quarta-feira, 31 de janeiro de 2024
terça-feira, 30 de janeiro de 2024
Review: 🌌 Minerall - 'Bügeln' (2024) 🌌
Minerall é um projecto
recém-nascido – com morada de residência situada algures entre a Alemanha
e a Áustria – constituído por músicos originários de bandas como Electric
Moon, Interkosmos, Zone Six, Speck, Kombynat
Robotron e Earthbong que falam a mesma língua natural e musical.
Intitulado ‘Bügeln’ e editado pela germânica Sulatron Records através
dos formatos LP (numa prensagem limitada a 500 cópias) e digital, este álbum de
estreia do power-trio é norteado por um delirante, nirvânico,
caleidoscópico e atordoante Psychedelic Rock de mescalina na sua
corrente sanguínea, um deslumbrante, experimental, sideral e viajante Space
Rock de exótica feitiçaria electrónica, e um repetitivo, obsessivo,
hipnótico e pulsante Krautrock que nos gravita e mumifica na sua labiríntica
teia de colagens rítmicas. Compartimentado em duas longas e arejadas jams
de composição ácida, intuitiva, evolutiva e esmorecida – de criação
instrumental, locomoção minimal e propensão astral – que nos desancora da
gravidade terrestre e transcende aos mais longínquos céus do Cosmos narcotizante,
obscuro e bocejante, ‘Bügeln’ é um registo morfínico, fantasioso e
esfíngico, oxigenado a relaxante lisergia e pavimentado a intrigante misticismo.
Uma penetrante, enleante e inescapável hipnose que nos anoitece, absorve e
entorpece. Flutuem em velocidade de cruzeiro pelas mansas águas do infindável oceano
cósmico – onde futuristas paisagens se revelam e desdobram em slow-motion
– à enigmática boleia de uma guitarra anestésica que desataca solos
intoxicantes, gélidos, pálidos e ecoantes, um baixo sonolento de linhas baloiçantes,
elásticas e magnetizantes, uma bateria intimista de compasso tranquilizante,
constante e minimalista, e um sintetizador ritualista que romantiza, electrifica
e exorciza o espaço alienígena. São 44 minutos de uma submersão mesmérica que
nos desmaia as pálpebras, adormece os sentidos e arremessa para junto dos mais
longínquos, recônditos e solitários astros hibernados na eterna noite cósmica.
Uma contemplativa, melancólica e imaginativa excursão espacial que nos
climatiza e eteriza de um imperturbável transe espiritual. Não vai ser fácil – ou
sequer desejado – despertar deste sonho acordado que nos mantém de espírito
sedado e corpo relaxado num verdadeiro oásis sensorial. Está, assim, apresentado
o primeiro capítulo desta fantástica odisseia galáctica denominada Minerall,
que se espera duradoura, aventurosa e repleta de novos eventos para narrar a
todos os terráqueos que içam com admiração o seu olhar esfaimado e sonhador pelos
imersivos firmamentos astrais.
Links:
➥ Bandcamp
➥ Sulatron Records
segunda-feira, 29 de janeiro de 2024
domingo, 28 de janeiro de 2024
sábado, 27 de janeiro de 2024
sexta-feira, 26 de janeiro de 2024
quinta-feira, 25 de janeiro de 2024
quarta-feira, 24 de janeiro de 2024
terça-feira, 23 de janeiro de 2024
segunda-feira, 22 de janeiro de 2024
Review: 👽 SLIFT - 'ILION' (2024) 👽
Volvidos quatro anos
após o lançamento de ‘UMMON’ (aqui trazido e esmiuçado), o
tridente francês SLIFT está de regresso com a ciclónica explosividade
que lhe é característica. Intitulado ‘ILION’ e promovido pela histórica
editora discográfica norte-americana Sub Pop através dos formatos LP, CD
e digital, este terceiro álbum da banda enraizada na cidade francesa de Toulouse
vem munido de um electrizante, catártico, bombástico e euforizante Heavy
Psych de fervilhante irreverência a fazer lembrar os australianos King
Gizzard & the Lizard Wizard, um viajante, vertiginoso, ventoso e
enfeitiçante Space Rock de sónica propulsão Hawkwind’esca, e
ainda um estimulante, esponjoso, serpenteante e oleoso Krautrock de pulsação
Can’ica e NEU!’esca. Situada numa atmosfera alienígena, febril e
atordoante, a imaginativa, exótica e expansiva sonoridade de ‘ILION’ ricocheteia entre
trepidantes, eufóricas, selváticas e inflamantes cavalgadas – desdobradas à boa
moda de Baroness e Kylesa – que nos rodopiam na alucinante vertigem
de um delirante vórtice, e reflexivas, etéreas, oníricas e lenitivas passagens de
condimentos Progressivos – de inspiração trazida dos clássicos britânicos
YES e Genesis – que nos relaxam, confortam e adormecem. Vagueando
em órbita destes dois mundos tão desiguais, entre o apocalipse e a salvação, o ouvinte tanto é varrido e engolido por uma
excitante, tormentosa e vibrante comoção que o sobreaquece e endoidece, como é
banhado por uma sidérica, introspectiva e anestésica serenidade que o embevece
e anoitece. São 80 minutos de uma admirável, apreciável e gloriosa odisseia Stanley
Kubrick’esca, pilotada por uma vulcânica guitarra de fortes rajadas psicotrópicas
que se manifesta em riffs monolíticos, sufocantes, despóticos e dilacerantes,
e solos luzidios, ácidos, insanos e fugidios, um baixo atlético de linhas
pulsantes, tensas, densas e dominantes, uma bélica bateria metralhada a um ritmo
enérgico, ofensivo, altivo e frenético, vocais ecoantes, tanto gritados com pujança
infernal e urticante ardor, como robotizados num tom celestial, monocórdico e
sacerdotal, e sintetizadores enigmáticos, melódicos e dramáticos, criadores de toda
uma deslumbrante ambiência cinematográfica SCI-FI. ‘ILION’ é um
álbum de contornos messiânicos que nos jornadeia através da impiedosa centrifugação
de um raivoso furacão locomovido a quente euforia, como das mansas águas de um infindável
oceano oxigenado a fresca letargia. A banda-sonora perfeita para emoldurar a
queda da humanidade e o renascimento de todas as coisas no tempo e no espaço.
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➥ Sub Pop Records
domingo, 21 de janeiro de 2024
sexta-feira, 19 de janeiro de 2024
quarta-feira, 17 de janeiro de 2024
terça-feira, 16 de janeiro de 2024
segunda-feira, 15 de janeiro de 2024
domingo, 14 de janeiro de 2024
sábado, 13 de janeiro de 2024
sexta-feira, 12 de janeiro de 2024
Review: 🧞 Mohama Saz - 'Máquina de Guerra' (2024) 🧞
Dificilmente
este novo ano poderia ter principiado de forma mais auspiciosa. O apaixonante tridente
espanhol Mohama Saz acaba de me surpreender e embevecer com o lançamento-relâmpago
do seu tão aguardado quinto trabalho de longa duração, denominado ‘Máquina
de Guerra’ e integralmente descortinado hoje mesmo através dos formatos
digital e LP (este último ultra-limitado a uma prensagem de apenas 300 cópias
disponíveis) com o carimbo da editora YaiYai Records. Estes três califas
madrilenos de luxuriantes túnicas islâmicas chegam assim a uma mão cheia de
álbuns e insuflam o meu férreo desejo de os vivenciar pela primeiríssima vez ao
vivo. Usando o mesmo novelo com que os seus antecessores foram tricotados, ‘Máquina
de Guerra’ presenteia o ouvinte com um vibrante, ofuscante e multicolorido bazar de
sonoridades exóticas onde facilmente reconhecemos e degustamos um ensolarado, matizado
e cerimonial Psychedelic Rock de temperos mediterrânicos, um caleidoscópico,
magnético e celestial Krautrock de descendência germânica, um enfeitiçante,
bailante e requintado Flamenco de sotaque andaluz, e ainda um quente, mexediço
e contagiante World Music de atraente fragância anatólia. Toda esta apaladada
amálgama musical de incontáveis ingredientes remexidos e coligados resulta numa
irresistível iguaria de consagração deífica que nos seduz, banha de uma intensa
luzência trigueira, promove a deserção da consciência pelas eternas planuras da
religiosidade, e conduz a um perfeito estádio de transe espiritual. Em posição
de lótus e viajados acima de um tapete mágico, sobrevoamos toda uma azáfama mercantil e driblamos
os minaretes das mesquitas que riscam os rosados céus crepusculares da velha
Pérsia. Com influências subtraídas a referências como Erkin Koray, Orchestra
of Spheres, Sun Ra, Triana, Las Grecas, Neu!, Tinariwen,
Goat e Blaak Heat, os espanhóis Mohama Saz farolizam todos
os seus ouvintes numa sagrada peregrinação de corações submersos em fé inabalável e toda
uma devoção ao Sol poente. De pés descalços sobre as acetinadas, mornas e
bronzeadas areias do deserto, olhos selados e braços hasteados na vertiginosa
direcção dos límpidos céus, agitamos os nossos corpos transpirados numa
compenetrada dança – locomovida a imperturbável hipnose – à estimulante boleia
dos eróticos serpenteios de uma louvável baglama eléctrica que floresce copiosas,
faustosas e excêntricas melodias de vistosa caligrafia árabe e doce aroma turco,
dos reverberantes murmúrios de um baixo pulsante, hipnótico e ondeante, dos
ritmos tribais de uma bateria cativante, primitiva e excitante, dos luminosos,
níveos e formosos vocais – aureolados por uma graça messiânica – que lideram
esta transformadora excursão pelos desfiladeiros da alma, e das misteriosas sirenes
que ressoam e ecoam dos quiméricos sintetizadores, desamarram-nos da gravidade
terrestre e catapultam-nos para um deslumbrante escapismo cósmico. A bonita ilustração
onde múltiplos pássaros negros esvoaçam numa caótica dança orbital ao redor de
um Sol ruborizado pertence ao pintor espanhol Oscar Rey. ‘Máquina de
Guerra’ é uma nirvânica liturgia que em nós perpetua toda uma sensação de
pleno bem-estar e uma eufórica dormência impossível de perturbar. Um álbum amarelecido
por um misticismo arenoso que nos levita e gravita em torno do êxtase religioso.
Uma paradisíaca bênção onde ninguém se recusará comungar. O génio fora da
lâmpada.
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