Os texanos Crypt Trip
são hoje uma das grandes bandas da minha vida. Lembro-me de tropeçar no seu EP
‘Mabon Songs’ algures em 2016 e não mais ter recuperado da queda.
No passado ano de 2018 lançavam o impecável ‘Rootstock’ (devidamente
namorado aqui) que me forçara mesmo a considerá-lo como o melhor álbum
desse ano (listagem completa aqui), e já no presente ano de 2019 apresentaram o
seu tão (por mim) ansiado novo álbum ‘Haze County’ (copiosamente apreciado aqui)
e que até ao momento se perfila como o meu álbum de eleição deste prolífico ano
(no que à quantidade e qualidade da produção musical diz respeito) que caminha
a passos largos para o crepúsculo da sua existência. Foi – portanto – com um vibrante
empolgamento que digerira a tão apetecida notícia de que este Outono os Crypt
Trip viriam a Portugal pela primeira vez com duas datas agendadas para as
cidades de Porto e Lisboa, através da promoção conjunta entre a editora
discográfica italiana Heavy Psych Sounds e a influente promotora
portuguesa Garboyl Lives. Sendo transmontano e vivendo em território
transmontano, foi-me demasiado simples eleger a cidade do Porto como o destino escolhido
para me estrear frente a uma banda que causa em mim todo um titânico impacto
emocional. Não só me estreava apenas a experienciar Crypt Trip ao vivo, como pisava também pela primeira vez o novo espaço Barracuda – que promete futuramente
ser o anfitrião portuense de tantas e tantas outras bandas do universo underground
da música Rock – e o meu olhar atento e curioso – assim que entrara no
bar – comprovava isso mesmo. Depois de algumas cervejas brindadas e muitas conversas
partilhadas com os tantos rostos amistosos que por ali atracavam, o talentoso e
apaixonante power-trio texano subia a palco debaixo de um barulhento
aplauso e encorajadoras palavras gritadas por uma pequena plateia completamente
incendiada e tomada pelo entusiasmo. Fora do palco sofria-se por antecipação, mas com a inabalável convicção de que se avizinhava algo para não mais esquecer (pelos melhores motivos, é claro).
E assim aconteceu: de baquetas firmemente empunhadas,
instrumentos amplificados, microfone ajustado e alguns olhares envergonhados na
direcção do público, os Crypt Trip estavam finalmente prontos para
redecorar e metamorfosear o Barracuda num perfeito e poeirento Saloon
fielmente trazido do carismático velho oeste. E assim que as rédeas foram agarradas
e as esporas pontapeadas nas coxas, iniciou-se uma irrepreensível performance
que certamente levarei e recordarei pelas restantes estações da minha vida.
Descendentes de lendárias referências como Doug Sahm, Captain Beyond,
James Gang, The Allman Brothers Band e The Grateful Dead,
estes três jovens naturais de San Marcos (cidade localizada no estado
norte-americano do Texas) presentearam todos os seus ouvintes com um populoso
e original sortido sonoro de inspiração sessentista e setentista,
de onde facilmente se apalada e saboreia um primitivo Texas Blues em erótica
harmonia com um elegante Classic Rock, um dançante Southern Rock,
um agradável Country Rock e ainda um electrizante Heavy Psych. Numa
irretocável simbiose que enlaçava e oxigenava todos os instrumentos, os Crypt
Trip balancearam a sua curta mas impoluta exibição numa adorável e fluída alternância
entre desenfreadas, estonteantes, euforizantes e alucinadas galopadas que
imediatamente aceleravam e atropelavam os nossos batimentos cardíacos, atestavam
a nossa alma de adrenalina e desprendiam furiosamente as nossas cabeças
rodopiantes no seu encalço, e melodiosas, relaxadas e sumptuosas baladas às
quais ninguém se negava a bater o pé de sorriso sincero e olhar distante e sonhador.
A plateia respirava plena satisfação pela calorosa sonoridade transpirada do
palco, e a banda sentia e investia toda essa motivação numa performance inteiramente
talhada e norteada a talento, ardência e sentimento. A guitarra simultaneamente
trovadora e impetuosa – de provocantes, tórridos e serpenteantes Riffs que
desaguam e se perdem na ciclónica comoção de atordoantes, furiosos, majestosos
e ziguezagueantes solos de elevada toxicidade – é perseguida e sombreada bem de
perto pela quente e eloquente reverberação bafejada por um baixo deliciosa e
criativamente Krauty de linhas pulsantes, hipnóticas, fibróticas e possantes,
e acicatada por uma provocante bateria locomovida a circenses acrobacias temperadas
a desarmante subtileza e impressionante destreza que ganhara e conquistara total
protagonismo no derradeiro tema do concerto quando de forma decidida e ousada arrancara
para um desconcertante, inventivo, selvático e contagiante solo à boa moda do polvoroso e espalhafatoso John
Bonham, que nos deixara a todos de olhos bem arregalados, ouvidos salivantes
e semblantes boquiabertos. De destacar ainda a voz tanto melosa e revoltosa que
se ambienta na perfeição aos mais variados climas de Crypt Trip.
No final estávamos todos suados, perplexos e embriagados pela enlouquecedora montanha-russa que havia sido a honrosa experiência de vivenciar Crypt Trip acima de palco. O olhar luzidio de todos os presentes dizia tudo aquilo que a boca muda não conseguia soletrar e exteriorizar. As gigantescas expectativas previamente maturadas estavam então integralmente saciadas, e os três músicos devidamente congratulados. Foi um concerto do tamanho da desmedida admiração que nutro pela banda e um dos mais especiais e tocantes da minha vida. O meu sentido agradecimento a todos os responsáveis por tornarem isto possível.
* Fotografias gentilmente cedidas pela downclose.
No final estávamos todos suados, perplexos e embriagados pela enlouquecedora montanha-russa que havia sido a honrosa experiência de vivenciar Crypt Trip acima de palco. O olhar luzidio de todos os presentes dizia tudo aquilo que a boca muda não conseguia soletrar e exteriorizar. As gigantescas expectativas previamente maturadas estavam então integralmente saciadas, e os três músicos devidamente congratulados. Foi um concerto do tamanho da desmedida admiração que nutro pela banda e um dos mais especiais e tocantes da minha vida. O meu sentido agradecimento a todos os responsáveis por tornarem isto possível.
* Fotografias gentilmente cedidas pela downclose.
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