Na chegada a Tabernas, recorremos
a um posto de turismo com o intuito de nos informarmos melhor acerca da
localização e preços dos vários estúdios de cinema western existentes nas
redondezas. Saímos de lá atulhados de panfletos informativos, postais e mapas
da zona. Depois disso, atracámos os nossos cotovelos num balcão ali perto e
discutimos a nossa agenda para os três dias que nos faltavam aproveitar em solo
espanhol. Dos três estúdios de cinema western presentes no deserto de Tabernas,
Fort Bravo foi aquele que mais interesse nos suscitou. Filmes como “C’era una volta il West”, “Il Buono, il Brutto, il Cattivo”, “Per un pugno de Dollari”, “The Magnificent Seven” e “Lawrence of Arabia” foram rodados em
pleno deserto de Tabernas e estávamos ansiosos por poder ver ao vivo todos aqueles
cenários tão familiares. Os três dias que se seguiram foram vividos em
constante movimento. Atravessámos várias vezes aquele deserto de areias fervilhantes
em direcção às paradisíacas praias da costa sulista. Todas essas incursões até
San José e Cabo de Gata intervalaram as nossas visitas aos dois estúdios
cinematográficos que acabámos por visitar. O primeiro – tanto cronologicamente
quanto qualitativamente – a ser visitado foi o sublime Fort Bravo. Uma pequena vila construída com o único propósito de
receber as esporas mais brilhantes de Hollywood. E é aqui que todos os adjectivos se confessam tímidos em tentar descrever como verdadeiramente me
senti naquele local. Vivi um inenarrável deslumbramento com todo o misticismo
que me circundava. De salientar o magnifico saloon
(onde assistimos a belas performances teatrais que remeteram todos os presentes
para os dias em que a lei e a ordem calçavam texanas, disparavam winchester’s e montavam a cavalo); a
fonte e igreja mexicanas que foram referências no western “The Magnificent Seven”; e o reconhecível e imponente arco (que eu
julgava esquecido) pertencente ao, muito provavelmente, melhor western da
história do cinema: “C’era una volta il
West”. Depois de assistida uma nova performance (desta feita, realizada no
exterior) onde um roubo, uma perseguição a cavalo e um duelo tiveram lugar,
ainda tivemos direito a um passeio de diligência pela vila do oeste. O vento
entrelaçava-se com a música de Ennio Morricone enquanto os nossos corações
ainda rufavam quando confrontados com todo aquele carisma inerente ao espaço.
Acabámos por passar cerca de seis a sete horas por ali. E no final ainda fomos presenteados
por uma bela cerveja e uma tequila oferecida por quem governava o saloon, enquanto o sol vermelho já
tocava as areias do deserto. Virámos costas ao Fort Bravo ainda arrasados com
aquela experiência. O próximo dia foi todo ele passado na localidade costeira
de San José, onde copos de cerveja tintilavam, as águas do mar persuadiam e a
gastronomia não dava descanso às glândulas salivares. O próximo sol que vimos
nascer assinalava a despedida do deserto. Acordámos cedo para fazer nova
incursão ao longo das estradas que rompem o deserto em direcção à praia. Já a
tarde estava confinada à visita de um novo parque onde subsistiam referências
alusivas ao cinema western, mais precisamente de Sergio Leone, chamado Western Leone – Poblado del Oeste. Este
segundo parque, bastante mais humilde que o primeiro, tinha a carismática casa
(agora transformada num saloon) que
assinala o início de “C’era una volta il
West” (onde toda uma família é chacinada), e surpreendentemente dois
veículos (quase que em segredo) do filme “Mad
Max”. A saída deste parque determinou também a saída de Espanha em direcção
a Portugal. Regressámos a casa muito mais ricos por tudo o que esta experiência
mudou em nós. Deixámos o deserto nostálgico para trás e acelerámos rumo a uma
noite tão acordada quanto aquele sonho se adjectivava.
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