Continua a conduzir. Quero
sentir-me afastar desta cidade. Quero observar todas as suas luzes esbaterem através
desta janela fustigada pela força da chuva, e desvanecerem-se no âmago desta
fria noite de outono. Dá-me a tua mão, quero sentir-te determinada. Para trás,
só ficam as memórias do mais intenso e prolongado preliminar emocional das
nossas vidas. Em frente, esperam-nos as calmas e apaziguantes planícies da mais
bela certeza que retirara a mordaça dos nossos corações. Quero estender o meu
olhar pela estrada fora e sentir os faróis desbravarem o negrume da noite.
Quero ouvir todo este silêncio reconfortante que nos anestesia e embebeda. Quero
ver os teus lábios romperem ao longo do rosto e esculpirem o mais belo sorriso
que o homem conhecera. Quero ouvir o teu mais sincero suspiro num disparo de fragância
emotiva. Somos os únicos herdeiros da eternidade. Aqueles de quem o esquecimento
se lembra ininterruptamente. Somos a personificação conjunta da ataraxia e os
eternos amamentados pela paixão. Somos abençoados. Somos os filhos desta infinita
estrada que vagueia pela vida e se estende para fora dela. Continua a conduzir…
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