Pouco conformados com a
séria probabilidade de perdermos os concertos de Mantra, The Black Wizards
e Big Red Panda, acelerámos rumo a
Moledo do Minho assinalando – assim - a 4ª visita em 5 edições de Sonic Blast. Para trás ficara toda uma
manhã bastante agitada onde o relógio testemunhara apressadamente a preparação
de toda esta já tradicional peregrinação ao Minho. Agora de punhos cerrados no
volante, sentimos a nossa respiração ainda ofegante serenar e o rufar do
batimento cardíaco abrandar. Estávamos finalmente a caminho do Sonic Blast e isso justificava um
prolongado suspiro que prontamente nos tranquilizou. As grisalhas nuvens que
habitavam os céus do Minho depressa nos convenceram de que seria um Sonic Blast versão outonal,
contrastando, assim, com as edições anteriores onde o sol governou os céus com
resplandecente saúde. Ao longo da viagem todas as infelizes suspeições
transformaram-se em irreversíveis certezas: perderíamos mesmo os concertos das
três primeiras bandas que abririam o festival. Chegámos a Moledo por volta das
16h e apressámo-nos a estacionar o carro. O vento trazia-nos os harmoniosos
acordes de Big Red Panda, enquanto que nós de
geleira, mochilas e tenda às costas irrompíamos pela floresta que dá lugar ao
parque de campismo. Já muitos festivaleiros haviam deixado a sua marca ao longo do trilho
que nos conduziu pelo extensível corpo da floresta. Atracámos a tenda debaixo
de uma árvore (uma prática habitual de forma a evitar o sol, mas que desta vez
seria para evitar os aguaceiros) e demos início aos trabalhos daquela que seria
a nossa casa durante os próximos dois dias. Depois de tudo arrumado, seguimos
em direcção ao recinto do festival. Com o aproximar, a música de Big Red Panda ganhava vida e isso
estimulava-nos a aumentar o ritmo da caminhada. Assim que lá chegámos, já o
quinteto natural de Ponte de Lima pousava os seus instrumentos e abandonava o
palco debaixo de um sincero aplauso. Tínhamos 15 minutos para nos recompormos
antes do trio espanhol The Attack of the
Brain Eaters entrar em palco. Esta banda natural de Oviedo brindou toda a
plateia ainda crescimento com o seu Stoner Rock apressado e robusto. Na piscina
subsistiam alguns corajosos a quem o frio e a humidade pouco ou nada parecia
abalar, já a tela humana que rodeava a piscina começava a ganhar relevo e
dimensão. Eram muitos os olhares apreensivos na direcção dos céus e
antecipavam-se aguaceiros que acabaram mesmo por cair. Os nossos estômagos
rugiam furiosamente. Esperámos pelo final do concerto e regressámos à tenda
para amordaçar toda aquela tempestade estomacal.
Depois de algumas horas de
relaxamento regressámos ao recinto a tempo de assistir a uma das bandas que
mais entusiasmo provocou em mim assim que soube que estariam presentes no
festival: BelezebonG. Já a noite estendia
o seu manto purpúreo pelos céus quando o quarteto polaco subiu ao palco para
dar um concerto intensamente nebuloso e transcendente. Uma densa nuvem
esverdeada ganhou dimensão dentro de palco e através dela apenas se viam os
longos cabelos dos músicos agitarem-se ao som dos seus Riffs monolíticos verdadeiramente embriagantes e paralisantes. BelzebonG foi uma experiência
psicotrópica de inalação constante ao longo de todo o concerto. Os seus Riffs apresentam efeitos em tudo
semelhantes aos do tetraidrocanabinol
(THC), causando euforia, sensação de bem-estar e sedação na alma de todos
aqueles que estiverem no caminho da sua amplificação. E assim foi, toda a
plateia pendulava ao ritmo lenificado do lado mais narcotizante do Doom Metal. Depois de terminado o
concerto da banda polaca, foi tempo para passear pela zona de restauração e
nela jantar enquanto os Plus Ultra davam
seguimento à animação vivida no palco principal. Seguiam-se os suecos Greenleaf e posso já adiantar que deles
adveio uma das prestações mais explosivas do primeiro dia do festival. Foi um
concerto de sentido único. Uma avassaladora e portentosa performance que
depressa fez com que toda a plateia se sacudisse freneticamente na resposta aos
seus Riffs entusiásticos e conduzidos
de forma eufórica. Não foi preciso terminarem o primeiro tema para me sentir
totalmente conquistado e apaixonado. Greenleaf
foi um mustang enraivecido que
nos assolou sem qualquer piedade. Uma verdadeira explosão de prazer que nos
arrasou e catapultou a um perfeito estado de exaltação. Foi, sem dúvida, um dos
concertos da minha vida. Seguiam-se os os monges tibetanos sediados na Baviera,
Alemanha: My Sleeping karma. Esta
seria a quarta vez que comungara ao vivo a xamânica missa deste quarteto germânico
dedicado ao Psych/Space Rock que tanto me apraz desde que os conhecera algures
em 2008/2009. My Sleeping Karma
foram iguais a si próprios e deram, é claro, um concerto de sublime beleza. Os
seus acordes têm o raro dom de nos deter e levar a uma hipnótica odisseia pela
infinidade espiritual. Ao som deles é demasiado fácil convertermo-nos em seus
devotos peregrinos pelas estradas hinduístas na busca do transe. Os seus Riffs de natureza meditativa contagiaram
com admirável facilidade toda a plateia levando-a e deixando-a num profundo
estado de êxtase. Todos sorriam entre si, testemunhando a doce inércia que os
dominava. My Sleeping Karma foram incisivos
no assalto à nossa consciência, promovendo a embriaguez sensorial e a
exploração do oceano estelar que preenche a nossa alma. Depois de uma
prolongada e repartida vénia entre a banda e o público, regressámos à tenda
completamente embriagados de satisfação. Foi ao som das ondas do mar, da suave
brisa e das ruidosas e alegres manifestações dos festivaleiros que no parque de
campismo estendiam a sua festividade que cerrei as pálpebras e adormeci com um sorriso petrificado pela
ressaca de um dia tão cansativo quão especial.
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