terça-feira, 2 de dezembro de 2025

💀 Sonic Blast 2026 💀

Review: 🚀 Ring Van Möbius - 'Firebrand' (2025, Apollon Records) 🚀

★★★★

É ainda assoberbado por sentimentos contrastantes, mas contrabalançados, que redijo estas choradas, sinceras e apaixonadas palavras sobre o novo, surpreendente e magistral álbum dos noruegueses Ring Van Möbius, intitulado ‘Firebrand’ e editado pela companhia discográfica local Apollon Records nos formatos LP, CD e digital. Se por um lado sinto o ardente entusiasmo por vivenciar de ouvidos salivantes, olhos relampejantes e batimentos cardíacos galopantes toda a imperial majestosidade daquela que se perfila como a obra suprema de um dos meus grupos favoritos da modernidade, por outro sinto em igual dose a gélida tristeza de constatar que se trata mesmo do derradeiro álbum produzido por este talentoso tridente nórdico (anúncio oficializado pelo próprio) que, lamentavelmente, desta forma, regressará ao estado de total hibernação em que aparentemente já se encontrava antes desta sua inesperada aparição com um novíssimo álbum em mãos. Pensado, esboçado e executado em total segredo, ‘Firebrand’ é um grandioso, melancólico, erudito, mediévico e glorioso álbum de criação conceptual e gravação analógica, dominado por um teatral, melódico, dramático e sensacional Prog Rock de perfumados ares sinfónicos que colhe inspiração em clássicas referências britânicas da dourada década de 1970 como Emerson, Lake & Palmer, Gentle Giant, Genesis, Van der Graaf Generator, Peter Hammill e Egg. Harmoniosa, principesca, aventurosa, romanesca e ostentosa, a egrégia sonoridade desta obra-prima final de Ring Van Möbius vem pincelada e embelezada por elaboradas, cerebrais, esculturais e condimentadas composições que nos mantêm de fascinação acordada e a elas firmemente atrelados do primeiro ao derradeiro minuto. Compartimentado em três expressivas, inventivas, extensas e expansivas faixas, ‘Firebrand’ é um álbum imensamente refinado, refrescante, extravagante e rebuscado que não deixará ninguém recostado à indiferença. Inundado por uma rica profusão de fantásticos teclados que tanto se passeiam graciosa e envaidecidamente por frondosos e verdejantes jardins de poéticas, estéticas e sonhadoras melodias quiméricas, como se transcendem em polposos, monumentais e aparatosos mugidos de arrogante grandiosidade e transbordante misticidade, e gritam efervescentes, ferventes e ácidas sirenes cósmicas que nos deslumbram e ofuscam com um intenso brilho estelar, sombreado por um possante, protuberante e obeso baixo de magnetizantes, sumarentas e bailantes linhas escritas a negrito, galopado por uma bateria estonteante, estimulante e deliciosamente jazzística de ritmicidade acrobática, livre, leve e enfática, e trauteado por uma voz aristocrática, cénica, melodiosa e carismática que lidera com desarmante sentimento e distinção toda esta impressionante caravana circense, ‘Firebrand’ é um registo monumental, de contornos épicos, que extrapola as costuras fronteiriças da perfeição. Emblemático, desafiante, triunfante e epopeico, este último álbum da formação domiciliada na cidade costeira de Kopervik encerra com chave de ouro o legado imortal deixado por Ring Van Möbius e projecta esta sua derradeira e irretocável criação para o epicentro da sangrenta contenda pela conquista dos lugares cimeiros da listagem que medalhará os melhores álbuns editados em 2025. Este é o capítulo final de uma banda prodigiosa e intemporal que hoje sopra e extingue a chama da sua história futura, estando ela, presentemente, no pináculo da sua criatividade musical. Até sempre, Ring Van Möbius. Obrigado pela música.

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sexta-feira, 28 de novembro de 2025

📺 Deep Purple, 1971

Review: ⚜️ Moundrag - 'Deux' (2025, Spinda Records / Stolen Body Records) ⚜️

★★★★

Depois do impactante álbum de estreia ‘Hic Sunt Moundrages’ (lançado no Outono de 2022 e aqui examinado), os irmãos Goellaën reaparecem novamente debaixo dos holofotes com o tão aguardado arremesso do seu segundo trabalho de longa duração, denominado ‘Deux’ e editado sob as formas LP, CD e digital através da parceria entre a espanhola Spinda Records e a britânica Stolen Body Records. Arquitectado e edificado entre 2022 e 2024, esta nova obra do irreverente power-duo francês Moundrag traz-nos a aparatosa, faiscante e gloriosa combinação entre um poderoso, dominante, exuberante e majestoso Heavy Prog de rutilante brilho vintage e um musculoso, melódico, dramático e vistoso Hard Rock de estilosa roupagem clássica. De bussola apontada à dourada década de 1970 onde se escutam e identificam ecos de bandas lendárias como Rush, Deep Purple, King CrimsonAtomic Rooster, Emerson, Lake & Palmer, Uriah Heep e a suíça Island, assim como partilhando a genética de referências da contemporaneidade como os escandinavos Hällas, Horisont, Hypnos e Svartanatt e os canadianos Freeways, a sonoridade ostentosa, ornamentada, requintada e cerebral de ‘Deux’ – emoldurada por uma estética medieval e oxigenada por uma ambiência cerimonial –, tem a capacidade de nos situar nos enredos de fascinantes narrativas fabulares trazidas do universo ancestral. São 37 minutos impecavelmente musicados por virtuosas, arrogantes, opulentas e grandiosas composições que nos sombreiam, impressionam e conquistam. Baloiçando entre portentosas cavalgadas de esporas ensanguentadas e lamuriosas baladas de sentimentalismo transbordante, este irretocável registo de Moundrag é uma iguaria de classe gourmet, capaz de satisfazer os desejos de requinte dos ouvidos mais exóticos e exigentes. Sem menosprezar as duas mãos cheias de membros adicionais que juntos conferem a este sublime ‘Deux’ toda uma mística aura orquestral, o reinante protagonismo está naturalmente apontado aos irmãos Camille e Colin – modistas desta obra verdadeiramente escultural – que escorraçam todos os seus tormentos ao volante de um prestigioso órgão – repleto de um carisma litúrgico – que se agiganta e meneia em formosos, enfáticos, enigmáticos e imperiosos bailados, uma bateria assombrosa que se incendeia em extravagantes, alucinantes, diabólicas e circenses acrobacias jazzísticas, e duas vozes aparentadas e entrelaçadas de tez mélica, harmoniosa, sedosa e poética. Este é um álbum erudito, temperado a fineza, destreza e delicadeza. Um registo imensamente incentivante e eloquente, portador de uma esdrúxula elegância que não deixará ninguém indiferente. Deixem-se inundar e enfeitiçar pela musicalidade excepcional deste talentoso dueto francês que preenche qualquer palco. De destacar, por fim, que este cabalístico ritual vai andar em digressão e exposição europeia durante a primeira metade de 2026, e Portugal conta com duas datas confirmadas (Porto e Barcelos). Imperdível.

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terça-feira, 25 de novembro de 2025

Nick Drake - "Day Is Done" (1969)

Tangerine Dream - "Ricochet" (1975)

Review: 🦅 Yawning Man - 'Pavement Ends' (2025, Heavy Psych Sounds) 🦅

★★★★

Na iminência de completar quarenta anos de existência, a lendária formação desértica Yawning Man acaba de editar o seu 10º álbum intitulado ‘Pavement Ends’, lançado nos formatos LP, CD e digital com o carimbo da companhia discográfica romana Heavy Psych Sounds. Depois de o anterior ‘Long Walk of the Navajo’ (aqui descrito e elogiado) ter contado com o baixista convidado Billy Cordell, este novo trabalho assinala o regresso do cofundador Mario Lalli ao domínio das quatro cordas, perfilando-se lado a lado com o seu parceiro de longa data Gary Arce na guitarra e com o baterista Bill Stinson que desde há dez anos empunha as baquetas da histórica banda sediada na cidade californiana de Palm Desert. Num equilíbrio circense entre um arenoso, radioso, fogoso e exótico Desert Rock de trajes étnicos e um melancólico, expansivo, emotivo e cinematográfico Post Rock de condimentos sidéricos, a árida, mística, relaxada e atmosférica sonoridade de ‘Pavement Ends’ convida o ouvinte para uma visita guiada (e soberbamente musicada) pela inefável, transformadora e libertadora majestosidade do deserto californiano. Reflexivo, alucinógeno, etéreo e lenitivo, este novo registo de Yawning Man tem a capacidade de sedar, adormecer, embevecer e estacionar o ouvinte num perfeito estádio de sonambulismo. Sobrevoando um incomensurável tapete de areias finas e bronzeadas onde se erguem imponentes Yucca brevifolia’s (árvores de Josué) que se espreguiçam na vertiginosa direcção de um imenso e límpido céu azul turquesa, farolizado por um endeusado Sol de aquecida e amarelecida fulgência, e repousam idosas e monolíticas montanhas rochosas que recortam o intangível horizonte, observamos – atentos e fascinados – todo o divino esplendor desértico através do olhar vigilante de uma águia Dourada. São 38 minutos de constante encandeamento. De lucidez embaciada, olhar selado, sorriso desenhado no rosto e cabeça pendulada de ombro em ombro, vagueamos, despreocupada e livremente, pela hipnótica, deslumbrante, apaixonante e psicotrópica musicalidade de ‘Pavement Ends’ à irresistível boleia de uma guitarra ácida de enfeitiçantes, intoxicantes, repetitivos e ecoantes riffs que se encavalitam entre si numa delirante escadaria em espiral, e solos uivantes, escorregadios, fugidios e esvoaçantes que se multiplicam e ressoam pela infinidade fora, um baixo viril de possantes, carnudas, empoladas e pulsantes linhas que se desenham a negrito, e uma bateria tribalista de simétricos, galopantes, cativantes e magnéticos ritmos que tiquetaqueiam com irretocável precisão toda esta maravilhosa digressão pelos longos e sinuosos desfiladeiros da nossa alma. A vistosa ilustração que embeleza o suporte físico do álbum aponta os seus créditos de autor à talentosa artista local Diane Bennett. De essência puramente instrumental, ‘Pavement Ends’ é uma obra sacramental e regeneradora que nos desobstrói a canalização sensorial e purifica o universo espiritual. Um registo verdadeiramente sensacional que nos desamarra da existência artificial e conduz ao paraíso natural. Banhem-se na sua luzência seráfica.

quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Review: 🛶 Kronstad 23 - 'Sommermørket' (2025, El Paraiso Records) 🛶

★★★★

Proveniente do grandioso reino do Jazz norueguês, a talentosa formação Kronstad 23 acaba de lançar o seu segundo trabalho de longa duração intitulado ‘Sommermørket’ e editado pela consagrada companhia discográfica dinamarquesa El Paraiso Records através dos formatos LP, CD e digital. Este quarteto nórdico (que aqui conta com o nutritivo contributo de dois saxofonistas convidados) magica uma aprazível alquimia sonora que associa um viajante, exótico, extravagante e catártico Cosmic Jazz que nos electrifica a corrente espiritual a um elegante, imersivo, contemplativo e deslumbrante Post-Rock de cinematográfica beleza invernal e ainda a um hipnótico, colorido, entretido e caleidoscópico Psychedelic Rock de alucinógena ambiência sideral. Norteada por uma experimental, misteriosa, charmosa e intelectual atmosfera que se vai desinibindo e desvendando com a simbiótica progressão instrumental, a enfeitiçante, explorativa, reflexiva e apaixonante sonoridade de ‘Sommermørket’ embrulha o ouvinte num reconfortante manto estelar e o faz mergulhar no abismo do Cosmos pulsante. Sedutora, transcendental e libertadora, esta irretocável obra dos noruegueses baloiça entre anestésicas passagens embaciadas a embriagada placidez e dinâmicos momentos de instrumentos dialogantes. Navegado por uma maravilhosa maestria instrumental e perfumado por uma delicada ambiência oriental, este novo álbum de Kronstad 23 tem o raro dom de nos absorver, embevecer e adormecer num súbito desmaio de prazer. Arquitectado a desarmante beleza e envernizado a doce e amarelecida delicadeza, o terapêutico ‘Sommermørket’ faz-nos sorrir, meditar e içar as velas ao sabor dos ventos que sobrevoam os infindáveis mares do universo onírico. Serpenteiem-se na elasticidade reptiliana de uma guitarra sultana que baila magnéticos, envolventes e atmosféricos acordes condimentados a misticismo. Oscilem à boleia de um ondulante baixo de linhas encaracoladas, sombreadas e pulsantes. Delirem com as admiráveis acrobacias de uma requintada bateria tiquetaqueada a um toque leve, livre e lustroso. Fantasiem com os espirituosos bailados de quiméricos teclados que nos fazem duvidar da realidade e com a vistosa caligrafia da sedutora sitar que no derradeiro tema nos faz viajar no tempo até aos rosados crepúsculos da velha Pérsia. Obscureçam-se na formosura nocturna de veludosos, melancólicos e glamorosos saxofones que ressoam e ecoam em quatro dos sete temas que compartimentam este disco escultural. Arejado, intimista, sentimentalista e refinado, ‘Sommermørket’ é mareado por um irresistível groove movediço que nos seduz, massaja e conduz ao paraíso. Um dos grandes álbuns nascidos em 2025 está aqui, nos frondosos jardins mentais de Kronstad 23. Derretam-se nele.

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