terça-feira, 30 de julho de 2024

Review: 🔱 Sacri Monti - 'Retrieval' (2024) 🔱

★★★★

Está finalmente lançado um dos álbuns por mim mais aguardados do ano. Depois do impactante disco de estreia (review aqui) nascido em 2015, de designação homónima e governado pela efervescente, intensa e electrizante combustão do Heavy Psych, e do maravilhoso segundo trabalho intitulado ‘Waiting Room for the Magic Hour’ (review aqui), datado de 2019, e velejado através de místicas, ensolaradas e paradisíacas paisagens do Psychedelic Rock de afável clima west-coast e coloridas pinceladas Progressivas, este terceiro álbum de estúdio do talentoso quinteto Sacri Monti – residente na cidade californiana de San Diego – combina o melhor dos dois mundos: um deslumbrante, sensual, estival e empolgante Heavy Psych de contagiante toxicidade e fresca fragância oceânica, e um majestoso, melódico, comovente e ostentoso Progressive Rock de inspiração colhida nos dourados 70’s e com vista panorâmica para a imensa noite cósmica onde pulsam e flamejam pálidos e solitários astros. Carimbado com o selo da histórica companhia discográfica nova-iorquina Tee Pee Records (com a qual a banda californiana reforça o seu vínculo contractual) e lançado sob a forma física de LP, ‘Retrieval’ causa no ouvinte o mesmo efeito de um revitalizante mergulho nas frescas águas do mar durante um dia abafado e de pele bronzeada e banhada em suor. Um monolítico tsunami de endorfinas que nos engole, revolve e desagua nas radiosas, virgens e milagrosas praias do paraíso. Um sumarento refresco de verão, degustado com os pés soterrados nas aveludadas e amarelecidas areias das dunas e olhos arremessados na vertiginosa direcção do inalcançável firmamento pelágico onde um reluzente Sol de raios crepusculares se debruça e desmaia. Surfado por uma sonoridade enfeitiçante, sinuosa, lustrosa e apaixonante, ‘Retrieval’ presenteia e prazenteia o ouvinte com veneráveis composições que tanto o inflamam e euforizam com rodopiantes, sónicas e estonteantes galopadas espicaçadas por um abrasivo chicote em chamas, como o enternecem e anestesiam com oníricas, extasiantes e proféticas passagens arejadas e climatizadas pela reflexiva lisergia. Com excepção do breve, misterioso e introspectivo “Moon Canyon” que é leve e ociosamente tricotado por guitarras uivantes e um teclado de mugidos intrigantes debaixo da alvacenta luz do luar, todos os restantes temas se envolvem num luxurioso, desavergonhado e aparatoso flirt entre o delirante Psychedelic Rock e o enleante Progressive Rock, levado a cabo por duas guitarras vistosas que se cruzam na ascensão e orientação de épicos, formosos, titânicos, e faustosos riffs capazes de tocar os céus e fazer estremecer o próprio Poseidon, e descruzam no alucinante serpenteio de afrodisíacos, ácidos, translúcidos e ofuscantes solos em debandada, um murmurante baixo de linhas possantes, elásticas, movediças e magnetizantes, um romanesco teclado de divinais, imersivos, polposos e gloriosos coros celestiais, uma extraordinária bateria – de elevada fineza jazzística – superiormente locomovida a acrobáticos, expressivos e enfáticos desembaraços de uma destreza atordoante, e uma voz liderante, harmoniosa, assanhada e rugosa que capitaneia de forma triunfante esta destemida nau pela dramática fúria dos mares. ‘Retrieval’ é um álbum verdadeiramente sentimental, sofisticado e magistral, de dimensão colossal, que transmite poderosas sensações e irradia douradas vibrações. Um registo que conjuga a simplicidade e a complexidade, a ternura e a bravura, a serenidade e a impetuosidade. Um dos mais grandiosos álbuns do ano está aqui, no tão ansiado regresso de uma das minhas bandas favoritas. Mal posso esperar por experienciar ao vivo todo o seu epopeico esplendor na iminente 12ª edição do festival SonicBlast calendarizada para a semana que se segue.

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