quinta-feira, 13 de agosto de 2009
Blues For The Red Sun
19:00. No velho salão de sua casa, o músico dedilha as gastas cordas de sua guitarra e narra alguns versos de uma letra (ainda precoce) de sua autoria. Encharca a sua garganta com uísque e perfuma o seu peito com o pesado fumo de um charuto. De olhar semi-cerrado levanta a cabeça em direcção á janela. Os raios solares iluminam aquele ser arcaico, de olhar perdido, de barbas e cabelos há muito entregues ao destino da natureza. Ele não vive, arrasta-se pela vida. A música é a sua fiel parceira maternal. O sol intensifica o seu abraço e gotas de suor libertam-se sobre a rugosa testa do músico. Blues. De imediato, o músico, com gestos grotescos, percorre todo o braço da guitarra. Auto-estrada sónica. Universo de cor. Grito sufocante da Psicose. A noite cai.
O seu corpo, desprovido de autonomia, cai no gasto soalho de madeira. No abismo perpétuo da inconsciência. As letras estão manchadas de uísque e queimadas pelas cinzas do tabaco. A guitarra, já desmembrada e de cordas murchas sobre o parapeito da morte, jaz junto do seu corpo. Ele… !
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