sábado, 29 de novembro de 2025
sexta-feira, 28 de novembro de 2025
Review: ⚜️ Moundrag - 'Deux' (2025, Spinda Records / Stolen Body Records) ⚜️
Depois do
impactante álbum de estreia ‘Hic Sunt Moundrages’ (lançado no Outono de
2022 e aqui examinado), os irmãos Goellaën reaparecem novamente
debaixo dos holofotes com o tão aguardado arremesso do seu segundo trabalho de
longa duração, denominado ‘Deux’ e editado sob as formas LP, CD e
digital através da parceria entre a espanhola Spinda Records e a
britânica Stolen Body Records. Arquitectado e edificado entre 2022 e
2024, esta nova obra do irreverente power-duo francês Moundrag traz-nos
a aparatosa, faiscante e gloriosa combinação entre um poderoso, dominante,
exuberante e majestoso Heavy Prog de rutilante brilho vintage e um musculoso,
melódico, dramático e vistoso Hard Rock de estilosa roupagem clássica.
De bussola apontada à dourada década de 1970 onde se escutam e identificam ecos
de bandas lendárias como Rush, Deep Purple, King Crimson, Atomic Rooster,
Emerson, Lake & Palmer, Uriah Heep e a suíça Island,
assim como partilhando a genética de referências da contemporaneidade como os
escandinavos Hällas, Horisont, Hypnos e Svartanatt e
os canadianos Freeways, a sonoridade ostentosa, ornamentada, requintada e
cerebral de ‘Deux’ – emoldurada por uma estética medieval e oxigenada
por uma ambiência cerimonial –, tem a capacidade de nos situar nos enredos de
fascinantes narrativas fabulares trazidas do universo ancestral. São 37 minutos
impecavelmente musicados por virtuosas, arrogantes, opulentas e grandiosas composições
que nos sombreiam, impressionam e conquistam. Baloiçando entre portentosas cavalgadas
de esporas ensanguentadas e lamuriosas baladas de sentimentalismo transbordante,
este irretocável registo de Moundrag é uma iguaria de classe gourmet, capaz de
satisfazer os desejos de requinte dos ouvidos mais exóticos e exigentes. Sem menosprezar
as duas mãos cheias de membros adicionais que juntos conferem a este sublime ‘Deux’
toda uma mística aura orquestral, o reinante protagonismo está naturalmente
apontado aos irmãos Camille e Colin – modistas desta obra verdadeiramente
escultural – que escorraçam todos os seus tormentos ao volante de um prestigioso
órgão – repleto de um carisma litúrgico – que se agiganta e meneia em formosos,
enfáticos, enigmáticos e imperiosos bailados, uma bateria assombrosa que se
incendeia em extravagantes, alucinantes, diabólicas e circenses acrobacias
jazzísticas, e duas vozes aparentadas e entrelaçadas de tez mélica, harmoniosa, sedosa e poética.
Este é um álbum erudito, temperado a fineza, destreza e delicadeza. Um registo imensamente incentivante e eloquente, portador de uma esdrúxula elegância que não deixará ninguém
indiferente. Deixem-se inundar e enfeitiçar pela musicalidade excepcional deste
talentoso dueto francês que preenche qualquer palco. De destacar, por fim, que este
cabalístico ritual vai andar em digressão e exposição europeia durante a
primeira metade de 2026, e Portugal conta com duas datas confirmadas (Porto e Barcelos).
Imperdível.
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quinta-feira, 27 de novembro de 2025
quarta-feira, 26 de novembro de 2025
terça-feira, 25 de novembro de 2025
Review: 🦅 Yawning Man - 'Pavement Ends' (2025, Heavy Psych Sounds) 🦅
Na iminência de
completar quarenta anos de existência, a lendária formação desértica Yawning
Man acaba de editar o seu 10º álbum intitulado ‘Pavement
Ends’, lançado nos formatos LP, CD e digital com o carimbo da companhia
discográfica romana Heavy Psych Sounds. Depois de o anterior ‘Long
Walk of the Navajo’ (aqui descrito e elogiado) ter contado com o
baixista convidado Billy Cordell, este novo trabalho assinala o regresso
do cofundador Mario Lalli ao domínio das quatro cordas, perfilando-se
lado a lado com o seu parceiro de longa data Gary Arce na guitarra e com
o baterista Bill Stinson que desde há dez anos empunha as baquetas da histórica
banda sediada na cidade californiana de Palm Desert. Num equilíbrio circense
entre um arenoso, radioso, fogoso e exótico Desert Rock de trajes
étnicos e um melancólico, expansivo, emotivo e cinematográfico Post Rock
de condimentos sidéricos, a árida, mística, relaxada e atmosférica sonoridade de
‘Pavement Ends’ convida o ouvinte para uma visita guiada (e soberbamente
musicada) pela inefável, transformadora e libertadora majestosidade do deserto
californiano. Reflexivo, alucinógeno, etéreo e lenitivo, este novo registo de Yawning
Man tem a capacidade de sedar, adormecer, embevecer e estacionar o ouvinte
num perfeito estádio de sonambulismo. Sobrevoando um incomensurável tapete de
areias finas e bronzeadas onde se erguem imponentes Yucca brevifolia’s
(árvores de Josué) que se espreguiçam na vertiginosa direcção de um imenso e límpido
céu azul turquesa, farolizado por um endeusado Sol de aquecida e amarelecida
fulgência, e repousam idosas e monolíticas montanhas rochosas que recortam o
intangível horizonte, observamos – atentos e fascinados – todo o divino esplendor
desértico através do olhar vigilante de uma águia Dourada. São 38 minutos de
constante encandeamento. De lucidez embaciada, olhar selado, sorriso desenhado
no rosto e cabeça pendulada de ombro em ombro, vagueamos, despreocupada e livremente,
pela hipnótica, deslumbrante, apaixonante e psicotrópica musicalidade de ‘Pavement
Ends’ à irresistível boleia de uma guitarra ácida de enfeitiçantes, intoxicantes,
repetitivos e ecoantes riffs que se encavalitam entre si numa delirante escadaria
em espiral, e solos uivantes, escorregadios, fugidios e esvoaçantes que se
multiplicam e ressoam pela infinidade fora, um baixo viril de possantes, carnudas,
empoladas e pulsantes linhas que se desenham a negrito, e uma bateria tribalista
de simétricos, galopantes, cativantes e magnéticos ritmos que tiquetaqueiam com
irretocável precisão toda esta maravilhosa digressão pelos longos e sinuosos
desfiladeiros da nossa alma. A vistosa ilustração que embeleza o suporte físico
do álbum aponta os seus créditos de autor à talentosa artista local Diane
Bennett. De essência puramente instrumental, ‘Pavement Ends’ é uma
obra sacramental e regeneradora que nos desobstrói a canalização sensorial e
purifica o universo espiritual. Um registo verdadeiramente sensacional que nos
desamarra da existência artificial e conduz ao paraíso natural. Banhem-se na
sua luzência seráfica.
segunda-feira, 24 de novembro de 2025
sexta-feira, 21 de novembro de 2025
quinta-feira, 20 de novembro de 2025
quarta-feira, 19 de novembro de 2025
Review: 🛶 Kronstad 23 - 'Sommermørket' (2025, El Paraiso Records) 🛶
Proveniente do grandioso
reino do Jazz norueguês, a talentosa formação Kronstad 23 acaba
de lançar o seu segundo trabalho de longa duração intitulado ‘Sommermørket’ e editado pela consagrada
companhia discográfica dinamarquesa El Paraiso Records através dos
formatos LP, CD e digital. Este quarteto nórdico (que aqui conta com o nutritivo
contributo de dois saxofonistas convidados) magica uma aprazível alquimia
sonora que associa um viajante, exótico, extravagante e catártico Cosmic
Jazz que nos electrifica a corrente espiritual a um elegante, imersivo,
contemplativo e deslumbrante Post-Rock de cinematográfica beleza invernal
e ainda a um hipnótico, colorido, entretido e caleidoscópico Psychedelic
Rock de alucinógena ambiência sideral. Norteada por uma experimental,
misteriosa, charmosa e intelectual atmosfera que se vai desinibindo e desvendando
com a simbiótica progressão instrumental, a enfeitiçante, explorativa, reflexiva
e apaixonante sonoridade de ‘Sommermørket’ embrulha o ouvinte num
reconfortante manto estelar e o faz mergulhar no abismo do Cosmos pulsante.
Sedutora, transcendental e libertadora, esta irretocável obra dos noruegueses
baloiça entre anestésicas passagens embaciadas a embriagada placidez e
dinâmicos momentos de instrumentos dialogantes. Navegado por uma maravilhosa maestria
instrumental e perfumado por uma delicada ambiência oriental, este novo álbum
de Kronstad 23 tem o raro dom de nos absorver, embevecer e adormecer num
súbito desmaio de prazer. Arquitectado a desarmante beleza e envernizado a doce
e amarelecida delicadeza, o terapêutico ‘Sommermørket’ faz-nos
sorrir, meditar e içar as velas ao sabor dos ventos que sobrevoam os infindáveis
mares do universo onírico. Serpenteiem-se na elasticidade reptiliana de uma
guitarra sultana que baila magnéticos, envolventes e atmosféricos acordes
condimentados a misticismo. Oscilem à boleia de um ondulante baixo de linhas encaracoladas,
sombreadas e pulsantes. Delirem com as admiráveis acrobacias de uma requintada bateria
tiquetaqueada a um toque leve, livre e lustroso. Fantasiem com os espirituosos bailados
de quiméricos teclados que nos fazem duvidar da realidade e com a vistosa caligrafia
da sedutora sitar que no derradeiro tema nos faz viajar no tempo até aos rosados
crepúsculos da velha Pérsia. Obscureçam-se na formosura nocturna de veludosos, melancólicos
e glamorosos saxofones que ressoam e ecoam em quatro dos sete temas que
compartimentam este disco escultural. Arejado, intimista, sentimentalista e refinado,
‘Sommermørket’ é mareado por um irresistível groove movediço que
nos seduz, massaja e conduz ao paraíso. Um dos grandes álbuns nascidos em 2025 está
aqui, nos frondosos jardins mentais de Kronstad 23. Derretam-se nele.
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terça-feira, 18 de novembro de 2025
segunda-feira, 17 de novembro de 2025
domingo, 16 de novembro de 2025
sexta-feira, 14 de novembro de 2025
Review: 🌑 Moonstone - 'Age of Mycology' (2025, Interstellar Smoke Records) 🌑
Um dos mais influentes
bastiões do Doom Metal polaco está de regresso. Depois de lançados o
homónimo em 2019 (aqui analisado) e o seu sucessor ‘Growth’ em
2023 (aqui trazido à luz e dissecado), o poderoso quarteto Moonstone – domiciliado
na cidade de Cracóvia – reaparece agora na melhor das suas formas
ostentando o portentoso ‘Age of Mycology’, editado sob as formas de LP,
CD e digital pela mão da companhia discográfica local Interstellar Smoke
Records. Encavernado num trevoso, melancólico, esotérico e infeccioso Proto-Doom
de pesadas, malfadadas e negras ressonâncias que nos engolem, enevoam e
encarvoam o espírito, este terceiro álbum de Moonstone ganha vida durante
a noite num secreto bosque, à pálida luz de uma Lua grávida e sob o olhar
atento e perverso de uma bruxa que se esconde na sombra. Ocultista, místico,
demoníaco e ritualista, ‘Age of Mycology’ musica-nos imersivos contos climatizados
por uma fria humidade outonal e oxigenados por uma assombração gótica que nos travam
a respiração, dilatam as pupilas e mergulham nas abissais profundezas da
escuridão. Baloiçados entre reflexivas passagens condimentadas a temulenta e
fumarenta melancolia e altivas investidas inflamadas a fogosa e mofosa negrura,
vamos cambaleando por este musgoso, pantanoso e fúngico solo. São 45 minutos sufocados
pelo cinzentismo. Uma enfeitiçante sessão de hipnotismo, com recurso a
coloridos e perfumados incensos de magia negra, que nos enregela, profana e
soterra no lado eclipsado e desventurado da religião. De cabeça embrumada,
pesadamente tombada sobre o peito, caímos num imperturbável estado mesmérico de
funesta radiação luciférica que nos extingue a luz interior e anoitece a alma.
Farolizados por duas guitarras sacerdotais de dramáticos, enfáticos e imperiosos
riffs consumidos pela queimante, rugosa e urticante distorção e
desaguados em ácidos, endiabrados e intoxicantes solos, um baixo sisudo de
linhas possantes, tensas e dominantes, uma bateria incisiva de ritmos enérgicos,
coléricos e impactantes, e uma voz fantasmagórica, vampírica e liderante,
vagueamos por este elegíaco pesadelo superiormente edificado pelos bruxos polacos.
Este é um álbum profético de forte sedução. Prostrados, enlutados e anestesiados,
somos cercados e devorados pelas negras lavaredas de Moonstone, e
deixados, abandonados, no silêncio sepulcral que se segue a esta demoníaca
possessão.
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quinta-feira, 13 de novembro de 2025
quarta-feira, 12 de novembro de 2025
terça-feira, 11 de novembro de 2025
segunda-feira, 10 de novembro de 2025
domingo, 9 de novembro de 2025
sábado, 8 de novembro de 2025
sexta-feira, 7 de novembro de 2025
Review: 🌈 Magic Machine - 'Rainbow Road' (2025) 🌈
Um dos álbuns
por mim mais aguardados de 2025 acaba de sair à rua: ‘Rainbow Road’ é o
quarto trabalho do talentoso quarteto australiano Magic Machine –
domiciliado na artística cidade de Sydney –, sucessor do incrível ‘Castle
in the Sky’ lançado no passado ano e aqui desavergonhada e
imoderadamente reverenciado. A trote de um picante, empolgante, ritmado e dançante
Garage Rock agrilhoado a um apaixonante, caleidoscópico, prismático e
delirante Psychedelic Rock de invocação 60’s, a colorida, ensolarada,
agradável e entretida sonoridade de ‘Rainbow Road’ pincela no imaginário
do ouvinte um tapete desértico que se desdobra pela infinidade adentro, onde
imponentes cactos se espreguiçam na direcção de um cristalino céu azul-turquesa,
suaves brisas trazem uivos de coiotes famintos e volumosas montanhas rochosas recortam
o inalcançável horizonte. Um belicoso confronto entre The Black Keys, Spindrift
e The Murlocs. A banda-sonora de um carismático Western Spaghetti
através da lente de Quentin Tarantino que nos atira para as costas de um
cavalo cansado e jornadeia pelas areias do deserto de Sonora, debaixo de um Sol
impiedoso que cultiva verdejantes e curativas miragens no firmamento. A
aventura e a desventura de mãos dadas. De pele bronzeada, visão desfocada e
alma embriagada, banhada num alucinógeno oceano de mescalina, cavalgamos na
direcção do Sol posto, esporeando as tonificadas coxas do cavalo, empoeirando-nos
na cerrada bruma com forte odor a pólvora de caóticos tiroteios, driblando
balas esvoaçantes que silvam junto aos nossos ouvidos e, finalmente, relaxando de
cotovelos ancorados no balcão deste saloon onde se beberica o mélico e
urticante trago do bourbon e bate a sola da texana no velho e poeirento soalho
de madeira ao cativante som de uma guitarra gingona que se meneia em riffs
magnetizantes, baloiçantes, ondeantes e perfumados e incendeia em vertiginosos,
electrizantes, derrapantes e aparatosos solos, um baixo groovy de linhas
pulsantes, hipnóticas, elásticas e reconfortantes, uma bateria galopante de
ritmo estimulante, sedutor, libertador e incessante, um teclado enfeitiçante de
harmoniosos, intrigantes e polposos bailados, e uma voz esbranquiçada, diabrina
e avinagrada. São os Magic Machine de instrumentos fora do coldre à
conquista do velho oeste. Experienciem esta imersiva experiência
cinematográfica soberbamente musicada por estes australianos de ponchos sobre
os ombros, gatilhos sensíveis e olhares desafiantes que cintilam na sombra
deixada pelos chapéus de aba larga. ‘Rainbow Road’ é um álbum lustroso, sorridente,
ardente e delicioso que poderá ser degustado muito em breve "in loco" no velho continente
(entre meados de Novembro e meados de Dezembro) a propósito da sua tour europeia que passará,
inclusive, por Portugal (com datas marcadas em Lisboa, Porto
e Paredes de Coura através da promotora nacional Ya Ya Yeah).
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