Depois de
lançados os álbuns ‘Den Siste Av Mitt Namn’ (análise aqui)
e ‘Tarfala’ (análise aqui), o fascinante quarteto sueco Pershagen
descortina agora o seu terceiro álbum de estúdio, denominado ‘Hilma’
e exteriorizado hoje mesmo na Ãntegra sob a forma digital e vinil (este último bipartido
em duas edições contrastadas, limitadas a 500 cópias cada) com o carimbo do
selo discográfico local Lövely Records.
Replicando os ingredientes que apaladaram os seus antecessores, ‘Hilma’
vem orvalhado por um melancólico, bucólico, sublime e cinematográfico Post-Rock,
um arejado, reflexivo, lenitivo e ensolarado Psychedelic Rock de aura Western,
e ainda discretos elementos de um poético, anestésico e outonal Folk de húmido clima nórdico. Conduzido a onÃrica placidez, ataráxica fluidez e ternurenta
delicadeza, esta nova obra da formação sueca pincela no imaginário do ouvinte
musgosas, montanhosas, verdejantes e idosas florestas que emergem na fantasmagórica
e vaporosa intimidade da brumosa madrugada que se vai dissolvendo e rendendo à diluviana
luz do dia. Todo um nirvânico voo – de olhar deslumbrado, espÃrito embevecido e
sentidos emudecidos – sobre os mÃsticos, fantasiosos e druÃdicos bosques
escandinavos que se desdobram pela infinidade adentro. Inalem a reconfortante e
revitalizante frescura de Pershagen à extasiante boleia de duas
guitarras etéreas que se ensoberbecem em aquosos, comoventes e cheirosos acordes
– sublinhados de perto pelos arrepiantes uivos de um desértico pedal steel que
nos traz o cálido e afogueado crepúsculo do velho oeste – de onde serpenteiam bailantes,
ecoantes e translúcidos solos, um baixo movediço de linhas vagueantes,
encaracoladas, sombreadas e magnetizantes, e uma bateria jazzÃstica superiormente
tiquetaqueada a ofuscante resplandecência, fina argúcia e desarmante elegância.
São 40 minutos oxigenados por um quimérico torpor que nos hasteia uma sensação
libertadora, desenha o sorriso no rosto, massaja o cérebro e perpetua no olhar
uma expressão sonhadora. Este é um disco tristemente belo. Um registo balsâmico
– de atmosfera inebriante, apaixonante e desorientadora – que não deixará
ninguém recostado à indiferença. Não vai ser fácil ascenderem à tona deste
profundo sonho e quebrarem todo um febril estádio de transe espiritual. Embaciem-se
e diluam-se nele.
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