quinta-feira, 15 de maio de 2025

🌊 King Crimson - 'In the Wake of Poseidon' (1970)

Focus - "Focus II" (1971)

🌪️ Jack Bruce // Cream

Review: ⚡ Madmess - 'The Third Coming' (2025, Gig.Rocks!, Kozmik Artifactz & Glory or Death Records) ⚡

★★★★

Depois do seu homónimo álbum de estreia (lançado em 2019 e aqui revisto) e do segundo ‘Rebirth’ (lançado em 2021 e aqui examinado), o potente power-trio Madmess – uma das bandas portuguesas mais excitantes da actualidade com presença habitual em alguns dos mais importantes festivais europeus – lança agora o seu muito aguardado terceiro álbum de estúdio denominado ‘The Third Coming’ e editado através da parceria entre as companhias discográficas Gig.Rocks! (responsável pela distribuição em solo português), Kozmik Artifactz (responsável pela distribuição na Alemanha e restantes países europeus) e a Glory or Death Records (responsável pela distribuição em território norte-americano) nos formatos LP (este ultra-limitado a uma apelativa primeira prensagem de apenas 300 cópias disponíveis) e digital. Locomovido por um electrizante, fibroso, rugoso e intoxicante Heavy Psych de alta voltagem, torneado e apimentado balanço Blues, passageira nebulosidade divina, astral e intimista, e uma indiscreta tracção setentista que homenageia dinossauros nipónicos como Blues Creation, Samurai, Flower Travellin' Band e Speed, Glue & Shinki, e partilha a genética de bandas contemporâneas como Earthless, Petyr, Elder, Joy, Lecherous Gaze, Danava e Witch, este novo álbum de Madmess tem o dom de centrifugar o cosmos e disparar o ouvinte numa enlouquecedora, vertiginosa e transformadora odisseia galáctica, driblando o abraço gravitacional de massivos planetas estacionados na solitária noite cósmica, penetrando o empoeirado tecido de fantasmagóricas nebulosas que vagueiam pela vacuidade sideral, surfando os anéis de Saturno e escoando através da garganta profunda de poderosos buracos negros que tudo engolem e distorcem. A sua fogosa, venenosa, alucinógena e portentosa sonoridade de colorida pele camaleónica – fervida a intensa combustão e electrificada a alta tensão – é esporeada e vergastada em sónicas, frenéticas e apoteóticas galopadas de instrumentos em alucinada debandada e acelerados a alta rotação, e ocasionalmente embriagada por etéreas, anestésicas e contemplativas passagens de clima paradisíaco e instrumentos adormecidos e compenetrados em sublimados diálogos. Um pêndulo que nos viaja da vulcânica euforia à xamânica letargia. ‘The Third Coming’ é simultaneamente uma injecção de adrenalina, outra de morfina e todo um mastodôntico tsunami de endorfinas que nos invade a psique. O meu registo de eleição deste tridente natural da cidade do Porto que hoje ostenta um invejável ponto de maturação. Mergulhem, destemidamente, no olho deste impiedoso furacão que tudo varre à alucinante boleia de uma estupenda guitarra – afogueada pela fritura do efeito Fuzz e alcoolizada pelo delirante efeito Wah-Wah – que se manifesta em ciclónicos, serpenteantes, empolgantes e titânicos riffs de onde esvoaçam orgásmicos, ácidos, caleidoscópicos e prismáticos solos, um baixo pujante de bafo nervudo, tenso, denso e sisudo, uma bateria relampejante, sísmica, bombástica e provocante de ritmos altivos, buliçosos e propulsivos, e uma voz de carisma liderante e essência espectral que ecoa por todas as regiões da infinidade espacial. Este é um álbum imensamente sedutor, catártico e conquistador. Uma obra de beleza e destreza consumadas que me prendera e ofuscara do primeiro ao derradeiro tema. Devo ainda estender as mais elogiosas apreciações ao fantástico, detalhado, caprichado e metafórico artwork – superiormente ilustrado pela talentosa artista portuguesa Lory Cervi – que me remete para a célebre cena do jogo de xadrez com a Morte no épico filme “Det sjunde inseglet” (1957) do famoso realizador sueco Ingmar Bergman. ‘The Third Coming’ é uma avalanche psicotrópica que nos persegue e alcança, um forte sedativo que nos derrete e embevece, e um potente afrodisíaco que nos faz cravar os dentes nos lábios e salivar compulsivamente. Um dos mais grandiosos álbuns produzidos em 2025 está aqui, no vistoso, esfuziante e glorioso regresso de Madmess. Inflamem-se e deleitem-se nele.

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terça-feira, 13 de maio de 2025

🌭 Scott Hepple & The Sun Band - 'English Mustard' (2025, Rise Above)

🥃 Paralyzed - 'Rumble & Roar' (2025, Ripple Music)

Review: 🎨 Lars Fredrik Frøislie - 'Gamle Mester' (2025, Karisma) 🎨

★★★★

Dois anos após o lançamento do seu mirífico álbum de estreia denominado ‘Fire Fortellinger’ (aqui trazido e imensamente elogiado), o talentoso multi-instrumentista norueguês Lars Fredrik Frøislie (teclista de Wobbler) edita agora o seu segundo álbum a solo. Intitulado ‘Gamle Mester’ (título derivado de um idoso Carvalho localizado em Krødsherad Prestegård – árvore emblemática que também servira de inspiração para a criação de um inspirado poema da autoria de Jørgen Moe (“Den Gamle Mester”, 1855) – que preenche com exclusividade toda a temática deste mitológico, poético e histórico álbum – detentor de um desarmante brilhantismo composicional –, representando a sabedoria, a resiliência e a resistência à cáustica força do tempo) e promovido pela carismática companhia discográfica norueguesa Karisma Records através dos formatos LP, CD e digital, este novo trabalho excepcional deste inventivo e produtivo músico sediado na cidade-capital Oslo conta com as enriquecedoras colaborações do baixista Nikolai Hængsle (Elephant9 e Needlepoint) – que já fizera parte do restrito elenco responsável pela produção do primeiro registo – e do flautista Ketil Einarsen (Ex-Jaga Jazzist, Weserbergland e White Willow). Brilhantemente pincelada por um rural, romântico, nostálgico e medieval Progressive Rock de principesco traje sinfónico, vistoso e virtuoso estilo barroco e emoldurado por um agradável, bucólico e afável clima Folk, que homenageia clássicas e pioneiras referências do género como Banco Del Mutuo Soccorso, Le Orme, Premiata Forneria Marconi, Locanda delle Fate, Museo Rosenbach, Il Balletto di Bronzo, Yes, Renaissance, Gentle Giant, Gryphon, Emerson, Lake & Palmer, Jade Warrior, Camel, Van Der Graaf Generator e Ougenweide, a pastoral, mediévica, quimérica e outonal musicalidade de ‘Gamle Mester’ convida o ouvinte a testemunhar e personificar vivências ancestrais há muito caídas em desuso, adormecidas e esquecidas no tempo. Capitaneado por sonhadoras, relaxadas, perfumadas e enternecedoras passagens orvalhadas a deslumbrante magia ambiental, e triunfantes, apoteóticos, dramáticos e imponentes crescendos que ostentam toda uma superiora maestria instrumental, esta maravilhosa obra-prima de Lars Fredrik Frøislie faz-nos sonhar acordados, embriagados, de espírito petrificado, sorriso desabrochado e olhar empoeirado de matéria estelar. Na génese desta enfeitiçante fábula impecavelmente orquestrada reside toda uma sedutora, ostentosa e arrebatadora profusão de melodiosos, sumptuosos e dialogantes teclados, uma bateria soberbamente jazzística de ritmos enfáticos, atraentes e acrobáticos, um baixo tenso, denso e sombreado de acentuada presença, uma flauta fascinante de sopros aveludados, afinados e elegantes, e uma voz trovadora, profética e altiva que (en)canta na sua língua nativa. ‘Gamle Mester’ representa mais uma expedição gloriosa deste dracar liderado a um só grito. Uma obra verdadeiramente sublime – de consumada beleza – que vive entre a reluzente claridade da aurora e a rosada luz crepuscular. Um álbum de audição e aquisição obrigatórias a todos os entusiastas e colecionadores do género. Deixem-se capturar, apaixonar e extasiar por esta aventurosa, opulenta e majestosa epopeia de Lars Fredrik Frøislie sem o mais residual desejo de dela regressar.

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sexta-feira, 9 de maio de 2025

Review: 🏴‍☠️ Soft Ffog - 'Focus' (2025, Is It Jazz? Records) 🏴‍☠️

★★★★

Três anos após o lançamento do seu impactante álbum de estreia (aqui descrito e aqui galardoado com o título de melhor disco nascido nesse mesmo ano), o talentoso quarteto norueguês Soft Ffog está finalmente de regresso com a apresentação do seu tão ansiado segundo trabalho de longa duração intitulado ‘Focus’ e editado pela jovem e irreverente companhia discográfica local Is It Jazz? Records através dos formatos LP, CD e digital. Deste novo álbum da banda domiciliada em Oslo tudo esperava e – devo antecipar – tudo ele me deu. Depois de um primeiro registo nutrido a altivez, alta densidade, sobranceria e rigidez, ‘Focus’ exibe o lado mais cerebral, relaxado, elaborado e sentimental de Soft Ffog. O seu Yin-Yang foi, desta forma, alcançado. Norteada por um imaginativo, aprumado, intrincado e atractivo Jazz-Fusion de comportamentos catatónicos envolvido e revolvido num desavergonhado flirt com um afectivo, esponjoso, glorioso e expansivo Progressive Rock de ares sinfónicos, a extravagante, sofisticada, sublimada e mirabolante musicalidade de ‘Focus’ presta uma portentosa homenagem ao que de melhor brotara dentro dos universos Jazz e Progressivo no frondoso jardim setentista. Colorido, luminoso, odoroso e entretido, esta irretocável obra-prima de Soft Ffog tem o raro dom de agarrar, cativar e enlevar o ouvinte do primeiro ao derradeiro minuto. Ainda que as denominações atribuídas aos seus temas possam sugerir uma influência descarada de bandas como Camel, Focus e Jimi Hendrix (?), é nas paisagens sonoras de egrégias referências como Frank Zappa (das eras ‘Hot Rats’‘Waka / Jawaka’ e ‘The Grand Wazoo’), Brand-X, Caravan, Yes, Genesis, Gentle Giant, King Crimson, Soft Machine, Hatfield and the North e Colosseum que encontro maior semelhança com a estonteante, maravilhosa, maviosa e triunfante sonoridade de ‘Focus’. Compartimentado em quatro fascinantes, apaixonantes e extensas faixas – superiormente capitaneadas por desafiantes, labirínticas, dramáticas e impressionantes composições condimentadas a escultural formosura, tricotadas a máxima precisão e elegantemente trajadas a tecido respirável de alta-costura – este novo trabalho dos virtuosos escandinavos extravasa as estremaduras da perfeição. De agradável clima Canterbury’esco, aura fabular e natureza novelesca, somos levemente alcoolizados pela harmoniosa maestria destes “Jazz Cats”, massajados pela sua refinada subtileza e levados, integralmente deslumbrados, pelas verdejantes e sedutoras planícies que se estendem e espreguiçam até ao revoltoso e impiedoso mar onde naufragamos. Seráfica, leve, livre e mágica, a sumptuosa sonoridade de ‘Focus’ é brilhantemente cozinhada por uma guitarra magistral de camaleónicos, miraculosos, faustosos e apoteóticos riffs de onde são vertidos angulosos, assombrosos, esdrúxulos e vertiginosos solos, uma bateria sensacional a galope de ritmos alucinantes, acrobáticos, pirotécnicos e excitantes, um baixo magnetizante de reverberação elástica, sombreada, encorpada e ondulante, e um teclado etéreo de melodias quiméricas, coloridas, perfumadas e sidéricas. De distribuir ainda elogiosas apreciações pelo heroico artwork – distintamente ilustrado pelo prendado artista norueguês Einar Evju – que ajuda a galvanizar e imortalizar este inatacável álbum de Soft Ffog. Percam-se e encontrem-se por entre a espalhafatosa desarrumação e charmosa arrumação de ‘Focus’. Este é um registo de contornos épicos onde a mais caprichosa tecnicidade é posta ao serviço da mais apolínica música. Não vai ser nada fácil arredar esta insuperável obra do primeiro lugar na listagem dos melhores de 2025.

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🎁 Hawkwind - 'Warrior on the Edge of Time' (09/05/1975)

terça-feira, 6 de maio de 2025

🔈 David Gilmour // Pink Floyd (1972)

📸 Fernand Michaud

🔮 The Crystal Teardrop - "Colours Changing" (2025, Rise Above)

Review: 🍄 The Crystal Teardrop - '... Is Forming' (2025, Rise Above) 🍄

★★★★

Do Reino Unido chega-nos a colorida acidez destilada pela jovem e irreverente banda The Crystal Teardrop que nos apresenta o seu jovial álbum de estreia intitulado ‘… Is Forming’, editado pela influente companhia discográfica londrina Rise Above Records através dos formatos LP, CD e digital. Cromatizada por um caleidoscópico, meloso, harmonioso e exótico Psychedelic Pop, ritmada por um provocante, assanhado, animado e dançante Garage Rock e climatizada por um envolvente, pastoral, devocional e sorridente Acid Folk, a analógica, ensolarada, florida e estereofónica musicalidade de The Crystal Teardrop representa uma bonita carta de amor à segunda metade dos vívidos 60’s, onde comunga carismáticas influências desse fértil solo temporal como Jefferson Airplane, Love, Shocking BlueThe Mamas & The Papas, Ultimate Spinach, The Byrds, The Velvet Underground & Nico e The Peanut Butter Conspiracy. Temperado com ingredientes da culinária indiana e arejado pela salgada brisa californiana, este fantasista e revivalista ‘… Is Forming’ provoca no ouvinte ilusões, alucinações, sinestesias, delírios místicos, alterações da noção temporal e espacial, perda do controle emocional, um sentimento de bem-estar, experiências de êxtase, euforia e uma grande sensibilidade sensorial. Um ácido lisérgico que se dissolve nas nossas línguas, dilata as nossas pupilas e expande a nossa consciência. Sensual, espiritual, resplandecente e estival, este primeiro registo do quinteto localizado no centro de Inglaterra não dá descanso às nossas glândulas salivares. Uma açucarada, frutada e irresistível guloseima – de consumo impróprio para diabéticos – que nos vicia, delicia e fascina ao longo de uma dúzia de agradáveis, apaixonantes e dançáveis canções. Idílico, catártico, arrebatador e prismático, ‘… Is Forming’ é um álbum paradisíaco que nos derrete de satisfação. Um oásis nirvânico sublimemente musicado por uma voz liderante de tez aveludada, amarelecida e caramelizada, duas guitarras alucinógenas de esponjosos, cativantes e luminosos acordes e solos escorregadios, serpenteantes e fugidios, um baixo groovy de linhas ondeantes, elásticas e magnetizantes, uma bateria descomplicada de ritmos mexidos, entretidos e galopantes, e um mágico teclado que lhe confere toda uma aura romancista, sideral e utopista. Dispam-se de timidez e avancem, confiantes, para o meio desta festiva pista de dança amuralhada por um estonteante jogo de espelhos, vivificada por cores pulsantes e banhada por uma delirante e torrencial chuva de purpurina cintilante. The Crystal Teardrop é uma ofuscante radiação de afago sensorial e psicotrópica coloração que nos cega, deslumbra e inebria de pura ataraxia. Bronzeiem-se e prazenteiem-se na sua seráfica luzência, e dancem, compenetrados e inundados em suor, até que as luzes se apaguem.

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