segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

Review: ⚡ Space Coke - 'Lunacy' (2022) ⚡

★★★★

Da cidade costeira de Savannah (situada no estado americano da Geórgia) chega-nos ‘Lunacy’, o novíssimo álbum do irreverente quarteto Space Coke, recentemente lançado pela mão da Forbidden Place Records através do formato digital (com a possibilidade de download gratuito) e de uma ultra-limitada edição em CD-R (que conta com apenas 100 exemplares disponíveis). Enegrecido, chamejado e esconjurado por um trovejante, nebuloso, trevoso e intoxicante Psychedelic Doom de carregadas feições em perfeita simbiose com um demoníaco, enigmático, sorumbático e imperioso Proto-Metal de pagã liturgia Black Sabbath’ica, este ritualístico ‘Lunacy’ prende, remexe e enlouquece o ouvinte numa febril psicose. A sua sonoridade vampírica, fogosa, umbrosa e distópica – tingida a e fervida a efervescente negrura – agiganta-se e centrifuga-se num mastodôntico tsunami que nos varre a lucidez e em nós instaura toda uma intensa e furiosa embriaguez. Naufragados na intimidade de uma inescapável narcose, somos manchados, sacudidos e enlutados pelas luciféricas ressonâncias emanadas por uma guitarra profana de rosnantes, rugosos, majestosos e intoxicantes Riffs – consumidos pelo crepitante efeito Fuzz, e que se replicam o suficiente para nos absorver numa enfeitiçante hipnose – e borbulhantes, fantasmagóricos, claustrofóbicos e alucinante solos que se remoinham numa louca dança, um monolítico baixo de linhas densas, espadaúdas, musculadas e tensas, uma pujante bateria pregueada a altiva, incisiva e galopante ritmicidade, um dramático órgão de mugidos intrigantes, enfáticos, magnéticos e arrepiantes, e ainda uma voz robotizada, perversa, tumular e acidentada que vem à tona desta imersiva cerimónia de adoração ocultista para nos narrar envolventes contos de uma sociedade doentia, arbitrária e disfuncional. Este é um álbum verdadeiramente virulento, diabólico e obsceno. Um registo oxigenado a devassidão que nos contamina e amotina do primeiro ao derradeiro tema. Emporcalhem-se e tumultuem-se na lodosa, corrosiva e acintosa negrura de Space Coke, e vivenciem com plena entrega toda a vertiginosa propulsão e vistosa conflagração ao longo destes incansáveis, impudicos e indomáveis 40 minutos de duração. Não vai ser nada fácil recuperar disto.

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