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quinta-feira, 3 de abril de 2025
quarta-feira, 2 de abril de 2025
Review: 🔥 Desert Smoke - 'Desert Smoke' (2025, Raging Planet) 🔥
Depois do EP
de estreia ‘Hidden Mirage’ (lançado em 2018 e aqui explanado) e
do álbum ‘Karakum’ (lançado em 2019 e aqui analisado), os druidas
desérticos Desert Smoke estão finalmente de regresso com o nascimento do
seu muito aguardado novo trabalho de longa duração – de denominação homónima e
com a edição a cargo do insuspeito selo discográfico português Raging Planet
através dos formatos LP, CD e digital – e, devo antecipar, que se trata do meu
registo favorito destes cosmonautas portugueses. Incensada por um intoxicante,
místico, atmosférico e electrizante Heavy Psych que se agiganta, encrespa
e obscurece num montanhoso, belicoso, imponente e contagioso Psychedelic
Doom, a esfíngica, cerimonial e camaleónica sonoridade de ‘Desert Smoke’
é farolizada pela simbiose instrumental, lavrada por uma extravagante
caligrafia árabe e perfumada por uma doce fragância oriental. As suas
absorventes, criativas, intuitivas e incandescentes jams que evoluem de
estados contemplativos, letárgicos e reflexivos – banhados a deífica, plácida e
seráfica beatitude – para explosivas, agressivas e orgásmicas erupções de
incontida e diluviana adrenalina, tanto embrumam o ouvinte numa açucarada
anestesia, como o estremecem e enlouquecem de sísmica e vulcânica euforia. Governado por atmosferas virulentas, sulfurosas, arenosas e fumarentas que se adensam num
mistério tentador, somos engolidos e cativados do primeiro ao derradeiro tema. São 35
minutos com vista panorâmica e desabrigada para a eterna noite sideral.
Desancorados da gravidade terrestre e mergulhados nas profundezas abissais do
infindável oceano cósmico, somos embalados na sónica vertigem de Desert
Smoke, trespassando quasares, montando cometas e driblando massivos astros
solitários. Toda uma fantástica odisseia intergaláctica superiormente musicada
por duas guitarras sultanas – dominadas pela rugosidade e fogosidade do efeito Fuzz
– que se entrançam na condução de ciclónicos, enfeitiçantes e catatónicos riffs,
e destrançam num inesgotável manancial de solos ácidos, alucinados e esvoaçantes,
um baixo hipnótico de linhas carnudas, sisudas e dançantes, e uma bateria estimulante
que – com a robótica precisão de um relógio suíço – tiquetaqueia com total perseverança
a tempestade e a bonança. Este é um álbum piramidal – de natureza celestial,
consagração sensorial e dilatação consciencial – que tanto nos inebria, amolece
e extasia com as suas edénicas paisagens introspectivas, como aspira, centrifuga
e sobreaquece com os seus inflamados e selváticos remoinhos. Aventurem-se e desventurem-se nesta
impactante, febril e viciante alucinação que varre todo o Cosmos, distorce as
coordenadas do espaço-tempo e resvala nas costuras fronteiriças da perfeição.
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segunda-feira, 31 de março de 2025
Review: 🐸 Dead Meadow - 'Voyager to Voyager' (2025, Heavy Psych Sounds) 🐸
Está
oficialmente lançado o muito aguardado 10º álbum de estúdio dos já históricos Dead
Meadow, intitulado ‘Voyager to Voyager’ e editado pela companhia
discográfica italiana Heavy Psych Sounds através dos formatos LP, CD e
digital. A banda natural de Washington D.C. – formada no já longínquo
ano de 1998 – perdera no passado ano de 2024 o seu baixista e co-fundador Steve
Kille (que falecera na sequência de uma dura batalha contra o cancro) e
este novo álbum – ainda com o precioso contributo do mesmo – nasce em seu sentido
tributo. Norteados por um letárgico, pantanoso, melancólico, moroso e apático
Psychdelic Rock de caleidoscópica tintura sessentista (que lhes é tão característico), os Dead Meadow
continuam, assim, a sua ociosa jornada pelas musguentas, embrumadas, pesadas e
lamacentas águas estagnadas na orvalhada, silenciada e eterna madrugada outonal.
Climatizado por uma tímida, embriagada e delicada sonoridade que boceja e se
espreguiça em slow-motion, este meigo ‘Voyager to Voyager’ tem o
dom de derreter, inebriar e embevecer os ouvintes. Abraçados por uma atmosfera enfeitiçante,
sedutora e narcotizante, somos sedados pela morfínica toxicidade de Dead
Meadow e desaguados num imperturbável estádio de introspecção solitária. De
espírito relaxado e sentidos embaciados baloiçamos compenetrada e demoradamente
a cabeça na instintiva resposta aos serpenteantes bailados de uma guitarra
ácida que se manifesta em polposos, invertebrados, delongados e oleosos riffs empapados em rugoso efeito Fuzz de onde são vertidos esguios, escorregadios, alucinógenos e coloridos solos, à sonolenta
ressonância de um baixo elástico movido a linhas flácidas, gelatinosas, vagarosas
e descontraídas, às ritmadas acrobacias de uma bateria hipnótica de batida leve,
livre e desatada, e à soporífica placidez de uma voz desmaiada, pausada, frágil
e avinagrada. São 42 minutos de um açucarado, sonhador e acetinado torpor que nos amolece,
deslumbra e adormece. Uma perdurável sensação de pura ataraxia que nos asfixia de nirvânica harmonia. Deixem-se dissolver no esponjoso, mesmérico, lisérgico e preguiçoso psicadelismo
de Dead Meadow, e deambulem livremente – trôpegos e sonâmbulos – pelas viçosas e brumosas paisagens
deste almofadado sonho acordado. Ninguém vai querer despertar de algo assim.
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domingo, 30 de março de 2025
sábado, 29 de março de 2025
sexta-feira, 28 de março de 2025
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segunda-feira, 24 de março de 2025
domingo, 23 de março de 2025
sábado, 22 de março de 2025
sexta-feira, 21 de março de 2025
Review: 🔞 Ball - 'Satanic Ecstasy' (2025, Horny Records) 🔞
Depois do homónimo
álbum de estreia (lançado em 2017 e aqui revisto), do ‘Like You Are…
I Once Was… Like I Am - You Will Never Be’ (lançado em 2020 e aqui examinado)
e do ‘Midnight Heat’ (lançado em 2023 e aqui analisado), os impúdicos
Ball editam agora o seu quarto registo de longa duração, intitulado ‘Satanic
Ecstasy’ e promovido pela parceria discográfica Horny Records / Subliminal
Sounds através dos formatos LP (limitado a 500 cópias disponíveis) e
digital. Replicando a bem-sucedida receita sonora já posta em prática na
produção dos seus antecessores, este novo álbum desta banda de culto sueca enlameia-se
num rústico, inflamante, enfeitiçante e fúngico Hard Rock de giratório e
provocante balanço boogie em desavergonhado e constante flirt
com um excitante, venenoso, rugoso e alucinante Heavy Psych de torrencial e inesgotável toxicidade. A sua sonoridade pecaminosa, cavernosa, pornográfica e
mofosa – interdita a menores de 18 anos – contagia e inebria o ouvinte sem
qualquer misericórdia. Cerimonial, enigmático, diabólico e infernal, ‘Satanic
Ecstasy’ é um poderoso afrodisíaco de tendência vil que nos cativa e enlouquece
num inescapável e delirante estado febril. Um carnavalesco bacanal – atestado de
perversão – em honra de Satanás. De corpo baloiçante, cabeça rodopiante, dentes
cravados nos lábios e alma profanada e consumida pelas chamas, somos engolidos
e centrifugados numa espiral insana onde naufragam uma guitarra cavernosa –
electrificada pelo urticante efeito Fuzz – de infecciosos, gordurosos,
tóxicos e fervorosos riffs de onde são vertidos ácidos, borbulhantes, derrapantes
e tresloucados solos, um baixo obeso de possantes, sombreadas, encaracoladas e
magnetizantes linhas desenhadas a negrito, uma bateria primitiva de ritmos esponjosos,
dinâmicos, vistosos e tribais, uma voz assanhada, acidentada, felina e
depravada que nos rosna ao ouvido, e ainda um teclado dramático, enigmático e
litúrgico que nos dilata as pupilas e mergulha no ocultismo. ‘Satanic
Ecstasy’ é um autêntico explosivo sexual – intenso, dominante, invasivo e imoral –
que nos desperta e desacorrenta a libido. Uma chocante blasfémia musicada a
rusticidade, aspereza e desatino que nos aprisiona numa atmosfera sufocante,
desvairada e narcotizante. Dancem – temulentos, trôpegos e inundados de suor –
ao poeirento, sujo, pervertido e bolorento som deste irreverente, devasso e ofensivo power-trio
escandinavo, e comunguem – sem moderação – o tórrido erotismo de Ball. As
melhores orgias musicais estão aqui. Satisfaçam nele, sem qualquer censura, todos os vossos mais
ousados, secretos e desregrados desejos carnais.
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quinta-feira, 20 de março de 2025
quarta-feira, 19 de março de 2025
terça-feira, 18 de março de 2025
segunda-feira, 17 de março de 2025
sexta-feira, 14 de março de 2025
quinta-feira, 13 de março de 2025
Review: 🏄 Futuropaco - 'Fortezza di Vetro vol. 2' (2025, El Paraiso) 🏄
Depois de em
2023 ter ingerido e aqui vertido em palavras tudo aquilo que o apetitoso
cocktail ‘Fortezza di Vetro vol. 1' provocara
em mim, regresso agora com uma apaixonada análise ao segundo e derradeiro volume
desta aventurosa sessão musicada a uma única mão pelo talentoso
multi-instrumentista californiano Justin Pinkerton (baterista dos
saudosos Golden Void). Editado pela insuspeita companhia discográfica
dinamarquesa El Paraiso Records nos formatos LP, CD e digital, este quente,
absorvente e apaixonante ‘Fortezza di Vetro vol. 2'
bronzeia-se nas paradisíacas praias de um colorido, afrodisíaco, baloiçante
e ensolarado Psychedelic Rock de balanço Funk, exuberante
caligrafia árabe, condimentos turcos e vistosas semelhanças com Khruangbin
e Ouzo Bazooka, atreve-se num admirável safari pelas savanas africanas de
um enfeitiçante, ritmado, exótico e dançante Zamrock sintonizado na
mesma frequência de Here Lies Man, e passeia-se pelas misteriosas
atmosferas cinematográficas do realizador italiano Dario Argento à
boleia de um estético, esponjoso, enigmático e formoso Progressive Rock a
fazer recordar os clássicos Goblin. A sua sonoridade sensual, dulcífica,
mística, camaleónica e puramente instrumental – temperada a um refrescante aroma
tropical, norteada por um experimentalismo sem fronteiras e iluminada por um
exotismo cerimonial – meneia-se, envaidecida e graciosamente, ao longo das suculentas
nove faixas que compartimentam o álbum. De corpo bailante, cabeça rodopiante e
olhar cintilante, navegamos – embriagados e extasiados – pelas correntes oceânicas
de Futuropaco. Afogueados pelo desejo e levados pela irresistível
sedução de ‘Fortezza di Vetro vol. 2', fantasiamos com a velha Pérsia e entramos
no elenco de “As mil e uma noites”. Um fascinante sonho acordado de verão
superiormente musicado por uma guitarra sultana de riffs polposos e
solos caleidoscópicos, um baixo elástico de bafo pulsante, uma bateria
tribalista de cativantes acrobacias jazzísticas e um perfumado teclado de atraentes
bailados orientais. Uma revigorante massagem cerebral de consagração sensorial
e libertação consciencial que nos mantém saciados ao longo de todo o seu corpo temporal. Deixem-se absorver, enternecer e deleitar pelo encaracolado,
sagrado, açucarado e apetitoso groove de Futuropaco que seguramente não
deixará indiferente nenhum comum mortal.
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quarta-feira, 12 de março de 2025
terça-feira, 11 de março de 2025
segunda-feira, 10 de março de 2025
domingo, 9 de março de 2025
sábado, 8 de março de 2025
sexta-feira, 7 de março de 2025
Review: 👹 Bronco - 'Bronco' (2025, Magnetic Eye Records) 👹
Nascidos e erguidos
das cinzas dos saudosos Toke – formação entretanto extinta na sequência do
trágico evento ocorrido em 2021 que vitimara mortalmente o guitarrista Tim
Bryan –, os Bronco acabam de lançar o seu infernal álbum de estreia, de
designação homónima e edição a cargo da gravadora nova-iorquina Magnetic Eye
Records através dos formatos LP, CD e digital. Natural do promontório Cabo
Fear (localizado na cidade de Wilmington, Carolina do Norte, EUA),
este electrizante, sísmico, tóxico e impactante tridente aponta os seus instrumentos ao
demoníaco, dominante, distópico e enfeitiçante Doom Metal e ao fogoso, altivo,
agressivo e acrimonioso Southern Sludge. De influências subtraídas a
referências dos géneros, tais como Trouble, Corrosion of Conformity,
Eyehategod, Buzzoven, Crowbar, Sourvein, Iron
Monkey, Reverend Bizarre, Bongzilla, Church of Misery,
YOB, High on Fire, Weedeater, Kylesa e Thou,
a trevosa, depravada, carregada e belicosa sonoridade de ‘Bronco’
germina nos nimbosos, lamacentos, musguentos e brumosos pântanos e soterra-se
nas abissais funduras da eterna noite cósmica. Terrífico, pujante, urticante e cínico,
este primeiro trabalho de Bronco vem atestado de uma pervertida, violenta,
rabugenta e inflamada pretura que nos intoxica, sufoca e incendeia sem misericórdia. Um
autêntico lança-chamas que cauteriza a nossa lucidez e alcooliza o espírito de
um elixir luciférico. De semblante intrigado, pele eriçada, olhar esbugalhado e
alma mumificada por um profundo estádio de imersivo hipnotismo, vagueamos, de
sentidos narcotizados, pelos assombrados lodaçais de ‘Bronco’. Uma
expedição ao paraíso perdido onde só subsiste a mortificação, a descrença, o
desalento e a aflição. De espírito integralmente inundado por uma insuportável
sensação de angústia, percorremos as suas fatídicas, sinistras e apocalípticas
paisagens que nos conduzem, oprimidos, temulentos e deprimidos, ao lado
eclipsado da religiosidade. Um asfixiante, predatório e incessante pesadelo superiormente
musicado por uma guitarra tirânica de rugosos, resinosos, fumegantes e
imperiosos riffs e solos deslizantes, alucinados, embriagados e ziguezagueantes,
um baixo massivo de reverberação possante, obesa, tesa e vibrante, uma bateria potente
de ritmicidade explosiva, tempestuosa, estrondosa e incisiva, e vocais raivosos,
ferrugentos, abrasivos e guturais que ressoam e ecoam pelos fervilhantes 45
minutos deste cavernoso, despótico e escabroso álbum em borbulhante ebulição. Este é um registo de
natureza brutal, locomovido a intensidade, ardência, indecência e ferocidade que nos caça e atormenta. Encarvoem-se
nas intimidantes, faiscantes e claustrofóbicas trevas de Bronco e
enfrentem os vossos fantasmas interiores de punhos cerrados, narinas fumarentas
e olhar fulminante.
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