Do alto dos
seus trinta anos de existência – onde esta histórica banda de São Francisco,
Califórnia desovara seis álbuns e cimentara uma invejável reputação – os
titânicos Acid King acabam de lançar o seu muitíssimo ansiado 7º
trabalho de longa duração, gravado pelo afamado produtor Billy Anderson
(responsável pela produção de vultosas bandas como Sleep, The Melvins,
High on Fire, Neurosis, e Orange Goblin), intitulado ‘Beyond
Vision’ e promovido pela mão do selo americano Blues Funeral Recordings
nos formatos LP, CD e digital. Relegando para segundo plano o fumarento,
fogoso, acrimonioso e bolorento Stoner Doom que governara a sós estas
três décadas de Acid King, o remodelado quarteto californiano
aventura-se agora – pela primeira vez e, devo antecipar, de forma triunfante – na
enigmática negrura cósmica de um enfeitiçante, místico, ritualístico e embriagante
Psychedelic Doom que nos dilata as pupilas e as narinas, empalidece o
semblante, tomba o queixo e catapulta para os insondáveis territórios do espaço
alienígena. Banhada por uma pretura sufocante e magicada por um
experimentalismo intoxicante, a hipnótica, xamânica e intrigante sonoridade de ‘Beyond
Vision’ enterra a alma sedada do ouvinte numa profunda narcose e fá-la peregrinar
– sonâmbula – pelos embrumados e incensados trilhos serpenteados por um fumegante,
bailante e sagrado turíbulo. Encarvoados e ofuscados pela intensa pretura de Acid
King, somos farolizados e canalizados para os domínios meditativos da nossa
espiritualidade. Uma admirável liturgia astral, de odor oriental, que nos seduz
e prontamente converte em seus fiéis discípulos. Toda uma evasão consciencial à
medula do espaço sideral, driblando o abraço gravitacional de colossais astros
moribundos e naufragando pela sempiterna vacuidade cósmica. Deixem-se engolir
pela pantanosa toxicidade de uma guitarra druídica que se agiganta em monolíticos,
morfínicos, sísmicos e poderosos riffs locomovidos em slow-motion
e de onde são vertidos cortantes, ácidos, cintilantes e atordoantes solos de
corpos reptilianos, pela obscura ressonância bafejada por um impiedoso baixo de
linhas volumosas, densas, tensas e polposas, pela explosiva impetuosidade de
uma bateria tribal, vergastada a batidas vigorosas, altivas, incisivas e estrepitosas,
pela luzência bruxuleante de uma voz messiânica, melódica e ecoante, e ainda pela
sónica alquimia exorcizada de teclados e sintetizadores. A magnífica ilustração,
onde os nossos olhos se perdem e embalam na vertigem, aponta os seus créditos
autorais ao inconfundível artista neerlandês Maarten Donders, que
traduzira com espantosa exactidão para o campo visual tudo aquilo que a música
de ‘Beyond Vision’ edifica no imaginário do ouvinte. Este é um álbum verdadeiramente demolidor que nos encarcera num febril estádio de alucinógeno torpor. Uma obra sublimemente
catártica e transformadora que não deixará ninguém indiferente. Que regresso!
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