domingo, 22 de dezembro de 2024
quinta-feira, 19 de dezembro de 2024
Review: 🦉 Sublunar Express - 'Peeling the Horizon' (2024) 🦉
Cinco anos
após o lançamento do seu homónimo álbum de estreia (aqui trazido e examinado),
o trio canadiano Sublunar Express – natural da cidade de Montreal
(no Québec) – apresenta agora o tão aguardado sucessor intitulado ‘Peeling
the Horizon’ e editado através dos formatos LP (disponível em ultra-limitadas
edições matizadas a estonteante combustão de caleidoscópica coloração pela mão
da californiana Wet Records), CD (numa apelativa edição autoral) e
digital. Com a fornalha repleta de carvão incandescente, chaminé fumegada a intensa
pretura e as janelas levemente embaciadas, este comboio locomovido a vapor continua
a sua musicada jornada pelos confins da enigmática noite nevada que nunca se
entrega à luz do dia. Numa admirável viagem explorativa pelos encantados universos
de um fantástico, reflexivo, lenitivo e cinematográfico Post-Rock a
fazer recordar os americanos Giant Squid, um intrigante, esponjoso, umbroso
e arrogante Post-Punk que homenageia os seminais Joy Division, um
musculado, reptiliano, ousado e provocante Proto-Punk na senda dos
incendiários The Stooges, e ainda de um anestésico, melancólico, embrumado
e onírico Shoegaze de húmidos ecos Slowdive’anos, este camaleónico,
misterioso, inusitado e exótico ‘Peeling the Horizon’ desdobra no
imaginário do ouvinte toda uma paisagem apocalíptica oxigenada a insanidade, luto,
descrença e desumanidade. A sua esdrúxula, acinzentada, diferenciada e heterogénea sonoridade
– magicada a experimentalismo, perfumada a misticismo e climatizada a sentimentalismo
– tanto nos anoitece, amolece e adormece nas profundezas da soturnidade, como
nos dilata as pupilas, empalidece o rosto e absorve numa espasmódica dança macabra,
compenetrada e indiferente ao que nos rodeia. Musicada por uma intoxicante guitarra
de imponentes, ardentes, absorventes e vistosos riffs e solos desenvencilhados, giratórios
e embriagados, um baixo viscoso, pulsante, ondulante e polposo, uma expressiva,
diligente e criativa bateria capaz de modelar e compassar todos estes contrastes
climáticos, e uma profusão de vocais lúcidos, vampíricos, etéreos e espectrais (aos
quais se juntam ainda as efémeras, mas enriquecedoras, colaborações de um
saxofone de estética “noir” serpenteado a sopros gritados, um sibilino duduk que
se adensa em mugidos aveludados e uma divina voz feminina de pele cristalina
que sobrevoa a névoa da madrugada), esta memorável viagem neste expresso
nocturno causa no íntimo do ouvinte um eclipse verdadeiramente transformador,
miraculoso e emancipador. Sonhem de olhos bem arregalados à mesmérica influência
de Sublunar Express sem a mais pequena vontade de dele despertar. De
realçar ainda o imersivo artwork de natureza distópica, superiormente
ilustrado pelo artista espanhol Joan Llopis Doménech (com o qual a banda reforça a sua confiança). Este é um álbum
norteado a volatilidade, estranheza e imprevisibilidade que nos fascina e surpreende
em cada esquina. Cabe tudo nos seus dilatantes 38 minutos de duração. Cabem
todos nesta sui generis, bizarra e cabaresca expedição pelos sinuosos carris de ‘Peeling
the Horizon’.
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terça-feira, 17 de dezembro de 2024
segunda-feira, 16 de dezembro de 2024
Review: 👻 Vast Pyre - 'Vast Pyre' (2024) 👻
De Eisenach –
cidade localizada no centro da Alemanha – chegam-nos as encorpadas, vampíricas,
tirânicas e malfadadas ressonâncias do tempestuoso tridente Vast Pyre
com a sísmica detonação do seu homónimo álbum de estreia, editado pela italiana
Argonauta Records nos formatos CD e digital. Prostrados, embriagados, de
pálpebras tombadas e espírito enlutado sopitamos à exposição da nefasta
radiação expelida pelas fumarentas narinas de um monolítico, pantanoso,
resinoso e esfíngico Stoner Doom de forte fragância psicotrópica e sónica
propulsão cósmica. Com inspiração colhida nos universos esotéricos de Electric
Wizard, Sleep, Monolord, Ufomammut e Spelljammer, a massiva,
altiva, abrasiva e sinistra sonoridade de ‘Vast Pyre’ agiganta-se numa predatória,
mastodôntica e intimidante avalanche que nos persegue, atropela e sepulta nas abissais
profundezas de uma herética negrura que circunda e sufoca todas as chamas da
nossa religiosidade. Uma mesmérica, transformadora e profética hipnose que nos mumifica,
cega, aterroriza e carrega por paisagens demoníacas, derrotadas, amaldiçoadas e
distópicas, esvaziadas de vida e esperança, onde a diáfana luz jamais ousa
tocar e a fantasmagórica bruma vagueia sem nunca dispersar. São 50 minutos de
uma chamejante, viscosa e impactante pretura que nos enlameia e incendeia sem
misericórdia. Sombreiem-se numa guitarra arrogante que se avulta em
rastejantes, hipnóticos, despóticos e intrigantes riffs – escaldados a
queimante, cáustica e urticante distorção – de onde são chorados uivantes,
ácidos, pálidos e penetrantes solos, estremeçam à intensa boleia de uma sísmica bateria explodida a uma ritmicidade agressiva, empolada, musculada e altiva, e vagueiem
de olhos vendados, passos hesitantes e respiração travada pelas arrasadas planícies de ‘Vast Pyre’ farolizados
pelos liderantes vocais – ora límpidos, azedos e destemperados (disseminados
por um eco espectral), ora escarpados, sujos e gritados (de temperatura
infernal). Este é um álbum situado entre a açucarada melancolia e a entorpecida
euforia. Um trabalho hermético, sisudo, soturno e dramático – pesada e
vagarosamente locomovido – que nos agarra, sacode e implode. A imponente obra visual
que dá rosto a este registo verdadeiramente avassalador dos germânicos aponta os seus créditos
autorais ao inconfundível e renomado pintor polaco Zdzisław Beksiński
que a criara em 1972. Desventurem-se pelas tumbas cósmicas de Vast Pyre e
encarvoem-se na sua asfixiante, claustrofóbica e atemorizante obscuridade.
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➥ Argonauta Records
domingo, 15 de dezembro de 2024
sábado, 14 de dezembro de 2024
sexta-feira, 13 de dezembro de 2024
Review: 👁️ Sacred Buzz - 'Radio Radiation' EP (2024) 👁️
Da cidade-capital
de Berlim chega-nos o perfumado, ritmado e atraente EP de estreia do
jovem quarteto Sacred Buzz, intitulado ‘Radio Radiation’ e editado
pela companhia discográfica irlandesa Fuzzed Up & Astromoon Records
nos formatos cassete (disponível em duas edições coloridas e limitadas à
produção de 70 unidades), vinil de 7" (ultra-limitado à prensagem de
apenas 50 cópias entretanto já esgotadas em apenas 35 minutos) e digital. Musicado por um multicolorido sortido
de onde facilmente sentimos o condimentado paladar de um agitado, dançante e transpirado Garage
Rock locomovido a intensa rotação, um caleidoscópico, apimentado e exótico Psychedelic
Rock de inspiração colhida nos delirantes 60’s, um hipnotizante, esponjoso
e enfeitiçante Krautrock de ritmicidade tiquetaqueada a alta precisão,
e um escaldante, enérgico e provocante Proto-Punk que nos inebria de nebulosa
alucinação, ‘Radio Radiation’ atira o ouvinte para o meio de uma vibrante
pista de dança iluminada por uma viva profusão de coloração pulsante, lotada de
brilhantes corpos banhados em suor e movidos em slow-motion a compenetrados
serpenteios. Compartimentado em seis faixas de curta duração, mas atestadas de imensa
emoção, e de uma longíssima faixa bónus climatizada por um arejado e relaxado experimentalismo ambiental a rivalizar com toda a vertigem que o antecede, este espirituoso EP traz-nos a consumível, irresistível e euforizante irreverência de bandas como Dead Moon, King Gizzard & The Lizard Wizard,
The Murlocs, ORB, The Socks, Sunder, Fuzz, Magic
Machine, The Gorlons, Wine Lips, The Heavy Minds e Travo.
Uma açucarada, cativante e excitada efervescência de inflamado, desnorteado e
extravagante psicadelismo, surfada por uma guitarra devaneante de queimante
distorção, um teclado intrigante de mugidos empolados, uma bateria
estimulante de incansável galope, um baixo magnetizante de reverberação
ondeante, e uma voz diabrina de tez avinagrada. Libertem-se de toda a timidez e
bamboleiem à lasciva boleia de Sacred Buzz numa diluviana erupção de
incontida satisfação. ‘Radio Radiation’ é uma psicotrópica radiação à
qual nos sintonizamos – de ouvidos salivantes, pupilas dilatadas e com inquebrável
fascinação – do primeiro ao derradeiro minuto. Uma extasiante comoção que nos
electrifica sem moderação. Ziguezagueiem-se nele.
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➥ Fuzzed Up & Astromoon Records