O quarteto
italiano Da Captain Trips está de regresso com o lançamento do seu
novíssimo álbum, três anos depois do seu antecessor ‘Maths of the Elements’
(aqui revisto e copiosamente elogiado), apelidado ‘In Between’
e editado nos formatos LP, CD e digital com o carimbo da companhia discográfica
romana Subsound Records. Norteado por um relaxante, aromático, magnético
e extasiante Psychedelic Rock com um fresco e salgado sabor a mar, um meditativo, libertador,
revelador e lenitivo Space Rock com vista desabrigada para a eterna
noite cósmica, e um atmosférico, deslumbrante, apaixonante e cinematográfico Post
Rock que nos faz lacrimejar, ‘In Between’ inspira-se n’O Livro
Tibetano dos Mortos. Uma ponte entre a vida e o renascimento, intervalada
pela morte e electrificada pela imortal energia consciencial, onde se vislumbram
divindades e percepciona a irradiante clara luz primordial. Combinando
influências de bandas como 35007, Ahkmed, Leech, My
Brother the Wind, Interkosmos e Rotor, a sua mística, ritualística
e celestial sonoridade leva o ouvinte a testemunhar uma milagrosa experiência
transcendental que lhe desancora a consciência da gravidade terrestre e,
deixando para trás o seu respectivo corpo caído, vazio e inanimado, ascende aos
mais distantes astros do espaço alienígena incensado a aroma oriental. De olhar
envidraçado, sorriso desabrochado e espírito embriagado embarcamos numa transformadora,
regeneradora e fantástica odisseia onde o anoitecer da vida se mistura com a amanhecer
da morte. Uma verdadeira revolução espiritual que nos metamorfoseia as lentes
da percepção e estimula a emancipação mental pela vertigem das autoestradas siderais.
Ataráxico, anestésico, sublime e mágico, ‘In Between’ é um álbum verdadeiramente
maravilhoso, de propriedades terapêuticas, que parece musicar, endeusar e
eternizar as mais belas memórias da nossa vida. Com comoventes passagens que
nos acordam a nostalgia, abrandam a respiração, amolecem o coração e agitam a
ondulação das águas que se escondem por detrás dos nossos olhos, esta inspiradora
obra de Da Captain Trips vive na luz e na sombra, na esperança e na
descrença, colocando-nos num estado de total permeabilidade emocional. Na génese
deste fármaco capaz de curar a alma e de a preparar para a derradeira partida
gravitam entre si uma admirável guitarra de acordes conduzidos a atraente sagacidade
e edificados a lapidar fragilidade, um baixo vagabundo de linhas elásticas, hipnóticas
e ondulantes, uma bateria lustrosa de ritmicidade airosa e estimulante, e toda
uma imersiva profusão de teclados enfeitiçantes que entoam veludosas e tocantes
melodias Angelo Badalamenti’anas. Este é um álbum imensamente sedutor, detentor
de uma consumada beleza crepuscular, que nos adormece, enternece e conforta. Um
registo emocionante, revestido por um manto estelar, atestado de uma
sensibilidade que nos desarma e atira aos braços da vulnerabilidade. De
espírito anoitecido, ébrio e comovido, percorremos, sonâmbulos, os velhos corredores
da doce melancolia que nos aprisionam num utópico mundo de fantasia. Percam-se e
encontrem-se na intimidade do universo onírico de Da Captain Trips sem a
mais pequena vontade de despertar. São 38 minutos de irresistível sedução. No final deste miraculoso ‘In Between’ só nos
resta pestanejar, secar as lágrimas e demoradamente suspirar: “Que álbum tão
lindo!”.
segunda-feira, 7 de julho de 2025
Review: ✨ Da Captain Trips - 'In Between' (2025, Subsound Records) ✨
domingo, 6 de julho de 2025
sexta-feira, 4 de julho de 2025
quarta-feira, 2 de julho de 2025
terça-feira, 1 de julho de 2025
segunda-feira, 30 de junho de 2025
domingo, 29 de junho de 2025
sexta-feira, 27 de junho de 2025
quinta-feira, 26 de junho de 2025
Review: 🍹 Goblyns - 'Three Sisters' (2025, Crazysane Records) 🍹
Depois de no
passado ano ter sido bronzeado e contaminado pelas boas vibrações exaladas
pelos poros do sublime álbum de estreia de Goblyns – intitulado ‘Hunki
Bobo’ e aqui trazido e traduzido em decorosas e elogiosas palavras –,
sou agora novamente subjugado à maravilhosa resplandecência deste exótico tridente
domiciliado na cidade-capital alemã de Berlin que acaba de lançar o seu
segundo trabalho de longa duração apelidado ‘Three Sisters’ e editado
sob as formas de LP, CD e digital com o carimbo editorial da germânica Crazysane
Records. Este frutado, açucarado, multicolorido e delicioso cocktail
musical – de textura polposa e sabor tropical – tem como seus ingredientes reinantes
um magnetizante, matizado, arenoso, ensolarado e provocante Psychedelic Rock
de um forte pulso Funk que nos faz saltitar os ombros, um imersivo ritmo
Krautrock que nos rodopia a cabeça, um incessante galope Zamrock que
nos viaja num empolgante safari de boas sensações, uma fresca brisa Soul
que nos eteriza e seduz, e toda uma cinematográfica atmosfera que se desdobra
na infinidade do nosso imaginário e nos conduz aos Ennio Morricone’scos
desertos do Spaghetti Western. A sua sonoridade distendida, quente, sorridente
e fluída banha-se nas paradisíacas praias de bandas como Kikagaku Moyo, Khruangbin,
Futuropaco, Here Lies Man, The Budos Band, The Meters,
Glass Beams, W.I.T.C.H. e CAN, prendendo, maravilhando e
deleitando o ouvinte do primeiro ao derradeiro tema. Fascinados, levemente
embriagados e levados pelo esponjoso, irresistível e apetitoso groove de
Goblyns, somos contagiados pela boa disposição de ‘Three Sisters’
que nos conserva de olhar semi-cerrado e sorriso desenhado no rosto. Uma
enfeitiçante, incansável e purificante dança tribal onde nos perdemos e
encontramos por entre gargalhadas ecoantes, visões caleidoscópicas e um atordoamento
sensorial. Numa dança gravitacional, a delirante guitarra de serpenteantes, sensuais,
gulosos e viciantes Riffs – ocasionalmente electrificados e inflamados
pelo urticante efeito Fuzz – e solos derretidos, borbulhantes e
desmaiados, o baixo elástico de linhas pulsantes, carnudas, ondeantes e
hipnóticas, a tribalista bateria de ritmicidade absorvente, desembaraçada, compenetrada
e excitante, e os vocais leves, sussurrados, delicados e espectrais coabitam
num inquebrável abraço orbital. São 35 minutos de estadia num autêntico oásis
sensorial. ‘Three Sisters’ é um álbum de fácil digestão e imediata
atracção que nos leva à rendição e conquista. Um disco triunfante, de luz vibrante e coloração estonteante, que nos obriga a bailá-lo com voracidade e sofreguidão até que a fadiga nos derrube. A banda-sonora perfeita para o
Verão.
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