terça-feira, 24 de dezembro de 2024

Review: 🔥 Madera Raíz - 'Ceremonia' (2024) 🔥

★★★★

Três anos depois de lançado (e aqui imoderadamente elogiado) o seu ardente álbum de estreia denominado ‘No les queda tanto Tiempo’, o electrizante power-trio argentino Madera Raíz – residente na vibrante cidade-capital de Buenos Aires – apresenta-nos agora o seu inesperado e sensacional segundo trabalho apelidado ‘Ceremonia’ e editado através do exclusivo formato digital com carimbo autoral. Electrificado por um serpenteante, oleoso, libidinoso e provocante Heavy Blues de afrodisíaco balanço boogie, tonificado por um torneado, musculoso, viçoso e sombreado Hard Rock de titânico galope setentista, e colorido por um delirante, caleidoscópico, sónico e intoxicante Psychedelic Rock de efervescência sessentista, este entusiasmante álbum forjado no fogo pelo tridente argentino colhe inspiração nos clássicos Pappo’s Blues, AeroblusRory Gallagher’s Taste, Cactus, Jimi Hendrix e ZZ Top, assim como em referências da contemporaneidade como Radio Moscow, Ambassador, Joy, Amplified Heat, Prisma Circus e Cachemira. A sua sonoridade imensamente estimulante, fluída, apimentada e dançante obriga o ouvinte – numa explícita manifestação de puro e incontido prazer – a cravar os dentes nos lábios, revirar os olhos, baloiçar a cabeça num constante ricochete de ombro em ombro e ondular o corpo num compenetrado bailado. Foi um sério caso de amor à primeira audição. ‘Ceremonia’ é uma vulcânica combustão de endorfinas que nos contagia, impressiona e inebria sem qualquer comedimento. Um poderoso alucinógeno de imersivo psicadelismo e extravagante erotismo que nos embevece, endoidece e excita do primeiro ao último minuto. Escaldem-se nas multicoloridas lavaredas cuspidas por uma fantástica guitarra Hendrix’eana que se bamboleia em reptilianos, roliços, movediços e jupiterianos riffs abrasados a rugosa, arenosa e crocante distorção, e ziguezagueia em sinuosos, trepidantes, estonteantes e virtuosos solos de acidez psicotrópica, obscureçam-se na densa, tensa e palpável reverberação de um baixo fibroso carburado a magnetizantes, encaracoladas, carnudas e possantes linhas desenhadas a negrito, entrem em erupção à instigante emancipação de uma endiabrada bateria esporeada a acrobática leveza e exótica destreza, e percam-se no feitiço de uma liderante voz condimentada a uma aspereza felina que monta e agarra firmemente as rédeas deste endemoninhado rodeo sem nunca cair da sela. Este é indubitavelmente um dos meus álbuns favoritos do ano. Um registo irresistivelmente suculento e escandalosamente viciante que nos deixa de olhar incendiado e boca salivante. Uma impetuosa, ciclónica e vertiginosa montanha-russa de emoções à flor da pele que nos varre e centrifuga sem qualquer misericórdia. Bebam este urticante trago de Blues selvagem – irrepreensivelmente executado por Madera Raíz – e cambaleiem, felizes, temulentos e trôpegos, pelas misteriosas, sinuosas e escorregadias ruas de ‘Ceremonia’.

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quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Review: 🦉 Sublunar Express - 'Peeling the Horizon' (2024) 🦉

★★★★

Cinco anos após o lançamento do seu homónimo álbum de estreia (aqui trazido e examinado), o trio canadiano Sublunar Express – natural da cidade de Montreal (no Québec) – apresenta agora o tão aguardado sucessor intitulado ‘Peeling the Horizon’ e editado através dos formatos LP (disponível em ultra-limitadas edições matizadas a estonteante combustão de caleidoscópica coloração pela mão da californiana Wet Records), CD (numa apelativa edição autoral) e digital. Com a fornalha repleta de carvão incandescente, chaminé fumegada a intensa pretura e as janelas levemente embaciadas, este comboio locomovido a vapor continua a sua musicada jornada pelos confins da enigmática noite nevada que nunca se entrega à luz do dia. Numa admirável viagem explorativa pelos encantados universos de um fantástico, reflexivo, lenitivo e cinematográfico Post-Rock a fazer recordar os americanos Giant Squid, um intrigante, esponjoso, umbroso e arrogante Post-Punk que homenageia os seminais Joy Division, um musculado, reptiliano, ousado e provocante Proto-Punk na senda dos incendiários The Stooges, e ainda de um anestésico, melancólico, embrumado e onírico Shoegaze de húmidos ecos Slowdive’anos, este camaleónico, misterioso, inusitado e exótico ‘Peeling the Horizon’ desdobra no imaginário do ouvinte toda uma paisagem apocalíptica oxigenada a insanidade, luto, descrença e desumanidade. A sua esdrúxula, acinzentada, diferenciada e heterogénea sonoridade – magicada a experimentalismo, perfumada a misticismo e climatizada a sentimentalismo – tanto nos anoitece, amolece e adormece nas profundezas da soturnidade, como nos dilata as pupilas, empalidece o rosto e absorve numa espasmódica dança macabra, compenetrada e indiferente ao que nos rodeia. Musicada por uma intoxicante guitarra de imponentes, ardentes, absorventes e vistosos riffs e solos desenvencilhados, giratórios e embriagados, um baixo viscoso, pulsante, ondulante e polposo, uma expressiva, diligente e criativa bateria capaz de modelar e compassar todos estes contrastes climáticos, e uma profusão de vocais lúcidos, vampíricos, etéreos e espectrais (aos quais se juntam ainda as efémeras, mas enriquecedoras, colaborações de um saxofone de estética “noir” serpenteado a sopros gritados, um sibilino duduk que se adensa em mugidos aveludados e uma divina voz feminina de pele cristalina que sobrevoa a névoa da madrugada), esta memorável viagem neste expresso nocturno causa no íntimo do ouvinte um eclipse verdadeiramente transformador, miraculoso e emancipador. Sonhem de olhos bem arregalados à mesmérica influência de Sublunar Express sem a mais pequena vontade de dele despertar. De realçar ainda o imersivo artwork de natureza distópica, superiormente ilustrado pelo artista espanhol Joan Llopis Doménech (com o qual a banda reforça a sua confiança). Este é um álbum norteado a volatilidade, estranheza e imprevisibilidade que nos fascina e surpreende em cada esquina. Cabe tudo nos seus dilatantes 38 minutos de duração. Cabem todos nesta sui generis, bizarra e cabaresca expedição pelos sinuosos carris de ‘Peeling the Horizon’.

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🔥 High On Fire - 'Blessed Black Wings' (2005)

🌊 Ellis Munk Ensemble - 'San Diego Sessions' (2020)

🍃 Tom Penaguin - "Housefly Leg" (2024)

🌞 Siena Root - 'Different Realities' (2009)

🔊 Keith Richards // The Rolling Stones (1971)

📸 Alec Byrne

segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

🖤 Billy F. Gibbons // ZZ Top

Apoteosi - Prima Realta' & Frammentaria Rivolta (1975)

Review: 👻 Vast Pyre - 'Vast Pyre' (2024) 👻

★★★★

De Eisenach – cidade localizada no centro da Alemanha – chegam-nos as encorpadas, vampíricas, tirânicas e malfadadas ressonâncias do tempestuoso tridente Vast Pyre com a sísmica detonação do seu homónimo álbum de estreia, editado pela italiana Argonauta Records nos formatos CD e digital. Prostrados, embriagados, de pálpebras tombadas e espírito enlutado sopitamos à exposição da nefasta radiação expelida pelas fumarentas narinas de um monolítico, pantanoso, resinoso e esfíngico Stoner Doom de forte fragância psicotrópica e sónica propulsão cósmica. Com inspiração colhida nos universos esotéricos de Electric Wizard, Sleep, MonolordUfomammut e Spelljammer, a massiva, altiva, abrasiva e sinistra sonoridade de ‘Vast Pyre’ agiganta-se numa predatória, mastodôntica e intimidante avalanche que nos persegue, atropela e sepulta nas abissais profundezas de uma herética negrura que circunda e sufoca todas as chamas da nossa religiosidade. Uma mesmérica, transformadora e profética hipnose que nos mumifica, cega, aterroriza e carrega por paisagens demoníacas, derrotadas, amaldiçoadas e distópicas, esvaziadas de vida e esperança, onde a diáfana luz jamais ousa tocar e a fantasmagórica bruma vagueia sem nunca dispersar. São 50 minutos de uma chamejante, viscosa e impactante pretura que nos enlameia e incendeia sem misericórdia. Sombreiem-se numa guitarra arrogante que se avulta em rastejantes, hipnóticos, despóticos e intrigantes riffs – escaldados a queimante, cáustica e urticante distorção – de onde são chorados uivantes, ácidos, pálidos e penetrantes solos, estremeçam à intensa boleia de uma sísmica bateria explodida a uma ritmicidade agressiva, empolada, musculada e altiva, e vagueiem de olhos vendados, passos hesitantes e respiração travada pelas arrasadas planícies de ‘Vast Pyre’ farolizados pelos liderantes vocais – ora límpidos, azedos e destemperados (disseminados por um eco espectral), ora escarpados, sujos e gritados (de temperatura infernal). Este é um álbum situado entre a açucarada melancolia e a entorpecida euforia. Um trabalho hermético, sisudo, soturno e dramático – pesada e vagarosamente locomovido – que nos agarra, sacode e implode. A imponente obra visual que dá rosto a este registo verdadeiramente avassalador dos germânicos aponta os seus créditos autorais ao inconfundível e renomado pintor polaco Zdzisław Beksiński que a criara em 1972. Desventurem-se pelas tumbas cósmicas de Vast Pyre e encarvoem-se na sua asfixiante, claustrofóbica e atemorizante obscuridade.

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sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

💋 DeWolff - "Natural Woman" (2024)

🥁 Tony Williams

🌹 Paz Lenchantin

©️ Nathan Whittaker

Review: 👁️ Sacred Buzz - 'Radio Radiation' EP (2024) 👁️

★★★★

Da cidade-capital de Berlim chega-nos o perfumado, ritmado e atraente EP de estreia do jovem quarteto Sacred Buzz, intitulado ‘Radio Radiation’ e editado pela companhia discográfica irlandesa Fuzzed Up & Astromoon Records nos formatos cassete (disponível em duas edições coloridas e limitadas à produção de 70 unidades), vinil de 7" (ultra-limitado à prensagem de apenas 50 cópias entretanto já esgotadas em apenas 35 minutos) e digital. Musicado por um multicolorido sortido de onde facilmente sentimos o condimentado paladar de um agitado, dançante e transpirado Garage Rock locomovido a intensa rotação, um caleidoscópico, apimentado e exótico Psychedelic Rock de inspiração colhida nos delirantes 60’s, um hipnotizante, esponjoso e enfeitiçante Krautrock de ritmicidade tiquetaqueada a alta precisão, e um escaldante, enérgico e provocante Proto-Punk que nos inebria de nebulosa alucinação, ‘Radio Radiation’ atira o ouvinte para o meio de uma vibrante pista de dança iluminada por uma viva profusão de coloração pulsante, lotada de brilhantes corpos banhados em suor e movidos em slow-motion a compenetrados serpenteios. Compartimentado em seis faixas de curta duração, mas atestadas de imensa emoção, e de uma longíssima faixa bónus climatizada por um arejado e relaxado experimentalismo ambiental a rivalizar com toda a vertigem que o antecede, este espirituoso EP traz-nos a consumível, irresistível e euforizante irreverência de bandas como Dead Moon, King Gizzard & The Lizard Wizard, The Murlocs, ORB, The Socks, Sunder, Fuzz, Magic Machine, The Gorlons, Wine Lips, The Heavy Minds e Travo. Uma açucarada, cativante e excitada efervescência de inflamado, desnorteado e extravagante psicadelismo, surfada por uma guitarra devaneante de queimante distorção, um teclado intrigante de mugidos empolados, uma bateria estimulante de incansável galope, um baixo magnetizante de reverberação ondeante, e uma voz diabrina de tez avinagrada. Libertem-se de toda a timidez e bamboleiem à lasciva boleia de Sacred Buzz numa diluviana erupção de incontida satisfação. ‘Radio Radiation’ é uma psicotrópica radiação à qual nos sintonizamos – de ouvidos salivantes, pupilas dilatadas e com inquebrável fascinação – do primeiro ao derradeiro minuto. Uma extasiante comoção que nos electrifica sem moderação. Ziguezagueiem-se nele.

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segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

🛕 Sweet Smoke - "Baby Night" (1970)

🌅 Eloy - "Between the Times" (1976)

Review: ⚜ Jupiter Fungus - 'Garden Electric' (2024) ⚜

★★★★

Está desvendado o segredo mais bem guardado do Prog Rock grego. ‘Garden Electric’ é o fabuloso álbum de estreia de Jupiter Fungus: um projecto sediado na cidade costeira de Piraeus, editado pela companhia discográfica Sound Effect Records nos formatos LP, CD e digital, liderado por duas cabeças pensantes e musicado por cinco prendados executantes. Numa cativante, inspirada, requintada e gratificante homenagem à dourada década de 1970, esta banda helénica aventura-se nos infindáveis territórios do pomposo, sublime, magnânimo e glorioso Progressive Rock, percorrendo os verdejantes, deslumbrantes e arborizados trilhos desbastados por clássicas referências do género tais como Eloy, Jethro Tull, Pink Floyd, Genesis, Camel, King Crimson, YES, Styx, Van Der Graaf Generator, Gentle Giant, Renaissance, Nektar e Gryphon. Esculpido, polido e envernizado por uma sonoridade elegante, lunar, fabular e apaixonante – repleto de fragâncias sedutoras e atmosferas sonhadoras – que nos remete para soterrados tempos medievais, este epopeico ‘Garden Electric’ embruma o ouvinte num edénico misticismo que o eteriza do primeiro ao derradeiro tema. À boleia de arranjos odorosos, principescos, romanescos e misteriosos que nos fazem sonhar acordados, embarcamos, vigilantes e curiosos, numa adorável, introspectiva e inolvidável caminhada pelos virginais bosques – de moldura mediévica e formosura nocturna – à pálida luzência da Lua. Jupiter Fungus descortina todo um fascinante universo onírico brilhantemente orquestrado por uma poética flauta de refrescantes, sedosos e enleantes serpenteios, uma estética guitarra de açucarados, refinados e provocantes riffs de onde são escoados vistosos, tocantes e copiosos solos, um compenetrado baixo de meneios dançantes, magnéticos e pulsantes, enfeitiçantes teclados de bailados rodopiantes, aparatosos e delirantes, uma primorosa bateria de toque cintilante, acrobático, enfático e flamejante, e uma aristocrática (e ocasionalmente robótica) voz de pele límpida (embora episodicamente turva), emotiva e educada. Dedico ainda elogiosas considerações ao sensacional artwork – superiormente desenhado pelo flautista da banda Fotis Xenikoudakis – onde os nossos olhos mergulham e naufragam nas suas incessantes marés de labiríntico, vistoso e primoroso detalhe. ‘Garden Electric’ é um álbum lindíssimo, oxigenado a imaculada sensibilidade, iluminado por uma aura fabular e instrumentalizado a fina virtuosidade. Um registo de admirável maturidade que se vai agigantando em nós com o acumular de renovadas audições. Percam-se e encontrem-se nos meandros desta caprichada obra capaz de agradar tanto a gregos como a troianos.

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sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

🎩 Frank Zappa, 1971

🌪 Chelsea Wolfe // Amplifest

Review: 👌 WIZRD - 'Elements' (2024) 👌

★★★★

Conheci o quarteto norueguês WIZRD em 2022 – aquando do lançamento do seu belo álbum de estreia ‘Seasons’ (aqui analisado) – e a atracção sentida não só foi cega como imediata. Foi, portanto, com imoderado entusiasmo que muito recentemente recebi as notícias da chegada do seu novo é segundo álbum intitulado ‘Elements’ e editado pela mão da insuspeita companhia discográfica norueguesa Karisma Records nos formatos LP, CD e digital. Formada no conservatório de Jazz da cidade de Trondheim, esta banda natural da capital Oslo faz da fusão entre a boa disposição do Indie Rock, os serpenteios enleantes do Prog Rock e a estonteante desarrumação do Jazz-Rock a sua estrela polar. Dotado de composições refrescantes, cerebrais e apaixonantes, este sublime ‘Elements’ é um álbum de essência exótica e tez camaleónica, em constante mutação, que nos mantém de fascinação incansavelmente estimulada do primeiro ao derradeiro minuto. Norteado por uma sonoridade inventiva, eclética, estética, melódica e expressiva, este registo de WIZRD saltita entre furiosas, ciclónicas e buliçosas danças instrumentais que nos amotinam num euforizante bacanal e relaxantes, esponjosas e enfeitiçantes passagens pastorais que colocam a nu toda a nossa permeabilidade emocional. A fogosa aspereza e a invernosa delicadeza de mãos dadas numa montanha-russa. Equilibrem-se acima do piso escorregadio de ‘Elements’ e dancem ao estimulante som de uma guitarra erudita que se manifesta em formosos, detalhados e angulosos acordes de onde se desatam apressados, trepidantes e espevitados solos velozmente percorridos em espiral, um baixo sombreado de bafo denso, tenso e ardente, uma bateria malabarista de acrobacias verdadeiramente alucinantes, imaginativas e mirabolantes, teclados exuberantes de mugidos cósmicos, bailados hipnóticos e sirenes alienígenas, e vocais joviais, viçosos e espectrais cantarolados em inglês e norueguês. Este é um álbum colorido, divertido, diversificado e imprevisível que nos surpreende a cada esquina das suas intrincadas composições. Um registo detentor de uma destemida criatividade capaz de saciar o desejo de requinte dos ouvintes mais exigentes. Uma suculenta iguaria gourmet que nos faz salivar, sorrir, lacrimejar e abrilhanta o olhar. Neste irrepreensível ‘Elements’ encontrei e namorei uma das mais belas e reconfortantes canções que ouvira em toda a minha vida: a comovente, sonhadora, inspiradora e absorvente “Fire & Flames” que me enternecera, embevecera e libertara num chorado grito de completa expurgação. Embarquem no rodopiante caudal de WIZRD e vivenciem todo o seu aparatoso carnaval sonoro superiormente dirigido a ferocidade, virtuosismo, dinamismo e sensibilidade. Um dos meus álbuns favoritos do ano está aqui, na inspirada magia musicada destes talentosos músicos nórdicos. Deslumbrem-se nele.

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terça-feira, 3 de dezembro de 2024

† Ozzy Osbourne // Black Sabbath (1971)

📸 Lee Marshall // Circus magazine

🏄‍♀️ SonicBlast 2025

Review: 🐙 Heavy Trip - 'Liquid Planet' (2024) 🐙

★★★★

Em 2020 sofria um impiedoso knockout disferido pelo vibrante power-trio canadiano Heavy Trip – que surpreendia o meu mundo com o lançamento do seu impactante álbum de estreia (review aqui) – e agora esta enérgica formação com residência na cidade de Vancouver está de regresso com uma imponente tempestade cósmica que destrona o seu antecessor, denominada ‘Liquid Planet’ e que poderá ser testemunhada através dos formatos LP e digital. Electrificada por um enfeitiçante, frenético, sónico e alucinante Heavy Psych capaz de nos desaparafusar a cabeça do tronco, que se robustece num musculoso, fogoso, impressionante e poderoso Heavy Rock de pesadas ressonâncias setentistas, e obscurece num rugoso, implacável, dominante e montanhoso Proto-Doom de narinas fumegantes, a euforizante, convulsiva, altiva e intoxicante sonoridade deste segundo álbum de Heavy Trip colhe influências de bandas como Sleep, Earthless, Acid King, Blown Out, RYTE, Domadora, Mammatus, Petyr e Tia Carrera. Uma buliçosa efervescência de flamejante adrenalina que nos escalda, endoidece e dispara na estonteante vertigem astral. São 40 minutos de um saturado delírio que nos rasga as vestes da lucidez e contagia de extasiante embriaguez. Um descontrolado cometa em chamas que percorre as veias da nossa espiritualidade e em nós provoca um intenso sismo emocional. Recostem-se confortavelmente, respirem fundo, fechem os olhos e sintam-se eclodir a toda a velocidade pelos inexplorados territórios alienígenas à irresistível boleia de uma guitarra escandalosamente assombrosa – condimentada por uma distorção abrasiva e exorcizada a um diabólico e desarmante virtuosismo que faria o próprio Jimi Hendrix salivar – que hasteia mastodônticos, caravânicos, ciclónicos e resinosos riffs de calor vulcânico e forte odor canábico, e desprende todo um psicotrópico e caleidoscópico vendaval de ácidos, venenosos, vertiginosos e orgásmicos solos capazes de nos causar um relampejante curto-circuito cerebral, de um baixo motorizado que se contorce e distende em linhas bailantes, elásticas, hipnóticas e possantes, e de uma bombástica bateria metralhada a ritmos propulsivos, eruptivos, incisivos e retumbantes. O fantástico artwork – que confere rosto a esta violenta turbulência psicotrópica – aponta os seus créditos de autor ao inconfundível e mítico ilustrador Arik Roper. Deixem-se esporear, sacudir, afoguear e desvairar ao provocante, frenético, afrodisíaco e viciante som de Heavy Trip, e alcancem o seu final com as mãos apoiadas nos joelhos, extenuados, ofegantes, de cabeças rodopiantes e corpos manchados de fuligem celestial. ‘Liquid Planet’ é um portentoso álbum de contornos épicos capaz de acordar vulcões, erguer tsunamis, soltar avalanches e centrifugar furacões. Um registo titânico – de instrumentos em alucinada e desenfreada debandada – que nos atropela e excita sem qualquer moderação. Na brumosa ressaca desta experiência sobre-humana perscruto uma longínqua voz interior que me diz tratar-se mesmo do melhor álbum ano, e, muito dificilmente, não o será.

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