Proveniente da
cidade canadense de Winnipeg (capital da província de Manitoba)
chega-nos a odorosa, densa e esponjosa neblina do sexteto Holy Void com
a promoção do seu segundo trabalho de longa duração, depois de cinco anos em
produção, intitulado ‘All Will Be Revealed In Time’ e lançado sob os
formatos LP e digital. Musicado por uma enfeitiçante simbiose que contempla um cativante,
caramelizado e apaixonante Alternative Rock, um magnetizante,
intoxicante e espacial Psychedelic Rock e um sonolento, melancólico e pachorrento
Shoegaze, este segundo álbum de Holy Void estagna o ouvinte nos
braços de uma entorpecedora nebulosidade mental de cega brancura que coloca a nu
toda a sua permeabilidade emocional. A sua sonoridade hipnótica, misteriosa, anestésica
e invernosa – de roupagem gótica – adensa-se nas asas de acinzentados,
demorados e esbatidos temas que nos roubam o ar do peito, empalidecem a tez, comovem
e embaciam a lucidez. Uma perpétua madrugada orvalhada – de tímida luzência e bruma
cerrada – que nos humedece, enregela e esmorece. Um sempiterno crepúsculo mudo
e nevado que nos anoitece o espírito e o tinge de açucarada nostalgia. ‘All
Will Be Revealed In Time’ é um álbum tristemente belo que nos seduz, sensibiliza,
alcooliza e conduz a um imperturbável estádio de pura letargia. Uma agradável
caminhada pelo embrumado universo onírico, farolizados por duas bailantes guitarras
– mergulhadas no fantasmagórico efeito Reverb – de riffs tocantes
e solos uivantes, um murmurante baixo de linhas saltitantes, uma expressiva bateria
de galope estimulante, um harmonioso violino de arrepiantes bailados, um murchoso
violoncelo de ociosos mugidos e vocais leves, melodiosos e espectrais. Uma fúnebre
e solitária digressão pela terra queimada que pavimenta o lado eclipsado do
nosso Ser de olhos arremessados na longínqua direcção da resplandecente salvação.
‘All Will Be Revealed In Time’ orquestra a lenta progressão da
desesperança ao alento, da nebulosidade à alvura, da obscuridade ao brilho, da prostração
à emancipação. Um sublimado sonho musicado em slow-motion onde bocejamos, nos
espreguiçamos demoradamente, perdemos e encontramos. Esta é uma obra verdadeiramente libertadora,
milagrosa, regeneradora e transcendente. Neste espantoso registo reside um tema imensamente meigo,
meloso e divinal que me sorve, derrete e comove sempre que o escuto (“In The
End I Am Nothing Anyways”), e em mim ecoa a inabalável certeza de que é
dele uma das mais desejadas posições na lista dos melhores álbuns florescidos
em 2024. Banhem-se e curem-se na sagrada vacuidade deste venerável sexteto canadense.
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