda a galvanizar e imortalizar este inatacável álbum de Soft Ffog. Percam-se e encontrem-se por entre a espalhafatosa desarrumação e charmosa arrumação de ‘Focus’. Este é um registo de contornos épicos onde a mais caprichosa tecnicidade é posta ao serviço da mais apolínica música. Não vai ser nada fácil arredar esta insuperável obra do primeiro lugar na listagem dos melhores de 2025.

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