terça-feira, 25 de fevereiro de 2025
segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025
Review: 🧞♂️ Naxatras - 'V' (2025) 🧞♂️
Com mais de
uma década de existência e uma mão repleta de álbuns editados, os afamados e
consagrados Naxatras continuam a sua senda exploratória pelo encantado
universo musical, e o novíssimo ‘V’ é o seu mais recente capítulo desta fantástica
odisseia. Recentemente metamorfoseados de trio para quarteto, estes gregos domiciliados
na cidade de Tessalónica, fazem, hoje, do hipnotizante, imersivo e
estimulante Psychedelic Rock de salgados temperos mediterrânicos, do viajante,
místico e deslumbrante Space Rock forjado pelas estrelas, e do dançante,
provocante e sedutor Prog Rock de apimentados condimentos turcos, o seu
tridente. Com o acréscimo da alquimia electrónica que lhes confere todo um sónico experimentalismo, a mágica, exótica e
mesmérica sonoridade de Naxatras enfeitiça o ouvinte, conservando-o em
órbita de um imperturbável estádio de pleno nirvana religioso. De pés desenraizados
da gravidade terrestre, lucidez eclipsada, consciência disparada para dentro da
abissal boca do Cosmos e olhar empoeirado por cintilante e colorida matéria
estelar, levitamos – de corpo bailante e espírito radiante – pelos inexplorados
territórios alienígenas. Representando uma ponte de influências que une a
antiguidade e a contemporaneidade – onde facilmente se reconhecem e saboreiam ingredientes provenientes de bandas como Hawkwind, Eloy, Camel, Agitation
Free, Nektar, Ozric Tentacles, My Sleeping Karma, Ouzo Bazooka, Altin
Gün e Gaye Su Akyol – este sublime ‘V’ bamboleia-se, vaidosa,
vistosa e extravagantemente, numa afrodisíaca, sinuosa, magnética e ritualística
dança do ventre que nos incendeia o olhar, rodopia a cabeça, faz transpirar e cravar os dentes
nos lábios. De pernas cruzadas e sentados num ornamentado tapete mágico que
sobrevoa a azáfama mercantil e contorna os minaretes das imponentes mesquitas
que riscam os rosados céus da velha Pérsia, embarcamos numa sagrada cruzada
pela ancestralidade do Médio Oriente. Cobertos por uma fantasmagórica bruma que
se adensa em mistério, caminhamos, de olhos vendados e candeia empunhada, pela eterna
noite cósmica à boleia de uma profética guitarra de faustosa caligrafia árabe que
se meneia em invertebrados, torneados e fascinantes riffs e rabisca lustrosos,
serpenteantes e gloriosos solos, um baixo deliciosamente groovy que se
balanceia em linhas pulsantes, elásticas e ondulantes, uma bateria de
inspiração tribal conduzida a ritmos magnéticos e absorventes, uma liderante voz
de pele melódica e carisma sacerdotal, e atmosféricos, oníricos e admiráveis teclados
capazes de transformar toda a infinidade sideral numa autêntica liturgia celestial.
‘V’ é o génio fora da lâmpada. Uma maré de misticismo, sedução,
satisfação e utopismo que nos banha e massaja de resplandecente ataraxia. Embarquem
na harmoniosa maestria destes sultões helénicos, e experienciem, detidos e cativados,
todo um arrebatamento espiritual. Este quimérico e terapêutico quinto álbum de
estúdio de Naxatras acaba de ser editado com o seu carimbo autoral
através dos formatos LP, CD e digital. O divinal artwork que transparece
na perfeição tudo aquilo o que a esfíngica musicalidade de ‘V’ encerra,
aponta os seus créditos de autor ao prendado ilustrador escocês Christopher
Toumazatos (aka Chris RW). Mergulhem neste imenso céu estrelado e troquem o real pelo surreal ao longo dos seus 43 minutos de duração.
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domingo, 23 de fevereiro de 2025
sábado, 22 de fevereiro de 2025
sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025
Review: 🌙 Pretty Lightning - 'Night Wobble' (2025) 🌙
Os Pretty Lightning – duo germânico domiciliado na cidade de Saarbrücken e que conta com cerca de 15 anos de frutífera actividade – acabam de editar o seu novo álbum intitulado ‘Night Wobble’ e lançado sob as formas LP e digital pela insuspeita companhia discográfica londrina Fuzz Club. Neste seu 6º trabalho de longa duração passeia-se graciosa e tranquilamente um lisérgico, calmante, deslumbrante e profético Psychedelic Rock de essência instrumental, inspiração colhida no exotismo Tuareg, e ornamentada moldura Spaghetti Western que atira o ouvinte para as costas de um cavalo cansado, de trote pausado, que trilha, sem destino traçado, o bronzeado tapete arenoso do vasto deserto, de olhos cravados no distante Sol afogueado e derretido, desmaiado e debruçado sobre as rochosas montanhas que recortam o inalcançável firmamento crepuscular, desvelando paulatinamente a imensa noite estelar. Ventilado, aromatizado e orientado por uma sonoridade zen, reflexiva, repetitiva e ambiental – que se banha no oásis do misticismo e entrega aos braços do despretensioso experimentalismo –, ‘Night Wobble’ é um calmante natural – de espírito Ennio Morricone’sco – que nos doma as fortes torrentes da alma, desacelera a respiração e amolece o coração. Compartimentado em 13 temas de padrão étnico e curta duração, mas que encerram demoradas paisagens de estética cinematográfica condimentadas a sagrada devoção, este bonito, singelo e contemplativo registo do dueto alemão convida-nos a experienciar uma solitária noite no deserto, de ouvidos acordados pelos penetrantes uivos do coiote, intrigantes ululares da coruja e os arenosos chocalhares do gizo da Cascavel, e olhos perdidos nas bruxuleantes e crepitantes chamas da fogueira que flagra ao relento debaixo da misteriosa e desabrigada escuridão cósmica. Com o negro e aveludado poncho da noite pousado sobre os nossos ombros e naufragados nas profundas águas da introspecção, vagueamos – detidos e fascinados – pelo adorável, fluído e inescapável loop de Pretty Lightning à enfeitiçante boleia de uma guitarra alucinógena que se bamboleia em ondeantes, letárgicos e ecoantes riffs de onde são uivados solos luzidios, ácidos e escorregadios, um baixo gingão de linhas pulsantes, gordas e itinerantes, um celestial teclado de serpenteios enleantes, mugidos melancólicos e sirenes enigmáticos, e uma bateria tribal de galope constante, pachorrento e hipnotizante. ‘Night Wobble’ é um álbum de natureza sonolenta, temulenta e sedutora que nos anoitece e embevece o espírito. Deixem-se absorver pelo feitiço lunar de Pretty Lightning e adormeçam confortavelmente na sua mística e ritualística música.
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quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025
terça-feira, 18 de fevereiro de 2025
segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025
quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025
terça-feira, 11 de fevereiro de 2025
domingo, 9 de fevereiro de 2025
sábado, 8 de fevereiro de 2025
sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025
quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025
quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025
terça-feira, 4 de fevereiro de 2025
segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025
Review: 💣 Requiem Blues - 'Requiem Blues' (2025, Helium Head) 💣
Da cidade inglesa
de Liverpool chega-nos o bombástico álbum de estreia do irreverente power-trio
Requiem Blues numa inspirada homenagem aos pesos-pesados da música Rock
forjada na sagrada e dourada década de 1970. De designação homónima e editado
pela Helium Head Records através dos formatos LP (limitado à prensagem
de apenas 200 cópias físicas) e digital, este galopante, selvagem e impactante registo
de curta duração, mas locomovido a intensa rotação, exibe a tonificada musculatura
de um viçoso, torneado, encorpado e fibroso Hard Rock de alta octanagem,
traja a cega pretura de um intrigante, dramático, jupiteriano e dominante Proto-Metal
de inclemência luciférica, e ostenta a bailada sensualidade de um fogoso,
picante, excitante e oleoso Heavy Blues de elástico balanço Boogie.
Apontando os seus instrumentos a influências clássicas como Budgie, Blue
Cheer, Cactus, ZZ Top, Sir Lord Baltimore, Captain
Beyond, Pentagram, Iron Claw, Jerusalem, Bang, Leaf
Hound e Rory Gallagher’s Taste, bem como a referências contemporâneas
como por exemplo Radio Moscow, JOY, Amplified Heat, Love
Gang, Peth, Cachemira, Sweat Lodge, Supersonic
Blues e The Dues, este electrizante tridente britânico incendiou o
meu coração sem qualquer misericórdia ou moderação. A sua combativa, rústica, psicotrópica
e primitiva sonoridade de brilho vintage é inflamada por uma ardência afrodisíaca
e carburada a destravada e desembaraçada velocidade. Uma mão cheia de temas
verdadeiramente dinâmicos e irresistíveis que nos golpeiam e deixam
completamente knock-out. Agarrem-se como puderem às rédeas desta
alucinante, provocante e aparatosa cavalgada de esporas ensanguentadas e
adrenalina libertada, e vivenciem-na de cabeça rodopiante, respiração ofegante
e espírito integralmente rendido a Requiem Blues. Na composição desta erótica
e eruptiva combustão que nos flameja de febril emoção estão uma virtuosa guitarra
que se agiganta e meneia em vistosos, viciantes, exuberantes e poderosos riffs
de rugosa, gaseificada e arenosa distorção, e grita toda uma psicadélica caleidoscopia
de vertiginosos, estonteantes, trepidantes e venenosos solos em sónica e
ciclónica debandada, um baixo vulcânico de bafejo quente e palpável que insufla
linhas magnetizantes, obesas, coesas e pulsantes, uma bateria explosiva que
arranca, de baquetas relampejantes, numa ritmicidade propulsiva, acrobática,
enfática e incisiva, e uma voz ecoante, briosa, acrimoniosa e liderante que admiravelmente
se equilibra e envaidece nas costas deste buliçoso rodeo. ‘Requiem
Blues’ é um álbum empolgante, apimentado, atrevido e instigante que respira
vivacidade e transpira lubricidade. Um daqueles raros casos de tórrida paixão à
primeiríssima audição que me deixara de olhar vidrado, sorriso desabotoado e
ouvidos salivantes. São incansáveis 28 minutos de uma potência feroz que nos embala
na vertigem e deixa aturdidos e extenuados. Embarquem nesta encaracolada e desenfreada
montanha-russa de empoladas emoções à flor da pele, e experienciem,
maravilhados, o inapagável fulgor, a mirabolante flexibilidade e o inquebrável vigor
de um dos mais sérios candidatos a melhor álbum de 2025. Que disco!