sábado, 20 de setembro de 2014

REVERENCE VALADA : A linha ténue entre a Fadiga e o Entusiasmo!


Confesso que não me revejo inteiramente no modelo adoptado pela organização do Reverence Valada ao incluir 55 bandas em apenas dois dias de festival. Penso que a ingratidão foi partilhada pelo público e algumas das bandas (principalmente aquelas que não tocaram em “horário nobre”). O público porque penso que - secretamente e na sua generalidade - gostaria de ter visto tudo; e para algumas bandas porque se viram perante uma plateia modesta, ainda de ramelas ancoradas aos olhos e bocejos comedidos. Eu sabia, na minha honestidade, que não conseguiria ver tudo e, por isso, levei uma cábula com os concertos que mais desejava ver em solo ribatejano. Ainda assim, a minha disposição física impediu-me de ver alguns deles. Confesso que não vi grande parte dos concertos da tarde, nem dos concertos agendados para depois das 02h da noite. Ainda assim pude desfrutar da melosidade de Graveyard, da pujança de Red Fang, do hipnotismo de Cave, do surf-western-rock de Spindrift, da odisseia petrificante e emblemática de Hawkwind, e, principalmente, do ritual que se adjectivou a cerimónia de Eletric Wizard.

Depois de os ter visto em 2010 na estreante edição do Milhões de Festa – onde deram um concerto imensamente nebuloso e vertical – poder revê-los ao vivo era mesmo dos meus desejos musicais mais determinantes. A performance de Electric Wizard esbarrou e abraçou de sublime forma toda a minha expectativa. Ainda a banda acendia o sagrado incenso no seu turíbulo demoníaco e dedilhava os primeiros acordes, quando a plateia já se sacudia e respondia com movimentos pendulares, chefiados pelo oxigénio entorpecedor exalado pelos instrumentos em palco. Uma fumarenta comoção capaz de nos cerrar as pálpebras e dilatar as narinas. Um concerto sideral e arrebatador pelo lado mais enevoado, soporífero e transcendente do Doom. A Liz Buckingham dançava e encantava debaixo da sombra do seu monolítico amplificador, soltando pesadas descargas decibélicas na alma já extraviada de quem em Electric Wizard comungava. Jus Oborn encabeçava toda aquela radiação enegrecida que se esbatia com enorme destaque nas nossas mentes exorcizadas e entregues à submissão do Riff. Estávamos todos convertidos em fanáticos peregrinos na incansável e prazerosa jornada pelas lisérgicas estradas que se renovavam infinitamente no firmamento da nossa percepção embriagada. Foi um dos concertos da minha vida. Um dos mais vividos até agora.

Um aplauso ininterrupto a todos os obreiros do Reverence Valada, porque mesmo não me revendo no modelo que foi posto em prática (como já referi acima), admito que fora uma missão tremendamente hercúlea e ambiciosa. Em relação ao espaço (terreno e distracções culturais nele dispostas) admito ter sido, a par do Festival de Psicodelia de Castell de Guadalest, um dos mais atractivos. Continuem a embelezar o nosso país com o que de melhor existe e subsiste no universo musical. E se assim for: até para o ano, Valada. 

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