segunda-feira, 28 de novembro de 2022

💃 Goma - "Madre Tierra" (1975)

🙏 Al Cisneros is my spirit animal.

🙌 Lemmy Kilmister // Motörhead

🔌 КОМВУИАТ ЯОВОТЯОИ @ Dickfehler Session No. 1

Review: 🪐 КОМВУИАТ ЯОВОТЯОИ - 'Dickfehler Studio Treffen 2' (2022) 🪐

★★★★

Dois anos após o lançamento da primeira parte da sublimada e exploratória jam-session intitulada ‘Dickfehler Studio Treffen’ (aqui vivamente experienciada e textualmente narrada), eis que os cosmonautas germânicos de instrumentos empunhados Kombynat Robotron disponibilizam agora o tão aguardado segundo capítulo desta fantástica odisseia. Lançado nos formatos digital e LP pela mão da fértil discográfica britânica Drone Rock Records, este fascinante registo de essência instrumental – o vigésimo do quarteto sediado na cidade de Kiel em apenas quatro anos de inesgotável criatividade e imparável produção discográfica – gravita em órbita de um magnético, esponjoso e morfínico Krautrock de propulsão astral – aliado a um intoxicante, balsâmico e delirante Psychedelic Rock de absorvente textura Drone’sca, e um deslumbrante, etéreo e viajante Space Rock com vista panorâmica para as estrelas. Irrigada por generosas doses de um alienígena e refrescante experimentalismo que se manifesta de forma livre, sem fronteiras que o espartilhem, a apaziguante, embrumada e narcotizante sonoridade de ‘Dickfehler Studio Treffen 2’ desenraíza o ouvinte da gravidade terrestre e embala-o numa adorável, inescapável e transcendente hipnose pela desmesurada vacuidade de um Cosmos sonolento. De pálpebras seladas, narinas dilatadas, cabeça entorpecida e pesadamente baloiçada de ombro a ombro, e espírito profundamente enfeitiçado, vagueamos e naufragamos prazerosamente na eterna vertigem de Kombynat Robotron sem garantias de um regresso ao ponto de partida. Capturados e relaxados pela lisérgica sedução que as suas intuitivas, ácidas e evolutivas jams exalam, embalamos numa ataráxica levitação – reproduzida em slow-motion – de encontro ao tão almejado transe espiritual. Na composição deste poderoso opiáceo estão duas guitarras embriagadas que se envolvem e revolvem num flirt de obcecantes, libidinosos e contagiosos acordes de onde são destilados solos mirabolantes, frígidos e ecoantes, um baixo liderante – balanceado a linhas pulsantes, hipnóticas e ondeantes – que soletra repetida e incansavelmente todas as sílabas do riff-base, e uma bateria minimal – tiquetaqueada a uma repetitiva precisão robótica – que pauta toda esta entontecida narcose com o inflexível rigor de um relógio suíço. São 44 minutos – compartimentados em quatro longas faixas – dissolvidos na abissal intimidade de um sono profundo que nos massaja o cerebelo e estaciona num inamovível estádio de transe. Não vai ser nada fácil – ou sequer desejado – despertar disto.

sexta-feira, 25 de novembro de 2022

⛪️ MOUNDRAG - "Shade in the Night" (live, 2022)

📺 All Them Witches - "Hush, I'm On TV" (2022)

London Odense Ensemble - "Casper's Green" (2023, El Paraiso Records)

🌴 London Odense Ensemble - 'Jaiyede Sessions Vol. 2' (01/2023, El Paraiso Records)

🎧 Elder - 'Innate Passage' (2022, Armageddon Shop & Stickman Records)

🎁 Mark Lanegan (25/11/1964 🎗 22/02/2022)

📸 Katrina Dickson

quarta-feira, 23 de novembro de 2022

💤 Maarten Donders

☠️ The Well - "Mortal Bones" (2014, RidingEasy Records)

✨ YES

🍄 Janis Joplin

Review: 🐫 Stones Of Babylon - 'Ishtar Gate' (2022) 🐫

★★★★

Encarada com petrificado assombro toda a ofuscante beleza arquitectónica de que fora feito o escultural, ostentoso e monumental Portal de Ishtar – a oitava e principal porta de entrada para a edénica cidade da Babilónia, construída com tijolos cozidos e vidrados, ornamentada por azulejos de coloração azul profundo e brilho diamantino, e erigida em homenagem à deusa acádia Ishtar (deusa da vitalidade, do amor e da guerra) – estamos prontos para atravessá-lo e comungar toda a santificada liturgia pesadamente incensada pelo fumarento e baloiçante turíbulo de Stones Of Babylon. Editado pelo insuspeito selo discográfico português Raging Planet através dos formatos LP, CD e digital, este segundo trabalho intitulado ‘Ishtar Gate’ destes três califas sediados na cidade-capital de Lisboa vem dar a tão ansiada continuidade à sua milagrosa odisseia pela enigmática, seráfica e mitológica Pérsia ancestral principiada com o frondoso, odoroso e ajardinado ‘Hanging Gardens’ (aqui desconstruído e reverenciado). Embrumado por um canábico, obscurantista, ritualista e mântrico Psychedelic Doom de fragância oriental, ardência desértica, caligrafia arábica e consagração espiritual, este ‘Ishtar Gate’ teve em mim o mesmo poder hipnotizante que a encantadora dança da flauta indiana tem sobre a serpente Naja. De pés desnudos e soterrados nas aveludadas, finas e douradas areias do deserto, olhos postos no Sol poente de bafo morno e luzência ardente, e alma rendida às bíblicas vibrações de idioma acádio, viajamos e embalamos à aliciante boleia sonora de uma guitarra messiânica que se meneia em imperiosos, sísmicos, esotéricos e fogosos riffs de onde serpenteiam solos magnetizantes, oleosos, luminosos, e intoxicantes, um umbroso baixo encarvoado a tensa e densa negrura que se orienta por entre encorpadas, fibrosas e onduladas linhas desenhadas a negrito, e uma bateria expressiva, empolgante, faíscante e incisiva de pratos flamejantes e tambores tribalistas. O mirífico artwork que emoldura na perfeição toda esta divina romaria à velha Mesopotâmia é rubricado pelo talentoso ilustrador português Soares Artwork. São 55 minutos de uma deífica cintilação que nos converte a todos em seus devotos peregrinos. Um álbum de atmosfera sonâmbula que vagueia livre e graciosamente entre a morfínica letargia e a vulcânica euforia. Banhem-se no diluviano misticismo de ‘Ishtar Gate’ e vivenciem com inteira devoção todo o santificado esplendor de um dos mais fortes candidatos a melhor álbum português do ano.

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 Raging Planet

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

🦎 Earthless - "Acid Crusher" (2016, Tee Pee Records)

Review: ❄️ EF - 'We salute you, you and you!' (2022) ❄️

★★★★

A um pequeníssimo passo de completarem duas décadas de fértil existência, onde encheram duas mãos de lançamentos, os suecos EF perfilam-se hoje como uma das bandas mais respeitadas e incontornáveis do panorama Post-Rock. E é justamente nesta orvalhada madrugada do seu vigésimo aniversário, que o colectivo nórdico – enraizado na cidade de Gotemburgo – nos presenteia com aquele que considero ser o seu mais vistoso, sincero, fresco e ambicioso registo lançado até à data: ‘We salute you, you and you!’, editado pela influente mão da germânica Pelagic Records através dos formatos LP, CD e digital (este último com a sempre estimável possibilidade de download gratuito). Climatizado por um emotivo, melancólico, cinematográfico e imersivo Post-Rock de brancura invernal, este sexto trabalho de longa duração de EF tem o dom de agasalhar o ouvinte com um quente sentimento de nostalgia, capaz de consolar corações amarrotados e abrilhantar olhares marejados de lágrimas. Superiormente costurada por composições tristemente belas que nos sufocam num inquebrável estádio de resplandecente arrebatamento, a delicada, sonhadora, libertadora e sublimada sonoridade de ‘We salute you, you and you!’ balanceia quem a comunga entre a ensolarada crença e a anoitecida descrença. Sintonizados nas mesmas frequências sonoras e sentimentais de outras grandes referências do género, tais como Explosions in the Sky, Mogwai e Godspeed You! Black Emperor, os EF encasulam-nos no seu poético, frágil e onírico universo do qual não mais queremos sair. Toda uma transformadora depuração emocional, levada a cabo pela harmoniosa conjugação orquestral de lapidar beleza ambiental dialogada entre os vocais amainados, acetinados e angelicais, guitarras de acordes tricotados a desarmante ternura e magnetizante finura, teclados de formosos, celestiais e odorosos bailados, uma bateria de ritmo cativante que amplifica toda esta catarse emocional, um baixo de linhas robustecidas, murmurantes e obscurecidas, um violino de dramáticas, plangentes e fatídicas lamúrias que nos cortam a respiração, um violoncelo de soturnidade chorada, um trombone de mugidos lúgubres, e um trompete de luminosos, dourados e gloriosos sopros. São 44 minutos farolizados por uma pálida luzência que tanto nos esmorece e entristece como desperta e sobreaquece de uma inabalável catarse. No final permanecem a força, a determinação, o fogo, a esperança e o triunfo.

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 Pelagic Records

sexta-feira, 18 de novembro de 2022

Review: 🔮 SAPNA - 'SAPNA' (2022) 🔮

★★★★

Proveniente da populosa cidade de Nashville (capital do estado norte-americano do Tennessee) chega-nos o homónimo álbum de estreia (e que estreia!) do power-trio SAPNA, lançado no início do presente mês através do exclusivo formato digital (ainda que com a garantia deixada pela banda de uma futura edição em formato vinil pela Infinite Spin Records calendarizada para o próximo ano). Incensado por um mântrico, meditativo, hipnótico e devocional Psychedelic Doom de caligrafia oriental – capturado pelas labirínticas teias de um circundante, repetitivo e obcecante Drone, e magicado por um arejado, colorido e empoeirado experimentalismo de admirável propulsão astral – ‘SAPNA’ aponta as suas antenas para referências como OM, Mammatus, Ufomammut e White Buzz. A sua sonoridade obscurantista, enfeitiçante, ambiental e ritualista embala o ouvinte numa arrebatadora, absorvente e desorientadora odisseia pelos infindáveis desertos da espiritualidade. Dissolvidos num profundo torpor mental e soterrados num imperturbável estádio de sonambulismo norteado a religioso misticismo, vagueamos e naufragamos pelo etéreo universo de SAPNA. Num constante pêndulo entre a doce letargia que nos faz dormitar e a vulcânica euforia que nos faz estremecer de prazer, a nossa consciência é desenraizada e catapultada de encontro aos jardins celestiais que florescem no negro solo do cosmos bocejante. Na composição deste poderoso fármaco de natureza psicotrópica gravitam entre si uma esfíngica guitarra de idioma alienígena que se avoluma em montanhosos, opressivos, altivos e brumosos riffs – escaldados a fervilhante, corrosiva, arenosa e crocante distorção – de onde são vertidos ácidos, atordoantes, ziguezagueantes e translúcidos solos, vocais espectrais, subterrâneos, messiânicos e espaciais, um baixo obeso de bafo possante, tenso, denso e magnetizante, e uma bateria tanto acintosa e incisiva como calmosa e sedativa que pauta na perfeição os contrastados climas do álbum. A ilustração deífica, sacra e salvífica – apelidada de “Paradiso Canto 31” - que confere rosto a esta transformadora obra, pertence ao clássico pintor francês do século XIX Gustave Doré. São 48 minutos de uma implacável narcose que nos distorce a lucidez e revolve numa inescapável náusea. ‘SAPNA’ é um registo enigmático, esotérico e piramidal que nos embacia, seduz e extasia do primeiro ao derradeiro tema. Banhem-se no seu diluviano misticismo e vivenciem com transbordante devoção todo o ofuscante esplendor de um dos grandes álbuns do ano. Corações ao alto.

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segunda-feira, 14 de novembro de 2022

🌊 Al Cisneros // Sleep

📸 Tim Newman

✟ KEEP ON DOOMIN'

Review: 🦇 Death Trip - 'Mount Doom' (2022) 🦇

★★★★

Da cidade de Winnipeg (capital da província canadense de Manitoba) chega-nos uma das grandes surpresas musicais do ano. ‘Mount Doom’ é o mastodôntico álbum de estreia do jovem tridente ofensivo Death Trip – acabado de ser lançado através dos formatos LP e digital – e vem atestado de um nebuloso, fumarento, virulento e montanhoso Psychedelic Doom de forte odor canábico que gravita numa envolvente dança de forças com um electrizante, gorduroso, ostentoso e serpenteante Heavy Blues de estonteante toxicidade. A sua sonoridade encarvoada a trevosa negrura, locomovida a contrastadas velocidades e electrificada a sónica fervura, balanceia-se e esperneia-se com tentadora lubricidade, provocando no ouvinte uma febril adrenalina reproduzida em slow-motion. Conseguem imaginar uma endiabrada jam session entre Black Sabbath, Jimi Hendrix, Sleep, Earthless e Acid King? Se sim, acabam de pisar e sondar os místicos territórios dos canadianos Death Trip. De semblante esbranquiçado e pupilas dilatadas, mergulhamos nas abissais profundezas cósmicas de ‘Mount Doom’, embarcando numa enlouquecedora montanha-russa de entontecidas visões caleidoscópicas. São 37 minutos de selvática alucinação que tanto nos relaxa e alcooliza como sacode e euforiza sem qualquer moderação. Na constituição deste poderoso narcótico de propulsão sensorial e consagração espiritual vagueia uma guitarra titânica – de sotaque Iommi’esco e encrostada a vulcânica distorção – que se agiganta e robustece na ascensão de dominantes, obscurantistas, implacáveis e triunfantes riffs, e endoidece na condução de um psicotrópico furacão onde redemoinham delirantes, ácidos, escorregadios e berrantes solos Hendrix’eanos, balanceia um baixo umbroso, carrancudo, elástico e fibroso de sísmica reverberação, e bombardeia uma incisiva, tonitruante, galopante e propulsiva bateria de baquetas chamejantes. ‘Mount Doom’ é um álbum tremendamente empolgante, lascivo, altivo e viciante que me preenchera as medidas. Um registo de dimensão monolítica que nos sombreia, cativa e incendeia. Vai ser impossível ouvi-lo apenas uma vez, duas ou três. Banhem-se na borbulhante e urticante efervescência de Death Trip, e comunguem com transbordante e incessante entusiasmo um dos álbuns mais enfeitiçantes de 2022.

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quarta-feira, 9 de novembro de 2022

Review: 🍄 The Wild Century - 'Organic' (2022) 🍄

★★★★

Depois de no passado ano ter sido intensamente ofuscado pelo álbum ‘5’ (aqui copiosamente elogiado), o fabuloso quinteto holandês The Wild Century – domiciliado na cidade de Breda – descortina agora o seu novo álbum ‘Organic’, lançado pela companhia discográfica alemã Tonzonen Records através dos formatos LP, CD e digital. Embrulhado num imersivo, lisérgico, caleidoscópico e explorativo Psychedelic Rock de efervescência Jimi Hendrix’eana e vibrante, deslumbrante e festiva coloração sessentista, num elegante, swingado, perfumado e inebriante Blues-Rock de estética The Doors’eana, e num irreverente, apimentado, ritmado e fervente Garage-Rock sintonizado na mesma frequência de The Stooges, o terceiro álbum destes hippies da era moderna envolve, contagia e revolve o ouvinte num ácido e alucinógeno revivalismo trazido dos psicadélicos anos 60, adulterado por um corante de sofisticada contemporaneidade. Dissolvidos nas profundezas deste LSD sonoro e centrifugados numa febril hipnose em forma de repetitiva espiral, ‘Organic’ tem a capacidade de nos desfocar a lucidez e atestar de uma etérea embriaguez. São 38 minutos saturados de um mântrico encantamento que nos enevoa, embevece e atordoa. Embarquem nesta multicolorida, palpável, tântrica e inescapável narcose climatizada por uma guitarra druídica que se meneia em sumarentos, narcóticos, prismáticos e obcecantes riffs de onde esvoaçam penetrantes, escorregadios, fugidios e alucinantes solos de intoxicante acidez, um baixo polposo de ondulantes, fluídas, flexíveis e magnetizantes linhas desenhadas a negrito, uma expressiva bateria escoiceada a dinâmica, fogosa, aparatosa e criativa ritmicidade, um harmonioso teclado de intrigantes, esponjosos, aquosos e refrescantes mugidos, uma mágica cítara de fragância oriental e afago mental, e vocais deleitosos de feições tanto educadas e melosas quanto gritadas e espalhafatosas. ‘Organic’ vive por entre sedadas, seráficas e sublimadas baladas de radiância crepuscular, que se vão desenvolvendo e remexendo até alcançar um clímax verdadeiramente nirvânico, e chamejantes, deliradas e empolgantes correrias de transbordante euforia que nos dilatam as pupilas, aumentam a tensão arterial e dispersam os sentidos. Don’t panic, it’s organic.

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 Tonzonen Records

segunda-feira, 7 de novembro de 2022

🦍 Frank Zappa & The Mothers of Invention - "King Kong" (BBC, 1968)

Tasavallan Presidentti - "Celebration of the Saved Nine" (live, 1972)

🎁 Joni Mitchell (07/11/1943)

Review: ⛵️ Son Cesano - 'Emerge' (2022) ⛵️

★★★★

No final de 2018 submergia pela primeira vez nas profundezas do universo onírico dos suíços Son Cesano, a propósito do lançamento do seu impactante álbum de estreia ‘Submerge’ (crónica aqui), e hoje levito aos mais longínquos e recônditos lugares do Cosmos à boleia do seu novíssimo e belíssimo álbum ‘Emerge’, recém-nascido e editado de forma autoral nos formatos LP, CD e digital. Este segundo trabalho de longa duração do encantador quarteto helvético conserva uma beleza contemplativa, de brilho diamantino, que nos veleja e corteja pelos inacabáveis, imperturbáveis e aconchegantes oceanos astrais de um cinematográfico, imersivo, lenitivo e catártico Post-Rock abrilhantado por um embalante, caleidoscópico, magnético e deslumbrante Psychedelic Rock. A sua sonoridade irresistivelmente odorosa, reflexiva e libidinosa – de clima primaveril, luzência vespertina e estética pastoril – provoca no ouvinte uma plena paz interior, um olhar lacrimejante e sonhador, e um sorriso melancólico. De forma fluída, airosa e entretida, ‘Emerge’ viaja-nos numa mística e edénica odisseia – de afago sensorial e consagração espiritual – pelos frondosos, admiráveis e luminosos jardins celestiais. São 47 minutos de fascinante transcendência pelos pulsantes e vibrantes corais dos mares espaciais. Uma prazerosa massagem cerebral exercida por esta terapêutica música de essência instrumental, onde se enfatizam duas guitarras imaginativas que se entrançam e destrançam em delicados, sublimados, luzidios e encaracolados acordes que oscilam entre a fresca e arrepiante suavidade e a nervuda e trovejante gravidade, um baixo meditativo de linhas oleadas, baloiçantes e sombreadas que persegue de perto todas as evasões das guitarras, e uma bateria eloquente de toque cintilante, jazzístico e cativante que dita o compasso deste maravilhoso sonho musicado. ‘Emerge’ é um álbum verdadeiramente magistral. Um registo ataráxico, condimentado a beleza lapidar e norteado a sufocante embevecimento, que vive a meio caminho entre a embriagante delicadeza e a retumbante rudeza, a endeusada brancura e a sisuda negrura. Recostem-se confortavelmente, rebaixem as pálpebras, respirem calma e profundamente, e ascendam aos paradisíacos céus de Son Cesano. Um dos melhores álbuns do ano está aqui. Vivenciem-no sem moderação.

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