terça-feira, 28 de fevereiro de 2023
Review: 🍂 Siena Root - 'Revelation' (2023) 🍂
Com cerca de
25 anos de frutífera carreira onde se contam duas mãos cheias de álbuns, a camaleónica
formação escandinava Siena Root habita hoje os píncaros de um dourado estado
de invejável maturidade, e o seu mais recente trabalho de longa duração –
intitulado ‘Revelation’ e lançado nos formatos físicos de CD e LP pela
mão da editora discográfica germânica Atomic Fire – é prova disso mesmo.
Com uma inegociável fidelidade para com o clássico movimento sonoro Roots
Rock, que abraça um adornado, afrodisíaco, místico e apimentado Blues
Rock de enleantes serpenteios e alta costura, um radioso, perfumado,
colorido e formoso Psychedelic Rock de clima primaveril e intensa doçura,
e ainda um verdejante, rústico, crepuscular e reconfortante Folk Rock luzência
sessentista, o apaixonante quarteto sueco enraizado na cidade-capital de Estocolmo
continua a trilhar a sua bonita jornada pelas artérias musicais que o celebrizaram. Embrulhada numa aura de desarmante beleza fabular, a sedosa,
enfeitiçante e glamorosa sonoridade de ‘Revelation’ vive da
sensibilidade e dos detalhes. Contando ainda com vestígios de um fresco, reflexivo
e romanesco Progressive Rock de aragem nórdica, sagrados mantras de deslumbrante
paladar indiano e uma elegante camada jazzística a condimentar todos os seus
temas, este 10º álbum de Siena Root é uma inspiradora ode revivalista –
com uma indelével marca de autenticidade – que aquietará as marés da nossa alma,
massajará o nosso cérebro e colocará a nossa espiritualidade de vento em popa.
Baloiçado entre açucaradas baladas acústicas e afogueadas desgarradas à boa e
velha moda de Siena Root, este cuidado, aprimorado e balsâmico registo
da banda promete saciar os mais ousados desejos dos mais auspiciosos sonhadores.
De corpo bamboleado, sorriso desabrochado, rosto corado e olhar desmaiado,
somos levados à fascinante boleia de uma voz soberbamente encerada que – com um
enternecedor e sublimado glamour – se
passeia e galanteia livremente, uma guitarra trovadora que floresce em airosos,
esplendidos e deleitosos acordes de onde trepam solos ziguezagueantes,
luminosos e vagueantes, um baixo saltitante de linhas pulsantes, flácidas e
ondeantes, uma adorável bateria tiquetaqueada a refinada precisão e virtuosa emoção,
um teclado litúrgico de polposos, enigmáticos e seráficos mugidos. Como
instrumentos convidados estão ainda uma quimérica sitar de frondosos devaneios,
um exótico clavinet animadamente swingado a transpirada sedução e
ainda uma refrescante flauta de sopros acetinados. ‘Revelation’ é um
álbum verdadeiramente mirífico e transformador que nos rodeia e encandeia com o
seu deífico resplendor. Percam-se na magnificência miraculosa de Siena Root
e encontrem-se relaxadamente recostados num real oásis de afago sensorial e consagração
espiritual.
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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023
Review: 🚀 Dead Shrine - 'The Eightfold Path' (2023) 🚀
É ainda de
alma sedada, cabeça pesada e visão turva que escrevo estas inebriadas palavras
na ressaca da experiência transcendental que foi comungar o álbum de estreia de
Dead Shrine – o novíssimo projecto a solo do virtuoso multi-instrumentista
neozelandês Craig Williamson, mentor de outros projectos de grande relevância
como Datura, Lamp of the Universe e Arc of Ascent –
intitulado ‘The Eightfold Path’ e lançado hoje mesmo sob a forma digital
e numa ultra-limitada edição em CD de apenas 300 cópias físicas disponíveis com o carimbo do seu selo discográfico caseiro Astral Projection. Incensado
por um resinoso, libidinoso e intoxicante Heavy Psych de odor canábico que
se embrulha harmoniosamente num montanhoso, vigoroso e flamejante Heavy Rock
de ressonâncias setentistas, este primeiro passo discográfico (um grande salto,
na verdade) de Dead Shrine solta as amarras conscienciais e catapulta a
alma do ouvinte para um sónico escapismo pelas costuras fronteiriças de um rodopiante
Cosmos em caótica ebulição. A sua sonoridade euforizante, efervescente e magmática
– remexida num borbulhante caldeirão consumido pelas intensas lavaredas – provoca em nós
toda uma inapagável combustão espiritual de propulsão astral. Embalados na
vertigem desta redentora odisseia que penetra o brumoso tecido cósmico, somos insanamente
centrifugados por uma guitarra – locomovida a alta rotação e ensopada numa
urticante, fogosa e crocante distorção – que se serpenteia em Riffs viscosos,
polposos e efervescentes de onde são vertidos alucinados, embriagados e caleidoscópicos
solos temperados a uma acidez psicadélica, sombreados pela pesada reverberação
de um baixo nervudo, sisudo e monolítico, açoitados pelas rutilantes baquetas
de uma bateria pautada a explosiva, altiva e incisiva robustez, e ainda
farolizados pela voz xamânica, melódica e refrescante que vagueia livremente
por este revoltoso mar de chamas. ‘The Eightfold Path’ é uma sísmica
erupção de vibrante adrenalina que nos agarra pelos colarinhos. Um mastodôntico tsunami de endorfinas que nos
engole. Apertem bem os cintos, cerrem os maxilares e agarrem firmemente o trémulo
volante de um barulhento e trepidante muscle car que arranca furiosamente
a duas rodas e se perde a alta velocidade pelos desdobráveis firmamentos das
autoestradas estelares sem nunca olhar para trás.
quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023
terça-feira, 21 de fevereiro de 2023
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023
domingo, 19 de fevereiro de 2023
sábado, 18 de fevereiro de 2023
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023
quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023
terça-feira, 14 de fevereiro de 2023
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023
Review: 🏜 Rotor - 'Sieben' (2023) 🏜
Com 25 anos de
existência e oito álbuns lançados, os germânicos Rotor são hoje uma incontornável
referência Rock dentro do panorama musical alemão, ainda que para
lá das fronteiras da Alemanha e apesar da sua vitalidade, fiabilidade e qualidade
inegáveis, o quarteto sediado na cidade-capital de Berlim, continue –
estranhamente, devo confessar – a passar despercebido aos olhos de quem promove
os mais conceituados festivais europeus que alimentam e consagram o circuito underground. Conheci
a banda há já sensivelmente 15 anos e, desde então, não mais os perdi de vista.
Em 2015 escrevia aqui elogiosas palavras ao seu fabuloso ‘Fünf’ (muito provavelmente
o meu registo favorito de Rotor), e hoje trago à mesa o seu novíssimo
trabalho, intitulado ‘Sieben’ e lançado sob a forma física de LP e CD
com o carimbo editorial da insuspeita Noisolution, que se junta lado a
lado com o registo anteriormente citado no que ao grau da minha preferência diz
respeito. Tendo como seus principais combustíveis um fogoso, rugoso empolgante e
arenoso Desert Rock de inspiração Kyuss’eana e um sinuoso,
dançante, cativante e oleoso Prog Rock de serpenteios enleantes, os Rotor
arrancam – de motor barulhento, escape fumarento e a alta rotação – pelas
poeirentas estradas de um infindável deserto bronzeado pelo dourado Sol poente.
Atrelados a esta alucinante boleia que tanto nos centrifuga e incendeia em ciclónicas,
pesadas e turbulentas rajadas fervidas a euforia, como embriaga em maravilhosas
paisagens pinceladas a cores crepusculares e oxigenadas a uma ataráxica acalmia,
somos facilmente conquistados pela sua calorosa sonoridade instrumental de
fácil digestão e imediata fascinação. Balanceado entre a condensada, ardente e
pesada negrura que nos asfixia, e a contemplativa, ensolarada e imersiva lisergia
que nos eteriza, ‘Sieben’ é governado por uma bipolaridade climática que
nos mantém seduzidos do primeiro ao último tema. Varrido por duas guitarras liderantes
– electrificadas a urticante e efervescente distorção – que se agigantam na hipnótica
condução de polposos, nervudos e inflamantes Riffs incensados a edénicas
fragâncias arábicas de onde florescem maravilhosos, espirituosos e intoxicantes
solos de psicotrópica acidez, aquecido pelo reverberante bafo de um baixo obeso
orientado a linhas densas, tensas e ondeantes, e escoiceado por uma excitante bateria
de pratos flamejantes e timbalões retumbantes, este sétimo álbum de estúdio dos Rotor
é carburado a exultante, apimentada e transbordante paixão. São 37 minutos de
um inquebrável magnetismo que nos dilata as pupilas e abana o corpo. Deixem-se
viajar e canalizar pelas artérias de ‘Sieben’ e experienciem com imoderado deleite todo o
esplendor de um álbum verdadeiramente arrebatador.
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domingo, 12 de fevereiro de 2023
sábado, 11 de fevereiro de 2023
sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023
terça-feira, 7 de fevereiro de 2023
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023
Review: 🙏 DeWolff - 'Love, Death & In Between' (2023) 🙏
Com pouco mais
de quinze anos de actividade pautada pela inesgotável fertilidade discográfica
e uma constante mutação da equação que recorta e costura a sua musicalidade, o talentoso trio
holandês DeWolff acaba de lançar o seu 15º trabalho de longa-duração,
intitulado ‘Love, Death & In Between’ e carimbado pela mão da
companhia discográfica independente Mascot Records nos formatos LP, CD e
digital. De carvão incandescente e chaminé fumegante, esta harmoniosa locomotiva
neerlandesa viaja pelos territórios de um espirituoso, colorido, aprumado
e charmoso Psychedelic Rock de fragância vintage, e um dançante, apaixonante,
festivo e contagiante Rhythm and Blues (R&B) que nos faz bater o pé e estalar os dedos, sempre farolizada
pela cândida luminosidade da irresistível música Soul. Tendo como
principal inspiração a impactante experiência que fora comungar um comovente sermão
litúrgico liderado pelo enérgico reverendo Al Greene na sua igreja
localizada em Memphis (cidade musicalmente abastada, plantada na margem
do rio Mississippi, e a mais populosa do estado do Tennessee, EUA),
‘Love, Death & In Between’ ostenta uma sonoridade aureolada, ensolarada,
ritmada e bem-disposta que fará o ouvinte sorrir, salivar e bailar do primeiro
ao derradeiro tema. Com cerca de 60 minutos de duração e uma deífica, diluviana
e salvífica luzência que nos inunda o coração, este novo álbum de DeWolff
presentei-nos com um vibrante, radiante e garboso desfile carnavalesco que nos rouba
a atenção, ofusca de sedução e sacode de exultação. Graciosamente baloiçado
entre apetitosas, relaxantes e açucaradas baladas impróprias para diabéticos e
apimentadas, entusiásticas e fervorosas galopadas de instrumentos em aparatosa ebulição,
‘Love, Death & In Between’ é um disco tremendamente afável, oxigenado
a atmosfera cabaresca, que não deixará ninguém indiferente. Na órbita deste
reinante tridente – constituído por uma pomposa guitarra de acordes condimentados
e solos encaracolados, uma bateria soberbamente jazzística de estimulante
vitalidade rítmica, um polposo teclado divertidamente groovy e swingado,
e uma voz melosa, melodiosa e acetinada, escoltada de perto por um jovial e luminoso
coro vocal de brilho Gospel – vagueia toda uma profusão de músicos
convidados, onde facilmente se reconhecem os reverberantes murmúrios de um baixo
sombreado, os queimantes, enfáticos e dialogantes sopros combinados entre um saxofone,
um trompete, um trombone e uma flauta, e as cativantes acrobacias de uma percussão
tribal, que confere a esta opulenta obra superiormente musicada toda uma adornada
estética orquestral. ‘Love, Death & In Between’ é um registo bem-humorado, educado, bamboleante e perfumado que nos deslumbra e bronzeia de uma nirvânica religiosidade. Batizem-se nele.
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domingo, 5 de fevereiro de 2023
sábado, 4 de fevereiro de 2023
sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023
Review: 🩸 Cancervo - 'II' (2023) 🩸
O tridente italiano
Cancervo está de regresso com o lançamento do seu segundo trabalho de
longa duração ‘II’ pela mão da discográfica, sua conterrânea, Electric
Valley Records através dos formatos LP e digital. Inspirados e fascinados
pelas fantásticas lendas e tradições seculares do Monte Cancervo (uma
icónica montanha rochosa, localizada na província italiana de Bergamo, com quase dois
mil metros de altura) que os locais foram doutrinando e propagando de geração
em geração, o intrigante e hermético power-trio Cancervo
encarvoa-se agora na intensa e crua pretura de um bolorento, críptico, decrépito e
sarnento Doom Metal de estirpe setentista e crença ocultista, deixando, assim, para trás o obcurantista Heavy Psych que adubara o seu álbum de estreia. Adensando
e vagueando toda uma melancólica, fúnebre, trevosa e vampírica escuridão que
nos abraça, empalidece o rosto, encova as órbitas oculares, profana a alma, e faz
cair numa perversa tentação, estes três cavaleiros do apocalipse convertem a sua
enigmática sonoridade numa demoníaca liturgia onde ninguém se recusará a comungar.
De religiosidade eclipsada, semblante tombado sobre o peito e soterrados num inquebrável
estado de sonambulismo, seguimos – devotos – uma despótica guitarra de monolíticos,
atemorizantes, opressivos e enfeitiçantes riffs de onde serpenteiam solos
luzidios, azedados e esguios, um baixo sisudo de reverberação modorrenta, obscura
e corpulenta, uma frígida bateria obsessivamente vergastada a uma ritmicidade continuada,
tribal e compassada, e uma voz monocórdica de postura severa, autocrata e sacerdotal.
São 35 minutos mumificados por uma lúgubre caligem de fragância mântrica. Uma
musicada oração ao paganismo. Uma peregrinação, de olhos vendados, pelos abismos
– tingidos a saturada negrura e oxigenados pelo silêncio sepulcral – da nossa
mente. ‘II’ é um álbum amargurado que deve ser escutado, prostrados, na
penumbra. Um registo hipocondríaco, portador de uma elegíaca atmosfera onde a
esperança deífica e salvífica não medra. Refugiem-se no interior do sombrio manto de Cancervo
e desventurem-se nos amaldiçoados meandros do seu calvário.
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➥ Electric Valley Records