sexta-feira, 22 de outubro de 2021

👹 Reverend Bizarre - "The Devil Rides Out" (2005)

🔥 Deathchant - "Waste" (2021)

🌇 Blackwater Holylight - "Around You" (2021)

⚓ Kadavar & Elder (ELDOVAR) - "From Deep Within" (2021)

Review: ⚡ Green Lung - 'Black Harvest' (2021) ⚡

★★★★

Depois de celebrado o seu impactante e transformador álbum de estreia ‘Woodland Rites’ (aqui descortinado e imoderadamente reverenciado) no ano de 2019, eis que o afamado quinteto londrino Green Lung – que num curtíssimo espaço de tempo atingira uma popularidade meteórica – presenteia agora todos os seus devotos peregrinos com o tão desejado lançamento do seu segundo trabalho de longa duração, batizado de ‘Black Harvest’ e carimbado com o selo da influente editora escandinava Svart Records através dos formatos físicos de CD e vinil. Nesta sua nova colheita, maturada pela negra radiância e fermentada por um fibroso, inflamante, excitante e imperioso Heavy Rock de celebração ocultista, e um intrigante, sinuoso, pomposo e enfeitiçante Heavy Prog de pura musculatura setentista, o colectivo sacerdotal britânico prossegue com a sua demoníaca liturgia de ornamentadas orações apontadas ao lado eclipsado da religiosidade. Comungando e combinando a trevosa bruxaria de Black Sabbath, a sedutora ardência de Boston, a hipnótica exuberância de Atomic Rooster e a majestosa elegância de Deep Purple, este ‘Black Harvest’ gravita, mumifica e sepulta o ouvinte num petrificante estádio de ofuscante deslumbramento que o seduz, embevece e conduz pelos sombrios contos de Edgar Allan Poe. São 44 minutos aspergidos por uma luciférica perversidade e tóxica nebulosidade que nos dilatam as pupilas, empalidecem o semblante, sobreaquecem o peito, e estremecem, enlutam e profanam o espírito. Deixem-se encarvoar, converter e assombrar pela magia negra de Green Lung à esmagadora boleia de uma liderante voz de pele avinagrada, melódica, vampírica e apimentada que fica a meio caminho entre um Ozzy Osbourne e um Ronnie James Dio, uma dominante guitarra que se manifesta em monolíticos, heréticos, tirânicos e esculturais riffs de onde são centrifugados enlouquecedores vendavais de espalhafatosos, ziguezagueantes, berrantes e vertiginosos solos, um luxuoso teclado de pesadas, densas, tensas e perfumadas harmonias, um fibroso baixo reverberado a linhas quentes, obesas, coesas e magnetizantes, e uma pujante bateria atestada de testosterona que esporeia, vergasta e incendeia toda esta cavalgada infernal com altiva e expressiva explosividade. O fascinante vitral de natureza bíblica que compõe este colorido, pitoresco e soberbamente detalhado artwork aponta os seus créditos autorais ao talentoso ilustrador Richard Wells. Alcanço o final deste irresistível ritual de alma integralmente atordoada e conquistada. ‘Black Harvest’ é um álbum tragicamente belo. Um registo intensamente portentoso que não deixará ninguém recostado à indiferença. Está assim encontrada a banda-sonora perfeita para climatizar o Halloween que se avizinha. E, claro, uma das obras mais sublimes do ano, que aguardo com sísmico anseio poder experienciar ao vivo no tão salivado verão português de 2022 (mais concretamente na 10ª edição do festival Sonic Blast). É demasiado fácil cair nesta pecaminosa tentação e selar um acordo de fidelização com o príncipe das trevas.

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quarta-feira, 13 de outubro de 2021

🦇 Laura Dolan // Electric Citizen

🌊 California dreamin'

Kadabra - "Bean King" (2021)

Review: ⚡ Kadabra - 'Ultra' (2021) ⚡

★★★★

Proveniente da cidade de Spokane – metrópole localizada no estado americano de Washington – chega-nos ‘Ultra’, o assombroso álbum de estreia do recém-formado tridente ofensivo Kadabra. Lançado com o rótulo da produtiva companhia discográfica de origem romana Heavy Psych Sounds através dos formatos físicos de CD e vinil, e escudado num intrigante, nebuloso, umbroso e enfeitiçante Proto-Doom de charme ocultista e num fogoso, enérgico, narcótico e musculoso Heavy Rock de galope setentista, este surpreendente primeiro trabalho do jovem power-trio comunga a negra liturgia de Black Sabbath, a ociosa toxicidade de Dead Meadow, a enigmática hipnose de Uncle Acid & the Deadbeats e ainda a implacável cavalgada à boa moda de Kadavar. A sua sonoridade mística, alucinógena, erógena e ritualística possui o dom de ensopar o ouvinte nas nimbosas águas de um anestésico, musguento e fantasmagórico pântano orvalhado a temulenta e reflexiva melancolia, como de o inflamar num escaldante, vulcânico e borbulhante caldeirão chamejado a intensa ebulição. E é nesta ténue linha fronteiriça, que desagrega a lisergia da euforia, a quietude da efervescência, a frescura da ardência, que ‘Ultra’ se agiganta e nos sombreia com dominante influência. De rosto pálido, pupilas dilatadas, boquiabertos, respiração travada e espírito integralmente soterrado nas abissais profundezas da narcose, somos centrifugados, entontecidos e naufragados numa vertiginosa náusea de efeitos psicotrópicos onde ressoam e ecoam uma messiânica guitarra de gordurosos, bolorentos, fumarentos e montanhosos Riffs – encrostados pelo magmático e espinhoso efeito Fuzz – de onde são entornados aturdidos, alcoolizados, esvoaçantes e distorcidos solos, um baixo polposo de reverberação quente, densa, tensa e bafejante, uma altiva, expressiva e magnetizante bateria escoiçada a duas velocidades contrastantes, e ainda uma voz espectral, ácida, diabrina e visceral que sobrevoa toda a virulenta atmosfera de Kadabra. São 45 minutos farolizados por um ofuscante feitiço impossível de quebrar. Deixem-se cair nesta irresistível tentação, diluam-se neste viscoso torpor, e experienciem – num imperturbável estádio de ébrio sonambulismo – este potente opiáceo sonoro.

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sexta-feira, 8 de outubro de 2021

Review: ⚡ Wooden Fields - 'Wooden Fields' (2021) ⚡

★★★★

Três amigos músicos, provenientes de três das mais incontornáveis referências dentro da populosa Rock scene sueca (Witchcraft, Siena Root e Three Seasons), uniram esforços e dialogaram inspirações para fabricar e desancorar este novíssimo projecto conjunto, intitulado Wooden Fields, e o seu muitíssimo aguardado álbum de estreia – de designação homónima – vê finalmente hoje a luz do dia através dos formatos digital, de CD e vinil com o selo da companhia discográfica italiana Argonauta Records. Combinando um inflamante, ritmado, apimentado e enleante Heavy Blues de brilho vintage, um fibroso, simétrico, estético e esplendoroso Hard Rock de roupagem setentista, e ainda um ensolarado, melodioso, cheiroso e aveludado Psychedelic Rock de texturas caramelizadas, a florida, charmosa, libidinosa e encerada sonoridade de ‘Wooden Fields’ passeia-se de forma triunfante, deslumbrante e orgulhosa pelos sete temas que compartimentam esta preclara obra do talentoso tridente escandinavo. São 39 minutos banhados de uma mística, reparadora, libertadora e ritualística resplandecência, de odor e calor analógicos, que nos gravita e em nós tudo remexe, cura e incita. Baloiçando entre electrizantes, dinâmicas, psicadélicas e estonteantes cavalgadas locomovidas a febril excitação, e açucaradas, enternecedoras, relaxadas e transformadoras baladas embebidas numa comovente atmosfera Soul, esta esmerada estreia de Wooden Fields provocara e imortalizara em mim um sorriso amarelecido pela doce nostalgia, uma expressão sonhadora que me envidraçara e eclipsara o olhar, e uma imersiva paz de espírito impossível de perturbar. Na composição deste mirífico álbum tricotado a irretocável perfeição ziguezagueia uma venerável guitarra de sumptuosos, lânguidos e deleitosos Riffs e solos alucinantes, caleidoscópicos e intoxicantes, murmura um baixo obeso de linhas fluídas, pululantes e lubrificadas, tiquetaqueia uma sensacional bateria de ritmicidade acrobática, desembraçada e enfática, e sobrevoa uma portentosa voz de pele melosa, afrodisíaca e volumosa que nos entoa palavras bordadas a esperança. ‘Wooden Fields’ é um registo sem impurezas que me preenchera as medidas. Um disco genuinamente belo, sincero, de propriedades terapêuticas, que reconfortará e extasiará todo aquele que nele ingressar. Raras vezes a doçura e a formosura conviveram tão de perto como o fazem aqui. Permitam-se cortejar, embevecer e viciar neste sublimado oásis musical, e testemunhem com deífico fervor todo o profético esplendor de um dos discos mais magistrais de 2021.

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segunda-feira, 4 de outubro de 2021

🍁 George Harrison & Eric Clapton

✝️ Janis Joplin (19/01/1943 🎗 04/10/1970)

Review: ⚡ Zack Oakley - 'Badlands' (2021) ⚡

★★★★

Da cidade costeira de San Diego (Califórnia) chega-nos um dos álbuns por mim mais aguardados do ano. ‘Badlands’ dá nome ao primeiro álbum a solo de Zack Oakley (mais conhecido de guitarra e microfone empunhados ao serviço dos irreverentes Joy) e acaba de ser lançado tanto em formato digital (com a possibilidade de download gratuito) através da sua página de Bandcamp oficial, como em formato físico de vinil com o carimbo do recém-formado selo discográfico caseiro Kommune Records. Contando com a importante colaboração de um populoso bando composto por habilidosos músicos amigos – caras bem conhecidas de consagradas bandas locais, tais como Psicomagia, Harsh Toke, Ocelot, Volcano e Red Wizard – o talentoso multi-instrumentista Zack Oakley tem em ‘Badlands’ um sumarento cocktail sonoro, colorido, apaladado e gaseificado por um vistoso, serpenteante, cativante e libidinoso Blues Rock de balanço Boogie, aroma a Tex-Mex e roupagem setentista, um electrizante, fogoso, lustroso e delirante Psychedelic Rock de elevada toxicidade, estética revivalista e clima West Coast, e ainda um arejado, reflexivo, lenitivo e ensolarado Psychedelic Folk de adornada moldura Western e uma doce fragância primaveril. A sua sonoridade verdadeiramente apaixonante, afrodisíaca e contagiante – sintonizada na mesma frequência de clássicas referências como ZZ Top, Eagles, James Gang, The Allman Brothers Band, Lynyrd Skynyrd, Black Oak Arkansas, Cactus, Humble Pie, The Outlaws e Foghat – embarca o ouvinte numa transformadora road trip pelas poeirentas estradas que estriam o deserto do Arizona rumo ao México. De olhar ofuscado pelo vibrante Sol que se debruça no inatingível firmamento, narinas dilatadas na aspiração da revitalizante brisa desértica, punhos cerrados no volante de um barulhento muscle car, e espirito embriagado de mescalina, somos embalados e consagrados num nirvânico vórtice de visões caleidoscópicas e ambiências utópicas. São 40 minutos de extasiante deslumbramento sob a psicotrópica influência de uma adorável guitarra de agradáveis, vaidosos, radiosos e afáveis Riffs de onde debandam venenosos, alucinógenos, uivantes e sinuosos solos distorcidos pela virulenta efervescência do pedal wah-wah, uma voz xamânica – ocasionalmente abraçada por um espectral, mélico, luminoso e sidérico coro vocal – de pele avinagrada, diabrina, hipnótica e aveludada, um baixo flácido de murmúrios vagueantes, relaxados, bocejados e ondulantes, uma eloquente bateria a galope de uma ritmicidade criativa, desembaraçada, leve e imersiva, um teclado fabular de frescos, melódicos, opulentos e romanescos mugidos, e ainda uma chamativa harmónica de sopros arenosos, incisivos, altivos e berrantes. ‘Badlands’ é um registo imensamente libertador. Um álbum extremamente sedutor, de fácil digestão e imediata veneração. Icem as velas da espiritualidade ao sabor da triunfante estreia a solo de Zack Oakley, e comunguem este poderoso peyote de absorção auditiva, massagem cerebral e evasão consciencial. Um dos momentos mais altos do ano musical de 2021 está aqui, no diluviano psicadelismo que tinge de ofuscante coloração o lamacento sangue que corre pelas largas artérias do rio Mississippi onde fora forjado e chorado o velho Delta-Blues, e desagua nas douradas areias que pavimentam as paradisíacas praias californianas. Bebam-no e reverenciem-no sem moderação.

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