sexta-feira, 1 de novembro de 2024
Review: 🦇 Kant - 'Paranoia Pilgrimage' (2024) 🦇
Da pequena cidade
germânica de Aschaffenburg chega-nos a fantasmagórica obra do esotérico quarteto
Kant, intitulada ‘Paranoia Pilgrimage’ e lançada pela jovem
discográfica alemã Sound of Liberation Records nos formatos LP, CD e
digital. Dissecados, misturados e revolvidos num fumarento caldeirão em
borbulhante ebulição, estão um obscurantista, cavernoso, umbroso e ritualista Proto-Doom
de intrigante atmosfera vampírica, um luxuoso, psicadélico, mélico e lustroso Hard
Rock de brilho vintage, e um poderoso, místico, demoníaco e glorioso Heavy
Blues com requintes de malvadez. Resultada da potência trevosa de Black
Sabbath, da majestosidade fabular de Wishbone Ash, da desregrada perversão
de Witchfinder General, da arrepiante feitiçaria de Witchcraft e do
culto cósmico de Hällas, a mesmérica, irreligiosa, ostentosa e fatídica sonoridade
de Kant escurece, entristece e profana a alma do ouvinte. De pele enregelada
e desmaiada, boquiabertos, e olhar envidraçado de pupilas dilatadas, somos cortejados, subjugados
e conduzidos ao universo gótico de Edgar Allan Poe onde árvores
esqueléticas e decrépitas se erguem na direcção de céus pardos e melancólicos, graníticas
e trágicas ruínas medievais hibernam pelo nevado solo coberto de perecidas
folhas outonais, e grasnantes e intimidantes corvos esvoaçam freneticamente sobre nós, originando uma chuva de penas pretas. Uma épica
assombração superiormente musicada por duas guitarras eruditas que se auxiliam
na edificação de monstruosos, dramáticos, enfáticos e majestosos riffs fervidos
em gaseificada distorção de onde relampeiam sónicos, efervescentes,
ziguezagueantes e histéricos solos, um cismático baixo bailante de linhas pulsantes,
elásticas, hipnóticas e possantes, uma galopante bateria aguilhoada a um ritmo abrasivo,
impetuoso, intenso e altivo, e uma voz ecoante, lívida, avinagrada e messiânica.
‘Paranoia Pilgrimage’ representa uma imersiva, herética e coerciva hipnose
que nos faroliza, atrai, eteriza e subtrai o ar do peito. Uma peregrinação ao
lado eclipsado da religião. Comunguem a tóxica, alucinógena, vigorosa e luciférica
negrura de Kant e mergulhem, atormentados e engolidos pela febril paranoia,
nas abissais profundezas oníricas. É tremendamente fácil cair nesta irresistível
tentação. Banhem-se e afogueiem-se nas escuras e sedutoras lavaredas que
abraçam este imponente álbum, e testemunhem com detida e inquebrável fascinação todo o enfeitiçante
esplendor de um dos mais preclaros álbuns desabrochados no presente ano.
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