sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Lucifer's Friend - 'Where the Groupies Killed the Blues' (1972)

🩸 Kant - "Lord of the Flies" (2024)

Review: 🦇 Kant - 'Paranoia Pilgrimage' (2024) 🦇

★★★★

Da pequena cidade germânica de Aschaffenburg chega-nos a fantasmagórica obra do esotérico quarteto Kant, intitulada ‘Paranoia Pilgrimage’ e lançada pela jovem discográfica alemã Sound of Liberation Records nos formatos LP, CD e digital. Dissecados, misturados e revolvidos num fumarento caldeirão em borbulhante ebulição, estão um obscurantista, cavernoso, umbroso e ritualista Proto-Doom de intrigante atmosfera vampírica, um luxuoso, psicadélico, mélico e lustroso Hard Rock de brilho vintage, e um poderoso, místico, demoníaco e glorioso Heavy Blues com requintes de malvadez. Resultada da potência trevosa de Black Sabbath, da majestosidade fabular de Wishbone Ash, da desregrada perversão de Witchfinder General, da arrepiante feitiçaria de Witchcraft e do culto cósmico de Hällas, a mesmérica, irreligiosa, ostentosa e fatídica sonoridade de Kant escurece, entristece e profana a alma do ouvinte. De pele enregelada e desmaiada, boquiabertos, e olhar envidraçado de pupilas dilatadas, somos cortejados, subjugados e conduzidos ao universo gótico de Edgar Allan Poe onde árvores esqueléticas e decrépitas se erguem na direcção de céus pardos e melancólicos, graníticas e trágicas ruínas medievais hibernam pelo nevado solo coberto de perecidas folhas outonais, e grasnantes e intimidantes corvos esvoaçam freneticamente sobre nós, originando uma chuva de penas pretas. Uma épica assombração superiormente musicada por duas guitarras eruditas que se auxiliam na edificação de monstruosos, dramáticos, enfáticos e majestosos riffs fervidos em gaseificada distorção de onde relampeiam sónicos, efervescentes, ziguezagueantes e histéricos solos, um cismático baixo bailante de linhas pulsantes, elásticas, hipnóticas e possantes, uma galopante bateria aguilhoada a um ritmo abrasivo, impetuoso, intenso e altivo, e uma voz ecoante, lívida, avinagrada e messiânica. ‘Paranoia Pilgrimage’ representa uma imersiva, herética e coerciva hipnose que nos faroliza, atrai, eteriza e subtrai o ar do peito. Uma peregrinação ao lado eclipsado da religião. Comunguem a tóxica, alucinógena, vigorosa e luciférica negrura de Kant e mergulhem, atormentados e engolidos pela febril paranoia, nas abissais profundezas oníricas. É tremendamente fácil cair nesta irresistível tentação. Banhem-se e afogueiem-se nas escuras e sedutoras lavaredas que abraçam este imponente álbum, e testemunhem com detida e inquebrável fascinação todo o enfeitiçante esplendor de um dos mais preclaros álbuns desabrochados no presente ano.

Links:
 Facebook
 Instagram
 Bandcamp
 Sound of Liberation Records

🖤 Support EL COYOTE

terça-feira, 29 de outubro de 2024

✌🏿 Alice Coltrane - The Carnegie Hall Concert (1971)

Review: 💀 G.O.L.E.M. - 'Gathering of the Legendary Elephant Monsters' (2024) 💀

★★★★

Depois de uma estreia marcante (aqui trazida e explanada), o talentoso quinteto italiano GOLEM (acrónimo de Gravitational Objects of Light, Energy and Mysticism) regressa agora com o lançamento do seu muito aguardado segundo álbum intitulado ‘Gathering Of the Legendary Elephant Monsters’ e editado nos formatos LP, CD e digital pela mão do selo independente local Black Widow Records. Enraizada na pequena cidade nortenha de Piacenza, esta fascinante formação italiana faz de um pomposo, dramático, melódico e glorioso Progressive Rock de brilho vintage a sua estrela orientadora, construindo uma ponte temporal entre a tradição e a sofisticação, onde as influências comungadas em velhas lendas nacionais (como por exemplo Premiata Forneria Marconi, Banco del Mutuo Soccorso, Museo Rosenbach e Le Orme) e outras renomadas importadas de Inglaterra (tais como Deep Purple, Van Der Graaf Generator, King Crimson, Atomic Rooster, Gentle Giant e Emerson, Lake & Palmer) partilham o protagonismo com um fresco e arejado cunho de autor. Compartimentado em seis enfeitados, complexos e intrincados temas dirigidos a refinado tecnicismo, banhados a diáfana beatitude e condimentados pelo comovente sentimentalismo, ‘Gathering Of the Legendary Elephant Monsters’ é uma brilhante obra de composições romanescas, majestosas, vistosas e epopeicas que mantém os seus ouvintes atentos, fascinados e deleitados do primeiro ao derradeiro minuto. Um faustoso teatro superiormente musicado por diversos teclados (que remetem o ouvinte para um cruzamento entre Jon Lord (Deep Purple), Tony Pagliuca (Le Orme), Keith Emerson (Emerson, Lake & Palmer) e Flavio Premoli (Premiata Forneria Marconi) de bailados rodopiantes, litúrgicos e mirabolantes que se passeiam graciosamente pela cósmica nebulosidade de polposos, misteriosos e imponentes mugidos, um baixo corpulento de linhas sombreadas, elásticas e tonificadas, uma bateria expressiva de ritmos desatados, dinâmicos e animados, e uma liderante, emotiva e enfeitiçante voz de génio harmonioso, pomposo e apaixonante a fazer recordar Derek Shulman (principal vocalista de Gentle Giant). Este segundo álbum de GOLEM representa uma natural evolução (face ao seu já belíssimo álbum de estreia) aproximando a banda italiana da perfeição. Um registo verdadeiramente sublime de atmosfera celestial, onírica, mística e cerimonial que tanto amaina como revolve as águas da nossa espiritualidade e incendeia o nosso coração. Sintam-se levitar aos negros céus da eterna noite cósmica e gravitar numa perpétua dança orbital em torno deste titânico astro chamado GOLEM. Uma suculenta iguaria que satisfará o desejo de requinte de todos os amantes do género.

Links:
 Facebook
 Instagram
 Bandcamp
 Black Widow Records

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

🎪 Brian Ellis Group - "Via De Mi Rancho" (2015)

Review: 🌵 Brant Bjork Trio - 'Once Upon a Time in the Desert' (2024) 🌵

★★★★

Contando vinte e cinco anos de uma frutífera carreira a solo (principiada em 1999 com o lançamento do bíblico ‘Jalamanta’), o carismático Brant Bjork (talentoso multi-instrumentista e ex-baterista dos históricos Kyuss e Fu Manchu) continua a colocar toda a sua motivação, dedicação e inspiração ao serviço da música que lhe corre nas veias, acrescentando agora mais um registo – indubitavelmente o meu favorito dos seus últimos largos anos – à sua já extensa discografia. Residente na paradisíaca cidade-resort de Palm Springs – cidade cultivada no coração do deserto californiano – há muito que o radical Brant Bjork surfa, incansavelmente, as douradas dunas do seu autoproclamado Low Desert Punk, e o novíssimo ‘Once Upon a Time in the Desert’ – lançado com o carimbo do seu selo discográfico de autor Duna Records (através dos formatos LP, CD e digital) – vem confirmar toda a vistosa, gloriosa e invejável forma que o já veterano músico ostenta na viragem do seu meio século de vida. Na agradável companhia do icónico baixista Mario Lalli (Yawning Man e Fatso Jetson) e de Ryan Güt na bateria (que ao longo dos últimos dez anos tem empunhado as suas baquetas em defesa do Low Desert Punk), o líder Brant Bjork forma, assim, este exótico, sólido e simbiótico power-trio de instrumentos apontados a um fogoso, apimentado, libidinoso e torneado Desert Rock bronzeado por um quente, alucinógeno e luzente Psychedelic Rock de doce aroma tropical, bailado por um provocante, colorido e serpenteante Funk de groove sensual, e pontapeado por um excitante, delirante e ritmado Punk Rock locomovido a baixa rotação. De pés desnudos, firmados nas finas, mornas e tisnadas areias do deserto, pele morena, beijada pelo cálido bafo solar e arejada por uma suave e temperada brisa que sobrevoa o infindável tapete arenoso, olhar mergulhado e naufragado nas profundezas luminosas e flamejantes de um Sol reinante, e espírito integralmente embevecido, experienciamos – à sagrada boleia da extasiante, imersiva e magnetizante música de ‘Once Upon a Time in the Desert’ – visões caleidoscópicas, ilusões, alucinações, grande sensibilidade sensorial, sinestesias, delírios místicos, flashbacks, alteração da noção temporal e espacial, confusão, desagregação do ego e o arrombamento das portas da percepção. A eucaristia sacramental do LSD na mística e ritualística vacuidade de um deserto que se espreguiça até onde a vista pode alcançar. Na composição desta contagiante, psicotrópica e apaixonante sonoridade – banhada em psicadélico exotismo – bamboleiam-se uma afrodisíaca guitarra Jimi Hendrix’eana de polposos, espessos, escorregadios e vaidosos riffs, e solos uivante, ácidos, embriagados e ziguezagueantes, um baixo obeso, gorduroso e coeso de linhas fibróticas, encaracoladas, onduladas e hipnóticas, uma bateria solta, leve e desinibida de ritmos verdadeiramente excitantes, fascinantes e esponjosos, e uma voz simpática, risonha, limpa e harmoniosa que coloca sobre as rodas de um skate todos os enleios instrumentais. Este é um álbum electrificado a vibração positiva – a banda-sonora perfeita para emoldurar um verão já findado – que transpira erotismo e respira boa disposição. Um disco tremendamente apetitoso, radioso, gracioso e viciante que nos encandeia, namora e prazenteia num arborizado e arejado oásis espiritual de carícia sensorial. 'Once Upon a Time in the Desert' é um musicado álbum de recordações conservadas e romantizadas pelo saudosismo. Uma sincera homenagem à adolescência irreverente de sonhos na proa. A frescura, a doçura e a formosura de mãos dadas e turbilhonadas numa estonteante espiral. Pura mescalina via auditiva. Crescem e florescem cactos no meu peito.

Links:
 Facebook
 Instagram
 Bandcamp
 Duna Records