sábado, 5 de abril de 2025
sexta-feira, 4 de abril de 2025
quinta-feira, 3 de abril de 2025
quarta-feira, 2 de abril de 2025
Review: 🔥 Desert Smoke - 'Desert Smoke' (2025, Raging Planet) 🔥
Depois do EP
de estreia ‘Hidden Mirage’ (lançado em 2018 e aqui explanado) e
do álbum ‘Karakum’ (lançado em 2019 e aqui analisado), os druidas
desérticos Desert Smoke estão finalmente de regresso com o nascimento do
seu muito aguardado novo trabalho de longa duração – de denominação homónima e
com a edição a cargo do insuspeito selo discográfico português Raging Planet
através dos formatos LP, CD e digital – e, devo antecipar, que se trata do meu
registo favorito destes cosmonautas portugueses. Incensada por um intoxicante,
místico, atmosférico e electrizante Heavy Psych que se agiganta, encrespa
e obscurece num montanhoso, belicoso, imponente e contagioso Psychedelic
Doom, a esfíngica, cerimonial e camaleónica sonoridade de ‘Desert Smoke’
é farolizada pela simbiose instrumental, lavrada por uma extravagante
caligrafia árabe e perfumada por uma doce fragância oriental. As suas
absorventes, criativas, intuitivas e incandescentes jams que evoluem de
estados contemplativos, letárgicos e reflexivos – banhados a deífica, plácida e
seráfica beatitude – para explosivas, agressivas e orgásmicas erupções de
incontida e diluviana adrenalina, tanto embrumam o ouvinte numa açucarada
anestesia, como o estremecem e enlouquecem de sísmica e vulcânica euforia. Governado por atmosferas virulentas, sulfurosas, arenosas e fumarentas que se adensam num
mistério tentador, somos engolidos e cativados do primeiro ao derradeiro tema. São 35
minutos com vista panorâmica e desabrigada para a eterna noite sideral.
Desancorados da gravidade terrestre e mergulhados nas profundezas abissais do
infindável oceano cósmico, somos embalados na sónica vertigem de Desert
Smoke, trespassando quasares, montando cometas e driblando massivos astros
solitários. Toda uma fantástica odisseia intergaláctica superiormente musicada
por duas guitarras sultanas – dominadas pela rugosidade e fogosidade do efeito Fuzz
– que se entrançam na condução de ciclónicos, enfeitiçantes e catatónicos riffs,
e destrançam num inesgotável manancial de solos ácidos, alucinados e esvoaçantes,
um baixo hipnótico de linhas carnudas, sisudas e dançantes, e uma bateria estimulante
que – com a robótica precisão de um relógio suíço – tiquetaqueia com total perseverança
a tempestade e a bonança. Este é um álbum piramidal – de natureza celestial,
consagração sensorial e dilatação consciencial – que tanto nos inebria, amolece
e extasia com as suas edénicas paisagens introspectivas, como aspira, centrifuga
e sobreaquece com os seus inflamados e selváticos remoinhos. Aventurem-se e desventurem-se nesta
impactante, febril e viciante alucinação que varre todo o Cosmos, distorce as
coordenadas do espaço-tempo e resvala nas costuras fronteiriças da perfeição.
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segunda-feira, 31 de março de 2025
Review: 🐸 Dead Meadow - 'Voyager to Voyager' (2025, Heavy Psych Sounds) 🐸
Está
oficialmente lançado o muito aguardado 10º álbum de estúdio dos já históricos Dead
Meadow, intitulado ‘Voyager to Voyager’ e editado pela companhia
discográfica italiana Heavy Psych Sounds através dos formatos LP, CD e
digital. A banda natural de Washington D.C. – formada no já longínquo
ano de 1998 – perdera no passado ano de 2024 o seu baixista e co-fundador Steve
Kille (que falecera na sequência de uma dura batalha contra o cancro) e
este novo álbum – ainda com o precioso contributo do mesmo – nasce em seu sentido
tributo. Norteados por um letárgico, pantanoso, melancólico, moroso e apático
Psychdelic Rock de caleidoscópica tintura sessentista (que lhes é tão característico), os Dead Meadow
continuam, assim, a sua ociosa jornada pelas musguentas, embrumadas, pesadas e
lamacentas águas estagnadas na orvalhada, silenciada e eterna madrugada outonal.
Climatizado por uma tímida, embriagada e delicada sonoridade que boceja e se
espreguiça em slow-motion, este meigo ‘Voyager to Voyager’ tem o
dom de derreter, inebriar e embevecer os ouvintes. Abraçados por uma atmosfera enfeitiçante,
sedutora e narcotizante, somos sedados pela morfínica toxicidade de Dead
Meadow e desaguados num imperturbável estádio de introspecção solitária. De
espírito relaxado e sentidos embaciados baloiçamos compenetrada e demoradamente
a cabeça na instintiva resposta aos serpenteantes bailados de uma guitarra
ácida que se manifesta em polposos, invertebrados, delongados e oleosos riffs empapados em rugoso efeito Fuzz de onde são vertidos esguios, escorregadios, alucinógenos e coloridos solos, à sonolenta
ressonância de um baixo elástico movido a linhas flácidas, gelatinosas, vagarosas
e descontraídas, às ritmadas acrobacias de uma bateria hipnótica de batida leve,
livre e desatada, e à soporífica placidez de uma voz desmaiada, pausada, frágil
e avinagrada. São 42 minutos de um açucarado, sonhador e acetinado torpor que nos amolece,
deslumbra e adormece. Uma perdurável sensação de pura ataraxia que nos asfixia de nirvânica harmonia. Deixem-se dissolver no esponjoso, mesmérico, lisérgico e preguiçoso psicadelismo
de Dead Meadow, e deambulem livremente – trôpegos e sonâmbulos – pelas viçosas e brumosas paisagens
deste almofadado sonho acordado. Ninguém vai querer despertar de algo assim.
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