quarta-feira, 4 de dezembro de 2024
terça-feira, 3 de dezembro de 2024
Review: 🐙 Heavy Trip - 'Liquid Planet' (2024) 🐙
Em 2020 sofria
um impiedoso knockout disferido pelo vibrante power-trio
canadiano Heavy Trip – que surpreendia o meu mundo com o lançamento do
seu impactante álbum de estreia (review aqui) – e agora esta enérgica
formação com residência na cidade de Vancouver está de regresso com uma imponente
tempestade cósmica que destrona o seu antecessor, denominada ‘Liquid Planet’
e que poderá ser testemunhada através dos formatos LP e digital. Electrificada
por um enfeitiçante, frenético, sónico e alucinante Heavy Psych capaz de
nos desaparafusar a cabeça do tronco, que se robustece num musculoso, fogoso, impressionante
e poderoso Heavy Rock de pesadas ressonâncias setentistas, e obscurece num
rugoso, implacável, dominante e montanhoso Proto-Doom de narinas
fumegantes, a euforizante, convulsiva, altiva e intoxicante sonoridade deste segundo
álbum de Heavy Trip colhe influências de bandas como Sleep, Earthless,
Acid King, Blown Out, RYTE, Domadora, Mammatus,
Petyr e Tia Carrera. Uma buliçosa efervescência de flamejante
adrenalina que nos escalda, endoidece e dispara na estonteante vertigem astral.
São 40 minutos de um saturado delírio que nos rasga as vestes da lucidez e contagia
de extasiante embriaguez. Um descontrolado cometa em chamas que percorre as
veias da nossa espiritualidade e em nós provoca um intenso sismo emocional.
Recostem-se confortavelmente, respirem fundo, fechem os olhos e sintam-se
eclodir a toda a velocidade pelos inexplorados territórios alienígenas à irresistível
boleia de uma guitarra escandalosamente assombrosa – condimentada por uma distorção
abrasiva e exorcizada a um diabólico e desarmante virtuosismo que faria o
próprio Jimi Hendrix salivar – que hasteia mastodônticos, caravânicos,
ciclónicos e resinosos riffs de calor vulcânico e forte odor canábico, e desprende todo um psicotrópico e caleidoscópico vendaval de
ácidos, venenosos, vertiginosos e orgásmicos solos capazes de nos causar um relampejante
curto-circuito cerebral, de um baixo motorizado que se contorce e distende em
linhas bailantes, elásticas, hipnóticas e possantes, e de uma bombástica bateria
metralhada a ritmos propulsivos, eruptivos, incisivos e retumbantes. O
fantástico artwork – que confere rosto a esta violenta turbulência
psicotrópica – aponta os seus créditos de autor ao inconfundível e mítico ilustrador
Arik Roper. Deixem-se esporear, sacudir, afoguear e desvairar ao provocante,
frenético, afrodisíaco e viciante som de Heavy Trip, e alcancem o seu
final com as mãos apoiadas nos joelhos, extenuados, ofegantes, de cabeças rodopiantes
e corpos manchados de fuligem celestial. ‘Liquid Planet’ é um portentoso
álbum de contornos épicos capaz de acordar vulcões, erguer tsunamis, soltar
avalanches e centrifugar furacões. Um registo titânico – de instrumentos em alucinada
e desenfreada debandada – que nos atropela e excita sem qualquer moderação. Na brumosa
ressaca desta experiência sobre-humana perscruto uma longínqua voz interior que
me diz tratar-se mesmo do melhor álbum ano, e, muito dificilmente, não o será.