quarta-feira, 2 de abril de 2025

Review: 🔥 Desert Smoke - 'Desert Smoke' (2025, Raging Planet) 🔥

★★★★

Depois do EP de estreia ‘Hidden Mirage’ (lançado em 2018 e aqui explanado) e do álbum ‘Karakum’ (lançado em 2019 e aqui analisado), os druidas desérticos Desert Smoke estão finalmente de regresso com o nascimento do seu muito aguardado novo trabalho de longa duração – de denominação homónima e com a edição a cargo do insuspeito selo discográfico português Raging Planet através dos formatos LP, CD e digital – e, devo antecipar, que se trata do meu registo favorito destes cosmonautas portugueses. Incensada por um intoxicante, místico, atmosférico e electrizante Heavy Psych que se agiganta, encrespa e obscurece num montanhoso, belicoso, imponente e contagioso Psychedelic Doom, a esfíngica, cerimonial e camaleónica sonoridade de ‘Desert Smoke’ é farolizada pela simbiose instrumental, lavrada por uma extravagante caligrafia árabe e perfumada por uma doce fragância oriental. As suas absorventes, criativas, intuitivas e incandescentes jams que evoluem de estados contemplativos, letárgicos e reflexivos – banhados a deífica, plácida e seráfica beatitude – para explosivas, agressivas e orgásmicas erupções de incontida e diluviana adrenalina, tanto embrumam o ouvinte numa açucarada anestesia, como o estremecem e enlouquecem de sísmica e vulcânica euforia. Governado por atmosferas virulentas, sulfurosas, arenosas e fumarentas que se adensam num mistério tentador, somos engolidos e cativados do primeiro ao derradeiro tema. São 35 minutos com vista panorâmica e desabrigada para a eterna noite sideral. Desancorados da gravidade terrestre e mergulhados nas profundezas abissais do infindável oceano cósmico, somos embalados na sónica vertigem de Desert Smoke, trespassando quasares, montando cometas e driblando massivos astros solitários. Toda uma fantástica odisseia intergaláctica superiormente musicada por duas guitarras sultanas – dominadas pela rugosidade e fogosidade do efeito Fuzz – que se entrançam na condução de ciclónicos, enfeitiçantes e catatónicos riffs, e destrançam num inesgotável manancial de solos ácidos, alucinados e esvoaçantes, um baixo hipnótico de linhas carnudas, sisudas e dançantes, e uma bateria estimulante que – com a robótica precisão de um relógio suíço – tiquetaqueia com total perseverança a tempestade e a bonança. Este é um álbum piramidal – de natureza celestial, consagração sensorial e dilatação consciencial – que tanto nos inebria, amolece e extasia com as suas edénicas paisagens introspectivas, como aspira, centrifuga e sobreaquece com os seus inflamados e selváticos remoinhos. Aventurem-se e desventurem-se nesta impactante, febril e viciante alucinação que varre todo o Cosmos, distorce as coordenadas do espaço-tempo e resvala nas costuras fronteiriças da perfeição.

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👑 King Crimson, 1969

👽 Gila - 'Gila' (1971)

✦ Candlemass - "Black Star" (2025, Napalm Records)

segunda-feira, 31 de março de 2025

🛸 Sun Ra

Review: 🐸 Dead Meadow - 'Voyager to Voyager' (2025, Heavy Psych Sounds) 🐸

★★★★

Está oficialmente lançado o muito aguardado 10º álbum de estúdio dos já históricos Dead Meadow, intitulado ‘Voyager to Voyager’ e editado pela companhia discográfica italiana Heavy Psych Sounds através dos formatos LP, CD e digital. A banda natural de Washington D.C. – formada no já longínquo ano de 1998 – perdera no passado ano de 2024 o seu baixista e co-fundador Steve Kille (que falecera na sequência de uma dura batalha contra o cancro) e este novo álbum – ainda com o precioso contributo do mesmo – nasce em seu sentido tributo. Norteados por um letárgico, pantanoso, melancólico, moroso e apático Psychdelic Rock de caleidoscópica tintura sessentista (que lhes é tão característico), os Dead Meadow continuam, assim, a sua ociosa jornada pelas musguentas, embrumadas, pesadas e lamacentas águas estagnadas na orvalhada, silenciada e eterna madrugada outonal. Climatizado por uma tímida, embriagada e delicada sonoridade que boceja e se espreguiça em slow-motion, este meigo ‘Voyager to Voyager’ tem o dom de derreter, inebriar e embevecer os ouvintes. Abraçados por uma atmosfera enfeitiçante, sedutora e narcotizante, somos sedados pela morfínica toxicidade de Dead Meadow e desaguados num imperturbável estádio de introspecção solitária. De espírito relaxado e sentidos embaciados baloiçamos compenetrada e demoradamente a cabeça na instintiva resposta aos serpenteantes bailados de uma guitarra ácida que se manifesta em polposos, invertebrados, delongados e oleosos riffs empapados em rugoso efeito Fuzz de onde são vertidos esguios, escorregadios, alucinógenos e coloridos solos, à sonolenta ressonância de um baixo elástico movido a linhas flácidas, gelatinosas, vagarosas e descontraídas, às ritmadas acrobacias de uma bateria hipnótica de batida leve, livre e desatada, e à soporífica placidez de uma voz desmaiada, pausada, frágil e avinagrada. São 42 minutos de um açucarado, sonhador e acetinado torpor que nos amolece, deslumbra e adormece. Uma perdurável sensação de pura ataraxia que nos asfixia de nirvânica harmonia. Deixem-se dissolver no esponjoso, mesmérico, lisérgico e preguiçoso psicadelismo de Dead Meadow, e deambulem livremente – trôpegos e sonâmbulos – pelas viçosas e brumosas paisagens deste almofadado sonho acordado. Ninguém vai querer despertar de algo assim.

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sexta-feira, 21 de março de 2025

🔌 TRAVO // KEXP

🔥 The Bateleurs - "For All to See" (2025)

🏜 Pretty Lightning // Night Wobble Session

Review: 🔞 Ball - 'Satanic Ecstasy' (2025, Horny Records) 🔞

★★★★

Depois do homónimo álbum de estreia (lançado em 2017 e aqui revisto), do ‘Like You Are… I Once Was… Like I Am - You Will Never Be’ (lançado em 2020 e aqui examinado) e do ‘Midnight Heat’ (lançado em 2023 e aqui analisado), os impúdicos Ball editam agora o seu quarto registo de longa duração, intitulado ‘Satanic Ecstasy’ e promovido pela parceria discográfica Horny Records / Subliminal Sounds através dos formatos LP (limitado a 500 cópias disponíveis) e digital. Replicando a bem-sucedida receita sonora já posta em prática na produção dos seus antecessores, este novo álbum desta banda de culto sueca enlameia-se num rústico, inflamante, enfeitiçante e fúngico Hard Rock de giratório e provocante balanço boogie em desavergonhado e constante flirt com um excitante, venenoso, rugoso e alucinante Heavy Psych de torrencial e inesgotável toxicidade. A sua sonoridade pecaminosa, cavernosa, pornográfica e mofosa – interdita a menores de 18 anos – contagia e inebria o ouvinte sem qualquer misericórdia. Cerimonial, enigmático, diabólico e infernal, ‘Satanic Ecstasy’ é um poderoso afrodisíaco de tendência vil que nos cativa e enlouquece num inescapável e delirante estado febril. Um carnavalesco bacanal – atestado de perversão – em honra de Satanás. De corpo baloiçante, cabeça rodopiante, dentes cravados nos lábios e alma profanada e consumida pelas chamas, somos engolidos e centrifugados numa espiral insana onde naufragam uma guitarra cavernosa – electrificada pelo urticante efeito Fuzz – de infecciosos, gordurosos, tóxicos e fervorosos riffs de onde são vertidos ácidos, borbulhantes, derrapantes e tresloucados solos, um baixo obeso de possantes, sombreadas, encaracoladas e magnetizantes linhas desenhadas a negrito, uma bateria primitiva de ritmos esponjosos, dinâmicos, vistosos e tribais, uma voz assanhada, acidentada, felina e depravada que nos rosna ao ouvido, e ainda um teclado dramático, enigmático e litúrgico que nos dilata as pupilas e mergulha no ocultismo. ‘Satanic Ecstasy’ é um autêntico explosivo sexual – intenso, dominante, invasivo e imoral – que nos desperta e desacorrenta a libido. Uma chocante blasfémia musicada a rusticidade, aspereza e desatino que nos aprisiona numa atmosfera sufocante, desvairada e narcotizante. Dancem – temulentos, trôpegos e inundados de suor – ao poeirento, sujo, pervertido e bolorento som deste irreverente, devasso e ofensivo power-trio escandinavo, e comunguem – sem moderação – o tórrido erotismo de Ball. As melhores orgias musicais estão aqui. Satisfaçam nele, sem qualquer censura, todos os vossos mais ousados, secretos e desregrados desejos carnais.

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quinta-feira, 13 de março de 2025

Review: 🏄 Futuropaco - 'Fortezza di Vetro vol. 2' (2025, El Paraiso) 🏄

★★★★

Depois de em 2023 ter ingerido e aqui vertido em palavras tudo aquilo que o apetitoso cocktail ‘Fortezza di Vetro vol. 1' provocara em mim, regresso agora com uma apaixonada análise ao segundo e derradeiro volume desta aventurosa sessão musicada a uma única mão pelo talentoso multi-instrumentista californiano Justin Pinkerton (baterista dos saudosos Golden Void). Editado pela insuspeita companhia discográfica dinamarquesa El Paraiso Records nos formatos LP, CD e digital, este quente, absorvente e apaixonante ‘Fortezza di Vetro vol. 2' bronzeia-se nas paradisíacas praias de um colorido, afrodisíaco, baloiçante e ensolarado Psychedelic Rock de balanço Funk, exuberante caligrafia árabe, condimentos turcos e vistosas semelhanças com Khruangbin e Ouzo Bazooka, atreve-se num admirável safari pelas savanas africanas de um enfeitiçante, ritmado, exótico e dançante Zamrock sintonizado na mesma frequência de Here Lies Man, e passeia-se pelas misteriosas atmosferas cinematográficas do realizador italiano Dario Argento à boleia de um estético, esponjoso, enigmático e formoso Progressive Rock a fazer recordar os clássicos Goblin. A sua sonoridade sensual, dulcífica, mística, camaleónica e puramente instrumental – temperada a um refrescante aroma tropical, norteada por um experimentalismo sem fronteiras e iluminada por um exotismo cerimonial – meneia-se, envaidecida e graciosamente, ao longo das suculentas nove faixas que compartimentam o álbum. De corpo bailante, cabeça rodopiante e olhar cintilante, navegamos – embriagados e extasiados – pelas correntes oceânicas de Futuropaco. Afogueados pelo desejo e levados pela irresistível sedução de ‘Fortezza di Vetro vol. 2', fantasiamos com a velha Pérsia e entramos no elenco de “As mil e uma noites”. Um fascinante sonho acordado de verão superiormente musicado por uma guitarra sultana de riffs polposos e solos caleidoscópicos, um baixo elástico de bafo pulsante, uma bateria tribalista de cativantes acrobacias jazzísticas e um perfumado teclado de atraentes bailados orientais. Uma revigorante massagem cerebral de consagração sensorial e libertação consciencial que nos mantém saciados ao longo de todo o seu corpo temporal. Deixem-se absorver, enternecer e deleitar pelo encaracolado, sagrado, açucarado e apetitoso groove de Futuropaco que seguramente não deixará indiferente nenhum comum mortal.

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sexta-feira, 7 de março de 2025

🎨 Jim Morrison // The Doors

🥤 Guru Guru @ Rockpalast (1976)

💫 Desert'Smoke - "49th Steam Box" (2025, raging planet)

🕯️ Bronco - "Damnation" (2025, Magnetic Eye Records)

Review: 👹 Bronco - 'Bronco' (2025, Magnetic Eye Records) 👹

★★★★

Nascidos e erguidos das cinzas dos saudosos Toke – formação entretanto extinta na sequência do trágico evento ocorrido em 2021 que vitimara mortalmente o guitarrista Tim Bryan –, os Bronco acabam de lançar o seu infernal álbum de estreia, de designação homónima e edição a cargo da gravadora nova-iorquina Magnetic Eye Records através dos formatos LP, CD e digital. Natural do promontório Cabo Fear (localizado na cidade de Wilmington, Carolina do Norte, EUA), este electrizante, sísmico, tóxico e impactante tridente aponta os seus instrumentos ao demoníaco, dominante, distópico e enfeitiçante Doom Metal e ao fogoso, altivo, agressivo e acrimonioso Southern Sludge. De influências subtraídas a referências dos géneros, tais como Trouble, Corrosion of Conformity, Eyehategod, Buzzoven, Crowbar, Sourvein, Iron Monkey, Reverend Bizarre, Bongzilla, Church of Misery, YOB, High on Fire, Weedeater, Kylesa e Thou, a trevosa, depravada, carregada e belicosa sonoridade de ‘Bronco’ germina nos nimbosos, lamacentos, musguentos e brumosos pântanos e soterra-se nas abissais funduras da eterna noite cósmica. Terrífico, pujante, urticante e cínico, este primeiro trabalho de Bronco vem atestado de uma pervertida, violenta, rabugenta e inflamada pretura que nos intoxica, sufoca e incendeia sem misericórdia. Um autêntico lança-chamas que cauteriza a nossa lucidez e alcooliza o espírito de um elixir luciférico. De semblante intrigado, pele eriçada, olhar esbugalhado e alma mumificada por um profundo estádio de imersivo hipnotismo, vagueamos, de sentidos narcotizados, pelos assombrados lodaçais de ‘Bronco’. Uma expedição ao paraíso perdido onde só subsiste a mortificação, a descrença, o desalento e a aflição. De espírito integralmente inundado por uma insuportável sensação de angústia, percorremos as suas fatídicas, sinistras e apocalípticas paisagens que nos conduzem, oprimidos, temulentos e deprimidos, ao lado eclipsado da religiosidade. Um asfixiante, predatório e incessante pesadelo superiormente musicado por uma guitarra tirânica de rugosos, resinosos, fumegantes e imperiosos riffs e solos deslizantes, alucinados, embriagados e ziguezagueantes, um baixo massivo de reverberação possante, obesa, tesa e vibrante, uma bateria potente de ritmicidade explosiva, tempestuosa, estrondosa e incisiva, e vocais raivosos, ferrugentos, abrasivos e guturais que ressoam e ecoam pelos fervilhantes 45 minutos deste cavernoso, despótico e escabroso álbum em borbulhante ebulição. Este é um registo de natureza brutal, locomovido a intensidade, ardência, indecência e ferocidade que nos caça e atormenta. Encarvoem-se nas intimidantes, faiscantes e claustrofóbicas trevas de Bronco e enfrentem os vossos fantasmas interiores de punhos cerrados, narinas fumarentas e olhar fulminante.

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