Ouve-se o
badalar dos sinos da capital italiana que assinala o nascimento do novíssimo
álbum do tridente romano Wizard Master, intitulado ‘Ablanathanalba’ e lançado sob os formatos LP e
digital pelo selo discográfico, seu compatriota, Electric Valley Records.
Embruxado por um narcotizante, cadavérico, luciférico e intrigante Proto-Doom
de indiscreta inspiração trazida de Electric Wizard, e intoxicado por um
enfeitiçante, nebuloso, ocioso e atordoante Heavy Psych a fazer recordar
Uncle Acid & The Deadbeats, esta obra dos italianos é um irresistível incitamento à selvajaria, semeando e disseminando o caos e o horror. De motores barulhentos e vibrantes, tubos
de escape salivantes e fumegantes, e punhos rolantes à alucinante boleia de
vistosas Choppers que cruzam e atormentam as poeirentas estradas do deserto, os rebeldes
Wizard Master deixam um inapagável rasto de negrura, perversão e diabrura. Este poderoso
álbum de alma umbrosa, pecaminosa e irreverente – que poderia ser a
banda-sonora perfeita de clássicos filmes de culto como MotorPsycho!
(1965, Russ Meyer), The Wild Angels (1966, Roger Corman), The Born Losers
(1967, Billie Jack), Hells Angels on Wheels (1967, Richard Rush) e Hell’s
Angels ’69 (1969, Lee Madden) – persegue, cerca e embrulha o ouvinte numa terrífica,
hermética e inquebrável hipnose que o engole numa enlouquecedora, febril e
infindável espiral. Uma atmosfera verdadeiramente sufocante, fantasmagórica e
inflamante que nos trava a respiração, empalidece o semblante, dilata as
pupilas e proíbe de pestanejar. Embarquem nesta motorizada cavalgada infernal –
que arranca ferozmente no incandescente asfalto por entre gargalhadas sádicas, olhares
belicosos, gritos desesperados, correrias desenfreadas e um penetrante odor a gasolina –, locomovida e
enegrecida por uma guitarra rastejante de gordurosos, bolorentos, vagarosos e purulentos
riffs de entoação Black Sabbath’ica – electrificados pelo chamejante, áspero
e crocante efeito Fuzz –, de onde esvoaçam solos avinagrados, luminosos,
oleosos e encaracolados, um baixo de intensidade sísmica que murmura linhas ventosas,
possantes, bafejantes e fibrosas, uma flamejante bateria vergastada a
ritmicidade explosiva, forte, pausada e incisiva, um teclado esotérico de mugidos
luciféricos, hipnóticos e arrepiantes, e uma voz demente, ácida, vampírica e erodente
que ecoa e amaldiçoa pelas distópicas paisagens de ‘Ablanathanalba’. São
47 minutos corroídos por uma ardência altiva, trevosa e nociva que nos mumifica,
terrifica e sepulta num sarcófago. Um registo críptico, fúnebre e morfínico –
de exalações esverdeadas e odores putrefactos – que nos profana a
religiosidade. Uma negra e apocalíptica liturgia de inescapável fascinação que nos envolve, revolve,
demoniza e devolve às ruas. Conspurquem-se nele.
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