terça-feira, 4 de junho de 2019

Review: ⚡ Kaleidobolt - 'Bitter' (2019) ⚡

É justo começar por referir que os Kaleidobolt são hoje uma das minhas bandas favoritas e motivadores de um crescente estádio de ansiedade que me absorve sempre que esbarro com o anúncio de um novo álbum em produção. Depois de em 2015 ter ouvido e elogiado o seu portentoso álbum de estreia ‘Kaleidobolt’ (review aqui), tendo-o premiado mesmo com o invejável título de melhor álbum desse mesmo ano (listagem aqui), em 2016 ter novamente digerido e aplaudido o seu sucessor ‘The Zenith Cracks’ (review aqui), e em 2017 ter finalmente experienciado ao vivo este enérgico power-trio em solo nacional e na honrosa companhia dos californianos Radio Moscow (review aqui), estes finlandeses sediados na cidade-capital de Helsínquia regressam agora com a tão aguardada promoção de‘Bitter’, o seu terceiro registo de longa duração. Lançado muito recentemente pela mão do conceituado selo discográfico local Svart Records sob a forma física de CD e vinil, este novo álbum de Kaleidobolt escuda-se num poderoso, furioso, enérgico e vigoroso Hard Rock de influência clássica aliado a um empolgante, oleado, rebuscado e magnetizante Heavy Prog de feições setentistas. Resultada de um impressionante equilíbrio entre a robustez e a flexibilidade, a delicadeza e a aspereza, a mansidão e a comoção, a complexa e exótica sonoridade de ‘Bitter’ causa no ouvinte toda uma imperturbável sensação de profunda fascinação que o envolve e revolve do primeiro ao derradeiro tema. São 44 minutos governados por uma ambiência bifurcada onde a alucinante e fervilhante voracidade e a sumptuosa e odorosa tranquilidade repartem o devido protagonismo. E é essa conjugação ambivalente de naturezas marcadamente tão contrastadas – mas cujas alternâncias são executadas de forma fluída e espontânea – que me faz salivar e extasiar por toda a extensão temporal de ‘Bitter’. Agarrem firmemente as rédeas desta turbulenta locomotiva carburada por uma intratável guitarra movimentada a riffs buliçosos, selváticos, dinâmicos e ostentosos, e atiçada a solos vertiginosos, esquizofrénicos, frenéticos e impetuosos, um possante baixo de reverberação ondulada, hipnotizante, penetrante e encorpada, uma adorável bateria tanto orientada a um refinado, sublime e polido toque jazzístico como incendiada a uma destravada, explosiva e desgovernada galopada sem travões à vista, e ainda uma voz ácida, escarpada, cáustica e avinagrada que esvoaça livremente pela vulcânica atmosfera que estremece todo este álbum. É-me ainda importante estender o louvor ao fabuloso, expressivo e vistoso artwork de créditos apontados ao ilustrador texano Jaime Zuverza. Chego ao final de ‘Bitter’ com a lucidez completamente distorcida e desnorteada. Este é um álbum de natureza impactante, vibrante e atordoante que superara largamente todas as minhas expectativas previamente criadas. Deixem-se morder pela intensa toxicidade de ‘Bitter’ e vivenciem de forma desmoderada e arrebatada um dos álbuns mais desconcertantes lançados até à data no presente ano de 2019.

Na ressaca de ‘Bitter’ aproveito ainda para recordar que Kaleidobolt é um dos nomes com presença assegurada na próxima edição do festival português SonicBlastMoledo, e é, portanto, uma das minhas mais sérias recomendações a não perder em solo minhoto, pela sua gigantesca impetuosidade detonada acima de palco.

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