segunda-feira, 2 de junho de 2025
domingo, 1 de junho de 2025
sábado, 31 de maio de 2025
sexta-feira, 30 de maio de 2025
quinta-feira, 29 de maio de 2025
quarta-feira, 28 de maio de 2025
terça-feira, 27 de maio de 2025
Review: ⚔️ Witchcraft - 'Idag' (2025, Heavy Psych Sounds) ⚔️
Com vinte e
cinco anos de existência, os suecos Witchcraft ostentam hoje o invejável
estatuto de banda histórica. Depois de um início fulgurante, produtivo e
triunfante, onde a formação nórdica nos presenteou com o lançamento de três
emblemáticos álbuns, imensamente reverenciados, editados num intervalo temporal
de apenas três anos – escrevendo, assim, com incontornável destaque o nome da
banda em letras garrafais na numerosa lista dos herdeiros de Black Sabbath
– que tive o privilégio de experienciar ao vivo no já longínquo verão espanhol
de 2009 durante a inesquecível e saudosa segunda edição do Festival de Rock
y Psicodelia Castell de Guadalest, os druidas Witchcraft mergulharam num inesperado,
estranho e evolutivo processo de desinspiração musical, um conflito de
identidade cujo pináculo foi alcançado com o fabrico do largamente incompreendido
‘Black Metal’ em 2020, semeando um crescente sentimento de desconfiança e
desalento no seio da sua populosa legião de seguidores. É então que a banda,
como que num súbito despertar de uma longa hibernação, reaparece com a promessa
deixada pelo seu líder Magnus Pelander de que o novo álbum que se
avizinhava mostraria o melhor lado de Witchcraft e recuperaria a sua gloriosa
reputação junto dos fãs. E assim aconteceu. ‘Idag’ representa o tão
ansiado regresso às velhas raízes dos suecos e o acordar de uma banda lendária que
passou demasiado tempo à margem das apreciações elogiosas. Com o carimbo da companhia
discográfica romana Heavy Psych Sounds e exteriorizado sob os formatos
LP, CD e digital, este sétimo trabalho da banda originária da cidade de Örebro
é forjado no intenso fogo de um sisudo, denso, tenso e amaldiçoado Proto-Doom
de trevosas ressonâncias Black Sabbath’icas e Pentagram’icas, e posteriormente
arrefecido num pastoral, rústico, acústico e medieval Folk de clima
outonal. Alternando entre malfadadas, intimistas e romancistas baladas de desarmante
beleza gótica e pesadas, fibrosas e umbrosas galopadas de espadas e lanças
empunhadas, ‘Idag’ é um álbum sepulcral, melancólico e escultural, de enfeitiçante
envolvência nocturna, abraçado pelo obscurantismo e marcado pelo ocultismo, que
é tocado à bruxuleante luz das lavaredas dançantes de uma fogueira que deflagra
na negra intimidade da noite, num bosque silencioso e sob o olhar atento de intimidantes
corujas, cujas faúlhas crepitantes, incandescentes e esvoaçantes se perdem e
apagam a caminho da Lua cheia. A sua sonoridade poética, profética e pagã –
repleta de diabruras que nos seduzem e conduzem ao lado eclipsado da
religiosidade – anoitece e estarrece o nosso espírito. Sorumbática, fascinante
e enigmática, esta nova obra de Witchcraft representa tudo aquilo por
que há tanto tantos ansiavam. Um contador de histórias, trovador e conquistador, que, num feitiço inquebrável, nos absorve e comove da primeira à derradeira canção. Bailem compenetrados e de
corpos desnudos e transpirados à irresistível boleia de uma guitarra feiticeira
que se meneia em volumosos, líricos, lamentosos e rugosos riffs de onde
são escoados ácidos, serpenteantes e alucinados solos, um baixo de reverberação
altiva, carrancuda, nervuda e opressiva, uma bateria bailante, ritmada e
provocante de pratos flamejantes e tambores troantes, e uma voz vampírica,
melódica e embruxada de pele pálida, avinagrada e enregelada, cantada em duas línguas
(sueca e inglesa). A portada de ‘Idag’ dá palco à belíssima pintura do
ilustrador sueco John Bauer (1882–1918) denominada “En riddare red
fram”. Comunguem este sacramento de Witchcraft e deixem-se cair na
sua tentação. Este é um ritual que nos incendeia de paixão. Um registo que toca
a perfeição. Reconvertam-se a esta religião.
segunda-feira, 26 de maio de 2025
domingo, 25 de maio de 2025
sábado, 24 de maio de 2025
quinta-feira, 22 de maio de 2025
Review: 🌅 Causa Sui - 'In Flux' (2025, El Paraiso Records) 🌅
Em cada anúncio
da produção de um novo álbum dos escandinavos Causa Sui vejo um renovado
motivo para sorrir e fazer explodir toda uma pirotecnia emocional. Tem sido assim ao longo das duas últimas décadas. Desde
2005 que a banda dinamarquesa – domiciliada na cidade de Odense –
materializa todos os seus já numerosos rasgos de inesgotável criatividade,
ostentando uma invejável fertilidade musical que resulta numa considerável,
admirável e heterogénea discografia detentora de um amplo espectro sonoro que viaja
o ouvinte de imersivos, anestésicos e deíficos estádios contemplativos até
outros mais fogosos, vibrantes, rugosos e agressivos. ‘In Flux’ – o novíssimo
álbum do quarteto, editado pela insuspeita El Paraiso Records através
dos formatos LP (entretanto já esgotado), CD e digital – representa mais uma sagrada
peregrinação de Causa Sui pelos vastos oceanos da introspecção. Um
bálsamo de consagração espiritual que comungamos e nos faz vogar pelas sossegadas,
mornas e translúcidas águas de um reconfortante, arejado, ensolarado e
deslumbrante Psychedelic Rock de suor latino entrelaçado num relaxante, hipnótico,
exótico e dançante Krautrock de inspiração germânica. Radiante, fluído, acetinado e enfeitiçante,
‘In Flux’ é uma obra de estonteante e desarmante beleza ambiental – de clima
estival e sabor tropical – que nos ancora num imperturbável estado de ataráxica
sonolência. A sua sonoridade letárgica, nirvânica e seráfica – herdeira de
bandas como Grateful Dead, Santana, Malo, The Mermen, CAN, Agitation Free e Gila
– seduz, circunda e conduz o imaginário do ouvinte pelas paradisíacas praias –
de afago mental e luzência virginal – onde reluz um dilatado e amarelecido Sol de
bafo quente, grasnam gaivotas que sobrevoam todo um imenso mar azul-turquesa de
ondas que desmaiam numa lenta rebentação espumosa, e se estende um extenso areal
de coloração bronzeada e textura aveludada onde enterramos os nossos pés e
arremessamos o olhar embriagado até onde a vista pode alcançar. Um polposo,
fresco, alaranjado e delicioso cocktail que ingerimos enquanto
perseguimos com o olhar maravilhado surfistas golpear, ziguezaguear e cavalgar
a crista das ondas durante um mágico crepúsculo que nos inunda de luz solar e de
uma inapagável sensação de pleno bem-estar. De lucidez embaciada e tomados por
uma leve embriaguez que nos eteriza e canaliza através de um delirante caleidoscópio
rodopiado a lisérgico psicadelismo, somos cativados e gravitados em órbita de
uma guitarra bailante que se espreguiça em acordes repetitivos, esponjosos, odorosos
e lenitivos, um baixo vagabundo de linhas ondeantes, sombreadas, delicadas e
magnetizantes, uma bateria cerimonial de ritmos desinibidos, acrobáticos, jazzísticos
e tribais, e um envolvente teclado de frescas, doces, leves e romanescas harmonias.
‘In Flux’ é um registo edénico, dirigido a fluidez, ligeireza, subtileza e
placidez. Filho de um ofuscante experimentalismo colhido no jardim cósmico,
este novo álbum de Causa Sui é um poderoso narcótico que nos liberta
numa transcendência divina. Um registo ternurento, meloso, lustroso e temulento
– habitado por atmosferas atraentes e misteriosas que se vão desvelando e
esclarecendo vagarosa e progressivamente – que nos massaja e viaja pelas perpétuas
planícies da reflexão. Destaco, com vaidade, o límpido e sublime tema "Moledo" que faz uma merecida alusão ao SonicBlast (festival português do qual
sou orgulhosamente parceiro media e que tem lugar todos os verões na costa norte
de Portugal, gozando hoje de uma crescente reputação mundial) pelo qual a banda
nutre uma incomensurável estima, agora corporizada e imortalizada na sua música.
Percam-se e encontrem-se numa compenetrada dança pelos serpenteios enleantes
deste ritualista ‘In Flux’. Este é provavelmente o álbum mais zen de Causa
Sui e seguramente um dos mais bonitos e agradáveis da sua imaculada
discografia.
Links:
➥ Facebook
➥ Instagram
➥ YouTube
➥ El Paraiso Records