segunda-feira, 14 de novembro de 2022

Review: 🦇 Death Trip - 'Mount Doom' (2022) 🦇

★★★★

Da cidade de Winnipeg (capital da província canadense de Manitoba) chega-nos uma das grandes surpresas musicais do ano. ‘Mount Doom’ é o mastodôntico álbum de estreia do jovem tridente ofensivo Death Trip – acabado de ser lançado através dos formatos LP e digital – e vem atestado de um nebuloso, fumarento, virulento e montanhoso Psychedelic Doom de forte odor canábico que gravita numa envolvente dança de forças com um electrizante, gorduroso, ostentoso e serpenteante Heavy Blues de estonteante toxicidade. A sua sonoridade encarvoada a trevosa negrura, locomovida a contrastadas velocidades e electrificada a sónica fervura, balanceia-se e esperneia-se com tentadora lubricidade, provocando no ouvinte uma febril adrenalina reproduzida em slow-motion. Conseguem imaginar uma endiabrada jam session entre Black Sabbath, Jimi Hendrix, Sleep, Earthless e Acid King? Se sim, acabam de pisar e sondar os místicos territórios dos canadianos Death Trip. De semblante esbranquiçado e pupilas dilatadas, mergulhamos nas abissais profundezas cósmicas de ‘Mount Doom’, embarcando numa enlouquecedora montanha-russa de entontecidas visões caleidoscópicas. São 37 minutos de selvática alucinação que tanto nos relaxa e alcooliza como sacode e euforiza sem qualquer moderação. Na constituição deste poderoso narcótico de propulsão sensorial e consagração espiritual vagueia uma guitarra titânica – de sotaque Iommi’esco e encrostada a vulcânica distorção – que se agiganta e robustece na ascensão de dominantes, obscurantistas, implacáveis e triunfantes riffs, e endoidece na condução de um psicotrópico furacão onde redemoinham delirantes, ácidos, escorregadios e berrantes solos Hendrix’eanos, balanceia um baixo umbroso, carrancudo, elástico e fibroso de sísmica reverberação, e bombardeia uma incisiva, tonitruante, galopante e propulsiva bateria de baquetas chamejantes. ‘Mount Doom’ é um álbum tremendamente empolgante, lascivo, altivo e viciante que me preenchera as medidas. Um registo de dimensão monolítica que nos sombreia, cativa e incendeia. Vai ser impossível ouvi-lo apenas uma vez, duas ou três. Banhem-se na borbulhante e urticante efervescência de Death Trip, e comunguem com transbordante e incessante entusiasmo um dos álbuns mais enfeitiçantes de 2022.

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