sábado, 18 de maio de 2024
sexta-feira, 17 de maio de 2024
quinta-feira, 16 de maio de 2024
quarta-feira, 15 de maio de 2024
terça-feira, 14 de maio de 2024
segunda-feira, 13 de maio de 2024
Review: ☄️ Black Pyramid - 'The Paths of Time are Vast' (2024) ☄️
Despertado de
uma longa e muda hibernação com mais de uma década de duração, este mastodôntico
vulcão volta a acender as suas incandescentes fornalhas, a cuspir faúlhas em chamas e a entrar em barulhenta
erupção. ‘The Paths of Time are Vast’ é o muito ansiado quarto e novo álbum
do potente tridente norte-americano Black Pyramid que vê finalmente a
luz do dia pela mão do selo discográfico francês Totem Cat Records sob as
formas LP, CD e digital. De instrumentos apontados ao místico território astral,
‘The Paths of Time are Vast’ é um revolto caldeirão em borbulhante
ebulição onde é remexida a pesada, espessa e possante sonoridade de intensa fogosidade
– patenteada nos seus trabalhos antecessores – e a mesma condimentada com um colorido,
arejado e sofisticado experimentalismo que a desconstrói, desoprime e desafoga.
Aprisionados e baloiçados numa dança orbital – de consagração espiritual, expansão
sensorial e emancipação consciencial – em torno de um montanhoso, oleoso e
enérgico Stoner Metal, um sísmico, ritualístico e carregado Doom
Metal e ainda um efervescente, erodente e intoxicante Heavy Psych,
tanto somos obscurecidos, intimidados e trucidados pela colossal potência de diabólica
impetuosidade que nos inflama de incontida euforia, como ocasionalmente somos comovidos,
anestesiados e conduzidos a um nirvânico estádio de reflexiva letargia. Um
constante pêndulo que vagueia entre a sufocante turbulência e a relaxante dormência.
De olhos cravados no horizonte cósmico, embarcamos numa imaginativa, enfeitiçante
e criativa odisseia extraterrestre, driblando o abraço gravitacional dos pálidos
e solitários astros que vêm à tona das abissais profundezas do oceano espacial,
empoeirando a nossa alma por entre fantasmagóricas nebulosas que explodem e
espalham colorações caleidoscópicas nos negros céus da eterna noite sideral, e escorregando
pelos alucinantes túneis de vorazes buracos negros que descoordenam o
espaço-tempo. A sua musicalidade complexa, heterogénica e cinematográfica – que
partilha o ADN sonoro com bandas como Zoroaster, Elder, YOB,
REZN e Mastodon – é superiormente orquestrada por uma imperiosa guitarra
de pronúncia Iommi’esca – consumida por uma distorção
crocante, crepitante e corrosiva – que hasteia monstruosos, rugosos, viscosos e
chamejantes riffs de onde serpenteiam ecoantes, ácidos, translúcidos e
uivantes solos em sónica debandada, um baixo massivo de linhas nervudas, obscuras,
asfixiantes e sisudas, uma bateria explosiva de açoitadas altivas,
intempestivas, violentas e abrasivas, teclados litúrgicos de mugidos
dramáticos, melancólicos e enigmáticos, e uma voz vampírica de tez avinagrada, urticante
e assanhada e lírica dedicada a temas como a guerra, o oculto, o esotérico e a
alienação da raça humana. São 70 minutos de um poderoso cataclismo com a força
de abalar e renovar consciências. Nunca a sedação e a agitação viveram tão
próximas uma da outra. Apertem bem os cintos para melhor lidarem com galopadas
vertiginosas, travagens bruscas e passagens celestiais desdobradas em slow-motion. Depois de dantescas tempestades seguidas de miraculosas bonanças, no final reina a febril
narcose que nos deixa à deriva na infinita vacuidade sideral. ‘The Paths of
Time are Vast’ representa o regresso triunfante de uma banda muito estimada
por todos os velhos apreciadores dos géneros em que a mesma se engaveta. Que
este vulcão trazido à vida continue a vomitar lava durante muitos, muitos anos,
pois cá estaremos para surfá-la.
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domingo, 12 de maio de 2024
sexta-feira, 10 de maio de 2024
quinta-feira, 9 de maio de 2024
quarta-feira, 8 de maio de 2024
terça-feira, 7 de maio de 2024
segunda-feira, 6 de maio de 2024
Review: 🌲 Freeways - 'Dark Sky Sanctuary' (2024) 🌲
Quatro anos
volvidos após o nascimento do seu glorioso álbum de estreia ‘True Bearings’
(aqui trazido e imoderadamente elogiado), o quarteto canadiano Freeways
– domiciliado na cidade de Brampton (Ontário, Toronto) – regressa
agora com o lançamento do seu tão aguardado sucessor. Intitulado ‘Dark Sky
Sanctuary’ e carimbado editorial da discográfica germânica Dying
Victims Productions (companhia fielmente dedicada ao lado underground
da música Metal) através dos formatos LP, CD e digital, este segundo
trabalho de longa duração produzido por esta muito estimada formação norte-americana
dissemina a doce fragância de um dourado revivalismo – tingido a comovente nostalgia
– que combina um lubrificado, harmonioso, libidinoso e condimentado Hard
Rock de roupagem clássica resgatado da segunda metade da década de 1970, e
um melodioso, refinado, abrasado e amistoso Heavy Metal de estirpe tradicionalista
locomovido à boa moda dos 80’s. Com influências comungadas de carismáticas
referências dos géneros como Scorpions, UFO, Blue Öyster Cult,
Thin Lizzy, April Wine, Budgie, Def Leppard, Journey, Skid
Row, Montrose, Saxon, Aerosmith, Eagles e Whitesnake, bem como de outras mais contemporâneas como as suecas Hypnos e Svartanatt, a irresistível sonoridade de Freeways transporta-nos no tempo e no
espaço para uma descontraída viagem rodoviária de punho firmemente cerrado no volante
e o outro a embater entusiasticamente no tejadilho de um velho Ford Bronco de
1980 pelas terrosas, solitárias e sinuosas estradas rurais que estriam densas florestas
montanhosas que conservam nevões de uma brancura nívea e todo um esplendor
invernal, e se desdobram debaixo da vigilância apertada de alaranjados céus
crepusculares que resistem à chegada da noite. ‘Dark Sky Sanctuary’ é
aquela cassete perdida, esquecida durante decénios no interior do velho carro
do teu pai, agora finalmente encontrada e devolvida à vida. Sintonizados nesta preciosa
estação de rádio nostalgia.fm que nos incendeia o olhar, desabrocha o
sorriso e faz suspirar, embarcamos numa emocionante, inesquecível e
reconfortante viagem à comovente boleia de uma voz liderante de pele melodiosa,
açucarada, encerada e refrescante, duas guitarras siamesas que se redemoinham em
sensuais danças de voluptuosos, viciantes, maleáveis e apetitosos riffs e
esvoaçantes, escorregadios, fugidios e deslumbrantes solos em vertiginosa debandada,
um baixo ondulante de bafo fibroso, palpável, quente e umbroso, e uma empolgante
bateria com a irrepreensível precisão de um relógio suíço que tiquetaqueia todo
este fabuloso álbum a um galope constante, bem-disposto e magnetizante. Este é
um registo imensamente cativante que nos obriga a reproduzi-lo vezes sem conta.
São 34 minutos integralmente passados na agradável companhia de uma
musicalidade elegante, melíflua, lustrosa e apaixonante – de fácil digestão e ardente
tentação – que nos seduz e conduz – de olhar lançado na direcção do passado e o
coração atestado de um transbordante sentimento de pura nostalgia – pelas aventurosas
estradas de Freeways. Calcem aquelas texanas enrugadas, vistam aquelas
velhas calças de ganga rasgadas, aquela grossa camisa de flanela desbotada e aquele
negro casaco de cabedal esfolado, e saltem para as irrequietas costas deste álbum. Um dos
meus discos favoritos de 2024 está aqui.
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domingo, 5 de maio de 2024
sexta-feira, 3 de maio de 2024
quinta-feira, 2 de maio de 2024
quarta-feira, 1 de maio de 2024
terça-feira, 30 de abril de 2024
Review: 🌩️ Full Earth - 'Cloud Sculptors' (2024) 🌩️
Proveniente da
cidade cultural de Oslo (capital da Noruega) chega-nos o
impactante álbum de estreia do quinteto experimental Full Earth (formado
pelos membros dos prolíficos Kanaan). Denominado ‘Cloud Sculptors’
e lançado pela já histórica companhia discográfica germânica Stickman
Records nos formatos LP, CD e digital, este primeiro trabalho da turma
norueguesa é norteado por uma exótica fusão musical onde prosperam um dominante,
monstruoso, umbroso e enfeitiçante Heavy Prog vigiado por sombrias, carregadas
e sisudas nuvens Doom’escas, um enfático, extravagante, empolgante e bombástico
Jazz-Rock – de excêntrica caligrafia Avant-Garde – sarapintado por
pulsantes e caleidoscópicas colorações psicadélicas, e ainda um desregrado,
intuitivo, explorativo e sónico experimentalismo de alquimia electrónica. A magnética,
camaleónica e sideral sonoridade de ‘Cloud Sculptors’ baloiça-se entre maravilhosas,
odorosas, ventiladas e astrais paisagens aureoladas por uma placidez virginal
que nos hipnotiza e eteriza com o seu absorvente minimalismo, e vertiginosas, turbulentas,
barulhentas e fervorosas galopadas inflamadas por um clima infernal que nos
sacode e explode de intensa euforia. Uma dançante, labiríntica e estonteante espiral
onde gravitam influências como Manuel Göttsching (Ash Ra Tempel),
Terry Riley, Elephant9, Krokofant, Sleep, Elder,
Mastodon, Baroness, High On Fire e os próprios Kanaan. São 84 minutos que encerram uma
fantástica odisseia pela infindável vacuidade cósmica, condimentada por visões
proféticas, contos mitológicos e explosões pirotécnicas que desabrocham no negro solo estelar. Na composição desta imaginativa, surrealista e
propulsiva viagem de longa duração pelos inexplorados territórios alienígenas,
dialogam entre si uma guitarra altiva de intoxicantes, monstruosos, rugosos e impressionantes
riffs – incendiados pelo urticante, espinhoso e electrizante efeito Fuzz
– de onde se libertam ácidos, venenosos, viscosos e translúcidos solos, um
baixo sufocante de linhas massivas, densas, tensas e invasivas, uma bateria endiabrada
de ritmicidade pautada a espalhafatosa tecnicidade e desconcertante velocidade,
e toda uma aquosa profusão de teclados futuristas que – tricotando toda uma complexa
teia de encaracolados loops que se encavalitam entre si – vagueiam de
velas içadas ao sabor do abstracionismo por melancólicas, cósmicas e fabulares passagens
de sublimada beleza que nos mergulham nas profundezas da introspecção. Este é
um álbum matematizado por inventivas composições cerebrais e subjugado pela
tempestade e a bonança. Uma colorida colagem de incontáveis peças que juntas
formam este sensacional puzzle musical. Fiquem na marcante, irreverente e gratificante
companhia de Full Earth durante este dia internacional do Jazz, e
vivenciem com inapagável fascinação um dos álbuns mais bizarros (no sentido elogioso da palavra)
lançados até ao momento em 2024.
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segunda-feira, 29 de abril de 2024
domingo, 28 de abril de 2024
sábado, 27 de abril de 2024
sexta-feira, 26 de abril de 2024
quinta-feira, 25 de abril de 2024
quarta-feira, 24 de abril de 2024
terça-feira, 23 de abril de 2024
segunda-feira, 22 de abril de 2024
Review: ⚡️ High On Fire - 'Cometh The Storm' (2024) ⚡️
Com cerca de vinte
e cinco anos de produtiva (e barulhenta) actividade, os titânicos High On
Fire continuam a dar mostras de uma vitalidade invejável. Despertado de um inédito
jejum discográfico de cinco anos, este pujante, indomável e electrizante tridente
californiano – sediado na cidade de Oakland e liderado pelo célebre Matt
Pike (Sleep) – acaba de detonar o seu novíssimo, infernal e
potentíssimo ‘Cometh The Storm’ através dos formatos LP, CD e digital
carimbados pela editora nova-iorquina MNRK Heavy. Resultante de um tenso, renhido e relampejante braço de ferro rivalizado entre um mastodôntico, intoxicante,
euforizante e ciclónico Stoner Metal que ocasionalmente se enlameia nos nimbosos
pântanos do Sludge Metal, e um poderoso, combativo, altivo e furioso Heavy
Metal de vertiginosa pedalada Punk, a eruptiva, escaldante, excitante
e agressiva sonoridade de ‘Cometh The Storm’ representa – com excepção
do fresco, bonanceiro e romanesco tema “Karanlik Yol” que se meneia numa
vistosa, relaxada e libidinosa dança de mística fragância turca, manifestando-se como que refrescante e revitalizante chuva neste argiloso e impiedoso deserto – uma destravada,
endiabrada e demolidora locomotiva que tudo varre à sua frente. São cinquenta e
oito minutos galopados na máxima rotação e electrificados a alta tensão que
colocam à prova a robustez dos alicerces da nossa sanidade mental. Um intenso lança-chamas
que nos inferniza, consome e carboniza sem qualquer misericórdia. Um impetuoso bulldozer
que nos persegue, atropela e esmaga repetidas vezes. Banhem-se nesta fogosa ferocidade
onde ruge uma voz felina de temperamento raivoso e tez corrosiva, rouquenha e
urticante, troveja uma monolítica guitarra de ventosos, gordurosos, opressivos,
e tormentosos riffs de onde ziguezagueiam apressados, lampejantes,
ácidos e trepidantes solos, bafeja pesadamente um baixo obeso de linhas quentes,
tensas, densas e sufocantes, e crepita uma enérgica bateria em polvorosa de
açoitadas retumbantes, explosivas, incisivas e fulminantes. A admirável ilustração
que confere rosto a este trevoso, sangrento, bolorento e furioso clamor aponta
os seus créditos ao inconfundível Arik Roper. Este é um álbum extremamente
vigoroso, aparatoso e contagiante – de efervescência vulcânica e liderança tirânica – que em nós causa um violento sismo
impossível de domar. Obedeçam ao chamamento dos troantes tambores de guerra, gritem selvaticamente
aos cerrados e carregados céus, desembainhem as vossas espadas sedentas e avancem,
decididos e destemidos, na direcção deste fervoroso e acintoso furacão que rodopia sem travão. Depois
de ter vivenciado “in loco” e pela primeiríssima vez toda a brutal e inextinguível potência de High On Fire na velha edição de 2018 do festival espanhol Kristonfest, avizinha-se
agora o nosso reencontro calendarizado para o verão português no reputado festival SonicBlast.
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domingo, 21 de abril de 2024
sábado, 20 de abril de 2024
quinta-feira, 18 de abril de 2024
quarta-feira, 17 de abril de 2024
terça-feira, 16 de abril de 2024
Review: 🦋 Tom Penaguin - 'Tom Penaguin' (2024) 🦋
O talentoso e ambicioso multi-instrumentista francês Tom Penaguin (guitarrista de Djiin e organista em Orgöne) acaba de surpreender todos os verdadeiros apóstolos do Prog Rock e do Jazz Fusion com o lançamento do seu belíssimo álbum de estreia – gravado de forma analógica no seu estúdio caseiro – pela mão do selo discográfico espanhol Á MARXE nos formatos CD e digital. Sonhado, arquitectado e maturado durante vários anos, este primeiro passo discográfico a solo de Tom Penaguin representa – com admiráveis maestria e ousadia – muito daquilo que mais me apraz encontrar na música contemporânea: uma indiscreta influência clássica aliada a um cunho pessoal que lhe confere um indelével traço original. Pincelada, aromatizada e norteada por um melodioso, serpenteante, enleante e sumptuoso Prog Rock de ensolarada e colorida magia Canterbury’esca, e um cerebral, exótico, estético e sensacional Jazz Fusion de elegante estilo vintage, a ambiental, bucólica, onírica e orquestral sonoridade deste fenomenal registo – polida e encerada por edénicas, cénicas e deslumbrantes composições – persegue a messiânica luz de carismáticas e incontáveis referências colhidas nos anos 70 como Soft Machine, YES, King Crimson, National Health, Hatfield and the North, Caravan, Egg, Mahavishnu Orchestra, Brand X, Focus, Camel, Soft Heap, Pierre Moerlen’s Gong e Popol Vuh, assim como inala de pulmões bem abertos os frescos e revitalizantes ares noruegueses soprados por bandas da actualidade como Needlepoint, Soft Ffog, Wobbler e Jordsjø. Na sagrada constituição desta sedutora, majestosa e inspiradora obra, que vive do principesco detalhe, da graciosa subtileza e de uma desarmante beleza, dialogam entre si uma virtuosa guitarra – discípula de John McLaughlin, Allan Holdsworth, Jan Akkerman e John Abercrombie – que se centrifuga em exuberantes, hipnóticos e apaixonantes riffs e expurga num vendaval de esvoaçantes, angulosos e enfeitiçantes solos, um baixo elástico de reverberação ondulante, pulsante e baloiçada, uma bateria deliciosamente jazzística que se desdobra entre secos rufos na tarola, o toque preciso e cintilante nos pratos flamejantes, e galopantes acrobacias a trote dos timbalões, e toda uma quimérica profusão de sublimes teclados – aureolados por um misticismo fabular que nos abrilhanta o olhar de pirotecnia estelar – que tanto se amainam em embriagantes, sonhadoras e transcendentes passagens de uma encantadora lisergia, como rodopiam a toda a velocidade numa profunda espiral de magnéticos, sidéricos e estonteantes bailados. Tom Penaguin edifica no nosso imaginário todo um esverdeado, refrescante e arborizado tapete campesino, estriado por marulhantes riachos de águas translúcidas, sobrevoados por suaves brisas e vigiados de perto por vastos céus banhados de um forte azul turquesa, que se espreguiça e desdobra na longínqua e vertiginosa direcção de um Sol calmoso, profético e lustroso. Este é um álbum extraordinariamente radiante, cativante, divinal e glorioso, de afago mental e beatitude imortal, que em nós causa todo um apego impossível de quebrar e uma imensa permeabilidade emocional. Um catártico bálsamo de lívida brancura que nos inunda e cega de devota fascinação, e reconforta nos agradáveis braços da plena e deífica jubilação. Quando o derradeiro tema se entrega ao silêncio e este sonho soberbamente musicado nos permite finalmente pestanejar, damos por nós mergulhados num imperturbável e anestésico estádio mesmérico de onde não mais desejamos regressar. Satisfaçam nele todo o vosso desejo de requinte, e testemunhem toda a inesgotável majestosidade de um dos álbuns mais refinados do ano.
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segunda-feira, 15 de abril de 2024
domingo, 14 de abril de 2024
sábado, 13 de abril de 2024
sexta-feira, 12 de abril de 2024
Review: 🦂 White Dog - 'Double Dog Dare' (2024) 🦂
Depois de em
2020 ter ficado de queixo completamente caído ao deparar-me com o brilhante e
irretocável álbum de estreia dos texanos White Dog (aqui
devidamente escalpelizado e, mais tarde, aqui naturalmente premiado como um dos melhores
registos nascidos nesse mesmo ano), regresso agora com renovadas palavras
elogiosas destinadas ao seu tão aguardado sucessor, denominado ‘Double Dare
Dog’ e captado de forma inteiramente analógica, que acaba de sair à rua pela
insuspeita mão do influente selo londrino Rise Above Records através dos
formatos físicos LP e CD. Com uma formação transfigurada (a substituição de
vocalista e o acréscimo de um teclista) mas mantendo a sua roupagem clássica, o
agora sexteto, enraizado na grande cidade de Austin (capital do estado
norte-americano do Texas), continua a trilhar a sua gloriosa jornada
musical com a bússola apontada ao dourado território setentista. Numa agradável,
relaxada, ensolarada e adorável viagem – debaixo de uma intensa e amarelecida luzência
vintage – que atravessa as deslumbrantes paisagens rurais de um apimentado,
ritmado, invertebrado e afrodisíaco Blues Rock de condimentado sabor Tex-Mex,
um empolgante, tórrido, suado e dançante Southern Rock de vaidade
sulista, e ainda de um musculoso, fogoso, lustroso e torneado Hard Rock sarapintado
por vibrantes colorações de um caleidoscópico psicadelismo californiano, ‘Double
Dare Dog’ passeia o ouvinte – de texanas calçadas, pernas cruzadas, chapéu
de aba larga reclinado na cabeça e um palito mordiscado na boca – pelas
verdejantes pastagens que se desdobram até onde a vista pode alcançar, ajardinando
toda uma nostálgica época há muito enterrada pelas areias do tempo. Homenageando
os autóctones ZZ Top e bebendo influências de outras bandas carismáticas
como Lynyrd Skynyrd, The Allman Brothers Band, Creedence
Clearwater Revival, The Marshall Tucker Band, James Gang, The
Outlaws, Quicksilver Messenger Service e Grateful Dead, assim
como direccionando os holofotes para outras mais obscuras como Highway (Minnesota,
EUA), Lightning (Minneapolis, EUA) e os canadianos Aaron Space, a
quente, swingada, atraente e atrevida sonoridade de White Dog é
como que uma fresca brisa de aroma oceânico que perfuma e aviva o ar seco e soalheiro
do deserto. De olhar enternecido, sorriso desabrochado e espírito embevecido, embalamos
à apaixonante, idílica e contagiante boleia de duas guitarras siamesas que
florescem harmoniosos, veneráveis e cheirosos acordes de onde serpenteiam requintados,
estonteantes e rendilhados solos, um baixo gingão de bafo pulsante, magnetizante
e palpável, um carismático teclado Hammond bailado a polposos, melódicos
e sumptuosos mugidos, uma afável bateria de sensibilidade jazzística, galopada, sem esporas, a um ritmo leve, solto e descontraído, e uma voz polida, aveludada e felina. A bonita arte gráfica que confere rosto a esta viciante iguaria texana tem como seu autor o talentoso ilustrador local Taylor W. Rushing. ‘Double
Dog Dare’ é um western soberbamente musicado. Um registo tremendamente
irresistível, pensado e executado à minha imagem, que decerto não dará descanso
aos demais concorrentes pela acesa luta ao título de melhor álbum do ano. Entrem,
ousados, neste poeirento e barulhento saloon com forte odor a pólvora – de
coldre desapertado, dedo indicador repousado no gatilho e debaixo de olhares desconfiados
que se erguem acima dos ombros – e beberiquem este mélico bourbon. Cinco cintilantes
estrelas para estes temidos pistoleiros de fama firmada e disseminada por todo
o tapete arenoso do velho oeste. Depois de dois disparos certeiros no meu
coração, já salivo pelo terceiro.
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quinta-feira, 11 de abril de 2024
quarta-feira, 10 de abril de 2024
terça-feira, 9 de abril de 2024
segunda-feira, 8 de abril de 2024
Review: 🪐 Iron Blanket - 'Astral Wanderer' (2024) 🪐
Da cidade
australiana de Sydney chega-nos a incandescente lava vulcânica expelida pelo jovem e irreverente quinteto Iron Blanket, que acaba de lançar o seu impactante
álbum de estreia denominado ‘Astral Wanderer’ e editado a duas mãos pela
britânica Copper Feast Records e pela grega Sound Effect Records
nos formatos digital e LP. Combinando as dominantes forças gravitacionais de um musculoso,
enérgico, titânico e polposo Heavy Rock de luciféricos ecos Green
Lung’escos, de um quente, arenoso, fogoso e efervescente Desert Rock
de alta octanagem a fazer recordar os suecos Dozer, e ainda de um montanhoso,
pantanoso, sombrio e impiedoso Psychedelic Doom de incensos morfínicos e um pesado galope Sleep’eano num vistoso, admirável e glorioso bailado, ‘Astral
Wanderer’ é um álbum imponente – tomado por ácidas e negras lavaredas que cospem
crepitantes faúlhas – capaz de abalar e naufragar o ouvinte num revolto mar de vulcânica
euforia. Não dispensando misteriosas incursões nocturnas pelo lado mais intrigante, letárgico,
ritualístico e intoxicante do mastodôntico Proto-Doom de tração setentista e uma imersiva
pretura Black Sabbath’ica, este triunfante primeiro trabalho dos
australianos Iron Blanket simboliza uma monolítica, granítica e demolidora
avalanche sonora que nos profana a alma, anoitece o espírito e enfeitiça do
primeiro ao derradeiro tema. Uma torrencial chuva de estrelas chamejantes que
cruzam os céus enquanto que relampejantes fissuras golpeiam o solo espasmódico.
Embarquem nesta selvática, bombástica e vertiginosa alucinação à empolgante
boleia de duas guitarras endemoninhadas – fervidas em crocante, espinhoso e
electrizante efeito Fuzz – que conduzem abrasivos, rugosos, majestosos e
invasivos riffs de onde esvoaçam solos luzidios, escorregadios, salgados e fugidios,
um hipnótico baixo de linhas palpáveis, obesas, coesas e intimidantes, uma
bateria enérgica de ritmos explosivos, provocantes, fulgurantes e altivos, e de
uma voz assanhada e diabrina – de tez ácida, melódica, magnética e gélida – que
contrasta com a ardência infernal do instrumental. São 45 minutos capitaneados por um groove
contagiante que ziguezagueia entre a potência e a indolência, a luminosidade e
a obscuridade, a agitação e a prostração. ‘Astral Wanderer’ é um álbum verdadeiramente
vultoso, assombroso e desconcertante que, decerto, não deixará ninguém
indiferente.
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➥ Copper Feast Records
➥ Sound Effect Records