quarta-feira, 6 de novembro de 2024
terça-feira, 5 de novembro de 2024
segunda-feira, 4 de novembro de 2024
sábado, 2 de novembro de 2024
sexta-feira, 1 de novembro de 2024
Review: 🦇 Kant - 'Paranoia Pilgrimage' (2024) 🦇
Da pequena cidade
germânica de Aschaffenburg chega-nos a fantasmagórica obra do esotérico quarteto
Kant, intitulada ‘Paranoia Pilgrimage’ e lançada pela jovem
discográfica alemã Sound of Liberation Records nos formatos LP, CD e
digital. Dissecados, misturados e revolvidos num fumarento caldeirão em
borbulhante ebulição, estão um obscurantista, cavernoso, umbroso e ritualista Proto-Doom
de intrigante atmosfera vampírica, um luxuoso, psicadélico, mélico e lustroso Hard
Rock de brilho vintage, e um poderoso, místico, demoníaco e glorioso Heavy
Blues com requintes de malvadez. Resultada da potência trevosa de Black
Sabbath, da majestosidade fabular de Wishbone Ash, da desregrada perversão
de Witchfinder General, da arrepiante feitiçaria de Witchcraft e do
culto cósmico de Hällas, a mesmérica, irreligiosa, ostentosa e fatídica sonoridade
de Kant escurece, entristece e profana a alma do ouvinte. De pele enregelada
e desmaiada, boquiabertos, e olhar envidraçado de pupilas dilatadas, somos cortejados, subjugados
e conduzidos ao universo gótico de Edgar Allan Poe onde árvores
esqueléticas e decrépitas se erguem na direcção de céus pardos e melancólicos, graníticas
e trágicas ruínas medievais hibernam pelo nevado solo coberto de perecidas
folhas outonais, e grasnantes e intimidantes corvos esvoaçam freneticamente sobre nós, originando uma chuva de penas pretas. Uma épica
assombração superiormente musicada por duas guitarras eruditas que se auxiliam
na edificação de monstruosos, dramáticos, enfáticos e majestosos riffs fervidos
em gaseificada distorção de onde relampeiam sónicos, efervescentes,
ziguezagueantes e histéricos solos, um cismático baixo bailante de linhas pulsantes,
elásticas, hipnóticas e possantes, uma galopante bateria aguilhoada a um ritmo abrasivo,
impetuoso, intenso e altivo, e uma voz ecoante, lívida, avinagrada e messiânica.
‘Paranoia Pilgrimage’ representa uma imersiva, herética e coerciva hipnose
que nos faroliza, atrai, eteriza e subtrai o ar do peito. Uma peregrinação ao
lado eclipsado da religião. Comunguem a tóxica, alucinógena, vigorosa e luciférica
negrura de Kant e mergulhem, atormentados e engolidos pela febril paranoia,
nas abissais profundezas oníricas. É tremendamente fácil cair nesta irresistível
tentação. Banhem-se e afogueiem-se nas escuras e sedutoras lavaredas que
abraçam este imponente álbum, e testemunhem com detida e inquebrável fascinação todo o enfeitiçante
esplendor de um dos mais preclaros álbuns desabrochados no presente ano.
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quinta-feira, 31 de outubro de 2024
quarta-feira, 30 de outubro de 2024
terça-feira, 29 de outubro de 2024
Review: 💀 G.O.L.E.M. - 'Gathering of the Legendary Elephant Monsters' (2024) 💀
Depois de uma
estreia marcante (aqui trazida e explanada), o talentoso quinteto
italiano GOLEM (acrónimo de Gravitational Objects of Light, Energy
and Mysticism) regressa agora com o lançamento do seu muito aguardado segundo
álbum intitulado ‘Gathering Of the Legendary
Elephant Monsters’ e editado nos formatos LP, CD e digital pela mão do
selo independente local Black Widow Records. Enraizada na pequena cidade
nortenha de Piacenza, esta fascinante formação italiana faz de um
pomposo, dramático, melódico e glorioso Progressive Rock de brilho
vintage a sua estrela orientadora, construindo uma ponte temporal entre a
tradição e a sofisticação, onde as influências comungadas em velhas lendas nacionais
(como por exemplo Premiata Forneria Marconi, Banco del Mutuo Soccorso,
Museo Rosenbach e Le Orme) e outras renomadas importadas de
Inglaterra (tais como Deep Purple, Van Der Graaf Generator,
King Crimson, Atomic Rooster, Gentle Giant e Emerson,
Lake & Palmer) partilham o protagonismo com um fresco e arejado cunho de autor. Compartimentado
em seis enfeitados, complexos e intrincados temas dirigidos a refinado tecnicismo,
banhados a diáfana beatitude e condimentados pelo comovente sentimentalismo, ‘Gathering
Of the Legendary Elephant Monsters’ é uma brilhante obra de composições romanescas,
majestosas, vistosas e epopeicas que mantém os seus ouvintes atentos, fascinados
e deleitados do primeiro ao derradeiro minuto. Um faustoso teatro superiormente
musicado por diversos teclados (que remetem o ouvinte para um cruzamento entre Jon
Lord (Deep Purple), Tony Pagliuca (Le Orme), Keith Emerson (Emerson, Lake &
Palmer) e Flavio Premoli (Premiata Forneria Marconi) de
bailados rodopiantes, litúrgicos e mirabolantes que se passeiam graciosamente pela
cósmica nebulosidade de polposos, misteriosos e imponentes mugidos, um baixo corpulento
de linhas sombreadas, elásticas e tonificadas, uma bateria expressiva de ritmos
desatados, dinâmicos e animados, e uma liderante, emotiva e enfeitiçante voz de
génio harmonioso, pomposo e apaixonante a fazer recordar Derek Shulman (principal
vocalista de Gentle Giant). Este segundo álbum de GOLEM
representa uma natural evolução (face ao seu já belíssimo álbum de estreia)
aproximando a banda italiana da perfeição. Um registo verdadeiramente sublime de
atmosfera celestial, onírica, mística e cerimonial que tanto amaina como revolve
as águas da nossa espiritualidade e incendeia o nosso coração. Sintam-se
levitar aos negros céus da eterna noite cósmica e gravitar numa perpétua dança
orbital em torno deste titânico astro chamado GOLEM. Uma suculenta
iguaria que satisfará o desejo de requinte de todos os amantes do género.
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segunda-feira, 28 de outubro de 2024
domingo, 27 de outubro de 2024
quinta-feira, 24 de outubro de 2024
Review: 🌵 Brant Bjork Trio - 'Once Upon a Time in the Desert' (2024) 🌵
Contando vinte e
cinco anos de uma frutífera carreira a solo (principiada em 1999 com o
lançamento do bíblico ‘Jalamanta’), o carismático Brant Bjork (talentoso
multi-instrumentista e ex-baterista dos históricos Kyuss e Fu Manchu)
continua a colocar toda a sua motivação, dedicação e inspiração ao serviço da
música que lhe corre nas veias, acrescentando agora mais um registo – indubitavelmente
o meu favorito dos seus últimos largos anos – à sua já extensa discografia.
Residente na paradisíaca cidade-resort de Palm Springs – cidade cultivada
no coração do deserto californiano – há muito que o radical Brant Bjork
surfa, incansavelmente, as douradas dunas do seu autoproclamado Low Desert Punk,
e o novíssimo ‘Once Upon a Time in the Desert’ – lançado com o carimbo do seu
selo discográfico de autor Duna Records (através dos formatos LP, CD e digital) –
vem confirmar toda a vistosa, gloriosa e invejável forma que o já veterano
músico ostenta na viragem do seu meio século de vida. Na agradável companhia do icónico baixista
Mario Lalli (Yawning Man e Fatso Jetson) e de Ryan Güt
na bateria (que ao longo dos últimos dez anos tem empunhado as suas baquetas em
defesa do Low Desert Punk), o líder Brant Bjork forma, assim, este exótico,
sólido e simbiótico power-trio de instrumentos apontados a um fogoso, apimentado,
libidinoso e torneado Desert Rock bronzeado por um quente, alucinógeno e
luzente Psychedelic Rock de doce aroma tropical, bailado por um provocante,
colorido e serpenteante Funk de groove sensual, e pontapeado por
um excitante, delirante e ritmado Punk Rock locomovido a baixa rotação.
De pés desnudos, firmados nas finas, mornas e tisnadas areias do deserto, pele
morena, beijada pelo cálido bafo solar e arejada por uma suave e temperada brisa
que sobrevoa o infindável tapete arenoso, olhar mergulhado e naufragado nas
profundezas luminosas e flamejantes de um Sol reinante, e espírito integralmente
embevecido, experienciamos – à sagrada boleia da extasiante, imersiva e
magnetizante música de ‘Once Upon a Time in the Desert’ – visões
caleidoscópicas, ilusões, alucinações, grande sensibilidade sensorial,
sinestesias, delírios místicos, flashbacks, alteração da noção temporal e
espacial, confusão, desagregação do ego e o arrombamento das portas da percepção.
A eucaristia sacramental do LSD na mística e ritualística vacuidade de um
deserto que se espreguiça até onde a vista pode alcançar. Na composição desta contagiante, psicotrópica e apaixonante
sonoridade – banhada em psicadélico exotismo – bamboleiam-se uma afrodisíaca guitarra
Jimi Hendrix’eana de polposos, espessos, escorregadios e vaidosos riffs,
e solos uivante, ácidos, embriagados e ziguezagueantes, um baixo obeso,
gorduroso e coeso de linhas fibróticas, encaracoladas, onduladas e hipnóticas, uma
bateria solta, leve e desinibida de ritmos verdadeiramente excitantes, fascinantes
e esponjosos, e uma voz simpática, risonha, limpa e harmoniosa que coloca sobre
as rodas de um skate todos os enleios instrumentais. Este é um álbum
electrificado a vibração positiva – a banda-sonora perfeita para emoldurar um
verão já findado – que transpira erotismo e respira boa disposição. Um disco tremendamente
apetitoso, radioso, gracioso e viciante que nos encandeia, namora e prazenteia num
arborizado e arejado oásis espiritual de carícia sensorial. 'Once Upon a Time in the Desert' é um musicado álbum de recordações conservadas e romantizadas pelo saudosismo. Uma sincera homenagem à adolescência irreverente de sonhos na proa. A frescura, a doçura e a formosura
de mãos dadas e turbilhonadas numa estonteante espiral. Pura mescalina via auditiva. Crescem e florescem cactos no meu peito.
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