Três anos após o
lançamento do seu impactante álbum de estreia (aqui descrito e aqui
galardoado com o título de melhor disco nascido nesse mesmo ano), o talentoso
quarteto norueguês Soft Ffog está finalmente de regresso com a
apresentação do seu tão ansiado segundo trabalho de longa duração intitulado ‘Focus’
e editado pela jovem e irreverente companhia discográfica local Is It Jazz? Records
através dos formatos LP, CD e digital. Deste novo álbum da banda domiciliada em
Oslo tudo esperava e – devo antecipar – tudo ele me deu. Depois de um
primeiro registo nutrido a altivez, alta densidade, sobranceria e rigidez, ‘Focus’
exibe o lado mais cerebral, relaxado, elaborado e sentimental de Soft Ffog.
O seu Yin-Yang foi, desta forma, alcançado. Norteada por um imaginativo, aprumado, intrincado e atractivo
Jazz-Fusion de comportamentos catatónicos envolvido e revolvido num desavergonhado
flirt com um afectivo, esponjoso, glorioso e expansivo Progressive
Rock de ares sinfónicos, a extravagante, sofisticada, sublimada e
mirabolante musicalidade de ‘Focus’ presta uma portentosa homenagem ao
que de melhor brotara dentro dos universos Jazz e Progressivo no frondoso
jardim setentista. Colorido, luminoso, odoroso e entretido, esta irretocável obra-prima
de Soft Ffog tem o raro dom de agarrar, cativar e enlevar o ouvinte do
primeiro ao derradeiro minuto. Ainda que as denominações atribuídas aos seus
temas possam sugerir uma influência descarada de bandas como Camel, Focus
e Jimi Hendrix (?), é nas paisagens sonoras de egrégias referências como Frank
Zappa (das eras ‘Hot Rats’, ‘Waka / Jawaka’ e ‘The Grand
Wazoo’), Brand-X, Caravan, Yes, Genesis, Gentle
Giant, King Crimson, Soft Machine, Hatfield and the North
e Colosseum que encontro maior semelhança com a estonteante, maravilhosa, maviosa e
triunfante sonoridade de ‘Focus’. Compartimentado em quatro fascinantes,
apaixonantes e extensas faixas – superiormente capitaneadas por desafiantes,
labirínticas, dramáticas e impressionantes composições condimentadas a escultural formosura,
tricotadas a máxima precisão e elegantemente trajadas a tecido respirável de
alta-costura – este novo trabalho dos virtuosos escandinavos extravasa as estremaduras
da perfeição. De agradável clima Canterbury’esco, aura fabular e natureza
novelesca, somos levemente alcoolizados pela harmoniosa maestria destes “Jazz
Cats”, massajados pela sua refinada subtileza e levados, integralmente deslumbrados,
pelas verdejantes e sedutoras planícies que se estendem e espreguiçam até ao
revoltoso e impiedoso mar onde naufragamos. Seráfica, leve, livre e mágica, a sumptuosa sonoridade de ‘Focus’
é brilhantemente cozinhada por uma guitarra magistral de camaleónicos,
miraculosos, faustosos e apoteóticos riffs de onde são vertidos angulosos,
assombrosos, esdrúxulos e vertiginosos solos, uma bateria sensacional a galope
de ritmos alucinantes, acrobáticos, pirotécnicos e excitantes, um baixo magnetizante
de reverberação elástica, sombreada, encorpada e ondulante, e um teclado etéreo
de melodias quiméricas, coloridas, perfumadas e sidéricas. De distribuir ainda
elogiosas apreciações pelo heroico artwork – distintamente ilustrado
pelo prendado artista norueguês Einar Evju – que ajuda a galvanizar e
imortalizar este inatacável álbum de Soft Ffog. Percam-se e encontrem-se
por entre a espalhafatosa desarrumação e charmosa arrumação de ‘Focus’.
Este é um registo de contornos épicos onde a mais caprichosa tecnicidade é
posta ao serviço da mais apolínica música. Não vai ser nada fácil arredar esta insuperável obra
do primeiro lugar na listagem dos melhores de 2025.
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