domingo, 23 de agosto de 2009

Estradas côr-de-rosa

De olhar incendiado pela satisfação de conseguir viajar até Castell de Guadalest (Alicante) para assistir á 2ª edição do festival de Rock Psicadélico, elevei a mochila aos ombros e viajei até Viseu, de encontro com o Fua (lovers & lollypops). Lá esperava-me, também, Fipu (The Guv) para seguirmos viajem até ao sul de Espanha. Noite. De mapa nas mãos, iniciamos a longa jornada pelo alcatrão beijado pela lua. De olhar cansado e audição embriagada na atmosfera Sleep, confiámos toda a nossa atenção no que os faróis luminosos rasgavam entre aquela escura noite de verão. Espanha. A primeira paragem, já em solo vizinho, para atestar o depósito de combustível. Apesar de estarmos, ainda, muito longe, já avistávamos com muito melhor percepção a veracidade do nosso destino. Estávamos mesmo a caminho de outras galáxias (Colour Haze, Earthless, Witchcraft, Causa Sui, Viaje a 800, Astra…). Madrid. Passámos pelas entranhas industriais de Madrid de olhar atento àquele universo de luz e cor. Poucos foram os faróis forasteiros que se cruzaram connosco. Estávamos sozinhos à descoberta das melhores artérias em direcção ao coração (Castell de Guadalest). Por vezes o meu olhar mergulhava no negro alcatrão e adormecia. Fragmentos temporais de inconsciência. Província de Alicante. O sol já combatia a noite e incendiava o cume das montanhas. Belas horas de viagem pelo sul de Espanha. Paisagens áridas, desertas… Parecia o Texas. Uma imensidão de montanhas rochosas, planícies desertas, solo seco, ventoinhas eólicas e Yawning Man (Rock Formations) a fazer-se ouvir sobre um previsível e pesado silêncio de cansaço. Estava embalado por todo o paralelismo que me acompanhava. Ataraxia genuína. A proximidade com o deserto de Almeria era bem perceptível. Eram muitos os elementos desérticos. Palco de um belo Western “Per qualche dollaro in piú (1965) de Sergio Leone. “Estamos perto” – suspirávamos. Depois de atravessarmos todo um rio de dúvidas, juízos e decisões, começámos a subir uma imensidade de Montanhas. Montanhas esventradas por uma humilde estrada cheia de curvas que fariam vibrar qualquer estômago. Castell de Guadalest, aqui estamos nós de ouvidos a salivar.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Dias de Guadalest

Earthless

Earthless! A expectativa era tão alta, que o meu coração não resistia á espera. Earthless foram demolidores. Cuspiram milhões de estrelas, e poeiras cósmicas. Como é possível três músicos soltarem todo um universo de sons psicadélicos e indomáveis na atmosfera? Como se um coro de mil gritos celestiais os acompanhasse nas jornadas sonoras. Peregrinação sónica! Exorcismo planetário. Batalha Galáctica. Átomos Psicadélicos cairam sobre os vales de Guadalest. Olhar lúcido, insensível. Convulsões interiores. Viagem pelo deserto de Mojave, de alma cedida ao vento. Desprovido de razão, escravo do fado. Conquista do Desconhecido. Universo de cor, luz, vultos… Desequilíbrio emocional. Sonoridade intemporal. Cometas que rasgaram a noite sulista de Espanha. Durante algumas horas fui Astronauta. Earthless, que saudades…

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Dias de Guadalest

Causa Sui


Causa Sui, 25 de Julho, 19:30. Final de tarde com o céu em chamas. As grandes montanhas rochosas delimitavam o horizonte. Causa Sui em palco. Estava a atmosfera perfeita para uma jam psicadélica que conciliasse o jazz com o stoner. Summer Sessions, cerveja gelada e o sol debruçado sobre as montanhas. Foi mágico ouvir Causa Sui no intervalo transitório entre o dia e a noite. Destes Dinamarqueses esperava uma viagem aos mais áridos desertos do Mundo; uma viagem às florestas mais idosas do Planeta. Fechei os olhos e encontrei-me nos lugares mais distantes do inconsciente. Estava embalado. Sem reacção. A verdadeira viagem pelo desconhecido, remando pela alma fora. Celestial. Por vezes despertava e sentia-me balançar em busca do equilíbrio na ponte ténue entre o consciente e o inconsciente. Uma brisa suave envolvia o som, e o som envolvia os servos em campo. Filhos dos 60’s. Depois das guitarras encostadas e baquetas devolvidas ao sossego, os meus músculos faciais estavam desmaiados. As correntes lisérgicas que me aprisionaram estavam, agora, a ceder. Causa Sui, PERFEITO.

Lost Highway, David Lynch

Blues For The Red Sun



19:00. No velho salão de sua casa, o músico dedilha as gastas cordas de sua guitarra e narra alguns versos de uma letra (ainda precoce) de sua autoria. Encharca a sua garganta com uísque e perfuma o seu peito com o pesado fumo de um charuto. De olhar semi-cerrado levanta a cabeça em direcção á janela. Os raios solares iluminam aquele ser arcaico, de olhar perdido, de barbas e cabelos há muito entregues ao destino da natureza. Ele não vive, arrasta-se pela vida. A música é a sua fiel parceira maternal. O sol intensifica o seu abraço e gotas de suor libertam-se sobre a rugosa testa do músico. Blues. De imediato, o músico, com gestos grotescos, percorre todo o braço da guitarra. Auto-estrada sónica. Universo de cor. Grito sufocante da Psicose. A noite cai.
O seu corpo, desprovido de autonomia, cai no gasto soalho de madeira. No abismo perpétuo da inconsciência. As letras estão manchadas de uísque e queimadas pelas cinzas do tabaco. A guitarra, já desmembrada e de cordas murchas sobre o parapeito da morte, jaz junto do seu corpo. Ele… !