sexta-feira, 28 de novembro de 2025

📺 Deep Purple, 1971

Review: ⚜️ Moundrag - 'Deux' (2025, Spinda Records / Stolen Body Records) ⚜️

★★★★

Depois do impactante álbum de estreia ‘Hic Sunt Moundrages’ (lançado no Outono de 2022 e aqui examinado), os irmãos Goellaën reaparecem novamente debaixo dos holofotes com o tão aguardado arremesso do seu segundo trabalho de longa duração, denominado ‘Deux’ e editado sob as formas LP, CD e digital através da parceria entre a espanhola Spinda Records e a britânica Stolen Body Records. Arquitectado e edificado entre 2022 e 2024, esta nova obra do irreverente power-duo francês Moundrag traz-nos a aparatosa, faiscante e gloriosa combinação entre um poderoso, dominante, exuberante e majestoso Heavy Prog de rutilante brilho vintage e um musculoso, melódico, dramático e vistoso Hard Rock de estilosa roupagem clássica. De bussola apontada à dourada década de 1970 onde se escutam e identificam ecos de bandas lendárias como Rush, Deep Purple, King CrimsonAtomic Rooster, Emerson, Lake & Palmer, Uriah Heep e a suíça Island, assim como partilhando a genética de referências da contemporaneidade como os escandinavos Hällas, Horisont, Hypnos e Svartanatt e os canadianos Freeways, a sonoridade ostentosa, ornamentada, requintada e cerebral de ‘Deux’ – emoldurada por uma estética medieval e oxigenada por uma ambiência cerimonial –, tem a capacidade de nos situar nos enredos de fascinantes narrativas fabulares trazidas do universo ancestral. São 37 minutos impecavelmente musicados por virtuosas, arrogantes, opulentas e grandiosas composições que nos sombreiam, impressionam e conquistam. Baloiçando entre portentosas cavalgadas de esporas ensanguentadas e lamuriosas baladas de sentimentalismo transbordante, este irretocável registo de Moundrag é uma iguaria de classe gourmet, capaz de satisfazer os desejos de requinte dos ouvidos mais exóticos e exigentes. Sem menosprezar as duas mãos cheias de membros adicionais que juntos conferem a este sublime ‘Deux’ toda uma mística aura orquestral, o reinante protagonismo está naturalmente apontado aos irmãos Camille e Colin – modistas desta obra verdadeiramente escultural – que escorraçam todos os seus tormentos ao volante de um prestigioso órgão – repleto de um carisma litúrgico – que se agiganta e meneia em formosos, enfáticos, enigmáticos e imperiosos bailados, uma bateria assombrosa que se incendeia em extravagantes, alucinantes, diabólicas e circenses acrobacias jazzísticas, e duas vozes aparentadas e entrelaçadas de tez mélica, harmoniosa, sedosa e poética. Este é um álbum erudito, temperado a fineza, destreza e delicadeza. Um registo imensamente incentivante e eloquente, portador de uma esdrúxula elegância que não deixará ninguém indiferente. Deixem-se inundar e enfeitiçar pela musicalidade excepcional deste talentoso dueto francês que preenche qualquer palco. De destacar, por fim, que este cabalístico ritual vai andar em digressão e exposição europeia durante a primeira metade de 2026, e Portugal conta com duas datas confirmadas (Porto e Barcelos). Imperdível.

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terça-feira, 25 de novembro de 2025

Nick Drake - "Day Is Done" (1969)

Tangerine Dream - "Ricochet" (1975)

Review: 🦅 Yawning Man - 'Pavement Ends' (2025, Heavy Psych Sounds) 🦅

★★★★

Na iminência de completar quarenta anos de existência, a lendária formação desértica Yawning Man acaba de editar o seu 10º álbum intitulado ‘Pavement Ends’, lançado nos formatos LP, CD e digital com o carimbo da companhia discográfica romana Heavy Psych Sounds. Depois de o anterior ‘Long Walk of the Navajo’ (aqui descrito e elogiado) ter contado com o baixista convidado Billy Cordell, este novo trabalho assinala o regresso do cofundador Mario Lalli ao domínio das quatro cordas, perfilando-se lado a lado com o seu parceiro de longa data Gary Arce na guitarra e com o baterista Bill Stinson que desde há dez anos empunha as baquetas da histórica banda sediada na cidade californiana de Palm Desert. Num equilíbrio circense entre um arenoso, radioso, fogoso e exótico Desert Rock de trajes étnicos e um melancólico, expansivo, emotivo e cinematográfico Post Rock de condimentos sidéricos, a árida, mística, relaxada e atmosférica sonoridade de ‘Pavement Ends’ convida o ouvinte para uma visita guiada (e soberbamente musicada) pela inefável, transformadora e libertadora majestosidade do deserto californiano. Reflexivo, alucinógeno, etéreo e lenitivo, este novo registo de Yawning Man tem a capacidade de sedar, adormecer, embevecer e estacionar o ouvinte num perfeito estádio de sonambulismo. Sobrevoando um incomensurável tapete de areias finas e bronzeadas onde se erguem imponentes Yucca brevifolia’s (árvores de Josué) que se espreguiçam na vertiginosa direcção de um imenso e límpido céu azul turquesa, farolizado por um endeusado Sol de aquecida e amarelecida fulgência, e repousam idosas e monolíticas montanhas rochosas que recortam o intangível horizonte, observamos – atentos e fascinados – todo o divino esplendor desértico através do olhar vigilante de uma águia Dourada. São 38 minutos de constante encandeamento. De lucidez embaciada, olhar selado, sorriso desenhado no rosto e cabeça pendulada de ombro em ombro, vagueamos, despreocupada e livremente, pela hipnótica, deslumbrante, apaixonante e psicotrópica musicalidade de ‘Pavement Ends’ à irresistível boleia de uma guitarra ácida de enfeitiçantes, intoxicantes, repetitivos e ecoantes riffs que se encavalitam entre si numa delirante escadaria em espiral, e solos uivantes, escorregadios, fugidios e esvoaçantes que se multiplicam e ressoam pela infinidade fora, um baixo viril de possantes, carnudas, empoladas e pulsantes linhas que se desenham a negrito, e uma bateria tribalista de simétricos, galopantes, cativantes e magnéticos ritmos que tiquetaqueiam com irretocável precisão toda esta maravilhosa digressão pelos longos e sinuosos desfiladeiros da nossa alma. A vistosa ilustração que embeleza o suporte físico do álbum aponta os seus créditos de autor à talentosa artista local Diane Bennett. De essência puramente instrumental, ‘Pavement Ends’ é uma obra sacramental e regeneradora que nos desobstrói a canalização sensorial e purifica o universo espiritual. Um registo verdadeiramente sensacional que nos desamarra da existência artificial e conduz ao paraíso natural. Banhem-se na sua luzência seráfica.

quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Review: 🛶 Kronstad 23 - 'Sommermørket' (2025, El Paraiso Records) 🛶

★★★★

Proveniente do grandioso reino do Jazz norueguês, a talentosa formação Kronstad 23 acaba de lançar o seu segundo trabalho de longa duração intitulado ‘Sommermørket’ e editado pela consagrada companhia discográfica dinamarquesa El Paraiso Records através dos formatos LP, CD e digital. Este quarteto nórdico (que aqui conta com o nutritivo contributo de dois saxofonistas convidados) magica uma aprazível alquimia sonora que associa um viajante, exótico, extravagante e catártico Cosmic Jazz que nos electrifica a corrente espiritual a um elegante, imersivo, contemplativo e deslumbrante Post-Rock de cinematográfica beleza invernal e ainda a um hipnótico, colorido, entretido e caleidoscópico Psychedelic Rock de alucinógena ambiência sideral. Norteada por uma experimental, misteriosa, charmosa e intelectual atmosfera que se vai desinibindo e desvendando com a simbiótica progressão instrumental, a enfeitiçante, explorativa, reflexiva e apaixonante sonoridade de ‘Sommermørket’ embrulha o ouvinte num reconfortante manto estelar e o faz mergulhar no abismo do Cosmos pulsante. Sedutora, transcendental e libertadora, esta irretocável obra dos noruegueses baloiça entre anestésicas passagens embaciadas a embriagada placidez e dinâmicos momentos de instrumentos dialogantes. Navegado por uma maravilhosa maestria instrumental e perfumado por uma delicada ambiência oriental, este novo álbum de Kronstad 23 tem o raro dom de nos absorver, embevecer e adormecer num súbito desmaio de prazer. Arquitectado a desarmante beleza e envernizado a doce e amarelecida delicadeza, o terapêutico ‘Sommermørket’ faz-nos sorrir, meditar e içar as velas ao sabor dos ventos que sobrevoam os infindáveis mares do universo onírico. Serpenteiem-se na elasticidade reptiliana de uma guitarra sultana que baila magnéticos, envolventes e atmosféricos acordes condimentados a misticismo. Oscilem à boleia de um ondulante baixo de linhas encaracoladas, sombreadas e pulsantes. Delirem com as admiráveis acrobacias de uma requintada bateria tiquetaqueada a um toque leve, livre e lustroso. Fantasiem com os espirituosos bailados de quiméricos teclados que nos fazem duvidar da realidade e com a vistosa caligrafia da sedutora sitar que no derradeiro tema nos faz viajar no tempo até aos rosados crepúsculos da velha Pérsia. Obscureçam-se na formosura nocturna de veludosos, melancólicos e glamorosos saxofones que ressoam e ecoam em quatro dos sete temas que compartimentam este disco escultural. Arejado, intimista, sentimentalista e refinado, ‘Sommermørket’ é mareado por um irresistível groove movediço que nos seduz, massaja e conduz ao paraíso. Um dos grandes álbuns nascidos em 2025 está aqui, nos frondosos jardins mentais de Kronstad 23. Derretam-se nele.

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sexta-feira, 14 de novembro de 2025

Review: 🌑 Moonstone - 'Age of Mycology' (2025, Interstellar Smoke Records) 🌑

★★★★

Um dos mais influentes bastiões do Doom Metal polaco está de regresso. Depois de lançados o homónimo em 2019 (aqui analisado) e o seu sucessor ‘Growth’ em 2023 (aqui trazido à luz e dissecado), o poderoso quarteto Moonstone – domiciliado na cidade de Cracóvia – reaparece agora na melhor das suas formas ostentando o portentoso ‘Age of Mycology’, editado sob as formas de LP, CD e digital pela mão da companhia discográfica local Interstellar Smoke Records. Encavernado num trevoso, melancólico, esotérico e infeccioso Proto-Doom de pesadas, malfadadas e negras ressonâncias que nos engolem, enevoam e encarvoam o espírito, este terceiro álbum de Moonstone ganha vida durante a noite num secreto bosque, à pálida luz de uma Lua grávida e sob o olhar atento e perverso de uma bruxa que se esconde na sombra. Ocultista, místico, demoníaco e ritualista, ‘Age of Mycology’ musica-nos imersivos contos climatizados por uma fria humidade outonal e oxigenados por uma assombração gótica que nos travam a respiração, dilatam as pupilas e mergulham nas abissais profundezas da escuridão. Baloiçados entre reflexivas passagens condimentadas a temulenta e fumarenta melancolia e altivas investidas inflamadas a fogosa e mofosa negrura, vamos cambaleando por este musgoso, pantanoso e fúngico solo. São 45 minutos sufocados pelo cinzentismo. Uma enfeitiçante sessão de hipnotismo, com recurso a coloridos e perfumados incensos de magia negra, que nos enregela, profana e soterra no lado eclipsado e desventurado da religião. De cabeça embrumada, pesadamente tombada sobre o peito, caímos num imperturbável estado mesmérico de funesta radiação luciférica que nos extingue a luz interior e anoitece a alma. Farolizados por duas guitarras sacerdotais de dramáticos, enfáticos e imperiosos riffs consumidos pela queimante, rugosa e urticante distorção e desaguados em ácidos, endiabrados e intoxicantes solos, um baixo sisudo de linhas possantes, tensas e dominantes, uma bateria incisiva de ritmos enérgicos, coléricos e impactantes, e uma voz fantasmagórica, vampírica e liderante, vagueamos por este elegíaco pesadelo superiormente edificado pelos bruxos polacos. Este é um álbum profético de forte sedução. Prostrados, enlutados e anestesiados, somos cercados e devorados pelas negras lavaredas de Moonstone, e deixados, abandonados, no silêncio sepulcral que se segue a esta demoníaca possessão.

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sexta-feira, 7 de novembro de 2025

🎁 Alice in Chains - 'Alice in Chains' (1995)

🐀 Castle Rat

Review: 🌈 Magic Machine - 'Rainbow Road' (2025) 🌈

★★★★

Um dos álbuns por mim mais aguardados de 2025 acaba de sair à rua: ‘Rainbow Road’ é o quarto trabalho do talentoso quarteto australiano Magic Machine – domiciliado na artística cidade de Sydney –, sucessor do incrível ‘Castle in the Sky’ lançado no passado ano e aqui desavergonhada e imoderadamente reverenciado. A trote de um picante, empolgante, ritmado e dançante Garage Rock agrilhoado a um apaixonante, caleidoscópico, prismático e delirante Psychedelic Rock de invocação 60’s, a colorida, ensolarada, agradável e entretida sonoridade de ‘Rainbow Road’ pincela no imaginário do ouvinte um tapete desértico que se desdobra pela infinidade adentro, onde imponentes cactos se espreguiçam na direcção de um cristalino céu azul-turquesa, suaves brisas trazem uivos de coiotes famintos e volumosas montanhas rochosas recortam o inalcançável horizonte. Um belicoso confronto entre The Black Keys, Spindrift e The Murlocs. A banda-sonora de um carismático Western Spaghetti através da lente de Quentin Tarantino que nos atira para as costas de um cavalo cansado e jornadeia pelas areias do deserto de Sonora, debaixo de um Sol impiedoso que cultiva verdejantes e curativas miragens no firmamento. A aventura e a desventura de mãos dadas. De pele bronzeada, visão desfocada e alma embriagada, banhada num alucinógeno oceano de mescalina, cavalgamos na direcção do Sol posto, esporeando as tonificadas coxas do cavalo, empoeirando-nos na cerrada bruma com forte odor a pólvora de caóticos tiroteios, driblando balas esvoaçantes que silvam junto aos nossos ouvidos e, finalmente, relaxando de cotovelos ancorados no balcão deste saloon onde se beberica o mélico e urticante trago do bourbon e bate a sola da texana no velho e poeirento soalho de madeira ao cativante som de uma guitarra gingona que se meneia em riffs magnetizantes, baloiçantes, ondeantes e perfumados e incendeia em vertiginosos, electrizantes, derrapantes e aparatosos solos, um baixo groovy de linhas pulsantes, hipnóticas, elásticas e reconfortantes, uma bateria galopante de ritmo estimulante, sedutor, libertador e incessante, um teclado enfeitiçante de harmoniosos, intrigantes e polposos bailados, e uma voz esbranquiçada, diabrina e avinagrada. São os Magic Machine de instrumentos fora do coldre à conquista do velho oeste. Experienciem esta imersiva experiência cinematográfica soberbamente musicada por estes australianos de ponchos sobre os ombros, gatilhos sensíveis e olhares desafiantes que cintilam na sombra deixada pelos chapéus de aba larga. ‘Rainbow Road’ é um álbum lustroso, sorridente, ardente e delicioso que poderá ser degustado muito em breve "in loco" no velho continente (entre meados de Novembro e meados de Dezembro) a propósito da sua tour europeia que passará, inclusive, por Portugal (com datas marcadas em Lisboa, Porto e Paredes de Coura através da promotora nacional Ya Ya Yeah).

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