Arletta sentou-se em frente ao velho piano e amarrou os seus longos cabelos loiros. Num movimento elegante, corrigiu a colocação do seu corpo e descansou as suas mãos sobre as teclas do piano. A pele delicada do seu pescoço ficou intimidada com a respiração nervosa e profunda de alguém que se encostara na porta do seu quarto. Sentiu a presença do seu padrasto nas suas costas, com um “escalpelo” escarninho empunhado. Numa tentativa de se libertar daquelas amarras constrangedoras, Arletta olhou os verdes vales através da janela. Ouviu a harmonia dos pássaros e a doce entoação do vento. Inspirou-se. Suavemente fechou as pálpebras e as suas mãos começaram a talhar musicalmente “Piano Sonata nº 2” de Frédéric Chopin. Arletta fantasiou todo um reino mágico do outro lado das muralhas do seu castelo, onde um esbelto príncipe cavalgava incansavelmente por entre os intermináveis bosques na procura da sua amada. O seu rosto augusto, de pele rosada, figurava uma satisfação onírica, convocada pelo seu sonho. O seu padrasto permanecia atroz na sua retaguarda, mas Arletta atravessara as paredes frias daquele castelo, e conhecera, agora, um novo mundo lá fora.
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