sábado, 17 de maio de 2025
sexta-feira, 16 de maio de 2025
quinta-feira, 15 de maio de 2025
Review: ⚡ Madmess - 'The Third Coming' (2025, Gig.Rocks!, Kozmik Artifactz & Glory or Death Records) ⚡
Depois do seu
homónimo álbum de estreia (lançado em 2019 e aqui revisto) e do segundo ‘Rebirth’
(lançado em 2021 e aqui examinado), o potente power-trio Madmess
– uma das bandas portuguesas mais excitantes da actualidade com presença
habitual em alguns dos mais importantes festivais europeus – lança agora o seu
muito aguardado terceiro álbum de estúdio denominado ‘The Third Coming’
e editado através da parceria entre as companhias discográficas Gig.Rocks!
(responsável pela distribuição em solo português), Kozmik Artifactz
(responsável pela distribuição na Alemanha e restantes países europeus) e a Glory
or Death Records (responsável pela distribuição em território norte-americano)
nos formatos LP (este ultra-limitado a uma apelativa primeira prensagem de
apenas 300 cópias disponíveis) e digital. Locomovido por um electrizante, fibroso,
rugoso e intoxicante Heavy Psych de alta voltagem, torneado e apimentado
balanço Blues, passageira nebulosidade divina, astral e intimista, e uma
indiscreta tracção setentista que homenageia dinossauros nipónicos como Blues
Creation, Samurai, Flower Travellin' Band e Speed, Glue
& Shinki, e partilha a genética de bandas contemporâneas como Earthless,
Petyr, Elder, Joy, Lecherous Gaze, Danava e Witch,
este novo álbum de Madmess tem o dom de centrifugar o cosmos e disparar
o ouvinte numa enlouquecedora, vertiginosa e transformadora odisseia galáctica,
driblando o abraço gravitacional de massivos planetas estacionados na solitária
noite cósmica, penetrando o empoeirado tecido de fantasmagóricas nebulosas que
vagueiam pela vacuidade sideral, surfando os anéis de Saturno e escoando através
da garganta profunda de poderosos buracos negros que tudo engolem e distorcem. A sua fogosa,
venenosa, alucinógena e portentosa sonoridade de colorida pele camaleónica –
fervida a intensa combustão e electrificada a alta tensão – é esporeada e
vergastada em sónicas, frenéticas e apoteóticas galopadas de instrumentos em alucinada
debandada e acelerados a alta rotação, e ocasionalmente embriagada por etéreas,
anestésicas e contemplativas passagens de clima paradisíaco e instrumentos adormecidos
e compenetrados em sublimados diálogos. Um pêndulo que nos viaja da vulcânica
euforia à xamânica letargia. ‘The Third Coming’ é simultaneamente uma
injecção de adrenalina, outra de morfina e todo um mastodôntico tsunami
de endorfinas que nos invade a psique. O meu registo de eleição deste tridente natural
da cidade do Porto que hoje ostenta um invejável ponto de maturação.
Mergulhem, destemidamente, no olho deste impiedoso furacão que tudo varre à alucinante
boleia de uma estupenda guitarra – afogueada pela fritura do efeito Fuzz
e alcoolizada pelo delirante efeito Wah-Wah – que se manifesta em ciclónicos,
serpenteantes, empolgantes e titânicos riffs de onde esvoaçam orgásmicos,
ácidos, caleidoscópicos e prismáticos solos, um baixo pujante de bafo nervudo,
tenso, denso e sisudo, uma bateria relampejante, sísmica, bombástica e provocante de ritmos
altivos, buliçosos e propulsivos, e uma voz de carisma liderante e essência
espectral que ecoa por todas as regiões da infinidade espacial. Este é um álbum imensamente
sedutor, catártico e conquistador. Uma obra de beleza e destreza consumadas que
me prendera e ofuscara do primeiro ao derradeiro tema. Devo ainda estender as mais elogiosas apreciações ao fantástico, detalhado, caprichado e metafórico artwork –
superiormente ilustrado pela talentosa artista portuguesa Lory Cervi –
que me remete para a célebre cena do jogo de xadrez com a Morte no épico filme “Det
sjunde inseglet” (1957) do famoso realizador sueco Ingmar Bergman. ‘The
Third Coming’ é uma avalanche psicotrópica que nos persegue e alcança, um forte
sedativo que nos derrete e embevece, e um potente afrodisíaco que nos faz cravar
os dentes nos lábios e salivar compulsivamente. Um dos mais grandiosos álbuns
produzidos em 2025 está aqui, no vistoso, esfuziante e glorioso regresso de Madmess.
Inflamem-se e deleitem-se nele.
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quarta-feira, 14 de maio de 2025
terça-feira, 13 de maio de 2025
Review: 🎨 Lars Fredrik Frøislie - 'Gamle Mester' (2025, Karisma) 🎨
Dois anos após o
lançamento do seu mirífico álbum de estreia denominado ‘Fire Fortellinger’
(aqui trazido e imensamente elogiado), o talentoso multi-instrumentista
norueguês Lars Fredrik Frøislie (teclista de
Wobbler) edita agora o seu segundo álbum a solo. Intitulado ‘Gamle Mester’ (título derivado de um idoso
Carvalho localizado em Krødsherad Prestegård – árvore emblemática que também servira
de inspiração para a criação de um inspirado poema da autoria de Jørgen Moe (“Den
Gamle Mester”, 1855) – que preenche com exclusividade toda a temática deste mitológico,
poético e histórico álbum – detentor de um desarmante brilhantismo composicional
–, representando a sabedoria, a resiliência e a resistência à cáustica força do
tempo) e promovido pela carismática companhia discográfica norueguesa Karisma
Records através dos formatos LP, CD e digital, este novo trabalho
excepcional deste inventivo e produtivo músico sediado na cidade-capital Oslo
conta com as enriquecedoras colaborações do baixista Nikolai Hængsle (Elephant9
e Needlepoint) – que já fizera parte do restrito elenco responsável pela
produção do primeiro registo – e do flautista Ketil Einarsen (Ex-Jaga
Jazzist, Weserbergland e White Willow). Brilhantemente pincelada
por um rural, romântico, nostálgico e medieval Progressive Rock de principesco traje sinfónico, vistoso
e virtuoso estilo barroco e emoldurado por um agradável, bucólico e afável
clima Folk, que homenageia clássicas e pioneiras referências do género como
Banco Del Mutuo Soccorso, Le Orme, Premiata Forneria Marconi,
Locanda delle Fate, Museo Rosenbach, Il Balletto di Bronzo,
Yes, Renaissance, Gentle Giant, Gryphon, Emerson,
Lake & Palmer, Jade Warrior, Camel, Van Der Graaf
Generator e Ougenweide, a pastoral, mediévica, quimérica e outonal musicalidade
de ‘Gamle Mester’ convida o ouvinte a testemunhar e personificar vivências ancestrais
há muito caídas em desuso, adormecidas e esquecidas no tempo. Capitaneado por sonhadoras,
relaxadas, perfumadas e enternecedoras passagens orvalhadas a deslumbrante magia
ambiental, e triunfantes, apoteóticos, dramáticos e imponentes crescendos que
ostentam toda uma superiora maestria instrumental, esta maravilhosa obra-prima
de Lars Fredrik Frøislie faz-nos sonhar
acordados, embriagados, de espírito petrificado, sorriso desabrochado e olhar
empoeirado de matéria estelar. Na génese desta enfeitiçante fábula impecavelmente
orquestrada reside toda uma sedutora, ostentosa e arrebatadora profusão de melodiosos,
sumptuosos e dialogantes teclados, uma bateria soberbamente jazzística de
ritmos enfáticos, atraentes e acrobáticos, um baixo tenso, denso e sombreado de
acentuada presença, uma flauta fascinante de sopros aveludados, afinados e
elegantes, e uma voz trovadora, profética e altiva que (en)canta na sua língua
nativa. ‘Gamle Mester’ representa mais uma expedição gloriosa deste
dracar liderado a um só grito. Uma obra verdadeiramente sublime – de consumada
beleza – que vive entre a reluzente claridade da aurora e a rosada luz crepuscular.
Um álbum de audição e aquisição obrigatórias a todos os entusiastas e colecionadores
do género. Deixem-se capturar, apaixonar e extasiar por esta aventurosa, opulenta
e majestosa epopeia de Lars Fredrik Frøislie sem o mais residual desejo de
dela regressar.
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segunda-feira, 12 de maio de 2025
sábado, 10 de maio de 2025
sexta-feira, 9 de maio de 2025
Review: 🏴☠️ Soft Ffog - 'Focus' (2025, Is It Jazz? Records) 🏴☠️
Três anos após o
lançamento do seu impactante álbum de estreia (aqui descrito e aqui
galardoado com o título de melhor disco nascido nesse mesmo ano), o talentoso
quarteto norueguês Soft Ffog está finalmente de regresso com a
apresentação do seu tão ansiado segundo trabalho de longa duração intitulado ‘Focus’
e editado pela jovem e irreverente companhia discográfica local Is It Jazz? Records
através dos formatos LP, CD e digital. Deste novo álbum da banda domiciliada em
Oslo tudo esperava e – devo antecipar – tudo ele me deu. Depois de um
primeiro registo nutrido a altivez, alta densidade, sobranceria e rigidez, ‘Focus’
exibe o lado mais cerebral, relaxado, elaborado e sentimental de Soft Ffog.
O seu Yin-Yang foi, desta forma, alcançado. Norteada por um imaginativo, aprumado, intrincado e atractivo
Jazz-Fusion de comportamentos catatónicos envolvido e revolvido num desavergonhado
flirt com um afectivo, esponjoso, glorioso e expansivo Progressive
Rock de ares sinfónicos, a extravagante, sofisticada, sublimada e
mirabolante musicalidade de ‘Focus’ presta uma portentosa homenagem ao
que de melhor brotara dentro dos universos Jazz e Progressivo no frondoso
jardim setentista. Colorido, luminoso, odoroso e entretido, esta irretocável obra-prima
de Soft Ffog tem o raro dom de agarrar, cativar e enlevar o ouvinte do
primeiro ao derradeiro minuto. Ainda que as denominações atribuídas aos seus
temas possam sugerir uma influência descarada de bandas como Camel, Focus
e Jimi Hendrix (?), é nas paisagens sonoras de egrégias referências como Frank
Zappa (das eras ‘Hot Rats’, ‘Waka / Jawaka’ e ‘The Grand
Wazoo’), Brand-X, Caravan, Yes, Genesis, Gentle
Giant, King Crimson, Soft Machine, Hatfield and the North
e Colosseum que encontro maior semelhança com a estonteante, maravilhosa, maviosa e
triunfante sonoridade de ‘Focus’. Compartimentado em quatro fascinantes,
apaixonantes e extensas faixas – superiormente capitaneadas por desafiantes,
labirínticas, dramáticas e impressionantes composições condimentadas a escultural formosura,
tricotadas a máxima precisão e elegantemente trajadas a tecido respirável de
alta-costura – este novo trabalho dos virtuosos escandinavos extravasa as estremaduras
da perfeição. De agradável clima Canterbury’esco, aura fabular e natureza
novelesca, somos levemente alcoolizados pela harmoniosa maestria destes “Jazz
Cats”, massajados pela sua refinada subtileza e levados, integralmente deslumbrados,
pelas verdejantes e sedutoras planícies que se estendem e espreguiçam até ao
revoltoso e impiedoso mar onde naufragamos. Seráfica, leve, livre e mágica, a sumptuosa sonoridade de ‘Focus’
é brilhantemente cozinhada por uma guitarra magistral de camaleónicos,
miraculosos, faustosos e apoteóticos riffs de onde são vertidos angulosos,
assombrosos, esdrúxulos e vertiginosos solos, uma bateria sensacional a galope
de ritmos alucinantes, acrobáticos, pirotécnicos e excitantes, um baixo magnetizante
de reverberação elástica, sombreada, encorpada e ondulante, e um teclado etéreo
de melodias quiméricas, coloridas, perfumadas e sidéricas. De distribuir ainda
elogiosas apreciações pelo heroico artwork – distintamente ilustrado
pelo prendado artista norueguês Einar Evju – que ajuda a galvanizar e
imortalizar este inatacável álbum de Soft Ffog. Percam-se e encontrem-se
por entre a espalhafatosa desarrumação e charmosa arrumação de ‘Focus’.
Este é um registo de contornos épicos onde a mais caprichosa tecnicidade é
posta ao serviço da mais apolínica música. Não vai ser nada fácil arredar esta insuperável obra
do primeiro lugar na listagem dos melhores de 2025.
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quinta-feira, 8 de maio de 2025
quarta-feira, 7 de maio de 2025
terça-feira, 6 de maio de 2025
Review: 🍄 The Crystal Teardrop - '... Is Forming' (2025, Rise Above) 🍄
Do Reino Unido chega-nos a colorida acidez destilada pela jovem e irreverente banda The Crystal Teardrop que nos apresenta o seu jovial álbum de estreia intitulado ‘… Is Forming’, editado pela influente companhia discográfica londrina Rise Above Records através dos formatos LP, CD e digital. Cromatizada por um caleidoscópico, meloso, harmonioso e exótico Psychedelic Pop, ritmada por um provocante, assanhado, animado e dançante Garage Rock e climatizada por um envolvente, pastoral, devocional e sorridente Acid Folk, a analógica, ensolarada, florida e estereofónica musicalidade de The Crystal Teardrop representa uma bonita carta de amor à segunda metade dos vívidos 60’s, onde comunga carismáticas influências desse fértil solo temporal como Jefferson Airplane, Love, Shocking Blue, The Mamas & The Papas, Ultimate Spinach, The Byrds, The Velvet Underground & Nico e The Peanut Butter Conspiracy. Temperado com ingredientes da culinária indiana e arejado pela salgada brisa californiana, este fantasista e revivalista ‘… Is Forming’ provoca no ouvinte ilusões, alucinações, sinestesias, delírios místicos, alterações da noção temporal e espacial, perda do controle emocional, um sentimento de bem-estar, experiências de êxtase, euforia e uma grande sensibilidade sensorial. Um ácido lisérgico que se dissolve nas nossas línguas, dilata as nossas pupilas e expande a nossa consciência. Sensual, espiritual, resplandecente e estival, este primeiro registo do quinteto localizado no centro de Inglaterra não dá descanso às nossas glândulas salivares. Uma açucarada, frutada e irresistível guloseima – de consumo impróprio para diabéticos – que nos vicia, delicia e fascina ao longo de uma dúzia de agradáveis, apaixonantes e dançáveis canções. Idílico, catártico, arrebatador e prismático, ‘… Is Forming’ é um álbum paradisíaco que nos derrete de satisfação. Um oásis nirvânico sublimemente musicado por uma voz liderante de tez aveludada, amarelecida e caramelizada, duas guitarras alucinógenas de esponjosos, cativantes e luminosos acordes e solos escorregadios, serpenteantes e fugidios, um baixo groovy de linhas ondeantes, elásticas e magnetizantes, uma bateria descomplicada de ritmos mexidos, entretidos e galopantes, e um mágico teclado que lhe confere toda uma aura romancista, sideral e utopista. Dispam-se de timidez e avancem, confiantes, para o meio desta festiva pista de dança amuralhada por um estonteante jogo de espelhos, vivificada por cores pulsantes e banhada por uma delirante e torrencial chuva de purpurina cintilante. The Crystal Teardrop é uma ofuscante radiação de afago sensorial e psicotrópica coloração que nos cega, deslumbra e inebria de pura ataraxia. Bronzeiem-se e prazenteiem-se na sua seráfica luzência, e dancem, compenetrados e inundados em suor, até que as luzes se apaguem.
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segunda-feira, 5 de maio de 2025
domingo, 4 de maio de 2025
sexta-feira, 2 de maio de 2025
quinta-feira, 1 de maio de 2025
Review: 🪐 Minerall - 'Strömung' (2025, Sulatron Records) 🪐
Depois de na
madrugada de 2024 ter sido revelado o seu cativante álbum de estreia ‘Bügeln’
(aqui trazido e julgado), o tridente Minerall apresenta agora o
seu viajante segundo trabalho de longa duração – colhido na mesma sessão de
onde resultara o primeiro – intitulado ‘Strömung’ e editado pela germânica Sulatron
Records através dos formatos LP e digital (de salientar ainda que esta
companhia discográfica acaba de lançar os dois álbuns de Minerall numa
ultra-limitada edição de apenas 100 cópias em CD duplo). Com um pé firmado em
território alemão e o outro apoiado em solo austríaco, este xamânico trio
aponta os seus instrumentos à infindável vacuidade da noite cósmica,
presenteando o ouvinte com uma propulsiva, admirável e explorativa odisseia
espacial. Filtrado de experimentais, ácidas, alucinógenas e siderais jams
puramente instrumentais – conduzidas e desenvolvidas a intuitiva simbiose –,
este ‘Strömung’ faz da combinação de um intoxicante,
caleidoscópico, hipnótico e lisérgico Psychedelic Rock e um anestésico, repetitivo,
obsessivo e profético Space Rock o principal ingrediente do combustível que
seduz, desenraíza da gravidade terrestre e conduz o ouvinte pelas secretas, admiráveis
e inexploradas regiões alienígenas da infinidade astral. De olhar vendado e pálpebras maquilhadas
por matéria estelar, cabeça sonolenta e pesada, e espírito febril, incensado por
uma psicotrópica nebulosidade, embalamos – de membros relaxados e sentidos entorpecidos
– numa amplificação consciencial pelas autoestradas galácticas de Minerall,
deixando para trás um corpo desocupado, caído e inanimado. São 40 minutos de terapêutica, meditativa e narcótica transcendência, compartimentados em duas imersivas, longas e evolutivas faixas
que nos alcoolizam, engolem e estacionam – apáticos, serenos e alheios a tudo o
resto – num inamovível estádio de extasiante, doce e reconfortante letargia. Colorido
por uma guitarra envolvente que se amaina em flutuantes, etéreos e enfeitiçantes
riffs desdobrados em slow-motion, e alarma numa sónica tempestade
de vertiginosos, mirabolantes e venenosos solos em psicótica efervescência,
sombreado por um baixo tenro de linhas pulsantes, obesas, coesas e ondeantes,
tiquetaqueado por uma bateria magnética de galope descomplicado, constante e descontraído,
e magicado por um nebuloso sintetizador que exorciza todos os corpos celestes, ‘Strömung’
é um poderoso ansiolítico que nos afaga e naufraga nos mares eternos do Cosmos
bocejante. Morfina via auditiva que nos amolece, paraliza, insensibiliza e embevece. Sintam-se diluir e
submergir nas profundezas de Minerall e desaguar num imperturbável estado
de completo zen sem a mais pequena vontade de despertar.
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quarta-feira, 30 de abril de 2025
segunda-feira, 28 de abril de 2025
domingo, 27 de abril de 2025
sexta-feira, 25 de abril de 2025
quinta-feira, 24 de abril de 2025
Review: 🐺 André Drage - 'Wolves' (2025, Drage Records) 🐺
Proveniente da
insuspeita Noruega – aquele que é, aos meus olhos, o mais importante e populoso
viveiro do Jazz Fusion em território europeu – dá à costa este espantoso
registo que inundara de inefável prazer o meu cérebro, arregalara os meus olhos, fizera
salivar os meus ouvidos e massajara todas as zonas erógenas do meu corpo. Formado
e liderado pelo versátil e talentoso baterista, produtor e compositor norueguês
André Drage (integrante da banda Draken), este engenhoso,
irreverente e aparatoso quinteto natural da cidade-capital Oslo irriga o
assombroso ‘Wolves’ com um enfeitiçante, inventivo, imersivo e provocante
Jazz Fusion de extravagante caligrafia Avant-garde’esca
e uma doce fragância oriental, em simbiótica, fascinante e ritualística
comunhão com um agradável, lustroso, luxuoso e dançável Prog Rock de ameno
clima Canterbury’esco. Lançado nos formatos LP e digital sob
o exclusivo carimbo editorial de autor (via Drage Records), este criativo
colectivo – de alma vendida aos místicos desígnios da música Jazz – partilha
a genética de influentes referências locais da contemporaneidade como Bushman’s
Revenge, Needlepoint, Soft Ffog, The Verge, Krokofant,
Sex Magick Wizards, Elephant9, Jordsjø, Wobbler, WIZRD,
e Kanaan, assim como comunga o precioso legado deixado por grandiosas lendas
internacionais como King Crimson, Mahavishnu Orchestra, Soft
Machine, Nucleus, Return to Forever, Herbie Hancock, The
Eleventh House feat. Larry Coryell, Frank Zappa, Colosseum,
Weather Report, Brand X, Caravan, National Health e
Jean-Luc Ponty. Arquitectado por impressionantes, vibrantes, audaciosas e
desafiantes composições – brilhantemente executadas a estimulante, requintada, cuidada
e estonteante perícia – ‘Wolves’ caça-nos, enterra os seus longos e
afiados caninos na nossa jugular e conquista-nos sem qualquer resistência da
nossa parte. A sua sonoridade imensamente sedutora, esfíngica, mística e cativante
viaja-nos, alucinados e sem travões, pelas curvas e contracurvas do seu corpo oleoso,
sinuoso e invertebrado, desaguando-nos, desmaiados, absortos e deslumbrados, nas
suas paradisíacas praias virginais de luzência deífica. A frenética euforia e a
anestésica melancolia de mãos dadas. Nas asas de uma bateria bombástica,
excêntrica e inflamante que se aventura e desventura em excitantes, extraordinárias,
propulsivas e mirabolantes acrobacias, uma guitarra exótica, ciclónica e esdrúxula
que se hasteia em angulosos, dramáticos, enfáticos e faustosos riffs e se
meneia em solos intrincados, ziguezagueantes, vertiginosos e desvairados, um
baixo elástico, esponjoso, gorduroso e hipnótico de linhas carregadas, pulsantes,
bailantes e carnudas, um teclado sonhador que desata frescas, aromáticas,
seráficas e romanescas harmonias, e um buliçoso, histérico e ostentoso violino de
aura fabular e mugidos penetrantes, fugidios, luzidios e arrepiantes, percorremos
as perfumadas, arejadas, verdejantes e encantadas planícies fantasiadas e realizadas
por André Drage. Todo um utópico, extasiante, psicadélico e caleidoscópico delírio
que durante 35 minutos nos aspira e centrifuga na sua profunda garganta
rodopiante, e depois nos cospe, embriagados, entontecidos e desnorteados, para
a cadeira da estranha e desconfortável realidade. Sumamente, este é um álbum
verdadeiramente belo e viciante que extravasa as fronteiras da perfeição. Uma
obra-prima notável onde o virtuosismo técnico é posto ao serviço da música e
não o oposto. Em ‘Wolves’ nada há de censurável e tudo há de venerável. Vai
ser fácil vê-lo digladiar-se pelo mais cobiçado lugar do pódio onde figurarão
os melhores registos de longa duração do presente ano.
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