quinta-feira, 15 de maio de 2025
Review: ⚡ Madmess - 'The Third Coming' (2025, Gig.Rocks!, Kozmik Artifactz & Glory or Death Records) ⚡
Depois do seu
homónimo álbum de estreia (lançado em 2019 e aqui revisto) e do segundo ‘Rebirth’
(lançado em 2021 e aqui examinado), o potente power-trio Madmess
– uma das bandas portuguesas mais excitantes da actualidade com presença
habitual em alguns dos mais importantes festivais europeus – lança agora o seu
muito aguardado terceiro álbum de estúdio denominado ‘The Third Coming’
e editado através da parceria entre as companhias discográficas Gig.Rocks!
(responsável pela distribuição em solo português), Kozmik Artifactz
(responsável pela distribuição na Alemanha e restantes países europeus) e a Glory
or Death Records (responsável pela distribuição em território norte-americano)
nos formatos LP (este ultra-limitado a uma apelativa primeira prensagem de
apenas 300 cópias disponíveis) e digital. Locomovido por um electrizante, fibroso,
rugoso e intoxicante Heavy Psych de alta voltagem, torneado e apimentado
balanço Blues, passageira nebulosidade divina, astral e intimista, e uma
indiscreta tracção setentista que homenageia dinossauros nipónicos como Blues
Creation, Samurai, Flower Travellin' Band e Speed, Glue
& Shinki, e partilha a genética de bandas contemporâneas como Earthless,
Petyr, Elder, Joy, Lecherous Gaze, Danava e Witch,
este novo álbum de Madmess tem o dom de centrifugar o cosmos e disparar
o ouvinte numa enlouquecedora, vertiginosa e transformadora odisseia galáctica,
driblando o abraço gravitacional de massivos planetas estacionados na solitária
noite cósmica, penetrando o empoeirado tecido de fantasmagóricas nebulosas que
vagueiam pela vacuidade sideral, surfando os anéis de Saturno e escoando através
da garganta profunda de poderosos buracos negros que tudo engolem e distorcem. A sua fogosa,
venenosa, alucinógena e portentosa sonoridade de colorida pele camaleónica –
fervida a intensa combustão e electrificada a alta tensão – é esporeada e
vergastada em sónicas, frenéticas e apoteóticas galopadas de instrumentos em alucinada
debandada e acelerados a alta rotação, e ocasionalmente embriagada por etéreas,
anestésicas e contemplativas passagens de clima paradisíaco e instrumentos adormecidos
e compenetrados em sublimados diálogos. Um pêndulo que nos viaja da vulcânica
euforia à xamânica letargia. ‘The Third Coming’ é simultaneamente uma
injecção de adrenalina, outra de morfina e todo um mastodôntico tsunami
de endorfinas que nos invade a psique. O meu registo de eleição deste tridente natural
da cidade do Porto que hoje ostenta um invejável ponto de maturação.
Mergulhem, destemidamente, no olho deste impiedoso furacão que tudo varre à alucinante
boleia de uma estupenda guitarra – afogueada pela fritura do efeito Fuzz
e alcoolizada pelo delirante efeito Wah-Wah – que se manifesta em ciclónicos,
serpenteantes, empolgantes e titânicos riffs de onde esvoaçam orgásmicos,
ácidos, caleidoscópicos e prismáticos solos, um baixo pujante de bafo nervudo,
tenso, denso e sisudo, uma bateria relampejante, sísmica, bombástica e provocante de ritmos
altivos, buliçosos e propulsivos, e uma voz de carisma liderante e essência
espectral que ecoa por todas as regiões da infinidade espacial. Este é um álbum imensamente
sedutor, catártico e conquistador. Uma obra de beleza e destreza consumadas que
me prendera e ofuscara do primeiro ao derradeiro tema. Devo ainda estender as mais elogiosas apreciações ao fantástico, detalhado, caprichado e metafórico artwork –
superiormente ilustrado pela talentosa artista portuguesa Lory Cervi –
que me remete para a célebre cena do jogo de xadrez com a Morte no épico filme “Det
sjunde inseglet” (1957) do famoso realizador sueco Ingmar Bergman. ‘The
Third Coming’ é uma avalanche psicotrópica que nos persegue e alcança, um forte
sedativo que nos derrete e embevece, e um potente afrodisíaco que nos faz cravar
os dentes nos lábios e salivar compulsivamente. Um dos mais grandiosos álbuns
produzidos em 2025 está aqui, no vistoso, esfuziante e glorioso regresso de Madmess.
Inflamem-se e deleitem-se nele.
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quarta-feira, 14 de maio de 2025
terça-feira, 13 de maio de 2025
Review: 🎨 Lars Fredrik Frøislie - 'Gamle Mester' (2025, Karisma) 🎨
Dois anos após o
lançamento do seu mirífico álbum de estreia denominado ‘Fire Fortellinger’
(aqui trazido e imensamente elogiado), o talentoso multi-instrumentista
norueguês Lars Fredrik Frøislie (teclista de
Wobbler) edita agora o seu segundo álbum a solo. Intitulado ‘Gamle Mester’ (título derivado de um idoso
Carvalho localizado em Krødsherad Prestegård – árvore emblemática que também servira
de inspiração para a criação de um inspirado poema da autoria de Jørgen Moe (“Den
Gamle Mester”, 1855) – que preenche com exclusividade toda a temática deste mitológico,
poético e histórico álbum – detentor de um desarmante brilhantismo composicional
–, representando a sabedoria, a resiliência e a resistência à cáustica força do
tempo) e promovido pela carismática companhia discográfica norueguesa Karisma
Records através dos formatos LP, CD e digital, este novo trabalho
excepcional deste inventivo e produtivo músico sediado na cidade-capital Oslo
conta com as enriquecedoras colaborações do baixista Nikolai Hængsle (Elephant9
e Needlepoint) – que já fizera parte do restrito elenco responsável pela
produção do primeiro registo – e do flautista Ketil Einarsen (Ex-Jaga
Jazzist, Weserbergland e White Willow). Brilhantemente pincelada
por um rural, romântico, nostálgico e medieval Progressive Rock de principesco traje sinfónico, vistoso
e virtuoso estilo barroco e emoldurado por um agradável, bucólico e afável
clima Folk, que homenageia clássicas e pioneiras referências do género como
Banco Del Mutuo Soccorso, Le Orme, Premiata Forneria Marconi,
Locanda delle Fate, Museo Rosenbach, Il Balletto di Bronzo,
Yes, Renaissance, Gentle Giant, Gryphon, Emerson,
Lake & Palmer, Jade Warrior, Camel, Van Der Graaf
Generator e Ougenweide, a pastoral, mediévica, quimérica e outonal musicalidade
de ‘Gamle Mester’ convida o ouvinte a testemunhar e personificar vivências ancestrais
há muito caídas em desuso, adormecidas e esquecidas no tempo. Capitaneado por sonhadoras,
relaxadas, perfumadas e enternecedoras passagens orvalhadas a deslumbrante magia
ambiental, e triunfantes, apoteóticos, dramáticos e imponentes crescendos que
ostentam toda uma superiora maestria instrumental, esta maravilhosa obra-prima
de Lars Fredrik Frøislie faz-nos sonhar
acordados, embriagados, de espírito petrificado, sorriso desabrochado e olhar
empoeirado de matéria estelar. Na génese desta enfeitiçante fábula impecavelmente
orquestrada reside toda uma sedutora, ostentosa e arrebatadora profusão de melodiosos,
sumptuosos e dialogantes teclados, uma bateria soberbamente jazzística de
ritmos enfáticos, atraentes e acrobáticos, um baixo tenso, denso e sombreado de
acentuada presença, uma flauta fascinante de sopros aveludados, afinados e
elegantes, e uma voz trovadora, profética e altiva que (en)canta na sua língua
nativa. ‘Gamle Mester’ representa mais uma expedição gloriosa deste
dracar liderado a um só grito. Uma obra verdadeiramente sublime – de consumada
beleza – que vive entre a reluzente claridade da aurora e a rosada luz crepuscular.
Um álbum de audição e aquisição obrigatórias a todos os entusiastas e colecionadores
do género. Deixem-se capturar, apaixonar e extasiar por esta aventurosa, opulenta
e majestosa epopeia de Lars Fredrik Frøislie sem o mais residual desejo de
dela regressar.
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segunda-feira, 12 de maio de 2025
sábado, 10 de maio de 2025
sexta-feira, 9 de maio de 2025
Review: 🏴☠️ Soft Ffog - 'Focus' (2025, Is It Jazz? Records) 🏴☠️
Três anos após o
lançamento do seu impactante álbum de estreia (aqui descrito e aqui
galardoado com o título de melhor disco nascido nesse mesmo ano), o talentoso
quarteto norueguês Soft Ffog está finalmente de regresso com a
apresentação do seu tão ansiado segundo trabalho de longa duração intitulado ‘Focus’
e editado pela jovem e irreverente companhia discográfica local Is It Jazz? Records
através dos formatos LP, CD e digital. Deste novo álbum da banda domiciliada em
Oslo tudo esperava e – devo antecipar – tudo ele me deu. Depois de um
primeiro registo nutrido a altivez, alta densidade, sobranceria e rigidez, ‘Focus’
exibe o lado mais cerebral, relaxado, elaborado e sentimental de Soft Ffog.
O seu Yin-Yang foi, desta forma, alcançado. Norteada por um imaginativo, aprumado, intrincado e atractivo
Jazz-Fusion de comportamentos catatónicos envolvido e revolvido num desavergonhado
flirt com um afectivo, esponjoso, glorioso e expansivo Progressive
Rock de ares sinfónicos, a extravagante, sofisticada, sublimada e
mirabolante musicalidade de ‘Focus’ presta uma portentosa homenagem ao
que de melhor brotara dentro dos universos Jazz e Progressivo no frondoso
jardim setentista. Colorido, luminoso, odoroso e entretido, esta irretocável obra-prima
de Soft Ffog tem o raro dom de agarrar, cativar e enlevar o ouvinte do
primeiro ao derradeiro minuto. Ainda que as denominações atribuídas aos seus
temas possam sugerir uma influência descarada de bandas como Camel, Focus
e Jimi Hendrix (?), é nas paisagens sonoras de egrégias referências como Frank
Zappa (das eras ‘Hot Rats’, ‘Waka / Jawaka’ e ‘The Grand
Wazoo’), Brand-X, Caravan, Yes, Genesis, Gentle
Giant, King Crimson, Soft Machine, Hatfield and the North
e Colosseum que encontro maior semelhança com a estonteante, maravilhosa, maviosa e
triunfante sonoridade de ‘Focus’. Compartimentado em quatro fascinantes,
apaixonantes e extensas faixas – superiormente capitaneadas por desafiantes,
labirínticas, dramáticas e impressionantes composições condimentadas a escultural formosura,
tricotadas a máxima precisão e elegantemente trajadas a tecido respirável de
alta-costura – este novo trabalho dos virtuosos escandinavos extravasa as estremaduras
da perfeição. De agradável clima Canterbury’esco, aura fabular e natureza
novelesca, somos levemente alcoolizados pela harmoniosa maestria destes “Jazz
Cats”, massajados pela sua refinada subtileza e levados, integralmente deslumbrados,
pelas verdejantes e sedutoras planícies que se estendem e espreguiçam até ao
revoltoso e impiedoso mar onde naufragamos. Seráfica, leve, livre e mágica, a sumptuosa sonoridade de ‘Focus’
é brilhantemente cozinhada por uma guitarra magistral de camaleónicos,
miraculosos, faustosos e apoteóticos riffs de onde são vertidos angulosos,
assombrosos, esdrúxulos e vertiginosos solos, uma bateria sensacional a galope
de ritmos alucinantes, acrobáticos, pirotécnicos e excitantes, um baixo magnetizante
de reverberação elástica, sombreada, encorpada e ondulante, e um teclado etéreo
de melodias quiméricas, coloridas, perfumadas e sidéricas. De distribuir ainda
elogiosas apreciações pelo heroico artwork – distintamente ilustrado
pelo prendado artista norueguês Einar Evju – que ajuda a galvanizar e
imortalizar este inatacável álbum de Soft Ffog. Percam-se e encontrem-se
por entre a espalhafatosa desarrumação e charmosa arrumação de ‘Focus’.
Este é um registo de contornos épicos onde a mais caprichosa tecnicidade é
posta ao serviço da mais apolínica música. Não vai ser nada fácil arredar esta insuperável obra
do primeiro lugar na listagem dos melhores de 2025.
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quinta-feira, 8 de maio de 2025
quarta-feira, 7 de maio de 2025
terça-feira, 6 de maio de 2025
Review: 🍄 The Crystal Teardrop - '... Is Forming' (2025, Rise Above) 🍄
Do Reino Unido chega-nos a colorida acidez destilada pela jovem e irreverente banda The Crystal Teardrop que nos apresenta o seu jovial álbum de estreia intitulado ‘… Is Forming’, editado pela influente companhia discográfica londrina Rise Above Records através dos formatos LP, CD e digital. Cromatizada por um caleidoscópico, meloso, harmonioso e exótico Psychedelic Pop, ritmada por um provocante, assanhado, animado e dançante Garage Rock e climatizada por um envolvente, pastoral, devocional e sorridente Acid Folk, a analógica, ensolarada, florida e estereofónica musicalidade de The Crystal Teardrop representa uma bonita carta de amor à segunda metade dos vívidos 60’s, onde comunga carismáticas influências desse fértil solo temporal como Jefferson Airplane, Love, Shocking Blue, The Mamas & The Papas, Ultimate Spinach, The Byrds, The Velvet Underground & Nico e The Peanut Butter Conspiracy. Temperado com ingredientes da culinária indiana e arejado pela salgada brisa californiana, este fantasista e revivalista ‘… Is Forming’ provoca no ouvinte ilusões, alucinações, sinestesias, delírios místicos, alterações da noção temporal e espacial, perda do controle emocional, um sentimento de bem-estar, experiências de êxtase, euforia e uma grande sensibilidade sensorial. Um ácido lisérgico que se dissolve nas nossas línguas, dilata as nossas pupilas e expande a nossa consciência. Sensual, espiritual, resplandecente e estival, este primeiro registo do quinteto localizado no centro de Inglaterra não dá descanso às nossas glândulas salivares. Uma açucarada, frutada e irresistível guloseima – de consumo impróprio para diabéticos – que nos vicia, delicia e fascina ao longo de uma dúzia de agradáveis, apaixonantes e dançáveis canções. Idílico, catártico, arrebatador e prismático, ‘… Is Forming’ é um álbum paradisíaco que nos derrete de satisfação. Um oásis nirvânico sublimemente musicado por uma voz liderante de tez aveludada, amarelecida e caramelizada, duas guitarras alucinógenas de esponjosos, cativantes e luminosos acordes e solos escorregadios, serpenteantes e fugidios, um baixo groovy de linhas ondeantes, elásticas e magnetizantes, uma bateria descomplicada de ritmos mexidos, entretidos e galopantes, e um mágico teclado que lhe confere toda uma aura romancista, sideral e utopista. Dispam-se de timidez e avancem, confiantes, para o meio desta festiva pista de dança amuralhada por um estonteante jogo de espelhos, vivificada por cores pulsantes e banhada por uma delirante e torrencial chuva de purpurina cintilante. The Crystal Teardrop é uma ofuscante radiação de afago sensorial e psicotrópica coloração que nos cega, deslumbra e inebria de pura ataraxia. Bronzeiem-se e prazenteiem-se na sua seráfica luzência, e dancem, compenetrados e inundados em suor, até que as luzes se apaguem.
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